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𝟭. the shape of water

𝗦𝗘𝗣𝗧𝗘𝗠𝗕𝗘𝗥 𝟮𝟵, 𝟮𝟬𝟮𝟯

































ᥫ᭡𝐋𝐈𝐋𝐈𝐓𝐇...

Água, em sua forma líquida, do tipo que carrega todos os sais necessários para deixar meu cabelo com aspecto de ressecado no final do dia e cuja as fórmulas da composição eu sei de cor: NaCl, CaSO4, MgSO4 e MgCl2. Mas, nem meu conhecimento em química pode explicar o quão implacável é a água do mar. E eu a adoro.

A água não perdoa e "o mar não tem cabelo" como muitos dizem, mas principalmente, a água do mar não deve ser subestimada apenas porque alguém consegue ficar no topo dela por alguns segundos. As inúmeras pranchas quebradas no armário da bagunça de minha casa são provas disso.

Eu cravo a prancha na areia, sentindo meu coração palpitar após o grande caixote que levei. Ouch. Foi como se o mar me expulsasse. Esse mesmo mar que eu me dispunha a desbravar desde que me entendo por gente. É o mesmo mar que parece saber que eu acabo de me despedir de suas ondas.

Enquanto me livro da roupa de borracha após passar pela porta de casa, um trovão ressoa no ar. O barulho é alto e vem acompanhado de um raio que ilumina toda a sala de estar.

É só água, Lilith. É água caindo do céu.

Era o que meu avô dizia todas as vezes que eu ficava assustada demais com uma tempestade barulhenta como essa prestes a cair em Bathsheba, a principal cidade do leste nada luxuoso de Barbados.

— Vovó? — Eu chamo no corredor escuro.

Outro trovão balança os quadros nas paredes e com um novo clarão rasgando o céu, eu vejo minha avó sentada na cadeira de balanço em frente à porta que dá para o quintal com vista para o mar.

— Vovó, sou eu, Lilith. — Com calma, me abaixo até estar no nível dos olhos dela e pego em suas mãos frias.

Vovó Marjorie leva sua mão pouco enrugada até meu rosto, onde segura-me pelas bochechas e observa atentamente.

— Oh, querida, você está tão pálida! Sua mãe não tem feito as refeições nos horários certos, não é? Eu já disse para Celeste que se minha neta ficar anêmica novamente por causa da preguiça dela...

— Deixa disso, vovó. — Meu tom de voz é condescendente, como se a idosa fosse a criança distraída que eu estou tentando trazer para a realidade. — Eu acabei de voltar da praia. Não poderia estar mais corada do sol...

— Então, certamente está com fome depois das suas horas de surfe. Onde está Celeste? Peça para que ela venha me ajudar a preparar o jantar.

Marjorie, com a força de um corpo esguio e quadris largos, se põe de pé com facilidade e por uma fração de segundos, me leva a pensar que tudo ficará bem. No entanto, logo sou atingida por suas palavras recém ditas.

Onde está Celeste?

É o que eu me pergunto há quatro meses.

Mamãe fez exatamente tudo igual no dia que desapareceu. Pela manhã, preparou o leite de minha irmã e o nosso almoço, à tarde, depois que eu cheguei da escola, ela me passou a lista semanal das coisas que eu deveria trazer do mercadinho da esquina quase falido de nossa família e ao cair da noite, quando o sol custava a descer no horizonte, ela pegou o barulhento Suzuki Samurai que herdou do meu avô e com uma despedida rápida e distante, ela partiu para o trabalho pouco digno que tinha na costa oeste da ilha, onde o turismo realmente acontecia.

Eu não julgo a minha mãe por dar seu jeito de sustentar uma família onde a matriarca acabou de ser diagnosticada com Alzheimer, a filha mais velha não consegue quase nada ajudando no nosso mercadinho caindo aos pedaços e a filha mais nova ainda precisa tomar uma daquelas caras fórmulas infantis.

Mas, acho que as coisas ficaram pesadas demais para Celeste e ela nunca mais voltou. Há quatro meses ela não atende minhas ligações, responde as minhas mensagens ou volta para casa apenas para saber como a filha de dois anos e nove meses está.

Felizmente ou não, Barbados não é uma ilha tão grande e nossa família é muito conhecida nas cidades residenciais, o que significa que uma Nadin não pode desaparecer sem deixar rastros.

Manuel, nosso vizinho e proprietário de uma quitanda na capital, encontrou minha mãe certa vez e veio correndo me dizer que tinha dado uma dura nela. Porque claro, neste bairro, nesta cidade, todo mundo parece saber sobre nossa situação, o que não deixa de ser invasivo e indelicado da parte deles.

Ameaças de vizinhos ou conselho tutelar batendo à porta não são capazes de intimidá-la; no entanto, a falta de dinheiro é certeira em trazer minha mãe de volta para casa.

Ouço seus passos no corredor assim que coloco Aspen no berço em meu quarto. Ela esbarra em algo que cai no chão com um estrondo e, quando fecho a porta do quarto atrás de mim, encontro-a com uma expressão de culpa e um porta-retrato quebrado aos seus pés.

— O que você está fazendo aqui, mãe?

Sei que, tecnicamente, a casa é mais dela do que minha, mas com quatro meses de perguntas acumuladas a fazer, essa é a mais sincera que deixo sair.

— Lilith... O que são aquelas caixas lá na sala? — Seus olhos estão fixos em mim e a voz vacila enquanto o aroma amargo de álcool emana de todos os seus poros.

Dou um passo para trás, meu rosto estampando frustração.

— Você perdeu muita coisa desde que saiu de casa um dia e não voltou mais.

— Eu... eu não sabia. Eu ouvi algo sobre você sair do país com Aspen e sua avó. É verdade?

Suspiro, as lágrimas acumulando-se em meus olhos.

— Sim, estamos indo embora. Eu não podia esperar mais por você, ou contar com você para qualquer coisa. Não sabia se ia voltar, se ia...

— Você vai levar Aspen e minha mãe para longe de mim? Não posso deixar isso acontecer — ela interrompe, com uma mistura de desespero e raiva.

Estou tão cansada e decepcionada de vê-la consumida pelo vício e pelas escolhas erradas que fez na vida que não quero brigar. Ainda assim, direciono um olhar severo para ela e evito chorar enquanto digo:

— Você não estava aqui, Celeste. Não tem ideia do que aconteceu enquanto estava fora. Eu preciso alimentar as pessoas nesta casa, preciso ter certeza que Aspen tenha uma vida melhor do que essa, preciso que minha avó esteja em um lugar com a segurança que não posso oferecer para ela agora. Não podia esperar você voltar para decidir o que fazer.

— Eu sei que errei. Eu sei. Mas... eu não posso perder Aspen também. — Seu tom se torna mais suave, quase implorando.

— Isso não é só sobre você. É sobre garantir que Aspen e Marjorie estejam seguras. Eu fiz o que achei melhor — digo, firme e aflita.

— Eu estou tentando mudar, Lilith. Só me dê uma chance. Por favor.

— Quantas vezes já ouvi isso de você, mãe? Quantas vezes você teve essa mesma conversa com a sua filha de doze anos? Mas, diferente daquela época, agora eu não consigo acreditar em você.

Enquanto a voz dela se quebra, eu já estou dando-lhe as costas.

— Eu só... eu só quero estar lá para vocês. Não posso perder tudo o que eu amo. Não assim.

— Você pode vir com a gente, e mostrar que pode mudar — rebato na defensiva, tentando afastar qualquer fagulha de esperança. — Mas se você foder com as coisas, Celeste, eu juro que estará na rua no minuto seguinte.

Nunca fui de ameaçar minha mãe, e essas palavras a assustaram tanto quanto a mim. Mas eu não vou deixar que ela faça bagunça de novo logo quando estou tentando recomeçar em outro lugar.

❄︎ ❄︎ ❄︎

Na manhã seguinte, quando estamos no aeroporto, observo que minha mãe parece acelerada, embora esteja definitivamente cheirando melhor do que ontem. As olheiras estão tão fundas e escuras quanto ontem à noite e as unhas com o esmalte vermelho escarlate descascando me lembram o quão descuidada ela se tornou, e mesmo assim ela é uma bela mulher – especialmente estando de banho tomado e cabelo desembaraçado.

— Você está procurando por alguém? — pergunto, oxigenando o primeiro pensamento que me vem à mente. E se ela estiver mesmo procurando por alguém?

A beleza de minha mãe fez com que eu conhecesse muitos de seus namorados ao longo dos anos e não seria surpreendente se algum deles estivesse interessado em mudar-se com ela para os Estados Unidos e garantir um visto por casamento.

— Não. Só faz tempo desde a última vez que estivesse em um aeroporto — responde ela, como se tivesse pensado rápido.

— Mesmo?

Bem, penso, pelo menos ela não havia saído do país enquanto estava desaparecida.

Celeste nasceu nos Estados Unidos e, há uns dez anos atrás, ela até conseguiu um emprego em Nova York por alguns meses. Ainda me lembro do cheiro da pizza do John's of Bleecker Street que comíamos todas as noites quando eu ia visitá-la.

Mas, acho que a caminhada da vergonha que minha mãe vem traçando nos últimos anos, a impediu de ir para Nova York ou para qualquer outro lugar do mundo sem que fosse assombrada pelas suas próprias escolhas.

Quando a voz eletrônica soando dos alto-falantes anuncia o voo 327, Celeste se ver livre de responder a minha pergunta e ajuda minha avó a levantar da cadeira para irmos até o portão de embarque.

Coloco a mochila entre as minhas pernas assim que encontro meu assento no avião, e vovó me passa sua bolsa de mão para que ela possa procurar pelos cintos de segurança embolados. A bolsa, segundo ela, contém apenas o essencial para a visita à sua irmã nos Estados Unidos por alguns dias — que é o que ela acredita que estamos indo fazer. No entanto, sua irmã, Elaine, morreu quando as duas ainda eram bem jovens.

Quando tenho certeza de que estamos estáveis no ar, abro os olhos. Nunca fui a mais corajosa quando se trata de viagens de avião, e nas outras vezes em que viajei, vovô estava ao meu lado, garantindo que nossas mãos estivessem juntas e minha mente distraída da sensação de frio na barriga.

Observo a ilha do alto, sentindo instantaneamente a saudade apertar no peito. Esse lugar não é mais a minha casa, essas águas não serão mais o meu refúgio.

Para onde estão indo todas as coisas que eu conheço como a palma da minha mão?

Eu odeio o desconhecido.

A adrenalina da situação me mantém acordada durante todo o voo, que não dura mais do que cinco horas.

Aspen está dormindo no meu colo enquanto resolvemos o desembarque e, sem perder minha avó de vista, tento evitar que minha mãe barganhe uma viagem de graça com um taxista mal humorado.

Quando paramos em frente a casa alugada em Somerville, minha mãe torce o nariz.

— É pequena, você não acha?

Olho para ela e não tento ser passiva quando respondo:

— Se você não tivesse tirado tanto dinheiro da conta emergencial que o vovô deixou, talvez pudéssemos ter alugado uma casa de quatro quartos. — Puxo a alça de uma das malas e equilibro Aspen no quadril enquanto dou passos furiosos em direção à entrada, deixando Celeste com uma expressão de poucos amigos para trás. — E, ah, você irá dividir o quarto com a vovó.

Tento me manter otimista, pois deve ser um bom sinal ver que a casa é exatamente como foi anunciado na internet. Não há água quente no chuveiro, a descarga não pode ser acionada mais do que três vezes por dia, e um buraco no teto da varanda abriga uma família de morcegos. Mas, ainda assim, a casa tem os dois quartos prometidos nas fotos, os móveis estão em condições de uso, e o preço é ideal para que eu possa pagar por pelo menos três meses até me estabilizar na cidade e conseguir um emprego.

Eu ainda não sei de todos os planos do destino, mas acho que estou prestes a descobrir que, como a água e seus três estados físicos, as mudanças serão capazes de me transformar completamente.

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