𝟯𝟯. thinking bout you
𝗝𝗨𝗡𝗘 𝟳, 𝟮𝟬𝟯𝟰
ᥫ᭡𝐌𝐀𝐓𝐓...
Aspen está ao meu lado, amarrando seus patins enquanto me acomodo na arquibancada antes do treino começar. Por um momento, fico em silêncio, pensando em como abordar tudo o que aconteceu desde domingo. Quero respeitar o espaço dela, mas ao mesmo tempo, não consigo ignorar a preocupação que sinto.
— Ei, Azzy. — Começo, tentando escolher bem as palavras. — Não quero ser indelicado nem te pressionar, mas... como você está se sentindo em relação a tudo que rolou com o Garrett?
Ela suspira, os olhos fixos no gelo à nossa frente. Há um misto de tristeza e alívio em seu rosto, como se estivesse processando tudo ainda, mas já começando a aceitar a situação.
— Sabe, eu nunca senti tudo isso antes — ela responde, com um sorriso leve e um pouco cansado. — É estranho, mas acho que está tudo bem você perguntar. Eu sei que você só quer ajudar.
Aceno, incentivando-a a continuar.
— Foi difícil encarar ele esses dias — ela admite. — Garrett age como se nada tivesse acontecido, como se... como se a gente fosse só amigos com gostos em comuns, sabe? — Ela faz uma pausa, franzindo as sobrancelhas. — Eu não culpo a Wendy por nada disso. Na verdade, acho que ela nem tem ideia do que eu sinto por ele. E talvez o Garrett também não... ou só não se importa.
Ela tenta sorrir, mas há um toque de amargura ali, que me faz querer protegê-la ainda mais. Tento ser leve, mas não resisto à ideia.
— Posso ter uma palavrinha com esse Garrett, se você quiser — digo, brincando, mas sem esconder o tom protetor.
Ela solta uma risadinha, e vejo o alívio rápido nos olhos dela.
— Não precisa, Matt. — Ela balança a cabeça, ainda sorrindo. — Sério. Acho que ele realmente não merece essa atenção toda... e eu não quero que isso atrapalhe mais do que já atrapalhou.
Fico observando-a, admirado pela forma como está lidando com tudo isso. Essa maturidade, essa resistência... é uma coisa rara de se ver em alguém tão jovem.
— Eu tenho orgulho de você, Aspen — digo, com sinceridade. — De verdade. Você está lidando com isso de um jeito que muita gente mais velha não conseguiria. Se precisar de qualquer coisa, tô aqui. Sempre.
Ela me olha, e vejo algo em seus olhos que não costuma demonstrar. Algo profundo, que me faz sentir como se estivéssemos numa conversa entre iguais.
— Obrigada, Matt. — Ela hesita um pouco antes de continuar. — Eu sei que você não precisava fazer tudo isso por mim... que poderia só se importar de longe. Mas você... você é meio que minha família, sabe? De verdade.
Sinto um aperto no peito, uma mistura de emoção e orgulho. Saber que eu sou isso para ela significa mais do que eu consigo expressar. Dou um sorriso, tentando manter o tom natural.
— Bom, alguém tem que cuidar de você, né? — brinco, dando um leve empurrão no ombro dela. — E acho que fui promovido a irmão mais velho oficialmente.
— Pode ter certeza que te considero mais do que isso.
Ela ri e acena, correndo para a pista de gelo, onde sua treinadora a espera.
❄︎ ❄︎ ❄︎
O som dos patins deslizando sobre o gelo ecoa pela arena, misturado ao estalo constante dos movimentos precisos de Aspen. Ela segue com atenção as instruções de Anni-Frid, uma mulher de postura impecável, cujo olhar parece captar até os mínimos detalhes. Observá-las é como ver uma dança silenciosa, onde a rigidez da treinadora encontra a leveza dos movimentos juvenis de Aspen. Apesar de Anni-Frid ser econômica nas palavras, suas expressões físicas são o bastante para que Aspen entenda exatamente o que precisa corrigir. Curiosamente, parece que essa garotinha gosta desse tipo de desafio.
Sentado na arquibancada, meio perdido nos próprios pensamentos, percebo uma figura familiar entrando na arena. Lilith aparece, um sorriso largo surgindo em seu rosto assim que vê Aspen deslizando pelo gelo. Ela se aproxima de mim, sentando-se ao meu lado, e seus olhos brilham com orgulho e admiração.
— E aí? Como ela está indo? — Lily pergunta, a voz suavemente empolgada, sem desviar o olhar da irmã.
Dou um sorriso, observando a facilidade com que Aspen parece se adaptar ao ritmo intenso da treinadora.
— Ela está indo muito bem. A Anni-Frid não é a treinadora mais comunicativa do mundo, mas Aspen parece gostar disso. Acho que a pressão extra de uma ex-atleta olímpica só faz ela se esforçar mais.
Lilith balança a cabeça, ponderando sobre isso. Ela lança um olhar interessado para a mulher de cabelos tão loiros que reflete, que assiste cada movimento de Aspen com uma atenção que chega a ser um pouco intimidadora.
— Ela realmente parece exigente — comenta. — Mas deve ser bom pra Aspen ter alguém assim, que a empurra pra ir além.
Eu dou de ombros, ainda surpreso com a determinação de Aspen. Eu sabia que ela tinha talento, mas ver essa determinação em ação é algo completamente diferente.
— Sim, e Anni-Frid tem grandes expectativas. Ela já começou a falar sobre selecionar um parceiro de patinação para Aspen — digo, vendo o brilho de empolgação nos olhos de Lilith. — Ela acha que Aspen tem o potencial para competir em duplas e quer adiantar o processo.
Lilith abre um sorriso animado, como se estivesse tentando imaginar Aspen se apresentando com um parceiro nas competições.
— Sério? Ela mencionou alguma coisa sobre como seria o processo de seleção?
Faço que sim com a cabeça.
— Sim, ela quer começar logo, na verdade. Mas, é em Nova York. Disse que, quanto antes Aspen se adaptar ao trabalho em dupla, melhor para ela evoluir. Vamos precisar organizar algumas sessões de teste, e ela também disse que se encarrega de escolher alguns candidatos com experiência.
— Você não acha que ela é muito nova para isso? Parece tudo tão intenso. — Ela deixa escapar um tom preocupado.
— Encontrar um parceiro? Bom, acho que a gente precisa confiar na visão estratégica de Anni-Frid. Se ela acha que Aspen elevaria seu potencial com um parceiro, por que não tentar?
Lily faz uma pausa, observando Aspen deslizar elegantemente pelo gelo e sorrindo ao ver a expressão concentrada da garota. Ela volta o olhar para mim, o rosto mais relaxado com as minhas palavras de apoio.
— Bem, então acho que Azzy vai adorar essa ideia.
Sorrio, compartilhando do mesmo sentimento. Ver Aspen se envolver tanto com a patinação e se dedicar ao máximo para se superar é algo que nos enche de orgulho.
Eu observo Lilith se levantar e caminhar em direção a Aspen quando o treino finalmente chega ao fim. Anni-Frid dá um aceno rápido com a cabeça, despedindo-se da nossa garota e mencionando que se encontrarão na próxima sexta-feira em Nova York. Aspen faz um gesto de agradecimento e, assim que a treinadora se afasta, ela desliza até a borda do ringue, onde Lilith a recebe com um abraço apertado.
Ver as duas juntas é uma imagem que me traz muita felicidade. Nos últimos dias, tenho percebido algo diferente entre elas – um laço que parece se fortalecer, cheio de conversas que acontecem naturalmente, sem minha interferência. Lilith e Aspen estão se reaproximando finalmente, e o carinho que vejo nos olhos delas é algo genuíno. Sinto um orgulho imenso por Lily, pela forma como ela se entrega e cuida da Azzy. E é aí que minha mente me trai.
Sem querer, eu me pego pensando em como Lilith lidaria com outras crianças... com o nosso bebê. Uma onda de calor e uma ansiedade boa se misturam, como se eu pudesse quase ver uma versão de nós no futuro, com filhos que têm o sorriso dela, os mesmos olhos expressivos. Imagino Lilith amando essas crianças, protegendo-as, guiando-as – assim como ela faz com Aspen agora. A ideia me deixa meio desconcertado. Eu sou um garoto de 17 anos, e, até algumas semanas atrás, a ideia de ter filhos era algo distante e abstrato. Mas com Lilith... parece tão natural, tão certo.
Dou um suspiro, espantando o pensamento para longe por um momento. Ainda estamos no começo, e eu nem sequer consegui dizer a ela o que realmente sinto. Mas, se estou aprendendo algo com tudo isso, é a importância de olhar para o futuro, por mais distante que pareça.
Me aproximo das duas, sorrindo e pronto para dar uma animada no início da noite.
— Eu... posso ou não ter trazido patins extras no carro e, quem sabe, convidado o pessoal para vir aqui. O que acham de uma partida de hóquei?
Lilith arqueia uma sobrancelha, fingindo suspeitar de mim enquanto sorri.
— Que pessoal seria esse, Matt?
Eu abro um sorriso, já antecipando a reação dela.
— Hunter, Nick, Nate e Derek.
Lilith revira os olhos, mas tem um brilho divertido neles.
— Melhor que a Maya também esteja vindo.
Solto uma risada, sabendo que ela vai fingir desapontamento com minha resposta.
— Sinto muito por decepcionar você, mas esse dia é só dos caras. A Maya vai ter que esperar pela próxima.
Lilith solta um suspiro exagerado e finge uma expressão de indignação, mas vejo um sorriso escapando pelo canto dos lábios. Aspen ri ao nosso lado, e eu sinto uma alegria simples e genuína por estar aqui, com elas, compartilhando essas memórias.
— Nós duas vamos ser as juízas! — Aspen anuncia com entusiasmo, mas em seguida, ela dá de ombros e completa: — Quer dizer, quero ser juíza e jogadora também.
Dou um grito animado, minha voz ecoando por toda a arena de gelo. Saio quase correndo para pegar os patins no carro. Quando volto, vejo Aspen deslizando pelo gelo, fazendo piruetas e saltos com uma tranquilidade que me deixa impressionado toda vez que assisto.
Me sento para colocar meus patins e olho para Lilith, que observa tudo de um jeito um pouco apreensivo. Coloco os patins extras ao lado dela e dou um sorriso encorajador.
— Vamos lá, Lily, calça esses aqui.
Ela suspira e começa a colocar os patins, mas logo percebo o desconforto dela. Quando estou amarrando os cadarços para ela, ela murmura, quase como um segredo:
— Para ser honesta... nunca patinei no gelo antes.
Fico surpreso e dou uma olhada em volta para ter certeza de que Aspen está longe o suficiente para não ouvir. Sei que, para Aspen, a ideia de Lilith nunca ter patinado vai soar estranha, porque talvez ela já tenha visto a irmã fazer isso com facilidade outras vezes. Dou um sorriso tranquilizador e termino de amarrar os cadarços dela, dando uma batidinha firme no pé dela quando o coloco no chão.
— Sem problema, eu ajudo você. — Me inclino e roubo um beijo rápido dos lábios dela antes de me levantar e estender minha mão para ela, sentindo meu peito inflar com a ideia de poder ensinar algo para Lily.
Quando entramos no gelo, vou devagar, mantendo minha mão firme na dela enquanto ela tenta se equilibrar. Logo, Aspen desliza até nós e observa com curiosidade.
— Por que a Lilith tá com medo do gelo? — ela pergunta, sem esconder a estranheza.
Lilith responde com um sorriso um pouco tenso:
— Acho que é só falta de prática, Azzy.
Aspen parece ponderar por um segundo, mas logo dá de ombros, voltando a fazer suas piruetas. Quando Lilith está mais acostumada ao gelo, aproveito para provocá-la um pouco, patinando rápido na direção dela como se fosse colidir, mas desviando no último segundo. Ela me lança um olhar de desafio, e eu rio, adorando ver a centelha nos olhos dela.
Num impulso, eu a puxo para perto e envolvo meus braços ao redor dela, fazendo-a deslizar mais rápido comigo. Lilith solta um gritinho, se segurando em mim, e rimos juntos enquanto ela tenta se acostumar com a velocidade. Tento até tirá-la do chão, como se fosse fazer uma manobra de patinação artística em duplas, o que resulta numa gargalhada alta de Aspen, que está adorando nos ver juntos no gelo.
— Você é impossível! — Lily protesta, rindo e se agarrando em mim.
— Faz parte do meu charme — respondo, dando uma piscadinha.
É nesse momento que ouço vozes familiares ecoando pela arena. Hunter, Nick, Nate e Derek aparecem, já trazendo seus equipamentos. Sinto o olhar de Lilith relaxar, quase como um suspiro de alívio ao perceber que a "tortura" chegou ao fim, agora que meus amigos estão aqui para distrair minha atenção.
Ela me lança um último olhar, ainda sorrindo, e eu solto sua mão, deixando-a livre para sair do gelo e se juntar a Aspen, enquanto me preparo para uma partida de hóquei épica com os caras.
❄︎ ❄︎ ❄︎
Quando o jogo amador chega ao fim, nós todos saímos do gelo ofegantes, com os rostos corados e suando. Nos espalhamos pelo lado da arena enquanto os caras debatem onde vamos comer. Hunter sugere uma churrascaria, mas Nate quer algo mais rápido, como uma lanchonete e Derek nos convida para jantar em sua casa. Eu e Nick nos afastamos um pouco, indo direto ao bebedouro. Bebemos como se tivéssemos acabado de atravessar um deserto, alternando entre os goles e os risos, exaustos e satisfeitos como crianças depois de um dia no parque de diversão.
Enquanto ainda enxugo a testa com o dorso da mão, dou um leve empurrão no ombro dele.
— Cara, é bom ver você ficando mais tempo por aqui — digo, com sinceridade. — Como você tá?
Nick dá de ombros, um sorriso relaxado nos lábios.
— Ah, sabe como é, a saudade sempre vence no final. Talvez eu tome vergonha na cara e compre logo uma casa em Boston, em vez de ficar acampando na casa dos nossos pais sempre que venho.
Dou uma risada, imaginando Nick acomodado na casa dos nossos pais como se fosse um adolescente de novo.
— Fala sério, Nick, vai fazer isso? Não consigo nem imaginar você parado em um lugar só. Mas, sei lá... seria bom.
Ele ergue as sobrancelhas, curioso.
— É mesmo? — ele diz, meio de brincadeira. — Falando assim, até parece que sou o único que não tá pensando em algo mais sério na vida.
Dou uma risada rápida, mas o comentário dele meio que acerta em cheio. Uma parte de mim sabe que ele tá brincando, mas outra sente que essa conversa pode ser exatamente o que preciso. Algo mais sério na vida além de estar prestes a me casar? Ah sim, o fato de eu não estar preparado para me casar.
Respiro fundo, tentando colocar meus pensamentos em ordem.
— Cara... — começo, hesitante, sem nem saber direito como desabafar. — É meio estranho falar disso, mas... ultimamente, depois de tudo o que passamos nos últimos meses, tenho sentido como se estivesse a um passo de... sei lá, dizer pra Lily o quanto ela significa pra mim. O quanto eu a... — hesito, e Nick me olha com uma expressão atenta, mas paciente. — Só que parece tão estranho. Sinto tudo isso aqui — bato no peito —, mas toda vez que vou abrir a boca pra dizer, trava.
Nick dá uma risada baixa e me dá um tapinha nas costas.
— Parece que o nosso romântico aqui tá bem encrencado, hein? — Ele sorri de leve, mas, vendo minha expressão, logo fica mais sério. — É normal, Matt. Às vezes, o amor assusta, mesmo quando já estamos em um relacionamento de tantos anos. Sei que vocês passaram por umas coisas complicadas, mas... se você sente isso, o que te impede?
Olho para baixo, tentando formular uma resposta. Como explicar pra ele que o sentimento é tão forte que parece até queimar, mas também parece como se... eu ainda não estivesse pronto pra dar aquele passo final?
— Acho que é o fato de que tudo com a Lily é diferente, sabe? Eu olho pra ela e sinto... futuro. Um futuro que vai muito além de qualquer coisa que já pensei pra minha vida. E, ao mesmo tempo, parece que eu deveria entender melhor o que isso significa antes de... de continuar.
— Você está tendo dúvidas sobre casar com ela, Matt?
— Não! Não… — digo, alarmado. É difícil querer conselho de alguém quando ele acha que sou o Matt adulto e com todas questões resolvidas sobre meu relacionamento com Lily. — Eu só não estou sabendo me expressar ultimamente, mostrar como me sinto, sabe?
Nick assente, embora não entenda como eu gostaria que entendesse. Ele coloca a mão no meu ombro, oferecendo aquele apoio típico de irmão mais velho.
— Eu acho que amar alguém é uma construção. Nem sempre a gente entende o que significa no começo. E, honestamente? Você não precisa entender tudo pra se permitir sentir. Talvez você nunca vá ter todas as respostas, mas se ela é o que você quer, então tá tudo bem dar um passo de cada vez.
Saber que talvez eu não precise de todas as respostas pra continuar nesse caminho com Lily é como tirar um peso dos meus ombros. Gosto do nosso ritmo, embora eu não saiba o quão recíproco é da parte dela.
— Valeu, Nick. — Aperto seu ombro em um gesto de gratidão. — Acho que isso faz sentido. Quem sabe... da próxima vez, eu consiga dizer tudo o que sinto.
Ele sorri, genuinamente feliz por ter ajudado. Mas logo depois revira os olhos, como se não aguentasse a melação por muito tempo.
— Espero que marquem logo a data desse casório. Não vejo a hora de comer um bom bolo de casamento, com três andares e exageradamente recheado.
Eu dou uma risada com o comentário dele, balançando a cabeça.
— Tudo bem, Sr. Convidado de honra — digo, dando-lhe um leve soco no braço. — Mas, enquanto o bolo não chega, acho que você vai ter que se contentar com burritos e uns tacos.
— Também estou sentindo vontade de um mexicano hoje.
Nick dá de ombros, aceitando o acordo com um sorriso satisfeito. A turma se junta a nós, decididos a encerrar a noite no Taco Bell. Seguimos todos em direção à saída, e quando Lily está perto o suficiente, eu a abraço de lado e parece tão natural que ela apenas me lança um sorriso antes de voltar a conversar animadamente com Nate.
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