𝟮𝟭. you look different
𝗠𝗔𝗬 𝟮𝟮, 𝟮𝟬𝟯𝟰
ᥫ᭡𝐋𝐈𝐋𝐈𝐓𝐇...
Mais ou menos meia hora depois que chegamos em casa e eu chamo Aspen para jantar, ela estranha a falta de Matt. Eu digo que ele só passou na casa dos pais antes, não querendo que ela pense que as coisas estão estranhas entre nós novamente. Felizmente ela não dá muito tempo para mais explicações quando desce para seu quarto logo depois de jantar.
Quando me deito sozinha na cama espaçosa, demoro mais para querer dormir. A ausência de Matt ao meu lado deixa espaço para os pensamentos ecoarem, voltando insistentemente para a questão do exame que encontrei. Aquele pequeno pedaço de papel está sendo uma pedra no meu sapato toda vez que o silêncio toma conta e eu não sei se quero abri-lo sem Matt.
Decidida a me forçar a fechar os olhos e esperar pelo sono, coloco o celular na mesa de cabeceira no mesmo instante que ele se acende com a notificação de um joguinho qualquer. Parece uma versão mais elaborada de Clash of Clans. Eu rio, porque por mais ridículo que pareça, acho que continuo sendo do tipo de pessoa que perde algumas horas construindo vilas e as defendendo dos inimigos.
Mas o sorriso morre rápido. Como se por instinto, pego o celular de volta.
— Por que nunca pensei nisso antes?
— murmuro para mim mesma, os dedos abrindo o histórico de mensagens com Matt.
Começo a rolar as mensagens no chat com "Meu Mr. Whettam ❤️", e sinto uma careta se formar em meu rosto quando só agora me dou conta do nome salvo para o contato de Matt. Faço um barulho involuntário, algo entre um riso sarcástico e um quase-vômito. Continuo rolando, passando os olhos rapidamente pelos textos triviais, só parando quando vejo conversas mais longas de um só dia.
Eu
Você vai me encontrar na clínica, né?
Meu Mr. Whettam ❤️
Vou sim. Quer alguma coisa da cafeteria? Estou aqui agora
Eu
O de sempre, por favor
Meu Mr. Whettam ❤️
O de sempre? Tem certeza que não tem problema tomar muito café assim? O seu ainda é extra forte
Eu
Não sabia que de repente você se tornou médico 🙄
Meu Mr. Whettam ❤️
Faz mal, eu li na internet 🙄
Eu
Em excesso, sim
Mas nem tomei café hoje ainda
Meu Mr. Whettam ❤️
Ok, um café pequeno puro então... descafeinado 😁
Eu
Chato 🙄
11:47
Estou nervosa, Matt
Meu Mr. Whettam ❤️
Ei, vai ficar tudo bem
Estamos juntos nessa, ok?
E em todas as outras também, sabe disso
Te vejo em 15
Meu coração acelera, e eu continuo descendo. Algumas semanas depois, outra troca de mensagens, ainda mais inquietante.
Eu
Tentei conversar com Sadie hoje
Meu Mr. Whettam ❤️
E aí????
Eu
Não consegui
Acho que nunca vou conseguir falar sobre isso com ninguém
Meu Mr. Whettam ❤️
Amor... se está te fazendo mal, você deveria conversar com alguém
O que acha de voltarmos naquela psicóloga?
Eu
Só não quero que as pessoas sintam pena de nós
Sei exatamente o olhar no rosto de qualquer um para quem contarmos
Ainda mais quando Angel e Chris acabaram de anunciar a gravidez dela
Meu Mr. Whettam ❤️
Lily, nós não estamos em uma competição com ninguém
Mas eu te entendo e estou aqui pra te apoiar
Se não quiser contar para ninguém, então não contamos para ninguém
Eu
Obrigada
Eu te amo
Meu Mr. Whettam ❤️
Eu te amo, princesa
Estou com saudades
Te vejo em dois dias
Eu paro. Minha respiração está presa na garganta. O que tudo isso significa? O que eu não consegui contar para a Sadie? Eu estava grávida... e não estou mais?
Levanto da cama em um pulo, a adrenalina disparando. Não vou conseguir dormir até saber o que está acontecendo – ou não – no meu corpo.
Acendo a luz do banheiro, e pela primeira vez, detesto o fato de ele ser tão grande. Gavetas abaixo da pia enorme, cestos organizadores e armários suspensos. Todos esses espaços agora são obstáculos. Tenho que procurar em cada canto, desesperada, por um teste de gravidez.
Reviro gavetas, abro e fecho portas de armário, mas não encontro nada. Acho que não sou dessas mulheres que compram coisas assim só por precaução.
Visto um casaco de zíper que pego no cesto de roupas limpas para dobrar, prendo o cabelo em um rabo de cavalo rápido e enfio os pés em uma crocs bege cheia de jibbitz, já vestida com meias. Nem penso em como estou apresentável. Pego as chaves do carro, atravessando a casa o mais silenciosamente possível. Espero que Aspen já tenha adormecido, porque não conseguiria lidar com perguntas agora.
Assim que saio de casa, o ar frio da noite me faz acelerar o passo. Subo no carro e dirijo pelas ruas do bairro, observando as luzes das casas apagadas e os estabelecimentos fechados. Quase tudo está encerrado por conta do horário, mas continuo dirigindo até encontrar uma farmácia 24 horas.
Quando entro, o lugar está vazio, exceto por uma atendente de cabelo colorido e piercings no rosto, que nem se incomoda em me olhar. O estilo de adolescente dela só aumenta meu constrangimento enquanto pego o teste da prateleira, como se a qualquer momento minha avó fosse aparecer e começar um sermão sobre educação sexual – quando ainda estava lúcida o bastante para fazer isso.
Na minha cabeça, eu ainda sou aquela garota de 17 anos, apavorada com a ideia de uma gravidez na adolescência, fugindo de cada cilada que pudesse me fazer repetir o erro da minha mãe ao me ter tão nova. Respiro fundo e pego dois testes, só para garantir. Ao me aproximar do caixa, a atendente finalmente levanta os olhos para mim e estreita o olhar. Rezo internamente para que ela não seja uma das minhas alunas da escola ou uma fã fanática dos Bruins, que sabem até o hospital onde os jogadores nasceram.
— Oi. — Sorrio com simpatia, mas ela apenas levanta uma das sobrancelhas e ignora meu sorriso, dizendo-me o valor da compra.
Pago rapidamente e volto para o carro. Dirijo de volta para casa com um pouco mais de pressa, o nervosismo me acompanhando por todo o caminho. Ao chegar, corro nas pontas dos pés pela escada até o banheiro e tento ler as instruções na caixinha. Preciso reler tudo três vezes, tanto pelo nervosismo quanto pelo fato de que eu nunca fiz isso antes.
Roendo as unhas, percebo o esmalte bonito que cobria as minhas mãos sendo destruído a cada mordida ansiosa. Quando foi a última vez que tive esse hábito ruim?
Então, as mesmas palavras aparecem nos dois testes. "Não Grávida."
Eu olho de novo para os testes na pia e então para minha imagem no espelho. Não sinto alívio, mas também não é exatamente decepção. É uma sensação estranha, como se essa situação nem fosse minha de verdade. Como se eu não estivesse aqui, passando por isso.
Me deito na cama depois de lavar o rosto com água fria, e tudo ao meu redor parece distante.
Eu queria que Matt estivesse aqui. Ele diria algo irritante, sem dúvida, algo que me faria revirar os olhos ou gritar com ele. Mas também me traria uma sensação de companhia e compreensão que agora parece impossível de alcançar. No entanto, ele ao menos estaria aqui, e esse seria o conforto que não consigo encontrar em mim mesma no momento.
E aí passo a noite em claro, perguntando a mim mesma se ele está bem. Será que conseguiu o que queria indo para a casa dos pais? Ou será que ele está perdido na própria mente, assim como eu estou na minha?
❄︎ ❄︎ ❄︎
𝗠𝗔𝗬 𝟮𝟯, 𝟮𝟬𝟯𝟰
No silêncio confortável do carro, dirijo pela rota à caminho da escola de Aspen. Ela está ao meu lado, com a mochila no colo, mexendo no celular. A manhã está tão tranquila – a não ser pelo turbilhão de coisas dentro de mim – que o som dos meus dedos tamborilando no volante se destaca no interior do carro.
— Você vai poder me buscar hoje? — A voz dela quebra a tranquilidade enquanto olho de relance para sua expressão atenta. — E me deixar no trabalho da mamãe depois?
Minha mente leva alguns segundos a mais do que deveria para processar a pergunta. Abro a boca e depois fecho de novo, hesitante. Droga. Onde Celeste trabalharia hoje em dia?
— Onde ela está trabalhando mesmo? — pergunto casualmente, tentando soar despreocupada.
Aspen me encara, erguendo uma sobrancelha. Sinto minhas bochechas esquentarem enquanto dou de ombros, os olhos na estrada.
— Naquele hotel no centro. DoubleTree. — Ela me olha como se eu fosse uma estranha. — O mesmo onde ela está há três anos?
Meu estômago se revira. Três anos, o mesmo tempo que está sóbria. Isso explica o olhar confuso dela, e pior, a maneira como tenta entender por que eu esqueceria algo assim.
— Ah, claro. Esse hotel no centro. — Tento sorrir, mas não engano ninguém. Aspen volta o olhar para a janela, os olhos ainda estreitos.
— Você tá bem? — Ela pergunta, meio receosa, sem se virar completamente para mim.
— Tô, sim. — Forço um tom leve. — Só com um monte de coisa na cabeça.
Ela assente devagar, mas sei que não está convencida. É isso que é tão desconcertante. Aspen me conhece, talvez mais do que qualquer outra pessoa, e qualquer mudança em mim parece acionar um alerta silencioso para ela. Como se eu fosse uma peça que não se encaixa mais no quebra-cabeça que ela montou na cabeça ao longo dos anos.
— Você e Matt estão com problemas? — A pergunta de Aspen vem carregada de uma preocupação discreta, mas firme, enquanto ela novamente vira o rosto na minha direção.
Por um momento, a única coisa que consigo fazer é encarar a rua à frente, apertando o volante. Eu deveria estar preparada para isso. Se Aspen notou a ausência dele... não tinha como deixar todas as suas dúvidas para lá. Inspiro fundo, ajusto minha postura e tento sorrir, mesmo que o nervosismo esteja espreitando sob a superfície.
— Não, claro que não. — Tento soar casual. — Nós estamos bem, de verdade. — Busco qualquer fagulha de convicção, precisando que ela acredite nisso tanto quanto eu. — O Matt tem sido incrível, sabe? A gente se entendeu muito bem desde... desde que percebemos que queremos ficar juntos. Para valer. — Minhas palavras saem mais rápidas do que eu gostaria. — Foi um processo, mas a gente construiu muito com conversa, confiança...
Ela ainda me encara, cética, e eu solto um suspiro, sabendo que precisaria de algo mais concreto.
— Ontem ele só precisou de um tempo com os pais. — Minha voz suaviza. — Ele ficou preocupado que você o visse chateado como ele estava.
Aspen franze o cenho, inclinando a cabeça levemente.
— E ele te disse isso tudo?
Deveria ter previsto essa. Aspen pode não ter mais três anos, mas continua fazendo muitas perguntas sobre o mundo. É o tipo de pergunta que faz meu peito apertar, mas mantenho o sorriso e assinto, como se fosse a coisa mais natural do mundo.
— Disse sim. — Engulo a sensação incômoda de estar mentindo na cara de pau para ela. — A gente se falou hoje de manhã.
Ela me estuda por um instante, talvez procurando qualquer sinal que prove que estou mentindo. Minhas mãos suam no volante enquanto espero, mas então ela apenas suspira e volta a olhar para frente, os ombros relaxando um pouco.
— Tá bom, então. — Ela murmura, deixando o assunto morrer por ali.
Dirijo em silêncio até a escola, com a mente girando mais rápido do que eu gostaria. O que mais ela deve ter notado? Será que eu deveria ter contado alguma coisa de forma mais aberta? Mas antes que eu possa resolver meus próprios pensamentos, já estamos na frente do prédio, e Aspen está se movendo para abrir a porta.
— Lily? — Ela se vira antes de sair, me observando com um olhar pensativo.
— Oi?
— Você tá... diferente. — Ela franze o nariz, como se buscasse as palavras certas. — Não sei o que tá acontecendo, mas até que tô gostando.
Antes que eu possa reagir, ela fecha a porta e sai, a mochila balançando nas costas enquanto some em direção à entrada da escola. Eu fico parada, piscando, a resposta morrendo nos meus lábios.
Diferente, como?
Observo Aspen se afastar e finalmente deixo o ar sair dos meus pulmões, soltando o volante como se ele tivesse queimado minhas mãos.
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