Você veio
Pov. ludmilla Oliveira
Acordei com meu despertador, quase xinguei o Universo por ter colocado um barulho tão irritante.
Eu odiava todos, não importa o horário e a ocasião, despertadores me irritavam e isso era um fato.
Continuei esparramada na cama, quando percebi que poderia ficar mais 10 minutos deitada. Meus olhos quase se arregalaram ao lembrar das mensagens trocadas entre eu e a garota de olhos castanhos. Brunna invadia minha mente de uma forma confusa, e ontem, talvez eu tenha passado dos limites usando palavras ambíguas que provavelmente, se ela fosse uma mulher solteira e interessada, causaria certo efeito.
Quase bati em minha própria testa, mas pensei em deixar esse peso para lá, se Brunna não comentou nada, talvez eu esteja me incomodando de besteira.
Continuei esparramada na cama apenas olhando para o teto. O sol parecia querer invadir meu quarto arrebentando as cortinas. Me permiti me esticar e bocejar, para logo depois levantar e rastejar até o banheiro, escovar os dentes e logo depois entrar no chuveiro. Hoje eu faria o turno de Normani, ou seja, entraria 9 horas e sairia às 14 horas, para depois voltar com meu turno normal. Eu tinha tempo suficiente para tomar um banho, comer e ainda deitar um pouco mais.
Com os cabelos molhados e enrolados na toalha, após um bom banho quentinho, já estava com uma blusa branca com mangas até quase o cotovelo, ela era soltinha e combinava com a calça jeans alta que eu usava e uma botinha com saltos. Decidi não passar nenhuma maquiagem além de base e delineador. Bocejo novamente quando passo pela sala e ligo a televisão, deixo o controle na mesa de centro e vou até a cozinha. Coloco ração para a pequena criatura que ainda dormia debaixo de minhas cobertas, mais conhecido como Nino.
Estava distraída comendo uma tigela de frutas, quando ouço um som de notificação em meu celular. Eu estava sentada no sofá de tecido azulado, minhas pernas estavam cruzadas e meu cabelo ainda tinha a toalha, assistia algum desenho besta na televisão, apenas para ver o tempo passar.
Estiquei meu corpo até a mesa de centro e peguei meu celular, desbloqueei e ri de uma cena besta que passava na TV em que um personagem cantava com outro sobre pizza. Na barra de notificação, mostrou uma mensagem de Brunna, era um bom dia, sorri.
(Little Bu✨): Bom dia, Ludmilla. Você acha que quando alguém está perdido, ela pensa na solução mais lógica ou mais conivente ao pânico momentâneo?
Franzi o cenho e não entendi o que aquilo queria dizer. Levei mais uma colherada do cereal até minha boca e cliquei na mensagem enquanto mastigava a comida.
(LudmuMe): Bonjour, Bru. Ahn? Bom, acho que depende muito da pessoa e o grau de pânico em que ela se encontra, mas... aconteceu algo? Você se perdeu??
Assim que enviei, fiquei olhando pro celular, ela estava online, quase me senti aliviada em ver que também estava digitando.
(Little Bu✨): Perdida? Não, não literalmente, eu diria. Mas, foi só uma pergunta que me veio à mente nessa manhã.
Olhei rapidamente para a televisão quando ouvi um personagem gritar com o outro sobre algo besta que não prestei atenção, logo voltei a digitar.
(LudmillaMe): Ah sim, entendo. Me acontece às vezes... Você dormiu bem?
Mordi o lábio nervosa, travei o celular e deixei em cima do sofá, ao meu lado. Voltei a comer minhas frutas e dar um pouco de atenção pro desenho na televisão. Agora o personagem verde se transformava em vários animais diferentes, enquanto o outro, uma mistura de homem-robô, apenas olhava de jeito bobo, era um desenho interessante.
Minha atenção se desviou do desenho novamente quando mais uma vez o barulho de notificação preencheu o lugar. Dessa vez, desliguei a TV em minha frente, levantei e levei a tigela vazia até a cozinha, deixei na pia e assim que sai da cozinha, soltei a toalha úmida de meus cabelos. Fui em direção ao quarto para me olhar no espelho, sorri com a imagem. Meus cabelos ainda estavam úmidos e rebeldes, peguei uma escova em cima da cômoda e comecei a pentear meus cabelos.
Assim que estava pronta, uma bolsa nos ombros com alguns pertences, chave do carro em mãos e tudo arrumado, peguei meu celular e respondi mais uma das mensagens de Brunna antes de sair e entrar no carro, em direção ao motel.
Pov. Brunna Gonçalves
Naquela manhã, acordei mais cedo do que o normal, mesmo que tenha caído no sono tarde da madrugada. Meu corpo estava leve e cansado diante a cama. Willian estava jogado ao meu lado, os cabelos bagunçados e a roupa social ainda no corpo, porém, toda desarrumada. Não me importei em levantar e entrar no banheiro para fazer minha necessidades e logo depois tomar um bom banho relaxante.
Como estava cedo, apenas peguei meu celular e enviei uma mensagem para Ludmilla, algumas imagens invadiram minha cabeça e tive que me segurar para não me tocar durante o banho. Gostaria de continuar acreditando que tudo era apenas carência e passaria em uma semana, e até ter certeza disso, não me permitiria tocar em meu corpo imaginando ela por aqui.
Arrumei meu café da manhã logo depois de colocar minha roupa social e comi sozinha. Willian ainda estava dormindo enquanto me troquei, hoje eu voltaria para o trabalho. Eu era secretária de Ohana, uma de minhas únicas amigas, trabalhava em sua empresa voltada a tecnologia e carros, meu setor era da Nissan. Era uma grande empresa, mas não tínhamos ainda um prédio oficial, então trabalhávamos em um prédio que cabiam uma empresa a cada dois andares.
Logo depois de tomar meu café, continuei sentada na mesa, pensando. Ohana tinha, por alguns motivos, me dado um afastamento breve, apenas para que eu pudesse recuperar algumas coisas que me faltavam como desempenho, mas ela não queria, segundo ela mesma, me demitir. Foi uma boa decisão, tomei duas semanas para pensar e me organizar. Mas durante esse tempo, Willian piorou, não querendo me deixar sair e muito menos encontrar minhas amigas que se afastaram.
Estava animada pois veria Patrícia novamente. Paty trabalhava no setor abaixo do meu, na empresa de tecnologia, seu namorado era o chefe, eles se davam muito bem. Ela foi uma da poucas amigas que não se afastaram depois que me casei, e mesmo com pouca frequência, a garota me enviava mensagens perguntando como eu estava, mas eu não tinha coragem de ser sincera e dizer quanto tudo parecia um caos. Me sentia animada para vê-la e ver a baixinha Ohana, eram as pessoas que eu poderia contar, eu sabia que sim.
— Bom dia, Brunna. Volta hoje? — Ouvi a voz rouca de Willian e me assustei sendo arrancada de meu devaneio. Olhei para ele e sorri, o mesmo não retribuiu, apenas olhei pro chão.
— Sim, vou sair daqui a pouco. — Voltei a olhar para um ponto fixo na mesa, não me sentia confortável em encarar Willian enquanto ele parecia não estar de bom humor.
— Não me acordou por quê? — Peguntou e se sentou na cadeira à minha direita, as duas panquecas que eu havia deixado para ele, agora estavam em seu prato.
— Você... é, parecia cansado, apenas deixei que dormisse, te acordaria antes de sair. — Olhei para Willian que me encarou. Um suspiro pesado saiu de seus lábios e suas bochechas ficaram vermelhas.
— Me acorde quando acordar, Gonçalves. Era nosso combinado de antes. — Ele diz antes que eu levante e saia em direção ao nosso quarto.
Já estava dando o horário para que eu saísse, me olhei no espelho e sorri um pouco diante do que vi. Meus cabelos estavam em uma trança única, jogados em um dos meus ombros. Estava com um terninho cinza e uma calça da mesma cor, saltos não muito altos. Uma blusa social branca por baixo do terno. Em meus lábios, um batom vermelho cor de sangue, rímel e base. Eu estava bonita e era difícil pensar nisso depois de um tempo. Apenas balancei a cabeça e fui até a cama para pegar minha bolsa, peguei a chave do carro e meu celular.
Willian estava sentado na cama, disse que entraria mais tarde no trabalho hoje, apenas dei de ombros e caminhei pela sala.
— Amor? — Chamei, tirando a atenção de Will da televisão. Meu marido olhou para mim, de cima a baixo e fraziu a testa, depois um sorriso malicioso cresceu no canto de seus lábios, me permiti encolher diante de seu olhar faminto. — Estou indo. — Falei baixinho e caminhei em sua direção. Me inclinei e biquei seus lábios, uma de suas mãos segurou minha trança assim que nos separamos.
— Brunna... — Ele me olhou. Não consegui sustentar o olhar, Willian parecia sempre rude, mesmo em apenas um olhar, que antes eu achava lindo, e agora eu realmente não admirava tanto. — Não quero saber de nenhuma historinha sua, entendeu? Do trabalho para casa, ouviu? — Me encolhi ainda mais quando senti sua mão, antes em minha trança, escorregar até meu pescoço e apertar um pouco, não era da maneira que eu gostava. Apenas engoli em seco e concordei com a cabeça. Suas mãos soltaram meu pescoço com brutalidade e me afastei rapidamente. Meus olhos se encheram e não disse nada quando caminhei até a porta.
Assim que cheguei ao trabalho, não sabia se minha maquiagem estava borrada, o que eu pedia aos céus que não. Olhei rapidamente pela câmera do celular e agradeci aos deuses por não ter nenhum borrão sequer.
(...)
Eu estava deitada, olhando pro teto, pensando sobre coisas. O que será que Willian pensaria se pudesse ler meus pensamentos? Me pergunto se ele seria mais carinhoso e me daria flores se fosse possível, se ele pararia com as agressões e simplesmente me trataria bem, ou se ele continuaria com os bons motivos dele. Eu estava confusa, o que Ludmilla disse me afetou de verdade, mas não conseguia acreditar que Willian encostaria em mim dessa forma, sem motivo algum. Mal percebi quando já estava caindo em lágrimas. Meu peito doía com força, sentia o vazio por dentro. Meus estômago se revira e lembro de minha mãe, como sentia falta dela, como desejava que ela estivesse aqui.
Meus braços enrolam meu próprio corpo, minhas pernas estavam juntas em um posição fetal na cama enquanto sentia meu corpo explodir em pânico. Olhei pro teto e poderia jurar que ele havia diminuído, senti vontade de gritar. As paredes pareciam cada vez mais próximas, minhas mãos suavam contra minha pele, meu coração estava disparado e um bolo se formava em minha garganta, eu queria gritar.
Minha cabeça rodava e meus olhos não paravam de derramar lágrimas. Perci a falta de ar e logo depois vontade incontrolável de vomitar, levantei tremendo, não conseguia manter meus pés firmes ao chão quando tudo parecia girar. Minhas mãos suadas encostando nos móveis enquanto tentava chegar à porta do banheiro, uma força me puxava para baixo e meus olhos estavam fechando, meus passos eram pouco firmes. Me impressionei quando consegui chegar até a privada e despejar todo o líquido acumulado em meu corpo. Não conseguia parar de vomitar, 1, 2, 3 vezes seguidas, minhas mãos tremiam enquanto seguravam a borda da bacia. Meu corpo estava fraco, minhas mãos tremiam e eu quase não conseguia me segurar na bacia. Respirei, tomei fôlego e senti mais vontade de chorar ainda, mas meu estômago despejou mais um pouco do que eu havia comido naquela tarde.
Levei as mãos aos olhos e tentei limpas as incessantes lágrimas, levei a costa de minha mão até a boca e com a outra, dei descarga. Respirei fundo por um tempo que não consegui contar, levantei e fui até a pia, me olhei no espelho e vi apenas destruição e confusão. Meu nariz, bochechas e testa estavam vermelhos, minha boca estava inchada e suja. Meu nariz escorria e meus olhos estavam cheios de lágrimas, meus cabelos estavam rebeldes. Minhas pernas não estavam tremendo tanto quanto antes, mas meus dedos ainda estavam fracos. Falta de energia era o estado de meu corpo. Segurei nas bordas da pia e logo cuspi, o vermelho que saiu em meu cuspe me deixou preocupada, apenas liguei a torneira e pegeii água com os dedos fracos e trêmulos, joguei em meu rosto e logo depois coloquei um pouco de água na boca. Ouvi meu celular tocar do quarto, apenas me permiti olhar novamente para o espelho e escovar os dentes.
Caminhei devagar até o quarto e sentei na cama com calma, meu corpo estava tão fraco que eu não poderia me reconhecer, peguei o celular e quase me joguei na cama. O celular parecia pesado demais para meus dedos e eu só queria dormir.
(Lud💜): Bu?
Sorri ao ver uma mensagem de Ludmilla na barra de notificação, mas meu sorriso morreu ao ver que quem tinha me ligado, era ela. Desbloqueei rapidamente o celular e logo entrei na conversa, marcavam 9 mensagens, franzi o cenho.
(Lud💜): Bru?
(Lud💜): Você está bem essa noite?
(Lud💜): Gostaria de falar com você sobre algo importante, talvez eu não deva fazer isso, mas acho mais errado ainda a atitude dele.
Franzi mais ainda o cenho e me respirei fundo e pesado, não sabia o que ela queria dizer com aquilo. Continuei lendo as mensagens.
( Lud💜): Brunna? Estou preocupada, você sumiu... está tudo bem? Aconteceu algo?
(Lud💜): Espero que esteja ocupada apenas, estou extremamente preocupada, senti algo estranho.
(Lud💜): Assim que puder, me manda uma mensagem, meu amor, estarei aqui pro que precisar.5
(Chamada perdida de Lud💜)
( Lud💜):Ainda preciso falar com você, é importante e urgente, mas preciso saber se está bem primeiro.
(Lud💜): Se quiser vou te encontrar na sua casa, não precisa nem sair daí, talvez seja melhor...
Sinto meu coração palpitar com todas as mensagens, me preocupo com Ludmilla e logo trato de responder. Me perguntava o que ela gostaria de dizer com aquelas mensagens e o que desesperava tanto ela.
(BananasBru): Desculpa, não estava me sentindo muito bem... você está bem? Espero que nada tenha acontecido, me retorna quando puder.
A resposta não demorou 2 minutos.
(Lud💜):Você está se sentindo bem? Eu estava preocupada... Conte o que houve.
(BananasBru): Só deve ter sido algo que não me caiu bem. Enfim, conte o que precisa contar.
(Lud💜): Precisa ser pessoalmente, amor. Se você puder, me deixe ir te encontrar agora mesmo.
(BananasBru): Willian não está em casa, está no trabalho hoje, vai sair mais tarde, talvez isso te tranquilize em questão a vir, ele vai chegar bem tarde.
(Lud💜): Eu sei...
Abro a boca quando leio a mensagem, não entendi o que poderia significar, não sabia o que responder e apenas digitei.
(BananasBru): Venha.
(Lud💜): Estou a caminho.
Levantei e caminhei novamente até o banheiro, olhei meus cabelos rebeldes e fiz um coque bagunçado, não sabia o que fazer com eles. Meus olhos e o rosto ainda estavam vermelhos, joguei mais um pouco de água. Minhas mãos não mais tremiam e isso me animou um pouco, mas meu corpo ainda estava mole, talvez eu devesse comer algo, mas deixei a ideia para lá.
Ludmilla estava linda na entrada de minha casa e quase me xinguei por não ter tomado um banho e lavado os cabelos. Era ridículo o fato dela parecer sempre tão linda enquanto eu parecia uma piada. Continuei olhando para a garota, sua blusa branca e solta combinava com seus jeans e seus saltos. Não me privei quando puxei a mulher para um forte abraço que foi retribuído, senti vontade de chorar em seus braços, me sentia segura e protegida ali, meus olhos se encheram, mas apenas apertei o corpo de Ludmilla ao meu e meus olhos.
— Você não está bem, não é? — Ouvi Ludmilla na pele do meu ouvido e um arrepio subiu por meu corpo, apertei mais ainda meus braços em sua volta e só respirei fundo.
— Você veio... — Falei contra seu ombro e continuei em seus braços.
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