𝟯𝟮. old videos & girl chats
𝗝𝗨𝗡𝗘 𝟰, 𝟮𝟬𝟯𝟰
ᥫ᭡𝐋𝐈𝐋𝐈𝐓𝐇...
Estamos no estacionamento, devorando nossos pedidos do Shake Shack. O drive-thru foi nossa salvação depois da confusão emocional que Aspen enfrentou e mais uma hora de viagem até estarmos de volta ao centro de Boston. Ela está quieta, bem mais do que o normal, comendo seu lanche lentamente no banco de trás. Matt e eu trocamos olhares preocupados.
Decido quebrar o silêncio e tentar distraí-la um pouco.
— Quando Azzy era bebê — começo, lançando um olhar de canto para Matt. — Uma das brincadeiras favoritas dela era ser colocada dentro de um carrinho de supermercado e empurrada pelo estacionamento. Eu fazia umas curvas rápidas e acelerava só para ouvir a risada dela.
Matt ri, seus olhos brilhando de diversão enquanto ele observa Aspen pelo retrovisor. Um pequeno sorriso escapa pelos lábios da minha irmã.
— Isso parece um pouco perigoso para um bebê — ele comenta, balançando a cabeça.
Reviro os olhos.
— Eu posso ser divertida, sabe? E fazia com cuidado.
— Uhum — ele murmura, divertido, antes de emendar: — O estacionamento que a gente está agora é um dos lugares onde eu e meus irmãos usávamos para gravar vídeos para o YouTube quando éramos adolescentes.
Essa informação parece chamar a atenção de Aspen, embora ela ainda não diga nada, mantendo o foco no lanche. Shelby, já acomodada em sua pequena gaiola improvisada ao lado dela, recebe um olhar breve antes que ela volte sua atenção para a conversa.
Curiosa, aproveito a deixa.
— Vocês ainda têm esses vídeos? Já assistiram algum?
Aspen finalmente se manifesta, a voz suave, embora claramente chorosa.
— O tio Chris pediu pessoalmente que eu nunca assistisse... mas, bom, eu vi um ou dois no ano passado.
Matt dá uma risada leve.
— Sério? Vamos ver algum agora, então.
Ele ajusta o computador de bordo e, com a tela projetada no vidro do carro em uma espécie de holograma, Aspen escolhe um dos vídeos antigos do canal dos Sturniolo Triplets.
O título “Reacting to DM’s” surge destacado na tela, e o riso leve de Aspen logo quebra o silêncio no carro, especialmente quando os irmãos fazem caretas e piadas exageradas no vídeo. Matt aparece tão diferente – não só mais jovem, mas com uma leveza no olhar que não costumo ver nele agora.
— Quantos anos vocês tinham? — Aspen pergunta, curiosa.
— Tínhamos acabado de completar 17 anos — ele responde, quase rindo da lembrança.
— Uau, então foi há muitos, muitos anos atrás — ela brinca, arrancando uma careta de indignação de Matt.
Os olhos dele brilham ao rever o próprio vídeo, talvez lembrando da liberdade que ele e os irmãos sentiam naquela época. A cada risadinha de Aspen, vejo acender um pouco mais aquele reflexo de um garoto com um mundo inteiro para conquistar.
O vídeo termina e, após um longo suspiro, Aspen anuncia que está cansada e prefere ir para casa em vez de sair para comprar as coisas de Shelby. A tecnologia de entregas no futuro é surpreendentemente rápida, e vinte minutos depois de chegarmos em casa, a pequena jabuti já está instalada em seu terrário no quarto de Aspen, com brinquedos, uma pequena toca e tudo o que ela possa precisar.
De volta à sala, nós três tiramos os calçados e nos empilhamos no sofá de forma quase automática. O coração me aperta ao perceber como isso parece natural – como um ritual familiar, um momento de união que acontece mesmo sem um propósito específico.
Aspen ainda parece um pouco abatida, e tento iniciar uma conversa sobre o que aconteceu. Mas, em vez disso, ela apenas murmura:
— A gente pode assistir a um filme juntos?
Sem esperar resposta, ela se encolhe no sofá, e Matt apoia o braço no encosto, deixando que ela deite perto dele enquanto eu me acomodo ao lado dela, jogando uma manta por cima de nós três.
Enquanto Encantada passa na TV, o cansaço nos vence. Um por um, acabamos caindo no sono, e só desperto com os créditos do filme já rolando na tela, a sala envolta em uma calmaria quase mágica.
Acordo Aspen primeiro, pois ela está praticamente deitada em cima de Matt. Com um bocejo longo e os olhos pesados, ela esfrega o rosto enquanto eu lhe sussurro para ter cuidado ao descer as escadas.
Com Matt, no entanto, demoro alguns instantes a mais. Fico ali, observando o rosto dele relaxado no sono, o maxilar marcado e a barba densa que cobre sua pele, os lábios levemente entreabertos... os mesmos lábios que tocaram os meus mais cedo e dos quais não consigo desviar o pensamento. Eu nunca imaginei que adoraria sentir a barba de um homem cutucando meu rosto enquanto nos beijávamos como se o ar fosse desnecessário. Algo naquele toque áspero, bruto embora doce, me deixou com um arrepio latente. Tentei manter a compostura em público, mas, por dentro, eu me desmanchava.
Dou-lhe um toque leve no ombro, chamando:
— Matt... — murmuro, mas ele apenas solta um resmungo preguiçoso e balbucia, sonolento:
— Mais cinco minutos.
Não consigo evitar o riso. Inclinando-me um pouco mais para sussurrar em seu ouvido.
— Vamos para a cama, Matt.
Ele abre os olhos num instante, parecendo mais desperto.
— Quer tanto assim me ver na sua cama? — ele responde, com um sorriso travesso e a voz ainda rouca de sono.
Eu reviro os olhos, disfarçando um sorriso.
— Pode ficar com o sofá, então.
Mas no instante seguinte, ele está atrás de mim, envolvendo minha cintura e puxando-me para ele. Os beijos que deixa ao longo do meu pescoço são preguiçosos, quase como uma provocação. O toque dos lábios dele faz um arrepio percorrer minha pele, e, como dois fugitivos, subimos as escadas.
Assim que entramos no quarto, Matt me prende contra a porta, e eu deslizo as mãos pelo peito dele, tentando tirar o blusão xadrez. Mas algo me desperta, um sentimento sutil que se esconde atrás de todo o desejo, pedindo para eu ir devagar. Respiro fundo e o afasto, apenas o suficiente para segurar o rosto dele e dar um beijo mais lento, como se quisesse entender o que estamos fazendo. Quando nossos lábios se separam, ele me olha com confusão.
— É melhor a gente ir dormir — sussurro, temendo quebrar o clima, mesmo que seja necessário.
Ele apenas me observa, uma conversa silenciosa passando entre nós. Sem necessidade de palavras, ele dá um leve aceno com um sorriso de lado e se afasta, indo até o banheiro. Fico ali por um momento, sentindo cada lugar onde as mãos dele estiveram, como se ainda deixassem uma marca quente na minha pele.
Mais tarde, quando é minha vez no banheiro e depois de um banho demorado, volto ao quarto para encontrá-lo dormindo profundamente, deitado de bruços, o rosto suavemente afundado no travesseiro. Uma risadinha me escapa enquanto eu entro debaixo das cobertas.
Em algum momento durante minha tentativa de adormecer, sinto o braço dele me envolvendo, puxando-me para perto novamente. Sem abrir os olhos, me aconchego contra o peito dele, as costas firmemente encaixadas no corpo dele. Entrelaço os dedos nos dele, sorrindo ao sentir o calor dele sobre a minha cintura. E com o coração sereno e o corpo em sintonia com o dele, deixo-me ser levada pelo sono, aquecida pela presença de Matt.
❄︎ ❄︎ ❄︎
Matt já voltou aos treinos com o time, mas, por enquanto, ainda está na fase dos exercícios físicos, sem muita intensidade no gelo. Mesmo assim, ele parece mais animado a cada dia. Hoje, para minha surpresa, ele me acorda com beijos espalhados pelo meu rosto, os lábios quentes contra minha pele, descendo suavemente até os meus lábios assim que abro os olhos.
— Estou saindo, tá bom? — ele diz, passando a mão em meu cabelo para afastá-lo do rosto. — O café da manhã está pronto.
Sorrio e apenas aceno com a cabeça enquanto ele se despede com mais um beijo suave em meus lábios.
Assim que ele sai, não demoro a me levantar. Escolho uma saia jeans longa com uma fenda e uma blusa leve de alças. Calço botas marrons, que combinam com a bolsa de couro que carrego.
Desço as escadas com tudo pronto para o trabalho, a bolsa e uma pasta, e vou direto para a cozinha. Pouco depois, Aspen entra, já arrumada para a aula – o que é curioso, já que ela geralmente prefere tomar café antes de se trocar.
— Bom dia! — digo com um sorriso, colocando à sua frente um copo de suco de uva. Matt deve ter comprado hoje cedo, já que descobriu que é o favorito dela.
Ela murmura um “bom dia” e agradece, mas há uma leveza forçada em sua voz. Quero dizer que está tudo bem se ela preferir faltar à aula hoje, se quiser um tempo para processar o que aconteceu. Mas já conheço bem o bastante essa versão da minha irmã para saber que ela não é do tipo que para a vida por causa de um garoto. Ainda assim, não posso deixar de pensar em Garrett e o quão superficial sua aproximação com Aspen parece agora. Parte de mim tem certeza de que ele só estava interessado em chamar a atenção de Matt ou garantir algum tipo de “prestígio” por estar por perto. E, agora que conseguiu o que queria, correu atrás de quem realmente ocupa os sentimentos dele.
— Sabe, Azzy... — começo, com cuidado. — Sobre ontem, só quero que você saiba que... não tem problema se precisar de um tempo pra si mesma. Não precisa ser forte o tempo todo.
Ela solta um suspiro e dá de ombros, balançando a cabeça como quem quer afastar qualquer resquício de tristeza.
— Eu tô bem, Lilith. Sério. Não vou deixar que algo assim me faça perder um dia de aula.
— Você não precisa provar nada para ninguém, nem pra mim. — Coloco minha mão sobre a dela. — É normal se sentir chateada quando alguém nos decepciona, especialmente quando a gente confiou sentimentos a essa pessoa.
Aspen aperta os lábios, pensativa, e finalmente responde, com uma firmeza que admiro.
— Ele só me usou, não é? — diz, com uma risadinha amarga. — Talvez só quisesse uma desculpa pra se aproximar de Matt e do time. — Ela ergue o copo de suco e toma um gole, respirando fundo. — E sabe de uma coisa? Não vou me deixar afetar por isso. Garrett pode ir atrás de quem ele quiser. Eu sou muito mais do que a atenção de um garoto.
Eu sorrio, cheia de orgulho. Ela realmente está lidando com isso com uma maturidade que não esperava, mas ainda assim quero que saiba que não precisa carregar isso sozinha.
— E você é incrível, Azzy. Ele perdeu uma grande pessoa, sendo só amizade ou não. Qualquer um que te conheça de verdade vê o quanto é especial.
Aspen dá um sorriso pequeno, mas genuíno, e balança a cabeça.
— Obrigada, Lily. Mas... de verdade, eu prefiro só não ficar chateada por mais tempo do que necessário por causa disso.
— Que bom ouvir isso. — Aperto sua mão antes de me levantar e dar um beijo no topo da sua cabeça. — Mas se mudar de ideia, ou precisar de um ombro, sabe onde me encontrar.
Ela dá um sorriso largo dessa vez, como se algo dentro dela tivesse sido reforçado.
— Eu sei. E obrigada... de verdade.
Sinto um alívio ao vê-la tão resoluta, pronta para enfrentar seus problemas. E é nessas pequenas coisas que vejo o quanto somos mais parecidas do que imaginei.
Eu termino meu café enquanto Aspen ajusta a alça da mochila no ombro, pronta para ir para escola. Seguimos em silêncio até o carro, mas é um silêncio confortável, como se as palavras que trocamos na cozinha ainda ressoassem entre nós. No caminho para a escola, ela olha pela janela, os olhos perdidos em pensamentos.
Quando paramos em frente ao edifício, ela continua encarando a paisagem do lado de fora, como se estivesse reunindo coragem para dizer algo. Depois de um instante, ela se vira para mim, e há uma vulnerabilidade em seu olhar que me faz querer segurar sua mão.
— Lily, eu… sinto muito. — Ela respira fundo, hesitando. — Sinto muito pela forma como te tratei nos últimos meses. Acho que não tem tanto a ver com você... e mais com o que sinto sobre... nossa vida em casas separadas. — Ela abaixa o olhar, mordendo o lábio. — E ver você e a mamãe brigando tanto... Eu odeio isso. É como se eu estivesse dividida no meio de tudo isso, sabe?
Engulo em seco, surpresa pela sinceridade dela. Aspen nunca se abriu assim, e por mais que eu saiba que era isso que faltava para nos aproximarmos de novo, a confissão me faz sentir um aperto no peito, sabendo o quanto essa situação é difícil para ela.
— Eu sei, Azzy. — Minha voz sai baixa. — Nunca foi minha intenção que você se sentisse no meio de tudo isso. São só problemas de adultos, mas deveríamos ter pensado mais em você.
Ela balança a cabeça, interrompendo-me.
— Mesmo assim... obrigada por ser sempre tão presente pra mim. — Ela me olha, os olhos um pouco marejados, mas o sorriso não vacila. — Eu não poderia pedir uma referência melhor. Você é minha segunda mãe, Lilith. Sempre será.
O comentário me pega desprevenida, e sinto as lágrimas se acumulando antes mesmo de poder controlá-las. A imagem de Aspen, tão pequenininha, me chamando de "mamãe" quando começou a falar, invade minha mente. É tão recente que consigo ouvir seus passos de bebê pela casa, logo antes dela chamar por mim. Nunca tive coragem de corrigi-la, porque a verdade é que sempre amei essa forma de carinho que ela tinha comigo, como se eu fosse algo além de apenas a sua irmã mais velha.
Puxo-a para um abraço apertado, incapaz de conter a emoção.
— Você nem sabe o quanto isso significa pra mim, Azzy. Eu sempre vou estar aqui... pra tudo que você precisar.
Ela sorri, e, quando nos separamos, vejo que há algo mais leve em seu olhar, como se ela tivesse encontrado um pouco de alívio nas emoções que segurava.
— Obrigada, Lilith. De verdade.
Ela sai do carro e acena uma última vez antes de entrar na escola, e eu fico observando até ela desaparecer pelas portas. Pela primeira vez em muito tempo, sinto que fiz algo certo. O coração cheio de gratidão e amor, dou partida no carro e sigo meu caminho, levando comigo a certeza de que ela é meu propósito e que eu e Aspen sempre teremos uma à outra.
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