𝟭𝟮. changes
𝗠𝗔𝗬 𝟭𝟵, 𝟮𝟬𝟯𝟰
ᥫ᭡𝐌𝐀𝐓𝐓...
Eu não consigo parar de andar de um lado para o outro no hall de entrada do primeiro andar, o chão quase começando a marcar o trajeto de tantas idas e vindas. Tudo isso parece um sonho, mas não é. Não pode ser. E eu não sou o tipo de pessoa que vai simplesmente aceitar algo tão insano sem tentar encontrar uma explicação. Ou pelo menos, alguém que possa me dar uma.
Procuro um celular pela casa – isso me leva uns 15 minutos e mais alguns para acertar a senha que o desbloqueia –, e quando o encontro, com as mãos trêmulas, busco o número de Nick. Se existe uma pessoa no mundo que pode ser brutalmente honesta comigo, é meu irmão. Nick nunca foi de mentir ou adoçar café de doido. Se tudo isso for uma brincadeira muito da elaborada, ele vai ser o primeiro a me falar a verdade.
Eu pressiono o botão para ligar e espero, sentindo meu coração acelerar com cada toque de chamada. Finalmente, Nick atende, com uma voz que mistura cansaço e irritação.
— Matt? Você sabe que horas são? — Ele soa meio grogue, o que só reforça minha convicção de que estou fazendo a coisa certa.
No entanto, confiro às horas no celular e não é assim tão cedo.
— São quase nove horas da manhã — digo, confuso o suficiente para fazê-lo notar mesmo do outro lado da linha.
— Pra você, né. Aqui ainda são cinco horas da manhã, porra.
Bom, isso confirma que estou realmente falando com meu irmão, porque existem poucas pessoas mais bocas sujas logo pela manhã do que ele.
— Aqui... Aonde?
— Matt, você está me zoando!? Aqui, em Los Angeles, onde moro há quase dez anos.
Minha mente dá uma pirueta digna de ginasta olímpica. Nick, morando sozinho, em Los Angeles, há quase dez anos?
Em que ano nós estamos, cacete?
— Cara, eu... eu preciso falar com você. — Minha voz sai mais desesperada do que eu pretendia, e eu fecho os olhos, tentando me recompor. — Nick, eu sei que isso vai soar maluco, mas eu acho que viajei no tempo. Eu estava preso na biblioteca municipal ontem à noite por causa de uma nevasca e hoje acordei com essa vida completamente diferente. Eu... eu não sei o que fazer.
Há um silêncio do outro lado da linha, e por um momento, eu acho que a ligação caiu. Mas então, ouço o riso abafado de Nick, um som de descrença.
— Matt, você realmente me acordou pra isso? — Ele pergunta, e eu posso praticamente ver o sorriso irônico no rosto dele. — Você bateu a cabeça? Mas, cara, é sério? Viagem no tempo?
— Eu não tô brincando, Nick! — Minha voz se eleva, e eu noto um toque de histeria que antes não estava lá. — Não sei como explicar, mas eu preciso que você acredite em mim.
Nick suspira do outro lado da linha.
— Olha, Matt, se isso é alguma piada, você tá se superando, mas... — Ele pausa, e posso ouvir a hesitação na voz dele. — Mas se você não está brincando, então... Cara, talvez você só tenha tido um sonho muito vívido. Já pensou nisso? Por que diabos você teria voltado para 2024 ontem à noite? Isso não faz sentido!
Eu não voltei para 2024, eu vivo lá!
— Então você lembra de eu ter ficado preso na biblioteca?
— Claro que lembro. Foi desse dia em diante que Lily começou a fazer parte do nosso grupo.
Eu passo a mão pelo rosto, tentando encontrar as palavras certas, mas nada parece adequado. Como eu poderia convencê-lo de algo que nem eu mesmo acredito completamente? E não posso sair contando para todo mundo que sou um viajante do tempo, ou vão recomendar que eu me consulte urgentemente com um neurologista.
— Ainda não acredito que você me acordou pra essa palhaçada... — A voz muito descontente de Nick soa no meu ouvido, me tirando do transe momentâneo. — Bom dia, Matt. Vá procurar outra distração que não seja tirar uma com a minha cara.
— Nick, eu... — Mas ele não me deixa terminar de falar quando desliga a chamada.
Eu encaro o celular na minha mão, a linha encerrada ainda ecoando em meus ouvidos. Nick acha que eu estou brincando, mas como não acharia? É um absurdo tão grande que se não estivesse acontecendo comigo, até eu desconfiaria.
Fecho os olhos e solto um longo suspiro, tentando organizar meus pensamentos, mas eles continuam embaralhados, como um quebra-cabeça com peças faltando.
Antes que eu possa surtar pela quinta vez em menos de uma hora, o som da porta se abrindo no andar de baixo me chama a atenção. Desço as escadas, encontrando Lilith na entrada, os olhos arregalados e o rosto pálido. Ela mal fecha a porta antes de se apoiar na parede, como se precisasse de suporte para se manter de pé.
— Lilith? — minha voz sai em um sussurro enquanto me aproximo. Ela me olha, e é como se por um segundo, todas as máscaras caíssem. A expressão dela, tão vulnerável, me atinge como um soco no estômago. Ela está à beira das lágrimas.
— Eu... eu fui até minha casa — ela começa, a voz quebrada. — Eu vi minha mãe... Ela estava diferente. Tudo está diferente. Tenho 27 anos, Matt.
— É, eu fiquei sabendo. Parabéns atrasado pelos 10 últimos anos. — Digo, tentando soar mais descontraído do que realmente me sinto. Não quero que ela chore e não quero ter um colapso mental na frente dela. Ela não responde, mas esboça um quase sorriso. — Eu liguei para o Nick... e ele acha que estou zoando com a cara dele. E ah, ele mora em Los Angeles agora.
Até ela parece genuinamente surpresa com a informação, abrindo a boca como se estivesse de queixo caído.
— Los Angeles!?
— Pois é.
Meus pensamentos embaralhados finalmente encontram um ponto de foco. Aproximo-me dela, tentando manter a calma, mas é difícil quando parece que o mundo está desmoronando ao nosso redor.
— Como está Aspen? — pergunto, cautelosamente.
— Aspen? Como você conhece Aspen? — A rápida mudança de expressão ergue todas as muralhas novamente, vejo isso no olhar dela.
Certo, esse é um assunto particular e sensível. Eu não deveria ter tocado nele ainda.
— Minha mãe, Mary Lou, acho que você a conhece da casa de repouso. Ela toma conta da sua irmã às vezes e eu não sabia que vocês eram parentes, até o acidente quando a vi com você e... É, também fica fácil ligar os pontos quando existem fotos de vocês pela casa toda.
— Ela está nos fotos?
Apenas balanço a cabeça, dando um passo para trás como se dissesse para ela ir em frente e ver com os próprios olhos.
O silêncio entre nós é pesado enquanto ela passa de um retrato para o outro, tentando entender quando tudo aquilo aconteceu. Lilith desvia o olhar, respirando fundo como se precisasse de mais oxigênio para processar a sensação de embrulho no estômago que eu também sinto. É como se soubéssemos que, racionalmente, somos nós na foto, no entanto, não somos nós ali.
— É tão estranho — ela começa, sua voz mais baixa, como se temesse que alguém pudesse ouvi-la. — Essas fotos minhas, nossas, espalhadas pela casa quando não me lembro de ter tirado nenhuma delas. Não tenho essas memórias.
Ela balança a cabeça, incrédula, e em seguida seus olhos se fixam nos meus, buscando algum tipo de compreensão. Nesse caso, ela encontra toda a cumplicidade que posso lhe oferecer. Estamos no mesmo barco, e ele parece estar afundando.
— E Aspen... — ela continua, hesitante. — Parece que eu tenho a guarda compartilhada dela com a minha mãe. Ela me disse que Aspen passa alguns dias comigo.
Fico em silêncio, absorvendo as palavras dela, tentando entender o peso que isso deve ter para Lilith. Também percebo que, quando ela falou que a mãe está diferente, isso implica em mais do que só uma mudança física, sinto que há algo profundo demais nisso para deixar de lado assim. Quero que ela conte mais, quero perguntar se ela está bem. Mas duvido que ela se abriria comigo sobre seus problemas familiares. Se fosse o contrário, eu também não a procuraria para um momento de vulnerabilidade.
— Então, neste fim de semana... — começo, entendendo o que ela quer dizer. — Aspen vai estar com a gente.
Lilith acena com a cabeça, ainda parecendo atordoada.
— É isso o que parece. — Ela passa a mão pelos cabelos, uma tentativa frustrada de aliviar a tensão. — Não podemos sair por aí dizendo que viajamos no tempo. Precisamos fingir que somos quem as pessoas acham que somos.
Eu concordo, sabendo que isso não será fácil, mas também entendendo que é a única opção viável enquanto pensamos em uma forma de voltar para nossas vidas.
— E se... — Lilith hesita antes de continuar, mordendo o lábio inferior. — E se alguém acreditasse na gente? Se ainda formos próximos de alguém que poderia entender? — Ela pega uma das fotos no console da lareira e a segura para que eu veja. É uma imagem de nós três – eu, Lilith e Sadie – abraçados e rindo em uma festa, claramente mais velhos do que nos lembramos.
— Sadie — digo, reconhecendo-a imediatamente. Ela parece mais alta e mais loira, mas esses olhos são inconfundíveis. — Se ela ainda está tão presente na nossa vida... Talvez ela seja nossa melhor chance.
Lilith olha para a foto por um momento mais, como se buscando respostas em rostos que mal reconhece.
— Precisamos falar com ela — decide Lilith, com uma determinação renovada em seu tom de voz. — Mas temos que ser cuidadosos. Temos que ser claros e objetivos, ou ninguém vai nos levar a sério.
Eu concordo, sabendo que, embora isso pareça loucura, é tudo o que temos agora.
— Vamos descobrir como entrar em contato com ela — digo, enquanto Lilith coloca a foto de volta no lugar. — E até lá, seguimos a linha. Não podemos deixar ninguém perceber que não somos exatamente... nós mesmos.
Lilith sorri levemente com a expectativa de que talvez consigamos reverter essa situação, embora a preocupação ainda paire no ar.
— Certo — ela concorda. — Um passo de cada vez.
❄︎ ❄︎ ❄︎
É impossível ser claro e objetivo quando você acaba de descobrir que está enfrentando uma crise no relacionamento – um relacionamento que, para nós, Matt e Lilith de 2024, nem existe. A primeira coisa que a Sadie adulta diz quando a recebemos é:
— Eu já disse que é antiprofissional atender amigos e familiares. Sei que vocês me acham a mais competente das terapeutas, mas minha área não é psicologia conjugal.
Ela tira os scarpins e afunda os dedos dos pés no tapete felpudo, como se isso fosse tão desestressante quanto um banho quente depois de um longo dia de trabalho. Sadie chega a suspirar enquanto se afunda no sofá, parecendo pertencer mais àquela casa do que eu e Lilith, que timidamente dividimos o sofá menor à direita.
— Do que está falando?
Dou um leve cutucão no pé de Matt e levanto as sobrancelhas para ele. Achei que não iríamos agir como viajantes do tempo assim de cara.
— Ué — Sadie franze o cenho, olhando de Lilith para mim. — Você ligou para a minha clínica e disse que era urgente. Aliás, comportamento estranho vindo de um melhor amigo. Sou um dos seus contatos de emergência, por que precisaria ligar para o meu número comercial?
— Bem, nós... deixamos os celulares descarregarem ontem à noite. Os dois. E sabe como é, não lembramos seu número de cabeça e fizemos a ligação pela Alexa. Ela só encontrou seu número comercial — Lilith diz, com a maior naturalidade do mundo. Ela é boa com mentiras, embora não tenha mentido sobre termos ligado pela assistente virtual que está instalada por toda essa casa. Já o número da clínica da Sadie nós encontramos com uma rápida pesquisa na internet.
— Então, vocês não precisam que eu diga o quanto se amam e que é melhor se separar enquanto ainda se suportam do que deixar as coisas eclodirem só porque estão noivos há dois anos e sofrendo pressão de todos os lados?
— Estamos noivos há dois anos?
— Estamos querendo nos separar?
Eu e Lilith dissemos ao mesmo tempo, com o mesmo tom de voz esganiçado de surpresa.
O vinco entre as sobrancelhas de Sadie se aprofundam ainda mais, como se ela nunca tivesse visto reações mais esquisitas na vida. Não sei para quem essa cena é mais assustadora, se para nós ou para ela.
— Sério, gente? Vocês estão bem? Beberam demais ontem à noite? — Ela virou-se para Lilith, curvando os ombros como se estivesse prestes a ouvir a morena confessar um segredo. — Você nunca ficaria tão bêbada em um dia de semana, e muito menos deixaria que Matt ficasse. Ele tem um jogo amanhã!
— Que jogo? — Lilith estreita os olhos. Ah, é, ela ainda não sabe que está noiva de um jogador de hóquei.
— Depois eu te explico.
Sadie cruza os braços e inclina a cabeça, nos observando com desconfiança.
— Não estou entendendo qual é a de vocês.
— Nós precisamos te contar uma coisa muito importante, Sadie.
A boca dela se abre completamente e ela começa a saltar no sofá, batendo palmas como se tivesse recebido a notícia do ano.
— OH, MEU DEUS, VOCÊS VÃO TER UM BEBÊ! Eu sabia que era um sexólogo que estava faltando nessa relação. — Ela se levanta para nos abraçar. Eu e Lilith trocamos um olhar apavorado, incrédulos demais para reagir rapidamente. Sadie se afasta alguns centímetros, o rosto ainda ameaçadoramente próximo para dizer: — Mas, se não acertaram as coisas entre vocês e cometeram a burrada de envolver uma criança no meio disso, eu vou dar uns tapas nos dois.
— Ew, não. Sadie, não é nada disso! — Lilith se solta do abraço com uma expressão enojada no rosto.
Quero dizer para ela que eu faria filhos lindos e inteligentes, mas me contenho a revirar os olhos e dar procedência ao assunto que realmente importa.
Conto para Sadie como tínhamos 17 anos ontem à noite e depois de ficarmos presos na biblioteca, achamos o anuário da nossa formatura sem que ela, de fato, ainda tenha acontecido. E aí... acordamos aqui.
— Espera aí — ela diz, sua voz agora mais séria. — Vocês dois... não estão tentando me dizer que estão esquecendo as coisas, né? Porque se for isso, acho melhor a gente ir direto para o hospital.
— Eu prometo para você que não é perda de memória o que estamos sofrendo — Lilith diz, e o olhar de Sadie suaviza no mesmo instante. É estranho como elas parecem ser muito próximas, confidentes até, nesta realidade. — Está mais para... deslocamento temporal.
Sadie então balança a cabeça, soltando uma risada incrédula enquanto troca o olhar entre eu e Lilith mais uma vez.
— Vocês são do passado? Isso não faz o menor sentido! — Ela para por um segundo, analisando cada micromovimento nosso, e entendo que esse deve ser um comportamento da Sadie terapeuta de adolescentes. — Estou tentando me lembrar dos detalhes do dia que vocês ficaram presos na biblioteca, mas de todo jeito, aquele foi o pontapé para o namoro de vocês na época.
— Na época?
Ela bufa, como se estivesse convicta de que estamos com algum dano cerebral que está afetando nossa memória.
— É, na época que vocês namoraram por cerca de dois anos, até decidirem que relacionamento à distância não daria certo quando Matt assinou um contrato de cinco anos com o Los Angeles Kings.
— O time de hóquei profissional, Los Angeles Kings? — A voz de Lilith sobe uma oitava enquanto ela pisca várias vezes e vira-se para mim. — O jogo de amanhã que ela falou... Você é jogador de hóquei?
Estufo o peito orgulhoso, porque agora, a ideia não é nada difícil de aceitar.
— É o que parece, e parece que estamos prestes a ganhar mais uma Stanley Cup.
— Estamos, quem? Você está se amarrando nessa palhaçada, não é? — Lilith ralha agressivamente.
— Bem, — Sadie começa, fazendo sua presença notável antes que eu e Lilith passássemos a nos acusar interminavelmente pela próxima hora. — Se vocês estão falando a verdade, vão querer saber o básico sobre como tudo está. E encontrar uma solução para essa bizarrice.
— Concordo — digo, um pouco animado demais para ouvir mais das decisões que esse Matt tomou.
Sadie suspira, tomando um momento para organizar seus pensamentos antes de começar:
— Bem, acho que o mais importante é que vocês dois voltaram a se relacionar logo depois da festa de noivado... a minha festa de noivado, na verdade, há três anos, com Florence Adamu; ela tem um restaurante no centro da cidade e nós casamos na primavera do ano seguinte. — Ela explica com um tom que diz "poxa, como vocês não lembram?" e então, percebo o discreto anel dourado na mão esquerda dela. Abro um sorriso, espelhando a felicidade que há no olhar de Sadie ao falar sobre sua esposa. Parece tão certo que não tenho o que questionar. — Matt tinha acabado de voltar para Boston. Acho que foi uma daquelas situações de timing perfeito, ou algo do tipo. Vocês sempre tiveram essa conexão, sabe?
Evito olhar para Lilith, mas posso sentir a tensão opressora que esmaga qualquer conforto entre nós dois.
— E aí — Sadie prossegue —, vocês ficaram noivos pouco mais de um ano depois de reatarem... O pedido foi no terraço de um dos prédios mais bonitos daqui, porque Lilith gosta da vista da cidade de lá. Ele fez tudo do jeito certo, ou pelo menos, do jeito que vocês dois sempre imaginaram que seria.
— Isso é... muito específico — Lilith comenta, a voz carregada de descrença, mas seus olhos mostram um vislumbre de curiosidade.
— E é a realidade que vocês têm agora — Sadie responde com um meio sorriso. — Lilith, você é professora de literatura inglesa na nossa antiga escola. E Matt, você está realmente a caminho de ganhar sua segunda Stanley Cup com os Bruins. — Ela olha diretamente para mim. — Vocês ganharam na temporada 32-33 também, com você no comando, capitão.
— Capitão. — repito, pela segunda vez ouvindo essa palavra estar relacionada a mim. — E como está todo mundo? Nick está em Los Angeles, mas e Chris? Hunter também continua jogando hóquei? E Nate? Angelina...?
Sadie me encara, de olhos arregalados e ombros encolhidos. Antes que ela abra a boca, entendo que, não só perdi dez anos da minha vida, como também perdi coisas importantes nas vidas dos meus amigos e família.
Sadie respira fundo, a expressão dela mudando de cautelosa para séria, como se estivesse tentando escolher as palavras com cuidado.
— Hunter... — ela começa, mas hesita por um instante. — Hunter sofreu um acidente jogando há alguns anos. Foi grave, algo que comprometeu o ligamento dos joelhos, se não me engano. Ele teve que deixar o hóquei, não conseguiu mais jogar. E isso aconteceu duas temporadas depois de entrar para o profissional... foi um baque. Mas ele é resiliente, sabe? Voltou para a faculdade e agora é advogado. Abriu um escritório próprio aqui em Boston. Ainda é apaixonado por hóquei, claro, mas agora joga só de vez em quando, geralmente quando a gente se reúne.
Sinto um aperto no peito ao ouvir sobre Hunter, mas antes que eu possa reagir, Sadie continua.
— Nate, por outro lado, seguiu um caminho diferente. Jogou apenas na liga universitária e, depois disso, decidiu que a vida de jogador profissional não era para ele. Agora é treinador do time de lacrosse da Somerville High. Ele sempre teve jeito para ensinar. Está muito feliz com essa escolha.
Ela faz uma pausa, seus olhos se encontrando com os meus, como se estivesse preparando para algo mais difícil.
— E Chris... — Sadie parece hesitar, suas palavras saindo devagar. — Chris e Angelina estão juntos agora. Moram em Los Angeles. Ela é modelo e influenciadora digital. E... eles estão esperando um bebê. — Sadie solta a última frase quase no impulso, como se quisesse tirar o peso das palavras de cima de si. — Na verdade, estou organizando uma festa para revelar o sexo do bebê quando eles vierem para Boston no próximo mês.
— Chris e Angelina!? — Lilith arfa surpreendida e então, como se lembrasse de ter compaixão à minha causa, me olha com aflição.
Eu não sei como reagir. As palavras não saem apesar de todos os pensamentos me cercarem de uma vez só.
Sadie então solta o ar de forma pesada, e completa:
— E o Nick... Bem, ele foi o primeiro a se mudar para Los Angeles. Foi estudar publicidade e propaganda, além de fotografia, na Universidade do Sul da Califórnia. Desde então, nunca mais voltou para Boston, a não ser para umas férias esporádicas ou para passar tempo com a família. Los Angeles virou o lar dele, assim como para Chris e Angel, acho.
— Uau. E eu estou em Boston. — Minha cabeça pesa uma tonelada. As informações tentando se encaixar com a vida que conheço e com o futuro que tenho.
Sadie parece um pouco desconfortável, como se tivesse mais algo a dizer, mas não soubesse exatamente como começar. Ela desvia o olhar, e seu pé começa a balançar levemente, um sinal claro de sua hesitação. Lilith, percebendo a tensão no ar, estreita os olhos e inclina a cabeça para o lado.
— Sadie, o que mais você não está nos contando? — Lilith pergunta, a voz suave, mas firme. — Melhor falar tudo de uma vez.
Sadie olha para Lilith, depois para mim, e solta um suspiro, parecendo estar em uma batalha interna.
— Olha, eu não sei como dizer isso, mas... até onde eu sei, você e o Chris... — Ela hesita mais uma vez, mordendo o lábio, antes de continuar. — Vocês não se falam mais. Algo aconteceu entre vocês. E não foi uma coisa pequena.
Lilith arregala os olhos e me olha com uma mistura de surpresa e preocupação, enquanto meu peito se aperta com a revelação. É como se um peso invisível tivesse acabado de cair sobre mim, deixando-me sem ar por um momento. A ideia de não falar com Chris, com meu próprio irmão, que não dorme brigado com ninguém por medo de que a pessoa morra durante à noite e a última coisa que tenha feito foi ficar chateado com ele, parece impossível de assimilar. As palavras de Sadie ecoam na minha mente, e eu luto para não chorar um choro de desespero.
Não. Isso não pode ser real.
— Não se falam mais? — Lilith repete, olhando para Sadie como se esperasse mais alguma explicação.
Sadie balança a cabeça, como se estivesse incomodada por ser a portadora de más notícias.
— É por isso que eu realmente espero que vocês estejam falando sério sobre essa viagem no tempo ou perda de memória recente... — Ela diz, como se lamentasse ter que nos contar tudo o que já vivemos, pois isso inclui as partes ruins também.
Para mim é o suficiente. Eu levanto do sofá e subo para o último andar, disposto a encontrar qual é a maldição que foi lançada sobre mim e me fez estar vivendo neste pesadelo. Logo no primeiro degrau, já não evito mais as lágrimas.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro