the test
"Pessoas certas não existem, somos todos errados procurando alguém que aceite nossas imperfeições" Ana Luísa Carvalho Nakao.
Eu estava andando de um lado para o outro no meu quarto fazia uns cinco minutos. Eu estava completamente apavorada.
Iria dar tudo errado, eu estava sentindo.
Mamãe já havia chamado minha atenção mais vezes do que eu poderia contar nos dedos, mas ainda assim, eu não conseguia me conter.
Aonde estava Alessia quando se precisa dela?
Parei de andar quando vi papai parar na porta do meu quarto de forma tímida, me pedindo permissão para entrar, mesmo que a porta já estivesse aberta.
Sorri para ele com o meu coração quentinho pela forma meiga que ele sempre fez questão de usar comigo e Alessia, autorizando sua entrada no meu quarto.
- Como você está querida? - me perguntou colocando as mãos em meus ombros e ficou me olhando de forma preocupada esperando uma resposta.
- Estou nervosa... - soltei o ar com força, enquanto ele fazia um leve carinho num dos lados do meu rosto. E logo me puxou pra um abraço.
Meu pai era tudo o que eu tinha pra me apoiar quando tudo desabava. Ele era o meu alicerce. Só ele sabia que tinha algo errado comigo sem nem precisarmos conversar. Sempre sabia o que falar no momento certo.
- Vai dar tudo certo querida, você vai ver. Você é maravilhosa e tenho certeza que o teste vai te guiar exatamente pra quem mais precisamos. - disse enquanto me dava um abraço de urso.
Fiquei um pouco confusa com a escolha de palavras de meu pai, mas ignorei já que ele possivelmente deveria estar ainda mais nervoso que eu. Esse casamento com Noah deveria dar certo pelo bem de minha família.
Mamãe apareceu me apressando novamente para descermos e irmos logo, mas não sem antes chamar a minha atenção por algo bobo, de novo.
Enquanto me ajeitava no carro a caminho do Coliseu, eu só conseguia repassar mentalmente o passo a passo do Teste e como ele era feito.
O Teste consistia em uma injeção feita com uma bactéria criada para incentivar uma parte inativa do cérebro a enviar uma mensagem para o cérebro interligado ao seu.
Sabe aquele ditado em que dizem que "todos tem a sua metade"?
Isso não era totalmente mentira.
Algumas pessoas um pouco antes de nascer, partem a alma ao meio e dividem ela com a sua alma gêmea. Como um empréstimo.
Mas nem todos tem almas gêmeas, o que os faz livres para escolherem se apaixonar durante a vida. Mas os que nascem com uma alma gêmea, tem uma ligação eterna e muito forte para ser evitada ou interrompida.
Fiquei sabendo de uma menina tradicional que a alma gêmea dela acabou sendo outra menina, foi um grande escândalo na época. Ambas foram expulsas para a Terra de Ninguém.
Mas voltando ao assunto, se você tiver uma alma gêmea, o cérebro dela te manda uma resposta.
Fazendo assim, conseguirmos rastrear de quem veio a resposta e descobrirmos quem é "seu parceiro ideal".
Ao nos aproximamos do Coliseu, vi várias pessoas espalhadas na frente do local. Seja no gramado verdinho, ou então, mais próximas da construção gigantesca, encostando-se em suas colunas e as usando como suporte para o peso do próprio corpo.
O Coliseu era o único lugar dentro da nossa área, aonde os Liberais podem pisar sem serem presos, feridos ou até mortos.
A estrutura e a arquitetura do lugar eram lindos demais, muitos viam o Coliseu como um lugar de ruínas, era o único lugar que ainda permanecia de pé após tanto tempo já que estava ali desde a fundação da Cidade do Sol.
Mas eu o achava deslumbrante, mesmo com todos os anos passados desde sua criação, ele permaneceu firme. Suas rachaduras e partes faltantes, eram a parte de seu processo de transformação para ser o que era hoje em dia, e eu poderia passar horas observando o lugar e descrevendo o quão simbólico ele era.
Descemos do carro e minha atenção foi desviada da estrutura do Coliseu para minha mãe, que me deu um leve beliscão no quadril. Me fazendo assim, dar um pequeno salto e olhar para a direção indicada por ela e ver a família Urrea se aproximando.
Sorri educadamente para todos.
- Vocês já chegaram, que bom! - a senhora Urrea parecia eufórica demais com a ideia toda.
Meu pai e o senhor Urrea, foram mais atrás conversando tranquilamente. Enquanto eu, estava acompanhada de minha mãe e Noah estava acompanhando a sua.
Nós dois ainda não havíamos trocado uma palavra e evitávamos nos olhar, mas eu sabia que ele estava tão tenso quanto eu.
O Teste definiria se iríamos nos casar ou não.
Entramos no Coliseu e fomos ao gabinete de segurança pública.
Eles nos deram o passo a passo:
1° Passo: Entregar a minha documentação para o Oficial, e ser verificada como cidadã existente.
2° Passo: Ser revistada e preencher uma ficha com meus dados pessoais.
3º Passo: Aguardar minha vez para um check-up rápido para ver se está tudo em ordem para o Teste.
4º Passo: Após a confirmação que podemos prosseguir com o procedimento, tenho que ir a uma sala trocar de roupa e me preparar para entrar na sala médica.
Eu já estava no último passo e estava tentando acalmar minha ansiedade, que estava cada vez pior. Se eu fosse olhar para as minhas mãos conseguiria vê-las tremendo.
Coloquei minhas roupas numa sacola que é fechada a vácuo e coloquei no armário indicado para os meus pertences.
Sai da pequena saleta e fiquei esperando sentada na cadeira da antessala aonde Noah provavelmente já deveria estar começando a fazer o seu teste.
Eu não sabia como era a sensação que o cérebro nos dá quando nós respondemos ao chamado da alma gêmea. Mas uma coisa que eu tinha certeza é que eu deveria estar sentindo alguma coisa.
Respirei fundo e tentei me acalmar, afinal não iria adiantar de nada ficar nervosa.
Tentei relaxar minha mente e focar em sentir algum sinal de Noah. Mas quanto mais o tempo passava, mais preocupada eu ficava.
E para meu desespero, a porta se abriu e Noah saiu da sala sem me olhar, passando direto junto com dois funcionários.
Havia acabado. O teste dele havia terminado e eu não tinha sido chamada.
Senti minha cabeça rodar e minha pressão baixar.
Ele não era minha alma gêmea.
Meus olhos encheram de lágrimas e eu quis chorar.
Nós não iríamos nos casar.
Antes mesmo que eu pudesse sequer cogitar derramar minha primeira lágrima, meu nome foi chamado.
Me levantei devagar e tentei me forçar a andar até a sala e cooperar com o teste mas minha mente só voltava para o fato de eu e Noah não sermos almas gêmeas.
Eu me entreguei pra ele, e nós não iríamos ficar juntos.
Ele não me olhou, o que significa que ele foi pareado com outra pessoa. É a única explicação. Pelo menos era a única que eu queria me agarrar, porque a outra explicação era dolorosa demais para suportar.
Será que ele realmente me amou um dia?
Ou ele só fez tudo aquilo para poder me ter?
O médico me ajudou a subir na maca e eu fiquei medo de minha roupa de baixo aparecer por causa da camisola hospitalar curta para o exame, mas ele logo me cobriu, jogando um lençol por cima das minhas coxas.
Eu não parava de tremer, minhas pernas balançavam sozinhas de forma inconsciente e eu retorcia com força os dedos minhas mãos.
Eu estava no meio de uma crise de ansiedade.
A enfermeira me entregou um lenço e me pediu para enxugar as lágrimas.
Em que momento eu comecei a chorar e não percebi?
O médico conectou alguns eletrodos em meu corpo e a enfermeira me injetou o soro intravenoso me relaxando gradativamente.
Meus olhos ficaram nublados e logo eu me sentia leve. Quase como se eu estivesse flutuando.
Me senti voando e me vi fora do meu corpo.
Eu estava vendo o médico, a enfermeira e o meu corpo estirado na maca. Eu parecia estar dormindo. Sinistro.
Apenas parei de me olhar quando ouvi uma voz me chamando.
Era rouca, e forte. Me arrepiava da cabeça aos pés.
Vinha de longe. Mas parecia estar tão perto ao mesmo tempo.
A voz era quase como um gatilho para o meu corpo entrar em combustão.
Eu sentia um formigamento e uma pressão dentro de mim, quase como se meu corpo estivesse se preparando para um orgasmo.
O que diabos era aquilo? Eu estava instigada somente pelo som da voz de alguém?
Eu só sentia aquela sensação gostosa se espalhando pelo meu baixo ventre me fazendo desejar cada vez mais do que quer que estivesse causando aquele mix de sentimentos.
A voz parecia quase hipnótica, e eu estava totalmente torpe e a mercê da cadência que era quase melódica para os meus ouvidos.
Eu seguia a voz sem me preocupar com o que quer que fosse.
Preocupações como o resultado do teste de Noah, como nossas famílias iriam reagir a notícia de que não iria mais ter casamento ou então, me preocupar no fato em que provavelmente minha família cairia em ruínas por minha causa, tudo isso havia sumido completamente.
Eu ainda me lembrava de tudo, só não me importava com mais nada.
Afinal, eu estava indo atrás de uma voz misteriosa que me fazia ficar molhada só com a forma que as palavras soavam de seus lábios.
Talvez eu fosse uma libertina da pior espécie e só vim a descobrir isso agora.
Eu não entendia o que a voz dizia, era como se eu fosse inconsciente e consciente ao mesmo tempo.
Eu não estava ali fisicamente, e tentava manter isso em mente. Mas estava difícil manter uma linha de raciocínio coerente com aquela voz.
Eu cheguei em frente a ponte que divide os dois lados, e vi um homem no meio dela.
Eu nunca estive nem perto daqui, já que aqui é muito próximo das divisas com a Terra de ninguém.
Ele parecia irritado e andava de um lado para o outro, como um animal enjaulado.
Não consegui ver seu rosto, era como se tivesse fumaça na frente de sua fisionomia. Me permitindo apenas ver os contornos de seus físico. Ele era incrivelmente sexy.
Eu com certeza não deveria ter pensado isso.
Como eu conseguia achar um contorno nublado sexy? A que ponto eu cheguei?
Então consegui distinguir a forma de algo em sua mão, suponho que seja um celular.
Ele estava no telefone?
Mas então ele parou repentinamente de andar e se virou em minha direção. Procurando por algo, ou alguém.
Parando o olhar diretamente em mim.
Como se tivesse me visto.
Mas isso não era possível, não é?
O olhei de volta, mas não conseguia ver muita coisa.
Era como se ele fosse uma memória minha, uma memória borrada.
O formigamento no meio das minhas pernas tinha aumentado e eu não conseguia me mover sem me desmanchar ali mesmo.
Eu estava trêmula e suando muito.
Senti falta de ar e meu coração estava acelerado.
Esfreguei as pernas tentando aliviar a vontade de enfiar a mão por dentro das minhas roupas de baixo e eu mesma me aliviar.
O quão impura eu sou, por sentir tesão por um homem que eu nunca vi na vida?
De desejar alguém que eu nem sequer conheço quando já pertenço a outro.
Eu estava ofegante e minha boca estava seca e então, o homem começou a vir correndo em minha direção.
E eu acabei pulando na cama e abrindo os olhos rapidamente, vendo o médico e a enfermeira me encarando apavorados.
Meus pulmões doíam como se eu tivesse ficado muito tempo sem respirar, estava no início de enxaqueca horrível sendo causada por uma pressão no meu cérebro e meu corpo formigava como se eu tivesse ficado muito tempo na mesma posição.
- Você está bem? Está machucada? - o médico atropelava as próprias perguntas nervoso.
Eu resmunguei um sim e avisei que estava bem.
Não estava entendendo a cara de pânico dos médicos.
- O que está acontecendo? Está tudo bem? - pergunto meio grogue.
- a senhorita acordou mais cedo que o esperado para o efeito do soro, mas está tudo bem sim! Só não estávamos esperando. – o médico parecia ansioso, o que me deixava ansiosa também – está se sentindo bem? Qualquer coisa que esteja sentindo nos conte, ok?
Eu estranhei um pouco mas acabei concordando e relatei sobre o que estava sentindo.
- conseguiram meus resultados? - perguntei.
- sim, estamos com eles. Já vamos imprimir, só um momento. - o médico fez um sinal afirmativo com a cabeça e apontou para o computador atrás dele, se virando logo em seguida e começando a digitar rapidamente.
A enfermeira me ajudou a descer da maca e eu oscilei um pouco antes de me firmar de pé sozinha.
O médico fez um sinal para eu me aproximar e me entregou um envelope pardo em minhas mãos.
- Leve isto para o médico responsável e ele te dirá tudo o que precisa saber, querida. - me deu um pequeno sorriso e abriu a porta rapidamente, me indicando com as mãos que eu deveria sair do consultório.
Acenei com a cabeça para me despedir e enquanto andava com a enfermeira no meu encalço, me lembrei de que o nome de Noah não iria aparecer naquele papel.
E sim, o nome de um estranho.
Eu me sentia fazendo a caminhada para a minha própria execução. Só conseguia pedir em pensamento que o nome que saísse como resultado, fosse de uma boa família e fosse bastante reconhecido.
A enfermeira parou de frente a uma porta em um dos corredores e bateu pedindo permissão para entrar.
Ouvi um "Pode entrar", e respirei fundo. Era agora ou nunca.
Eu adentrei a sala sozinha e me sentei a uma das duas cadeiras que tinha em frente a mesa de mogno.
Atrás da mesa, o homem sorriu para mim, creio que era para eu me tranquilizar mas aquilo só piorou minha ansiedade.
- Olá, jovem! - disse calmo e feliz demais pro meu gosto. Afinal um futuro estava sendo destruído, e tenho certeza de que não era o dele.
O máximo de simpatia que consegui demostrar naquele momento foi um murmúrio de um cumprimento para não deixar o médico sem resposta.
O que quer que viesse agora, eu sabia que teria que ser forte e sensata. Afinal, eu já havia perdido as esperanças de um casamento por amor.
- Bom, deixe-me ver - pediu me estendendo a mão num pedido mudo para que eu o entregasse o envelope.
Suspirei e o entreguei.
O médico abriu com uma calma invejável, e começou a ler o conteúdo nos papeis.
Eu iria o apressar, mas vi quando o cenho dele começou a franzir e ele ajeitou o próprio óculos empurrando a armação de volta para cima do nariz. Logo ficou ereto na cadeira e pigarreou sério.
- Senhorita Soares, lamento. Não possuo boas notícias para você. - deu uma pausa e meu coração perdeu o compasso. Como assim não tinha boas notícias para mim? Esse dia pode ficar pior?
- Como assim doutor? O que houve? - eu sentia que a qualquer momento eu iria desmaiar.
- Bem... Vou ser direto. A senhorita foi pareada com um "Liberal". - ao falar liberal, ele fez uma careta de nojo. E eu, senti meu mundo desabar. - o que a senhorita fez para ser pareada com essa corja? Não sente vergonha?
Eu sequer conseguia fazer perguntas ou responder o médico. Mas na minha cabeça, veio as imagens de eu nua por cima de Noah, cavalgando nele sem nenhuma preocupação, como uma vadia completa.
- E-eu, eu não sei - sinto as lágrimas caindo desenfreadas novamente - eu juro que eu não sei porque isso está acontecendo comigo.
Ele bufa irritado e lança a pasta em minha direção por cima da mesa para que eu olhe o conteúdo. Eu entendo a reação dele, já que agora eu não sou mais considerada uma tradicional e sim, uma liberal.
Pego a pasta com as mãos tremulas e leio o nome em letras vermelhas destacadas.
Joshua Kyle Beauchamp, o Líder dos Liberais.
Meu ar sumiu dos meus pulmões e meu mundo começou a se inclinar de um jeito esquisito enquanto eu tentava me manter na vertical.
De repente, tudo ficou escuro e eu apaguei de vez. Eu tinha desmaiado.
Oi xuxus, tudo bom?
Os dias de postagem de TOS serão definidos
Horários? Não temos, já que eu nunca sei quando eu tenho tempo livre durante o dia.
Não esqueçam de votar e comentar bastante!!!
Sintam-se a vontade para chorar nesse e nos próximos capítulos.
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