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𝟭𝟰. meet nexa

𝗠𝗔𝗬 𝟮𝟬, 𝟮𝟬𝟯𝟰













ᥫ᭡𝐌𝐀𝐓𝐓...

Foi só ontem à tarde, quando Aspen chegou da escola, que percebemos que ela tem um quarto nesta casa. Não um quarto de visitas, mas um quarto característico de uma adolescente, com pôsteres dos artistas que ela gosta, um quadro de fotos onde a maioria das pessoas nelas são atores dos seus filmes favoritos e até uma escrivaninha lilás e amarelo que é a cara dela. Ela se trancou lá dentro e, com os fones de ouvido, evitou conversar conosco até a hora do jantar.

Para manter as aparências, Lilith e eu decidimos dormir no quarto de casal no terceiro andar. A ideia de compartilhar uma cama com ela parece desconfortável no início, mas não temos outra opção. Nos evitando ao máximo, deixamos o silêncio preencher o espaço entre nós até que finalmente pegamos no sono. Apesar disso, é impossível ignorar a sensação de familiaridade que me invade – como se estivéssemos conectados de uma forma que não consigo explicar, mas, ao mesmo tempo, somos praticamente desconhecidos. Dois estranhos presos em uma realidade que não faz sentido para nenhum de nós.

Quando o sábado de manhã chega, desperto novamente para essa realidade maluca, que, como está mais do que comprovado, não é apenas um sonho ruim. Lilith ainda está dormindo, e, em vez de ficar ali, tentando fingir que vou acordar na minha casa, decido descer para fazer o café da manhã.

Na cozinha, me deparo com uma pequena coleção de máquinas faz-tudo. Eu as vi ontem à noite quando fiz o jantar, mas não me arrisquei a usá-las. Hoje, por algum motivo, mexer nelas parece a coisa mais natural do mundo. Eu nunca fui bom na cozinha – na verdade, minha especialidade sempre foi ferver água para o macarrão com queijo ou cortar as verduras para a salada verde da minha mãe. Mas, dessa vez, meu corpo parece ter vontade própria, movendo-se com uma precisão que eu não sabia possuir. É como se eu dominasse a arte da culinária, ou pelo menos soubesse muito mais do que só ferver água.

É quando empilho a terceira panqueca de chocolate inteiramente perfeita no prato, que ouço os passos na escada. Aspen aparece, com um coque desajeitado prendendo os cabelos cacheados e o rosto amassado pelo sono.

Tento agir com cautela, como se estivesse pisando em terreno desconhecido, o que de fato, estou. Não tenho ideia de qual é a nossa relação agora, mas sei que preciso ser cuidadoso pelo que já vi do jeito que Lilith ficou abalada com a frieza da irmã.

— Bom dia, dorminhoca — digo, tentando soar casual.

Ela me lança um olhar curioso, como se algo estivesse fora do lugar.

— Bom dia — responde com a voz rouca. — Você fez... panquecas?

— Ah, sim — respondo, empurrando o prato na direção dela. — Decidi tentar. Espero que estejam boas.

Ela se senta, ainda me observando com uma expressão intrigada, mas um leve sorriso começa a surgir.

— É diferente... Você não costuma fazer café da manhã.

Sinto meu estômago revirar. Não faço ideia se era eu quem cozinhava ou não, mas dou de ombros, fingindo que está tudo sob controle.

— Estou aproveitando o dia de folga.

— Folga? Achei que você estaria em Toronto hoje.

— Bem... É, eu... Eu fui dispensado. Senti o tornozelo no último treino e o departamento médico resolveu me poupar.

Essa é uma boa e convincente mentira, e eu me pergunto se já estou convivendo o suficiente com Lilith para pegar sua mania de respostas na ponta da língua. Mas, para ser honesto, venho pensando nessa desculpa desde ontem à noite, quando pesquisei o calendário de jogos do Boston Bruins e descobri que na segunda-feira será o último jogo da série melhor de sete. Por enquanto, estamos ganhando de 3 a 2 do Toronto Maples Leafs.

Um incômodo no tornozelo é uma boa razão para ser poupado antes dos dois últimos jogos decisivos.

— Enfim, achei que seria bom começar o dia de um jeito diferente — digo, sem saber o que mais acrescentar. — Então, Aspen... Você tem algum plano para hoje?

Ela corta um pedaço da panqueca e, antes de colocar na boca, me encara de novo para dizer:

— Só quero descansar antes das últimas provas. Parece que os professores querem nos dar um gostinho de como será o ensino médio. — Ela revira os olhos, exatamente do mesmo jeito que Lilith faz e eu começo a me questionar se elas não são, na verdade, mãe e filha. — Mas... obrigado por fazer o café, Matt. Você é o melhor.

A maneira como ela diz isso me desarma um pouco. É claro que somos próximos – ela tem esse olhar de admiração, quase como se me visse como um herói ou um amigo de verdade.

Isso me lembra como eu enxergo Chris e, consequentemente, como está nossa relação agora. E quero perguntar para Aspen porquê é tão dura com Lilith, para não deixar que aconteça o mesmo que aconteceu comigo e meu irmão – embora eu também não saiba o que houve entre nós.

— De nada — digo, tentando corresponder à confiança que ela deposita em mim. — Você sabe que estou por aqui para o que precisar, né? É só me dizer...

Ela apenas balança a cabeça, enquanto devora mais uma mordida.

— Eu sei. Mas, está tudo bem com você?

— Por que a pergunta?

Me sento ao lado dela na ilha da cozinha. Os banquinhos altos têm a mesma cor das cadeiras ao redor da mesa de seis lugares à nossa esquerda. Apesar de haver espaço para nós dois na mesa, há algo de companheirismo em sentarmos na bancada para o café da manhã.

— Você está passando mais tempo em casa. Parece que está... tentando resolver as coisas com a Lilith? — Sua resposta soa mais como uma outra pergunta e eu fico em silêncio para pensar.

Minha cabeça imediatamente volta ao que Sadie mencionou sobre o noivado e como parece estar desandando. Não faço ideia do que está acontecendo entre mim e Lilith nesse futuro, mas não posso deixar Aspen perceber isso. Então, dou de ombros.

— É, a gente está tentando. — Tento soar natural, mas é estranho falar isso, como se eu estivesse concordando com algo que mal entendo. — Mas, esse é um problema dos adultos. Você não precisa se preocupar com isso.

Tranquilizar Aspen parece o certo a se fazer, é como se eu fosse um pai que diz que uma suposta separação não mudará nada entre nós.

— E você e Lilith? — Puxo o gancho, tentando tirar mais informações. — Notei que vocês estão... um pouco distantes.

Aspen franze a testa, parecendo confusa por ter que me explicar algo que, aparentemente, eu já deveria saber.

— É o de sempre... essa coisa toda de termos opiniões diferentes sobre a mamãe. Eu quero ficar perto dela, acho que ela está bem como nunca esteve, Matt.

Eu fico em silêncio, incentivando-a a continuar.

— Mas, Lily acha que ela vai ter uma recaída a qualquer momento, como antes. Só que mamãe está sóbria há três anos agora, não acha que ela merece algum crédito e confiança por isso? — Aspen fala com firmeza, como se quisesse me convencer de algo. — Apesar da constante mudança de namorados...

Esse detalhe acende um sinal de alerta na minha mente. De repente, faz sentido ser esse mais um motivo pelo qual Lilith pareceria querer a guarda completa de Aspen. Fico tentado a dizer isso a ela.

— Acho que a Lilith quer te proteger... ela provavelmente acha que, com tudo isso, seria melhor ter a sua guarda completa. — Eu digo, observando sua reação.

Aspen suspira e revira os olhos.

— Qual é, Matt. Se vamos falar de quem tem melhores condições de cuidar de mim, não dá pra ignorar as brigas que eu escuto entre você e minha irmã. — Ela diz, um toque de ironia em sua voz. — Pois é, eu consigo ouvir vocês mesmo estando no primeiro andar dessa casa.

Isso me pega de surpresa. Abro a boca para responder, mas fico sem palavras porque saber que Aspen está ciente dos desentendimentos entre eu e a Lilith do futuro – que, sinceramente, não são muito diferentes dos que temos aos 17 anos – me faz sentir um aperto no estômago.

Ela não merece guardiões que brigam o tempo todo. No que isso é melhor do que ter uma mãe que troca de namorado a cada estação? A instabilidade é a mesma.

— Não sabia que você ouvia tudo... — admito, tentando ganhar tempo para pensar.

Ela apenas dá de ombros, como se fosse óbvio.

— Esse lugar tem paredes finas, sabe?

— Tenta entender o lado da sua irmã, Azzy... — O apelido me escapa, e meus olhos se arregalam de imediato. Aspen nem parece notar, já pronta para retrucar, mas Lilith entra na cozinha no mesmo instante. A mais nova se cala, interrompendo o que ia dizer.

Lilith para na entrada da cozinha e olha de Aspen para mim. Ela caminha até o armário suspenso e puxa um copo – para nos habituar e não agir como estranhos para com essa casa, demos uma boa olhada em tudo ontem à noite –, enchendo-o de água antes de finalmente se virar para nós.

— Bom dia? — pergunta, a voz tentando soar casual, mas com um toque de estranhamento pelo nosso repentino silêncio.

Aspen apenas foca no prato à sua frente, e eu assumo o papel de mediador entre elas.

— Bom dia. Fiz panquecas... quer uma? — ofereço, me levantando rapidamente do banco para pegar mais uma porção para ela.

Lilith me lança um olhar curioso, como se não estivesse esperando isso de mim. Talvez porque até ontem, como bem admiti, eu mal conseguia cozinhar um macarrão decente.

— Você fez? — ela pergunta, surpresa, enquanto pega uma delas. — Isso é uma surpresa. — Ela morde a panqueca e franze a testa, surpresa com o gosto. — Não está nada mal, na verdade.

Aspen cruza os braços e revira os olhos.

— É, ele tá tentando... de várias maneiras — ela murmura, como se estivesse dizendo mais do que deveria.

Lilith olha para Aspen e abaixa a cabeça, como se estivesse reunindo coragem para dizer algo que já havia ensaiado em sua mente inúmeras vezes.

— Eu estava pensando... talvez a gente pudesse visitar a vovó hoje. Queria que a gente passasse um tempo juntas... e com ela. — A voz de Lilith soa mais controlada do que eu esperava, como se ela estivesse cuidadosamente tentando evitar respostas ríspidas da mais nova.

— Eu tenho que estudar — Ela mexe no último pedaço de panqueca. — E eu e a mamãe fomos visitá-la ontem.

— Ah, claro. — Lilith aperta os lábios. — Talvez pudéssemos fazer outro coisa mais tarde. Ir no parque ou... às compras?

— Por que você age assim, Lily?

— Assim, como?

— Tentando me agradar quando eu sei aonde isso vai dar. Você começa a ser divertida, passamos um tempo juntas e aí... você tenta me colocar contra a mamãe. — Aspen murmura, olhando diretamente para Lilith, com um tom que carrega mais ressentimento do que sarcasmo.

Lilith franze o cenho, claramente confusa. E agora que sei o que está acontecendo, a situação fica ainda mais desconfortável para se estar no meio. Aspen tem motivos para agir de forma tão passivo-agressiva porque Lilith, em todas as suas versões, quer protegê-la a todo tempo, mesmo que esteja projetando um pouco dos seus próprios traumas na irmã.

Me pergunto se eu e Chris também paramos de nos falar por causa de opiniões diferentes, embora isso claramente seja um motivo raso demais para cortar laços com seu trigêmeo.

Diante do silêncio de Lilith, Aspen se levanta de um salto e sai da cozinha, batendo os pés.

— Não sei o que estou fazendo de errado. Não sei o que fiz de errado... Mas é óbvio que tem a ver com Celeste — Lilith diz, rindo com sarcasmo quando a mais nova já está muito longe para ouvir. Teho um déjà vu nesse exato momento, como se já a tivesse ouvido dizer isso antes. — Acho que já entendi qual é a desavença da Aspen comigo.

— Já? — pergunto, surpreso.

Lilith balança a cabeça e se serve de um copo de suco de laranja. O tilintar da jarra de vidro pousando sobre a bancada de mármore é o único som que ecoa no ambiente durante o minuto inteiro que ela leva para continuar.

— Eu já fui assim, cheia de esperança. Ela só quer acreditar que a mãe vai ficar bem. Mas, se eu realmente quero a guarda completa dela, deve ser porque sei que Celeste nunca vai mudar.

É isso. A Lilith adulta parece compartilhar a mesma opinião da Lilith adolescente sobre a mãe, enquanto Aspen prefere acreditar que Celeste mudou de verdade.

— Bem... — começo, colocando a espátula suja na lava-louças. — Aspen me contou sobre isso. E, de certa forma, ela tem razão, Lilith. Sua mãe está sóbria há três anos, sabia?

Há um brilho surpreso no olhar dela quando se vira para mim, como se Celeste nunca tivesse ficado tanto tempo limpa. Mas, quase imediatamente, Lilith desvia o olhar, voltando a encarar o vazio com um ar de descrença.

— Acho melhor irmos à biblioteca logo de manhã. Temos que evitar sermos vistos e conseguir atestados para nós dois... — Lilith faz uma pausa, bebendo o suco com a naturalidade de quem não acabou de mudar de assunto abruptamente. — Espero que, com sua fama e dinheiro, você tenha algum amigo médico. — Ela faz outra pausa, tomando mais um gole do suco. — E corrupto.

Ficamos em um debate silencioso até Lilith colocar o copo na pia e, sem me olhar, seguir para fora da cozinha.

❄︎ ❄︎ ❄︎

A rua está cheia de veículos que parecem ter saído diretamente de um comercial futurista das marcas que já conhecemos. Cada um mais brilhante e aerodinâmico do que o outro, com linhas curvas e detalhes em cores foscas. Enquanto caminho ao lado de Lilith, que ainda está mexendo em uma das diversas bolsas que encontrou em seu closet, tento identificar qual desses carros seria o meu. A chave do carro, que encontrei presa ao passador do cinto de uma das minhas calças na pilha de roupas sujas, não me dá muita pista — exceto pelo logotipo prateado da Tesla.

— Você achou sua chave? — pergunto, mantendo os olhos nas fileiras de veículos estacionados.

— Sim, estava na bolsa que eu... acho que uso para trabalhar? — Ela responde, tirando um livro didático só o suficiente para ver o nome escrito na capa.

Aspen foi quem nos fez descobrir que cada um de nós tem seu próprio carro. Ontem à noite, quando eu disse que tinha ido a pé fazer as compras para o jantar, ela perguntou se o meu carro ainda estava na oficina e por que eu não tinha usado o carro da Lilith. Eu apenas confirmei, e agora estou aqui, tentando descobrir se meu carro é um desses ou se ainda está em uma oficina que também desconheço.

Finalmente, localizo um SUV prata, com faróis finos e uma carroceria que parece flutuar sobre rodas esportivas.

— Acho que esse é o meu — digo, erguendo a chave. Quando aperto o botão, os faróis piscam e a porta do que parece ser uma versão ainda mais moderna e sofisticada do Tesla Model X se abre em um movimento suave.

Abro um sorriso satisfeito, mal conseguindo disfarçar o quão louco estou para colocar essa belezinha para correr.

Lilith para ao lado de um Audi preto, um modelo parecido com o A7, e tão elegante quanto qualquer outro veículo nesta rua. O carro brilha sob o sol da manhã, com janelas escuras e um design que exala luxo. Quando ela destrava o carro, as luzes piscam em resposta.

— Em qual a gente vai? — Ela pergunta, sem esconder a excitação na voz. Parece que não sou o único vibrando com a possibilidade de dirigir um desses carros.

— O seu parece extravagante...

Ela ergue uma sobrancelha e não me deixa concluir o que ia realmente dizer.

— Extravagante? O seu carro tem portas que se abrem para cima, Matt. Acha que isso vai passar despercebido?

— O meu só é mais espaçoso. Além disso, já estou com a chave na mão — argumento, girando a chave no indicador.

— E o meu é mais discreto. — Ela rebate, cruzando os braços.

Parecemos duas crianças debatendo sobre quem tem o melhor brinquedo. Uma mulher que caminha com um lulu-da-Pomerânia do outro lado da rua já está nos encarando por causa disso.

Por um segundo, penso em ceder, mas algo no jeito como Lilith me desafia, como se já soubesse que vai vencer essa discussão, me faz querer pensar em uma nova estratégia. Dou mais uma olhada no Tesla, e depois no Audi.

— Certo. Vamos no seu — digo, jogando a chave do meu carro de volta no bolso. E quando ela abre um sorriso vitorioso, eu aproveito para me inclinar e deixá-la desconcertada com um beijo na bochecha. É o suficiente para Lilith arregalar os olhos e afrouxar os braços cruzados, me dando a chance de arrancar a chave do Audi da mão dela. — Mas eu dirijo!

Aceno para a vizinha fofoqueira do outro lado da rua, que fica com as bochechas avermelhadas por ter sido pega no flagra e devolve o comprimento com um sorriso amarelo. Lilith se acomoda no banco do passageiro bufando em revolta, mas o interior do carro intergaláctico logo a distrai.

É tudo o que se espera ver dentro de uma nave espacial, exceto pelo fato de não haver botões ou uma caixa de marcha. Uma tela sensível ao toque se acende, indicando que a chave deve ser colocada na ignição e que o motorista pressione o dedo no leitor retangular à direita da tela.

Lilith solta um pigarro ao meu lado.

— Dá pra ser ou tá difícil? Vamos ficar o dia inteiro parados aqui?

— Meu Deus, me dê um minuto, mulher. Estou tentando entender como isso funciona.

Quando coloco o meu dedo no leitor digital, uma voz robotizada ecoa pelo interior do veículo, embora eu não veja onde estão os alto-falantes dele:

— Bom dia, Matthew. Para onde você está indo hoje?

— Hm, nós vamos para a biblioteca municipal de Somerville. — Olho embasbacado para Lilith, que apenas dá de ombros, tão surpresa quanto eu.

— Certo. Devo mandar um aviso para Lilith de que você está usando o carro dela?

— Ela está aqui comigo.

— Oh, bom dia, Lilith — a voz diz, com uma entonação mais animada do que quando falou comigo.

— Bom dia... — ela responde mecanicamente. — Você tem um nome?

— Claro, você personalizou meu nome. Sou a Nexa.

— Um nome perfeito para o software de um carro — Lilith e a voz, Nexa, dizem ao mesmo tempo.

— Credo, isso me deixou arrepiada. — Ela balança a cabeça e passa as mãos nos braços.

Dou risada, mas no fundo, é uma ideia realmente aterrorizante saber que um robô tem a mesma consciência que o seu 'dono'.

— Nexa — falo, apertando o volante triangular. — Como dirijo sem uma caixa de marcha?

A voz robótica responde imediatamente, suave e precisa:

— Para dirigir manualmente, basta desativar o piloto automático no painel central e utilizar os controles no volante para mudar de velocidade. Aqui e aqui. — Há uma sequência de luzes nos lugares que devo mexer. — Você pode ajustar a aceleração e a frenagem também com comandos de voz, ou deixar o sistema de suporte fazer os ajustes por você. Deseja assumir o controle agora?

Olho para Lilith rapidamente, que me observa com um pequeno sorriso no rosto, como se soubesse que eu preferiria não ter um robô fazendo tudo por nós.

— Sim, desativa — respondo, passando o dedo na tela central para desligar o modo automático. O volante fica mais pesado sob minhas mãos e eu o aperto novamente.

— Pronto. Você agora tem controle total do veículo — Nexa confirma, enquanto Lilith solta um suspiro divertido ao meu lado.

Agora que estou no comando, e pela primeira vez desde que tudo isso começou, eu me permito observar a cidade além do que está bem à nossa frente.

Os edifícios são mais altos, as fachadas mais modernas, e até os postes de luz têm um design futurista. É como se alguém tivesse pegado a cidade em que cresci e a deixado mais limpa, mais eficiente... mais impessoal. O trânsito flui de forma surpreendentemente organizada, sem os sons de buzinas e motores que eu esperaria. E as pessoas, embora pareçam as mesmas de sempre, têm uma espécie de pressa calculada nos passos.

— Tá vendo? Tudo mudou, mas ao mesmo tempo, nem tanto — murmura Lilith, quebrando o silêncio. Ela está olhando pela janela, com uma expressão que não consigo decifrar.

— É como se estivéssemos vivendo em uma versão mais eficiente da nossa própria vida? — comento, tentando processar o cenário à nossa volta.

— É o que as pessoas sempre procuram enxergar no futuro, né? Mais tecnologia, mais eficiência.

De repente, algo capta minha atenção. Um enorme outdoor digital ilumina uma esquina à frente. No fundo escuro, o logo do Boston Bruins surge ao lado do logo do Toronto Maple Leafs. Abaixo da imagem, em letras grandes e chamativas, a data: "Melhor de Sete - Jogo 7: Segunda-feira, TD Garden". Meu coração dispara por reflexo quando a imagem muda e o meu rosto aparece no meio de outros dois jogadores que não conheço. Estamos os três usando o uniforme preto e amarelo, e empunhando o taco de hóquei com orgulho.

Talvez seja a hora de pesquisar meu nome na internet e descobrir mais do que aconteceu com a minha vida e carreira nos últimos dez anos.

— Ainda não posso acreditar... — murmuro, fixando o olhar no anúncio. O último jogo, o que define os times que estarão na final da Stanley Cup.

Lilith segue meu olhar e franze o cenho.

— O que foi?

— O jogo de hoje é o penúltimo da série e, se não ganharmos, quer dizer que... estaremos jogando pela reta final da competição na segunda-feira. E eu... eu deveria estar jogando.

— Matt, você está realmente pensando em jogar contra um time profissional, com jogadores profissionais, em uma partida definitiva? — Ela me olha incrédula, enfatizando pausadamente cada argumento que faz.

— Que outra alternativa eu tenho? Se a gente não conseguir voltar para nossas vidas em 2024 hoje, o que mais eu devo fazer?

Aí então podemos considerar quebrar a sua perna.

Balanço a cabeça, olhando de lado para ela quando avançamos em mais um sinal verde.

— Hoje mais cedo aconteceu uma coisa estranha enquanto eu fazia o café da manhã — começo, sem saber exatamente como explicar. Lilith me encara, esperando por mais. — Quando eu estava cozinhando, parecia que... meu corpo sabia o que fazer antes mesmo de eu pensar. Como se eu tivesse essas memórias nos músculos, entende?

Lilith inclina a cabeça, intrigada, mas também sem deixar de lado aquele ar irônico.

— Tipo um "chef de cozinha" adormecido dentro de você? — ela provoca.

Reviro os olhos, mas não evito a risada.

— É, mais ou menos isso. Eu estava preparando tudo de uma forma que eu tenho certeza de que não sei. Mas meus movimentos eram naturais, como se eu tivesse feito isso um milhão de vezes. Eu nem queimei nada.

— Se você diz — ela brinca.

— Eu estou falando sério, Lilith. E isso me fez pensar... talvez seja assim também com o hóquei. Quando eu estiver no gelo, talvez meu corpo saiba o que fazer, como na cozinha hoje. Mesmo que eu não me lembre, minhas mãos, meus pés... eles podem lembrar.

Lilith fica em silêncio e olha para mim como se esperasse que eu revele que isso não passa de mais uma tiração de onda com a sua cara.

— Então você acha que pode ser instintivo? Que seu corpo já está programado para o Matt do futuro? — ela pergunta, finalmente.

— Pode ser que sim.. Porque se não for, a única alternativa que vai sobrar é mesmo quebrar a minha perna.

Ela ri, mas percebo que agora está realmente pensando sobre o que eu disse.

— É melhor a gente conseguir voltar a ter 17 anos, porque será humilhante se você entrar naquele ringue na segunda-feira e não souber o que fazer.

— Outch. Obrigado por sempre desejar o melhor para o seu noivo, princesa. 

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