𝟯𝟱. teachers & prom
𝗝𝗨𝗡𝗘 𝟭𝟰, 𝟮𝟬𝟯𝟰
ᥫ᭡𝐌𝐀𝐓𝐓...
Minha mãe ainda não parou de chorar. São lágrimas de alegria, claro, mas a intensidade não diminuiu nem um pouco desde que a tela do celular se iluminou com Chris e Angel, ambos sorrindo em uma chamada de vídeo para anunciar que estão esperando um menino. Desde a notícia, ela não parou de enxugar os olhos enquanto acaricia as mãos do meu pai, já planejando todas as cores de mantas que pretende bordar para o novo neto. Para ela, ter netos sempre foi um sonho – Justin era o único tornando isso realidade –, e agora, com a certeza de que é um menino, a emoção parece demais para ser controlada.
Jimmy também parece tomado por uma espécie de energia revigorante; já fez planos para ensinar o garoto a pescar e jogar golfe, mal disfarçando um orgulho antecipado. "Já que os meu próprios filhos não herdaram o dom pra isso," ele declara com uma piscadela, me lançando um olhar divertido. Não dá para negar que eu e meus irmãos nunca fomos fãs desses hobbies, mesmo que gostássemos de passar tempo com nosso pai, mas a ideia de vê-lo ensinando algo ao neto já me arranca um sorriso. Eu estou junto quando a notícia chega, aproveitando o almoço em família com o coração aquecido pela novidade.
Enquanto isso, penso em Lilith, que está na escola agora, ajustando os últimos detalhes para o baile de formatura dos seus alunos. É um dia importante para ela, especialmente depois do sucesso que foi seu projeto final, elogiado por todos, do diretor até os pais. Ela até foi convidada para ser a paraninfa dos alunos, e quando me contou isso ontem à noite, seus olhos se encheram de pequenas lágrimas que ela mal conseguiu conter. A vulnerabilidade que tem se deixado mostrar só fez crescer a admiração que tenho por ela.
Desde o dia em que compartilhamos nossos sentimentos, as coisas entre nós têm sido fáceis. Isso me surpreende, mas de um jeito que só traz mais certeza de que é ela quem eu quero. A gente não coloca expectativas demais no que temos, nem tenta rotular ou definir, mas todos os dias há um novo entendimento de onde queremos chegar. Eu a conquistei. Ela me conquistou. O que vier agora é mais um bônus.
Saio da casa dos meus pais para buscar Lily na escola, ainda pensando no quanto o projeto dela foi bem-sucedido e em como ela merece aproveitar cada segundo desse dia. Estou ajustando o rádio do carro quando o telefone toca. O nome de Hunter pisca na tela.
— E aí, cara — digo, ao atender.
— Fala, Matt! Tô te ligando pra saber se você já viu o novo grupo que criaram. Acha que eu posso ignorar essa reunião de ex-alunos?
Eu franzo o cenho, sem fazer ideia do que ele está falando.
— Grupo novo? Deixa eu adivinhar... Sadie ou Nick? — digo com um sorriso, lembrando de como esses dois vivem criando grupos pra tudo, dos mais banais até os inusitados.
— Não dessa vez — ele ri. — Na verdade, quem criou foi a Jessie Labeouf. Lembra dela? A ideia é reunir a galera da nossa turma de 2024 pra um reencontro. Todo mundo tá lá.
— Caramba, faz tempo que não ouço esse nome — minto, me recordando de estar na mesma classe de economia que ela há poucas semanas atrás. Na verdade, ela também estava nas classes de biologia e matemática II e pode ser que o zelador tenha nos pego em flagrante tentando invadir a sala de projeção para dar uns beijos no segundo ano. — Então, vai mesmo rolar uma reunião da turma?
— Pois é. A Jessie disse que vai mandar um "save the date" e tudo. Mas ó, só vou confirmar presença se você e Lilith forem também. O que você acha?
Eu olho para o relógio, calculando o tempo até chegar à escola. Considero por um instante a ideia de reencontrar o pessoal – secretamente empolgado em saber como todo mundo é como adulto. E penso que, de alguma forma, vamos estar de volta onde tudo começou, com as pessoas do ensino médio. Talvez a gente tenha uma chance melhor de encontrar mais respostas indo nessa reunião.
— Tô indo buscar Lily agora. Vou perguntar a ela, e te falo mais tarde.
— Fechado! Dá um alô pra ela por mim. E não se atreva a fugir desse encontro, hein.
— É você que disse que não irá sem a gente!
Rindo, encerro a ligação. Faço a curva em direção à escola, ansioso para ver o que ela vai achar dessa tal reunião.
❄︎ ❄︎ ❄︎
Enquanto estamos a caminho do baile, olho para Lilith e me pego pensando em como vim parar aqui. Não faço ideia de como ela me convenceu a participar disso, mas quando a vi com esse vestido, foi o suficiente para me fazer dizer "sim" a tudo o que ela pedisse. Ela está deslumbrante. E, se a ideia era me convencer de que essa noite valerá a pena, já tinha conseguido antes mesmo de sairmos.
Dirijo em silêncio por alguns minutos, ainda digerindo a beleza dela ao meu lado, quando Lilith puxa de volta o assunto da reunião dos ex-alunos.
— Acho que pode ser a nossa chance de recuperar o anuário, sabia? — ela diz, pensativa.
— Pode ser. Alguém lá deve ter uma cópia, talvez a própria Jessie. Vale a tentativa.
Mas aí percebo que o rosto dela se altera, como se algo tivesse a desanimado de repente. Não demoro a perguntar:
— O que houve?
Ela hesita antes de responder, me olhando para se pudesse passar a mensagem por telepatia e evitar as palavras.
— É só que... Por mais que eu queira resolver tudo, sinto que, pela primeira vez, estou aproveitando esse futuro mais do que eu deveria. Eu não estou correndo atrás do prejuízo o tempo todo, Matt. Não preciso me preocupar em pagar as contas com todo o dinheiro que tenho e saber se vai sobrar algo para comer, nem em carregar toda a responsabilidade da casa, da minha avó, da minha mãe, da Azzy... Além disso, tenho um ótimo emprego que realmente me dá dignidade e prazer. Eu sei que é egoísta, mas eu sinto que nunca aproveitei a vida desse jeito.
Eu sorrio, tentando aliviar o peso do desabafo dela.
— E metade da culpa de estar sendo tão bom assim é minha, você sabe — brinco, arqueando uma sobrancelha. — Mas olha, Lily, a gente não precisa pensar nos prós e contras agora. Hoje, você merece curtir cada minuto, sem preocupações. Esse será o nosso baile de formatura, já que não lembramos de ter tido um.
Ela sorri, ainda meio hesitante, mas vejo que sua preocupação se desfaz um pouco. Antes que possamos falar mais sobre o assunto, chegamos ao colégio, e a professora orientadora nos aguarda logo na entrada.
Assim que saímos do carro, ela se aproxima de nós, acenando e sorrindo como se não tivéssemos a visto. Já de cara, nos coloca etiquetas de identificação e começa a despejar uma série de instruções: o que devemos observar, como ajudar os alunos, onde ficarmos de olho para evitar "áreas proibidas". Ela não para de falar, como se tentasse memorizar uma lista interminável de recomendações. A cada nova regra, sinto o entusiasmo de Lilith murchar.
Finalmente, com o último fôlego, a professora se vira para mim, com um sorriso gracioso.
— Agradeço muito seu voluntariado esta noite, Matt. É sempre uma honra ter ex-alunos tão comprometidos participando — diz, e posso jurar que ela está olhando um pouco tempo demais para mim.
Lilith limpa a garganta de forma nada sutil.
— Bom, então, vamos aos nossos postos — diz ela, soando levemente impaciente enquanto enfia o braço no meu.
Dou uma risada baixa e a sigo, tentando esconder o quanto estou gostando de ver o lado ciumenta de Lilith.
— Simpática, né?
— Hm, muito. — Ela solta um resmungo irritado, logo antes de sorrir para outro professor que passa por nós. — Aproveita e leva pra casa.
— Já tenho quem levar pra casa.
Já instalado no salão, começo a observar os alunos enquanto Lilith se certifica de que eu esteja trabalhando – e não tentando convencê-la a dar uma escapada para a biblioteca ou a sala dos professores. Nate, para minha sorte, também está aqui. Ele vigia os alunos como um falcão, especialmente os que juraram em suas aulas de educação sexual que "iriam se comportar", algo que ele parece estar levando muito a sério.
E então, ali no canto, meus olhos encontram um garoto que parece ter saído direto de um comercial de creme dental. O cabelo bem alinhado, o terno sem um amassado, e ele segura sua acompanhante com uma confiança que me faz pensar: esse aí não teve problema em conseguir um par para o baile. Talvez ele até esteja no time de hóquei da escola. Percebo que, de vez em quando, ele tenta disfarçar um olhar curioso na minha direção. Provavelmente não quer admitir que está surpreso em ver um jogador de hóquei profissional na festa. Adolescentes.
Mas o que realmente me chama a atenção é o jeito nervoso com que ele passa a mão no paletó, como se estivesse escondendo algo. Quando o vejo se afastando em direção ao banheiro com a mão discretamente enfiada no bolso do casaco, tenho um palpite sobre o que ele pretende fazer.
Caminho até ele e, antes que possa entrar no banheiro, estendo a mão.
— Pode passar pra cá — digo, usando um tom que deixa claro que ele não tem saída.
O garoto hesita, mas finalmente puxa um pequeno cantil prateado do bolso e o entrega, tentando disfarçar a decepção.
— Droga — ele murmura ao se afastar derrotado.
— Sinto muito, amigão. Minha mulher está me fazendo trabalhar e eu não faço nada pela metade.
Com o cantil em mãos, faço o que qualquer adulto responsável faria: vou até o banheiro dos funcionários e tomo um gole. O líquido é amargo e tão forte que quase me faz engasgar. Argh! Isso aqui é puro veneno. Ou gasolina. Limpo a garganta e jogo o cantil na lixeira, como se estivesse me livrando de uma evidência perigosa.
Ao sair do banheiro, procuro Lilith no salão. Preciso contar para ela sobre minha intervenção certeira. Encontro-a perto do fotógrafo, que está ocupando uma área do salão tirando fotos dos formandos em suas poses clássicas para o anuário. Ela sorri, radiante, observando os alunos se prepararem para as fotos.
Espero o casal diante das lentes se afastar e, num impulso, puxo Lilith pela cintura, levando-a até o centro do cenário montado para as fotos.
— O que você está fazendo? — ela pergunta, rindo e tentando esconder o constrangimento.
— Tirando uma foto com você — respondo, com um sorriso satisfeito.
Faço um joinha para o fotógrafo, que ri da nossa espontaneidade e se prepara para tirar a foto. Lilith tenta escapar, dizendo que é melhor o fotógrafo guardar filme para os alunos, mas, antes de sair, ela percebe algo e para, colocando minhas mãos ao redor dela e se posicionando para a foto.
— O que foi tudo isso? — pergunto, intrigado.
— A sua "fã número um" da monitoria — ela murmura, divertida. — Está olhando pra cá com a maior careta do mundo.
Quando o flash dispara, Lilith sorri satisfeita e, assim que a foto é tirada, me encara com um brilho nos olhos.
— Vamos dançar?
Na pista de dança, "Cooler Than Me" começa a tocar, e tanto eu quanto Lilith suspiramos de alívio por conhecer a música. Começamos a dançar, rindo, enquanto conto sobre o aluno que peguei com o cantil.
Ela franze o cenho, desconfiada, e logo solta uma pergunta direta.
— Você tomou um pouco da bebida, não foi?
Minha cara de culpado me entrega antes mesmo que eu possa responder. Ela ri e me dá um leve tapa no ombro, mas, ao me puxar para mais perto na dança, sinto que ela não está realmente irritada. O som da música aumenta e, num momento de descontração, começamos a inventar passos de dança como se fôssemos profissionais.
Os alunos ao nosso redor aplaudem e incentivam, e Lilith, num impulso, dá um beijinho rápido em minha bochecha, deixando-me completamente bobo, com a mão no peito, como se tivesse levado um golpe de amor.
Nossa dança improvisada acaba virando o centro das atenções, e, pelo que parece horas, somos distração o suficiente para garantir que nenhuma das crianças ouse sair da linha pelo resto da noite.
❄︎ ❄︎ ❄︎
No caminho de volta da festa, Lilith está radiante e um pouco emocionada, os olhos brilhando ao relembrar os momentos da noite. Em determinado momento, ela confessa, entre risos, que chegou a deixar escorrer algumas lágrimas durante o discurso de uma de suas alunas. A garota falara como a presença de Lilith ao longo do ano tinha feito toda a diferença para ela, e Lilith ouvira tudo com o coração apertado, como se tivesse acompanhado cada um daqueles jovens desde o início da trajetória escolar.
— Foi uma noite e tanto, não foi? — murmura Lily, a voz embargada enquanto eu a observo com um sorriso.
Balança a cabeça, concordando, e antes que ela continue, lembra-me que até o diretor veio cumprimentá-la no final, elogiando o projeto dela e sugerindo torná-lo um marco para os formandos de todos os anos. Lilith agradece com um sorriso orgulhoso, embora surpresa com o reconhecimento do diretor Hobbes.
Até Cassie, a garotinha que Lilith levava para a escola todos os dias, aproximou-se dela com um abraço apertado, que quase ignorou a minha presença. Quase. Em memória aos velhos tempos, Cassie ainda pediu para que eu tirasse uma foto de nós três juntos e, com uma piscadela marota, comentou: "Eu sempre soube que vocês iriam ficar juntos para sempre."
Quando chegamos em casa, já é tarde, mas o clima da festa ainda nos envolve. Estaciono o carro e descemos a rua conversando, e o assunto desvia para o aniversário de Sadie, que iremos comemorar amanhã, embora a data certa seja só na semana que vem. Não posso deixar de falar sobre como estou animado em ter uns dias só para nós dois, para explorar ainda mais o nosso relacionamento e esquecer o mundo externo.
— Vai ser só a gente e algumas paisagens lindas — digo, sorrindo malicioso.
— Mal posso esperar — Lilith responde da mesma forma, enquanto gira a chave do portão para abrir.
Mas enquanto ela entra, algo chama a minha atenção. Pelo canto do olho, vejo uma pequena movimentação do outro lado da rua. Com o cenho franzido, olho com mais atenção, mas não vejo nada específico, apenas sombras de árvores dançando sob a luz fraca dos postes.
Um arrepio sutil corre por minha pele, e eu quase rio de mim mesmo, pensando que talvez esteja apenas cansado ou que o ponche da festa mexeu comigo mais do que imaginei. Mesmo assim, meu olhar permanece fixo. E tenho certeza que sinto algo – ou alguém – observando, escondido no escuro. A sensação é estranha, como se olhos invisíveis me vigiassem, a poucos metros de distância.
Então, um barulho baixo vem dos arbustos em frente ao prédio do outro lado da rua. Minha mente tenta me convencer de que é só um esquilo, um gato de rua, mas meu corpo se mantém tenso, incapaz de ignorar a sensação. Estreita os olhos, vidrado, questionando se devo atravessar a rua e investigar o que pode estar escondido nas sombras.
Estou prestes a dar o primeiro passo, mas a voz de Lilith me traz de volta à realidade.
— Matt? O que você está fazendo aí fora? — ela chama da porta, já dentro de casa, com uma expressão curiosa.
Pisco, sacudindo a tensão, e dou uma última olhada para o arbusto. Não tem nada lá, claro, como se tudo fosse apenas uma criação da minha mente.
— Nada — murmuro, com um sorriso forçado, enquanto entro em casa e fecho o portão atrás de mim. Dou duas voltas na chave e, no mesmo instante, uma notificação no celular avisa que o alarme foi ativado. A sensação de segurança se restabelece, mas o arrepio na nuca ainda persiste.
Sigo Lilith para o andar onde fica nosso quarto, e instintivamente vou para a porta de correr que se abre para a rua, para o prédio à frente e o arbusto, tentando me convencer de que não era nada. Afinal, estamos em casa agora – juntos e seguros. Mas, mais tarde, enquanto apago as luzes e me preparo para dormir, não consigo afastar a ideia de que talvez, não tenha sido coisa da minha cabeça.
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