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𝟮𝟬. bein' an adult is fuckin' hard

𝗠𝗔𝗬 𝟮𝟯, 𝟮𝟬𝟯𝟰












ᥫ᭡𝐌𝐀𝐓𝐓...

Quando chego à casa dos meus pais, meu pai já está na porta, como se estivesse esperando por mim. Respondi o correio de voz dele dizendo que passaria para vê-los, e não me surpreenderia se Jimmy estivesse na varanda desde que recebeu a minha mensagem. Ele não diz nada, apenas abre os braços e me puxa para um abraço apertado, do tipo que só ele sabe dar. O abraço diz mais do que qualquer palavra agora, e de algum jeito me acalma, mesmo que eu ainda sinta o peso de tudo latejar em cada músculo do meu corpo.

— Você foi muito bem hoje, filho. Derrota nenhuma diminui o meu orgulho de você — ele sussurra, com uma confiança que me admira.

Penso no quanto ele é amoroso, mesmo que a infância dele tenha sido longe de ser fácil. Mas, ele nunca deixou que isso o impedisse de ser o pai que ele queria ser. Sempre fez questão de que a gente soubesse que éramos amados, que ele faria qualquer coisa por nós e para prover nossa casa. É engraçado porque eu sempre soube disso, mas avaliando agora como um "adulto", parece diferente. Mais significativo.

Nos sentamos no banco da varanda, e ele fica quieto por um tempo, me dando espaço. Mas eu sei que ele está esperando por uma explicação. Então, depois de um tempo, ele olha para mim e pergunta, num tom calmo, mas direto.

— Por que você está aqui, Matt, e não em casa?

Suspiro, esfrego as mãos no rosto, tentando afastar a exaustão e o fato de não parecer em nada que sou um homem de 27 anos.

— Eu... não estou no meu melhor estado mental. Não queria que Lilith e Aspen me vissem assim. Precisava de um tempo, e precisava ver vocês.

Me sinto estranho dizendo isso, como se eu não viesse atrás dos conselhos do meu pai ou dos abraços da minha mãe com frequência. Que pessoa é essa que eu me tornei? Mas ele só me observa, com aquele olhar compreensivo, sem me julgar. Depois de um tempo, ele fala com a voz firme, mas carinhosa.

— Você sempre vai ter pra onde voltar, Matt. Mas fugir dos seus problemas não resolve nada. E nós sabemos disso porque é um erro que custa caro.

É uma indireta clara, e eu sei exatamente do que ele está falando. Chris. É claro que a tensão entre mim e ele afeta nossa família, nossos pais principalmente. Tenho vontade de arrancar mais do meu pai, sem dar na cara que estou tão alheio a esse assunto quanto a um desconhecido qualquer.

— Pai... Se estiver falando do que aconteceu com Chris e eu, você não precisa dizer nas entrelinhas.

Ele desvia o olhar, e vejo a dor nos olhos dele. É algo que eu não gosto de ver, porque magoar meu pai indiretamente, é a última coisa que eu gostaria de ter feito.

— Sei que essa briga é entre vocês dois. Eu já tentei ajudar, mas só piorei as coisas. Não vou mais me meter nisso. Vocês são adultos e capazes de resolver os próprios problemas.

É como uma porta fechada. Ele não vai falar mais nada, e eu fico ali, sem saber exatamente o que fazer com isso. O silêncio volta a reinar, mas não é incomodo.

Quando falo, minha voz é um sussurro no sereno da noite.

— Posso dormir aqui hoje?

— É claro, filho. Sua mãe já estava preparando a cama assim que disse para ela que você passaria aqui.

— Obrigado, pai.

Ele sorri, me abraçando pelos meus ombros e dando leves batidinhas no meu braço. Espero que ele tenha entendido que estou agradecendo pela vida que batalhou para me proporcionar, por ter me ensinado o valor da humildade e por ser o melhor exemplo de homem, marido e pai que conheço.

❄︎  ❄︎  ❄︎

Não consigo dormir. Viro de barriga para cima na cama, as estrelas fluorescentes no teto me encarando de volta.

Meu quarto parece ter parado no tempo, cada detalhe exatamente como eu deixei na sexta-feira de manhã. O armário onde guardo meus calçados perto da porta, os troféus de hóquei na prateleira, está tudo como se eu ainda morasse aqui. A única coisa que mudou foi o guarda-roupas, agora preenchido em sua maior parte com roupas de cama. Mais da metade das minhas roupas de adolescente, pelo visto, foram doadas. Não me incomodo com isso, certamente minha mãe achou alguém que precisasse mais.

Mesmo assim, nada disso me ajuda a relaxar. Eu viro de um lado para o outro, mas o sono não vem. Meus pensamentos estão em todos os lugares, como se a minha cabeça estivesse cheia demais para desligar. Depois de um tempo, desisto de me forçar a ficar com os fechados e desço as escadas para beber água.

Antes que eu abra a geladeira, uma foto presa por um ímã me chama a atenção. Parece de uma época em que as coisas estavam bem entre eu e meu irmão. Eu, usando o uniforme dos Kings, ao lado de Chris, com o uniforme dos Anaheim Ducks. Nick e Justin estão com jaquetas grossas e patins de gelo, como se estivéssemos tirando uma foto para a matéria de uma revista esportiva com dois dos trigêmeos que vingaram no hóquei, em uma tentativa de contar a história da nossa família com o esporte.

Eu sinto o peito apertar. É um fragmento distante de uma vida que pouco conheço.

Bebo a água o mais rápido que posso e volto para o quarto, evitando olhar para as outras fotos espalhadas pela casa. Todas elas contam histórias que não me lembro – a não ser as que foram tiradas antes dos meus 17 anos.

Logo, os primeiros raios de sol se infiltram pelas frestas da cortina, e eu acompanho a claridade abraçar a cidade aos poucos. Quando me levanto, sinto meu corpo dolorido, como se tivesse feito algum exercício físico intenso durante a noite sem preparo nenhum. Visto um casaco de moletom que encontro entre as poucas peças no armário e fico com a calça xadrez do pijama que estava no carro na noite passada.

Descendo as escadas, escuto minha mãe cantarolando na cozinha, dominando o fogão, o forno e a torradeira com a facilidade de quem apenas esquenta uma água para o café. Ao me ver, ela toma um leve susto quando a cumprimento com um beijo na bochecha, mas logo me abraça por longos segundos.

— Sinto muito pelo jogo, querido — ela murmura, dando tapinhas nas minhas costas. — Como você está?

Ainda abraçada a mim, preciso avisar que as torradas já saltaram da torradeira e estão quase queimando, e ela solta um risinho, me mandando sentar na bancada enquanto termina de preparar o café da manhã.

— Não sei como responder essa pergunta ao certo.

— Desculpa, não é a melhor pergunta para se fazer depois de ontem...

— Não, mãe, não é por isso. É só que... estou agitado. Ansioso — digo, como se verbalizar isso me deixasse mais fraco. — Não consegui dormir direito essa noite.

— Eu diria que é normal sentir tudo isso, ainda mais depois da temporada turbulenta que você teve, mas acho melhor ficar atento aos sintomas — ela diz, claramente preocupada, enquanto coloca o prato à minha frente.

Balanço a cabeça em negação, tentando afastar a preocupação, mas ela solta um suspiro.

— Não quero que a senhora fique preocupada. Estou me cuidando.

Ela me olha com aquela cara que só mãe sabe fazer. A expressão de "eu te conheço melhor do que você mesmo", e fica claro que ela não comprou minha desculpa.

— Tenta descansar o resto do dia. Você pode ficar aqui o quanto quiser, querido, contando que esteja se comunicando com a Lily também.

É evidente o quanto Mary Lou gosta de Lilith. Sempre foi, mas agora, com a relação delas mais próxima, quase como mãe e filha, é ainda mais nítido. Minha mãe considera Lilith parte da família e não suportaria me ver magoando-a.

Olho para o prato à minha frente, meu estômago roncando de fome, mas ao mesmo tempo, embrulhado pelo nervosismo. O cheiro do café fresco e da comida caseira me rodeia, mas meus olhos continuam voltando para a foto na geladeira.

— Você tem falado com seus irmãos? — ela pergunta, notando onde meu olhar está fixo.

O tom dela é cuidadoso, mas direto. Ela deve ter percebido que a expressão abatida no meu rosto não é só por causa da derrota de ontem.

— Falei com eles por mensagem ontem à noite — digo, e tento soar indiferente, mas sabendo que minha mãe não vai deixar passar. — Você falou com Chris?

O Los Angeles Kings também acabou caindo na segunda rodada de Conferência ontem, uma derrota por um placar reversível – 3 a 2 na prorrogação – contra o Colorado Avalanche, tirou o time da corrida pela tão sonhada Stanley Cup. Com três horas de diferença no fuso horário, a família Sturniolo passou por uma montanha russa de emoções – que tornara-se desagradável no final – duas vezes seguidas.

Minha mãe faz uma pausa, olhando para mim e mexendo nos talheres sobre a bancada antes de continuar.

Você tem falado com Chris?

Encolho os ombros. Ela sabe responder essa pergunta melhor do que eu. Então, capturo o exato momento em que tudo o que está preso em sua garganta começa a jorrar, como se uma torneira tivesse sido aberta e o registro quebrado, sem dar outra opção à água senão sair descontrolada.

— Por que você e Chris têm que ser tão cabeça dura? Já faz tanto tempo, filho. — Ela coça a testa, agoniada com o que não pode fazer por nós. Talvez colocar no cantinho do pensamento ou em uma camisa da união. — Ele vai ser pai agora. Você será tio pela primeira vez, e vocês querem que as novas adições da família cresçam sem estarmos todos juntos, como sempre foi? E os planos de criar seus filhos juntos? De esperar que eles fossem tão amigos quanto vocês eram quando crianças? Vocês são irmãos por acaso, mas sempre disseram que eram amigos por opção. O que mudou?

O tom da minha mãe fica embargado no final, e eu vejo o impacto que isso tem nela. Antes que eu possa responder, Jimmy entra na cozinha. Ele olha para minha mãe com aquela expressão de reprovação, como se dissesse: "Nós já nos metemos demais nisso". E ela, balançando a cabeça suavemente, respondendo como se dissesse: "Tenho que tentar uma última vez."

Fico tentado a dizer que nem eu sei o que precisa ser consertado. O que fiz de errado? Mas, em vez disso, o que sai da minha boca é uma outra pergunta.

— O que eu poderia fazer?

Ela solta um suspiro, como se estivesse se preparando para discorrer sobre algo que vem carregando há anos. Meu pai se esconde atrás de uma xícara de café, mas permanece na cozinha para dar apoio às duas partes nessa conversa. Sei que ele irá intervir se achar necessário, mas não vim aqui para discutir com a minha mãe. Acho que ela está certa em me dar um sermão, de todo jeito.

— Primeiro, você precisa pedir desculpas ao seu irmão. Não só por ter se afastado, mas por nunca ter sido claro com ele sobre seus sentimentos pela Angelina, nem na adolescência, nem depois de adultos. Isso o provocou a não contar para você quando ele começou a sair com ela. Quando você descobriu, se ofendeu, e eu entendo que ele deveria ter contato antes. Mas, filho, Chris também se sentiu traído quando você preferiu sair de Los Angeles pelas costas dele do que ter uma conversa de adulto para adulto.

Sair de Los Angeles? Eu não havia sido negociado entre os times, e assim vindo parar no Boston Bruins? Me forço a lembrar do que Sadie nós contou... E chego a conclusão de que, se eu forcei uma vinda para Boston porque não suportei ficar por perto de Chris e Angel e ao invés de enfrentá-lo, escolhi fugir – atitude completamente imatura da minha parte, posso reconhecer isso –, isso afeta diretamente como me reconectei com Lilith, não é? E talvez Sadie não saiba porque era isso que estamos tentando resolver, em particular.

E se eu a deixei pensar no início que nosso reencontro tinha sido por causa do timing perfeito quando, na verdade, eu estava fugindo? Aí ela descobriu sobre isso de alguma forma e também teria se sentido traída por uma omissão minha? Sei que foi ela quem tomou a iniciativa para que voltássemos a namorar, e parece que a única decisão que tomei nessa história, só serviu para magoar o meu irmão.

— Chris jogou na sua cara que você sempre fugia dos problemas. Que quando ele finalmente ia jogar no Kings, realizando aquele sonho que vocês dois tinham de jogarem juntos pelo mesmo time, você deixou a mágoa pelo envolvimento dele com Angel falar mais alto — ela continuou, a voz ficando mais firme conforme avançava na história. — Você nunca esclareceu seus próprios sentimentos por ela, Matt. Nem no passado, nem agora. Como isso foi justo com seu irmão? Chris também gostava dela, desde a adolescência, e por não saber o que você realmente sentia, mesmo quando vocês não terminaram as coisas direito, ele acabou ficando preso nesse ciclo com você. Ele esperava que você tomasse uma decisão sobre a relação de vocês em algum momento, já que foi o primeiro a ir embora, mas aqui se vão três anos de evasão. Três anos em que até Lilith e Angelina desistiram de colocar algum juízo na cabeça de vocês. Três anos que não posso reunir todos os meus filhos em volta da mesa no Natal sem que troquem farpas como se fossem criancinhas inconsequentes.

O silêncio na cozinha se instala, denso, enquanto processo o que minha mãe disse. Com o tempo, minha incapacidade de tomar decisões transformou mágoa em ressentimento, até que a bola de neve se tornasse grande demais para ignorar, e tudo o que restou entre nós foi o afastamento.

— E agora, filho? — ela pergunta suavemente. — O que você quer fazer a respeito disso?

E eu não tenho uma resposta pronta. Porque, sinceramente, nem eu sei o que é certo nesse momento. Não posso jogar a responsabilidade inteiramente para essa versão de mim, como se eu não estivesse consciente de que faria tudo o que minha mãe acabou de relatar. Eu fiz isso, eu provoquei o pior cenário possível para a relação com meu irmão.

Penso em verbalizar para minha mãe que não sou assim de verdade, que nem sou daqui, que minha vida deu um salto de anos e eu fiquei para trás, preso na cabeça de um adolescente. Mas ela me olha como se fosse mais fácil acreditar nisso do que me ver tomando uma atitude, por mais insano que isso soe. E isso é o que me dói mais, porque meus pais sempre foram os primeiros a enxergar meu potencial em tudo. Só não contavam que eu esperasse que todas as oportunidades caíssem no meu colo, ou que eu não fosse responsável por metade das coisas boas que aconteceram, simplesmente por não saber me comportar como alguém maduro, responsável e resoluto.

Eles me criaram melhor do que isso.

— Mãe, eu... sinto muito. — Minha voz sai mais rouca do que esperava. — Por todos esses anos, por não ter lidado direito com o Chris, por ter sido omisso. Sei que criei um clima horrível sempre que a gente estava junto e que isso também te machucou... Eu fui covarde.

Ela me encara com aqueles olhos cheios de preocupação, mas também de compreensão. Seus lábios se movem, mas ela não diz nada. A dor que ela carrega por minha briga com Chris é visível, e saber que estamos há tanto tempo longe um do outro quando prometemos sermos inseparáveis aos seis anos – quando tínhamos medo de noites tempestuosas e íamos correndo para o quarto dela –, a corrói. Ela apenas estende a mão e passa pelos meus cabelos, acariciando-os como fazia quando eu era criança e deitava sobre sua barriga, esperando que ela me contasse uma história ou como foi o seu dia.

— Eu sei que é difícil, Matt. Mas nunca é tarde para consertar as coisas. — Ela finalmente responde, com a voz baixa, quase falha. — Vocês são irmãos. Não deveriam deixar isso continuar assim.

Antes que eu consiga responder, sinto os olhos do meu pai sobre mim. Ele tem aquele olhar que diz tudo sem precisar de palavras, como se algo estivesse faltando. Viro-me para ele, hesitante.

— Pai? — pergunto, percebendo que ele tem algo a dizer.

Ele respira fundo, cruzando os braços enquanto me olha com seriedade, mas com compaixão.

— Angelina está chegando na cidade em alguns dias, para o aniversário de Lilith, acredito. — Ele pausa, medindo as palavras. — E talvez seja um bom começo você ter uma conversa sincera com ela. Não importa o quanto você tenham mantido uma boa relação com ela, o que aconteceu com o Chris ainda paira sobre todos vocês.

Eu fecho os olhos por um momento, deixando a sugestão dele fluir nos meus pensamentos. Angel... existe um ponto cego entre nós.

— Eu não sei o que dizer a ela. — Admito, a insegurança clara na minha voz.

Se já faz tanto tempo... O que isso vai mudar agora?

Como se pudesse ler a minha mente, meu pai ergue as sobrancelhas e abre a boca para responder ao mesmo tempo que coloca a xícara na bancada, para me dar total atenção.

— Vai mudar porque você tem que encarar essa história, filho. Você fugiu por tanto tempo... não pode continuar assim. Começar com ela pode ser a sua melhor chance de fazer as pazes, pelo menos com uma parte dessa confusão. Como aconteceu entre você e Lily, suponho.

O que me assusta é ter que encarar essa Angelina. Sadie continua sendo a mesma pessoa espirituosa, espontânea e fácil de lidar – embora também tenha a tendência de esconder os próprios problemas para não incomodar os amigos –, mas com Angel... não sei o que esperar. E parte de mim quer que ela tenha mudado. Espero que ela não tenha mais aqueles conflitos constantes com os pais, que tenha seguido seu próprio caminho em vez de viver pelas expectativas deles. Espero, acima de tudo, que ela tenha encontrado sua própria felicidade, sem precisar das válvulas de escape que nós éramos um para o outro.

Quero encarar a Angelina que é uma das minhas melhores amigas, não a garota que magoei.

— Tá... — murmuro. — Eu vou falar com ela.

Mas, quero fazer isso depois que Lilith souber de tudo o que descobri e do que estou supondo que aconteceu entre nós, e espero que ela não fique chateada comigo. Porque no fim das contas, ela é a única que entende.

❄︎  ❄︎  ❄︎

A primeira vez que uma crise de ansiedade me dominou, eu tinha apenas onze anos. Eu ainda me lembro dos olhares assustados nos rostos dos meus colegas quando caí curvado no chão da sala de aula sem conseguir respirar, com o coração pulsando na boca e as pernas dormentes. Achei que estava morrendo. Minha professora do sexto ano achou que eu estava tendo uma crise de asma. Meus irmãos não estavam naquela classe – o que complicava ainda mais, já que foram eles que, uma vez antes, me ajudaram a reverter os primeiros sintomas de um ataque de pânico. Na época, nem sabíamos o que era aquilo.

Depois daquele dia, minha vida virou uma sucessão de consultas com especialistas. Até onde me lembro, já passei por quatro terapeutas.

Tive crises parecidas com essa outras duas vezes. E esse número está subindo para três agora.

Desço as escadas da casa dos meus pais com a chave do carro nas mãos, os dedos trêmulos. Minha garganta está fechada há alguns minutos e meu peito dói, como se alguém tivesse cravado uma estaca de madeira no centro dele.

Dirigir me ajuda a gastar a adrenalina. Descobri isso com um dos terapeutas, quando ele me perguntou o que fazia parte da minha rotina que eu tinha controle sobre. Dirigir continua sendo a única coisa que eu controlo no momento, e substituir a ansiedade pela sensação do vento em meu rosto é o que me faz abaixar todas as janelas do carro e meter o pé no acelerador para longe das ruas de Somerville.

A velocidade e o vento são como uma forma de fuga, e por isso o hóquei sempre foi perfeito para mim. Mas, nesse momento, não quero pensar em nada — nem no esporte, nem no meu corpo que parece estar em colapso. Apenas dirijo. Vinte minutos depois, chego à praia mais deserta que consigo encontrar na região. Nahant Beach.

Chegando à praia, tiro apenas os tênis e me jogo na areia, deitando sob o sol como um cachorro que se aconchega perto da lareira nos meses mais frios. A areia sob meus pés, corpo e rosto alivia as batidas descompassadas do meu coração. Mas, em vez de chorar, minutos depois estou rindo ao imaginar o quão humilhante devo parecer para qualquer um que passe pela orla e me veja assim: jogado na areia como um sem-teto, de pijama e descalço.

Fico nessa posição por tempo suficiente para me convencer de que a imagem da mulher caminhando até mim é apenas um truque da minha mente confusa, cansada e ansiosa. Ergo a cabeça só o necessário para vê-la fincar uma prancha de surfe ao meu lado e me olhar de cima, como uma idosa que sente pena de gatos de rua.

Ela se agacha, mas mantém uma distância segura para não me molhar com os cabelos úmidos de mar. Está vestindo uma blusa térmica e a parte de baixo de um biquíni, descalça, sem mais nenhum objeto por perto, como se tivesse vindo apenas com a prancha e as roupas do corpo.

— O que você está fazendo aqui? — pergunto, percebendo o quanto ainda estou ofegante.

— O que você está fazendo aqui, se empanando na areia de pijama? — Ela rebate, gesticulando com o queixo em direção às minhas roupas.

Não há respostas que façam a situação parecer menos humilhante para mim.

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