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Capitulo 23 - I sent you signals

TAYLOR SWIFT POINT OF VIEW

Kansas City, Missouri

October, 31, 2024

O tão esperado Halloween finalmente chegou, e, com ele, o som agudo e inconfundível das risadas de um garotinho eufórico ecoava pela casa. Thomas, nosso pequeno Batman, mal conseguia conter a energia enquanto disparava pelos cômodos, a capa preta esvoaçando atrás dele, roubando alguns doces que eu havia passado boa parte da manhã preparando.

Eu estava na cozinha, a bancada já tomada por travessas coloridas. Cupcakes decorados com pequenas teias de aranha de glacê, biscoitos em forma de fantasmas e abóboras, tacinhas de gelatina preta e laranja. Travis tinha saído para buscar gelo e algumas bebidas, mas me garantiu que voltaria rápido para ajudar com os últimos ajustes antes da festa.

O plano era simples: sairíamos um pouco mais cedo para levar Thomas pelo bairro pedindo doces, como ele tanto queria. Sabíamos que talvez fosse arriscado — Kansas City era mais tranquila e menos invasiva do que Nova York, mas ainda assim, corriamos o risco de ter a noite interrompida por pessoas que querem tirar fotos conosco, e que não percebem que, tudo que queremos, é uma noite em família. Como pessoas normais.

A mansão, por sua vez, estava um espetáculo. Passei os últimos dois dias preparando cada detalhe da decoração, e o resultado fazia todo o trabalho valer a pena.

A entrada principal estava decorada com abóboras esculpidas, cada uma com expressões diferentes. Algumas sorriam de forma amigável, enquanto outras traziam um ar mais sinistro, iluminadas por velas que davam um charme especial ao cair da noite.

A sala de estar estava transformada em uma verdadeira caverna assombrada. Cortinas pretas cobriam as janelas, enquanto luzes roxas e laranjas criavam um clima misterioso. No canto, uma máquina de fumaça soltava pequenos jatos a cada intervalo de tempo, fazendo com que os enfeites de esqueletos parecessem ainda mais assustadores. Havia teias de aranha artificiais em todos os cantos, algumas com aranhas de plástico estrategicamente colocadas para assustar os desavisados. — como por exemplo, nossos amigos e alguns familiares, que claro, eram os convidados.

No jardim, luzes verdes iluminavam o caminho até a porta, onde uma estátua de um zumbi segurando uma bandeja de doces dava as boas-vindas aos convidados.
Travis insistiu em colocar um sensor que fazia a estátua se mexer e gritar quando alguém se aproximava. — Confesso que quase tive um infarto a primeira vez que aquilo foi ativado, mas Thomas adorou, claro.

Eu terminava de ajeitar os últimos detalhes da mesa central quando ouvi a porta da frente se abrir.

— Cheguei! E trouxe o gelo, as bebidas e... talvez um pouco de confusão lá fora. — o ex-atleta anunciou com um sorriso no rosto, colocando as sacolas na bancada da cozinha.

— Confusão? — perguntei, arqueando uma sobrancelha.

— Digamos que algumas pessoas já notaram que estamos nos preparando para algo grande. Tem gente curiosa do lado de fora. — piscou para mim, e eu revirei os olhos, já acostumada com esse tipo de coisa.

Encostei na bancada de mármore, os dedos traçando distraidamente o contorno da superfície fria enquanto as palavras de Travis pairavam no ar.

— Você acha que devemos nos mudar? — perguntou casualmente enquanto começava a desempacotar as sacolas na bancada. — Quero dizer, esse lugar aqui já não é mais tão... privado.

O som do plástico sendo rasgado ecoava pela cozinha enquanto ele colocava as garrafas de bebidas no balcão, emfileirando-as com cuidado. Ao mesmo tempo, senti o peso da pergunta pairar sobre mim.

Ele inclinou a cabeça, estudando meu rosto como se estivesse procurando a origem do desconforto.
Suspirei, esfregando as mãos pela bancada, como se o ato pudesse dissipar a inquietação. Senti meus ombros caírem, como se estivesse admitindo uma derrota silenciosa.

— É culpa minha. — as palavras escaparam quase num murmúrio, carregadas por um peso que eu nem sabia que estava carregando. — Eu trago o caos comigo aonde quer que eu vá.

Kelce deixou as sacolas de lado com um movimento quase automático, como se o conteúdo delas tivesse perdido a importância no instante em que percebeu a expressão no meu rosto. Ele contornou a bancada em passos firmes, mas não apressados, como alguém que sabe exatamente o que fazer. Seus olhos carregavam aquele brilho característico — uma mistura de calma e determinação, o tipo de olhar que sempre me desarmava, como se ele enxergasse algo em mim que eu mesma não conseguia ver.

— Ei.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele me abraçou por trás, envolvendo minha cintura com as mãos grandes e firmes. Seus dedos pousaram suavemente sobre minha barriga, o calor de seu toque contrastando com a frieza do mármore em que eu ainda me apoiava. Meu corpo se enrijeceu por um segundo, mas então, como sempre acontecia com ele, o peso nos meus ombros começou a diminuir.

— Eu não disse que era culpa sua. E, honestamente, não é. — Senti sua respiração quente contra meu cabelo.

Sem que eu pudesse responder, ele já estava me puxando para mais perto, envolvendo minha cintura com os braços. O calor dele era imediato, contrastando com o frio do mármore em que eu ainda me apoiava. Por um momento, fechei os olhos, permitindo que sua presença fosse um alívio silencioso para o peso que eu sentia.

Os lábios dele pousaram suavemente na curva do meu pescoço, e um arrepio quase automático percorreu minha pele. Era como se ele soubesse exatamente o que fazer para acalmar minha mente antes mesmo de eu pedir.

— Eu só quero saber o que você acha. — murmurou, a voz baixa e próxima ao meu ouvido, enquanto uma de suas mãos subia e descia suavemente pelo meu braço. — Devemos nos mudar?

Deixei a cabeça cair levemente para trás, repousando contra o ombro dele enquanto ponderava. O silêncio entre nós não era desconfortável, mas carregado de pensamentos. Respirei fundo, sentindo o cheiro familiar dele — uma fragrância, uma mistura cítrica, amadeirada junto ao cheiro que era só dele.

— Thomas está acostumado com essa casa.

— Eu sei. — Travis afrouxou o abraço apenas o suficiente para me virar de frente para ele. Suas mãos pousaram firmemente nos meus ombros, os polegares desenhando círculos pequenos e reconfortantes. — Mas o que importa é se você está bem aqui. Eu não quero que você se sinta presa, ou exposta. Isso aqui é nosso lar, mas se precisar ser outro lugar, tudo bem também.

Mordi o lábio inferior, tentando decidir como responder.

— E ele se adapta. Não é como se essa fosse a vigésima mudança de casa da vida dele. — continuou, a voz carregando aquele tom otimista que só ele conseguia manter, mesmo em situações que para mim pareciam desgastantes.— Eu estava pensando em algo que seja mais... realmente nosso. — inclinou a cabeça levemente, e seus olhos verdes me prenderam no lugar. Havia algo neles. – uma combinação de determinação e ternura que fazia meu coração acelerar toda vez. — Algo que possamos construir juntos, do zero. E já que você perdeu a aposta que fizemos, e vamos morar juntos, nada mais justo que encontrarmos uma casa em algum lugar mais privado, sabe?

Por um momento, deixei suas palavras ecoarem na minha mente.

A ideia de algo nosso, algo que fosse mais do que um endereço, mas sim um lar que construíssemos juntos, era tentadora.

— Você e essas apostas. — brinquei, a voz leve, mas com um sorriso inevitável se formando em meus lábios.

Enlacei meus braços ao redor da cintura dele, deixando que meus dedos percorressem o tecido macio da camisa que ele vestia, um gesto que era mais automático do que intencional.

Ele arqueou uma sobrancelha, claramente satisfeito por ter conseguido tirar um sorriso de mim.

— Não é minha culpa se você subestima minhas habilidades.

Eu ri, sentindo meu corpo relaxar contra o dele enquanto repousava meu rosto em seu peito. O som rítmico do coração de Travis, constante e forte, era um tipo de calmante que eu nunca soube que precisava até ele aparecer na minha vida. Deixei que meus olhos se fechassem por um momento, o conforto de estar em seus braços quase apagando a conversa que havíamos começado.

— Acho que podemos conversar sobre isso depois. — murmurei, minha voz abafada contra o tecido da camisa. Pressionei um beijo suave contra seu peito, quase como um agradecimento silencioso por ele estar sempre ali, sempre disposto a encontrar soluções enquanto eu ainda processava as perguntas.

Ele não respondeu de imediato, mas senti o queixo dele repousar sobre o topo da minha cabeça, enquanto suas mãos subiam e desciam levemente pelas minhas costas em um gesto tranquilizador.

— Tudo bem. — finalmente disse, o tom de voz baixo e reconfortante. Ele hesitou por um instante, como se estivesse escolhendo cuidadosamente o que diria a seguir. — Mas só para deixar claro, eu vou voltar nesse assunto.

— Por enquanto, vamos nos concentrar no dia de hoje, certo? — levantei a cabeça para olhá-lo. — Eu me sinto bem agora. De verdade.

Ele não pareceu totalmente convencido. Seus olhos verdes, sempre tão expressivos, escanearam meu rosto como se procurassem algum sinal de que eu não estava sendo completamente honesta.

— Tem certeza? — perguntou, inclinando a cabeça. — Quero dizer, você teve aquele episódio de tontura ontem... Não quero que fique andando muito caso ainda esteja se sentindo mal.

Suspirei e soltei um leve sorriso, tentando dissipar a preocupação dele.

— Trav, eu estou bem. Prometi ao Tom que iríamos pedir doces hoje à noite, e eu vou cumprir. Foi só um mal-estar passageiro.

Meu namorado franziu o cenho, visivelmente desconfiado, mas não insistiu. — Pelo menos não imediatamente.

— Tudo bem... — disse com uma lentidão calculada, como se ainda estivesse processando minha resposta. Então, ele ergueu a mão e segurou meu rosto com delicadeza, passando o polegar pela maçã da minha bochecha num gesto tão carinhoso que me fez fechar os olhos por um instante. Logo em seguida, pendeu a cabeça e deixou um beijo longo e tranquilizador na minha testa. — Mas vou marcar uma consulta para você. E, antes que você diga qualquer coisa, é porque estou preocupado. Você já teve outros episódios desses, principalmente depois que seu pai esteve aqui.

Abri os olhos e encontrei os dele, tão sinceros e cheios de preocupação, que não tive coragem de protestar. Em vez disso, passei as mãos pelos braços dele, em um carinho lento.

— Se isso vai te deixar mais tranquilo, meu ursão protetor, então tudo bem. — brinquei, erguendo uma das mãos em um gesto de rendição exagerada e deixando escapar um sorriso. — Eu vou à consulta.

O canto da boca dele se ergueu num sorriso meio satisfeito, meio relutante. Ele sabia que eu estava tentando aliviar o clima, mas, ao mesmo tempo, parecia aliviado por eu não ter brigado com a ideia.

— Bom. Porque, se depender de mim, até nas próximas vidas você vai continuar me chamando de ursão protetor. — respondeu, com aquele tom meio brincalhão, meio sério.

— Agora, podemos vestir nossas fantasias de Robin e Batgirl para sairmos?

Ele jogou a cabeça para trás em um gesto exagerado, soltando um resmungo dramático que me arrancou uma gargalhada.

— Você realmente vai me fazer usar aquela roupa? — perguntou, passando uma mão pelo rosto.

— Sim, senhor! — declarei, pegando sua mão e o puxando escada acima.

Ele fingiu resistência, plantando os pés no chão de madeira e segurando o corrimão com uma mão, enquanto a outra ainda estava na minha. Travis era um homem enorme e forte, mas a maneira como fingia ser uma criança teimosa era simplesmente hilária. Ele se inclinou para trás, forçando o peso do corpo contra o movimento, como se isso fosse suficiente para me impedir.

— Isso é humilhante! Eu deveria ser o Batman, no mínimo! —protestou, e a seriedade na voz dele só tornava tudo mais engraçado.

— Robin é essencial! — argumentei, entre risadas, tentando puxá-lo com mais força. — Além disso, quem escolheu as fantasias foi o Tom, e ele disse que você é o Robin perfeito. Não vamos decepcioná-lo, certo?

Kelce revirou os olhos de maneira tão exagerada que, se ele não fosse tão expressivo, eu teria acreditado que estava mesmo bravo.

— Certo, certo. — cedeu, mas não sem antes me lançar um olhar divertido. — Mas só por causa do Tom. E porque amo vocês.

— Exatamente. — concordei, rindo, enquanto continuava a puxá-lo escada acima.

— Melhor eu ganhar muitos pontos de pai do ano por isso, só estou avisando.

[ ●●● ]

Enquanto terminávamos de nos arrumar, o som abafado de Travis resmungando atrás da porta do banheiro rendia risadas contidas da minha parte. — Ele estava lá há um bom tempo, lançando reclamações ocasionais sobre como aquela fantasia de Robin parecia "ridícula em alguém com as minhas proporções".

Eu ajustava os detalhes finais da minha roupa de Batgirl. O tecido era confortável, mas a máscara estava um pouco apertada na lateral. Deixei escapar um suspiro frustrado ao tentar ajeitar o elástico, puxando-o para que não marcasse o rosto.

— Britt comentou algo sobre não conseguir sair com as crianças hoje, né? — perguntei, tentando projetar minha voz para o outro lado da porta do banheiro.

Do outro lado, a resposta veio rápida, embora abafada pela porta.

— Faz sentido, ela já está bem no finalzinho da gravidez. Não é como se andar por aí atrás de doces fosse a ideia mais empolgante para ela.

Assenti, mesmo sabendo que ele não podia ver, enquanto ajustava as botas da minha fantasia.

Bem, tecnicamente, Patrick e as crianças viriam conosco, por causa da gravidez da Britt, que já está um pouco mais indisposta para sair caminhando por aí com mais duas crianças — três, se formos contar com o marido dela, e cinco se formos contar com meu filho, e meu namorado.

Houve um breve silêncio antes do ex-jogador falar novamente:

— Bom, posso ajudar o Patt se ele precisar. — a voz saiu um pouco mais alta dessa vez, como se ele estivesse tentando compensar a barreira da porta. — Mas ela vem na festa depois?

— Vem. — respondi, largando minha mascara sobre a cama. —Já contei para ela sobre as decorações, inclusive. Não quero que nenhuma surpresa acabe sendo muito... impactante para ela.

— Uhum. — ele resmungou, usando aquele tipo de concordância que vem quando a pessoa está mais concentrada em outra coisa do que na conversa.

Sorri sozinha, imaginando o que exatamente estava acontecendo lá dentro. — E curiosa para saber como a fantasia havia ficado.

Ergui uma sobrancelha, e me levantei da cama com certa lentidão, esticando os braços para aliviar a preguiça antes de caminhar em direção ao banheiro do nosso quarto.

Ao chegar à porta, bati duas vezes com os nós dos dedos, o som ecoando no ambiente silencioso.

— Anda, Trav, sai logo desse banheiro! — chamei com um tom de leve impaciência, encostando a testa na madeira, como se isso pudesse me aproximar da situação caótica acontecendo do outro lado.

— Não mesmo. — a resposta veio curta e decidida.

Suspirei, inclinando a cabeça enquanto olhava para o horário no celular.

— Amor, a fantasia não pode estar tão ruim assim! — disse de forma um pouco mais doce, na tentativa de apressá-lo sem provocar sua teimosia. — Vamos nos atrasar, babe.

Houve uma pausa do outro lado, como se ele estivesse escolhendo as palavras com cuidado antes de retrucar.

— Mas está! — exclamou, e o tom cético quase me fez rir. — Eu pareço... sei lá, uma piada! Vou me trocar.

Revirei os olhos, cruzando os braços, e ajustei o peso do corpo de uma perna para a outra.

— Travis, você prometeu ao nosso filho. Ele está empolgado. Não pode decepcioná-lo por causa de um capricho bobo.

O silêncio que se seguiu foi suficiente para me fazer sorrir, sabendo que havia atingido o ponto fraco dele.
Do lado de dentro, ouvi um suspiro pesado, seguido pelo som característico da fechadura sendo destrancada.

A porta se abriu lentamente, revelando Travis em toda a sua glória... ou vergonha.

Ali estava ele: quase dois metros de pura imponência, vestido de Robin, com a capa pendendo um pouco desalinhada e uma "cara de paisagem."

Tentei ao máximo segurar a risada — até levei a mão à boca. Mas foi quase como ser teletransportada aos momentos em que estive na Eras Tour, com Kam fazendo gracinhas no palco, enquanto eu tinha que manter minha expressão séria. — Ou seja: impossível.

Vamos combinar, não é todo dia que você vê um homem enorme, vestido de Robin.

— Não ria. — Travis apontou o dedo para mim, a seriedade estampada em seu rosto apenas contribuindo para o meu esforço fracassado de conter a gargalhada.

— Eu não estou rindo. — menti, mordendo o lábio inferior para não piorar a situação.

Ele estreitou os olhos para mim, claramente desconfiado, mas deu um passo à frente, segurando minha mão e me puxando para perto. Seus dedos estavam quentes e firmes.

Antes que eu pudesse processar a proximidade, ele me girou suavemente, como se quisesse avaliar cada detalhe da fantasia que eu usava. Um gesto de apreciação, que, sendo bem sincera, não foi dos mais convenientes. — Não porque eu não gostei. — Na verdade eu amo a forma como ele me olha — Mas sim porque senti o mundo dar uma volta inesperada junto com o movimento, e, quando parei, precisei piscar algumas vezes para dissipar a leve tontura que se instalou.

Quando nossos olhares se encontraram novamente, ele sorriu de canto, um brilho divertido dançando em seus olhos.

— Olha pra você. — ele falou, sua voz baixa e envolvente, carregada de um humor inesperadamente gentil. — Está uma gata.

Eu ri, o som saindo mais fraco do que pretendia, enquanto ele ainda segurava minha cintura por alguns segundos a mais do que o necessário. Senti o calor subir para o rosto, mas me recompus rápido, colocando uma mão na cintura e usando a outra para varrer o cabelo da testa, fingindo um ar despreocupado.

— E você está... — comecei, mas minha voz falhou levemente, saindo mais aguda do que eu esperava. Endireitei a postura, pigarreando para disfarçar. — Único.

Ele soltou um suspiro teatral, balançando a cabeça.

— Aberração. A palavra que você procura é aberração.

— Eu disse único. — corrigi. — E, sendo honesta, é raro ver um Robin com quase dois metros de altura. Acho que você reinventou o personagem.

Eu bem que tentei manter aquela seriedade após me recuperar, mas foi inútil, e uma gargalhada escapou. O motivo não era apenas a fantasia — que, admito, já era engraçada por si só —, mas a expressão dele. Travis parecia estar vivendo um drama interno digno de um Oscar.

Ele deu um passo para trás, cruzando os braços e me encarando com um olhar de falsa indignação que só piorou a situação.

— Amor, estou falando sério. Você está lindo. — insisti, lutando contra outra onda de riso.

— Vão rir de mim, Taylor. — resmungou.

— Não... eles não vão. — tentei tranquilizá-lo, mesmo sabendo que a sinceridade na minha voz era questionável. Um sorriso brincava nos meus lábios, e antes que eu pudesse me segurar, a risada escapou de novo. — Tá, talvez riam um pouco. — admiti, aproximando-me para beijar sua bochecha, mas ele desviou habilmente, girando o rosto para longe em um expressao meio emburrada.

— Mas você está lindo. — continuei, mantendo o tom suave e genuíno.

Ele arqueou uma sobrancelha, descruzando os braços lentamente, e soltou um suspiro carregado de sarcasmo.

— É. Tenta de novo. — murmurou, sua voz carregada de ironia enquanto passava por mim, indo direto para o espelho mais próximo.

Fiquei parada por um momento, observando-o ajustar a capa de Robin com uma atenção minuciosa, como se fosse uma peça de alta costura. A forma como ele franzia a testa, analisando cada detalhe, me fez morder o lábio para evitar outra crise de riso.

O toque do celular dele ecoou pelo quarto, interrompendo momentaneamente a dinâmica leve que havíamos construído. Travis, que até então estava ajeitando a capa de Robin com um esforço quase cômico, parou de repente e se inclinou para pegar o aparelho sobre a cômoda.

Eu observei com atenção. Era quase instintivo reparar nas expressões dele, e a mudança sutil no semblante me fez endireitar a postura. — Um franzir de testa. O olhar fixo na tela por um instante mais longo do que o necessário. Depois, um suspiro lento e pesado.

Ele desligou o aparelho sem responder à mensagem, deixando-o de lado como se quisesse evitar um assunto incômodo.

— Quem é? — minha pergunta saiu casual, mas carregada de curiosidade.

Kelce me olhou, e o sorriso que surgiu não era o tipo que me convencia. Não o sorriso natural do meu namorado, aquele que enchia a sala. — Era uma curva forçada nos lábios, quase mecânica, que fazia questão de mascarar algo.

— Ninguém importante. — respondeu, rápido demais. E antes que eu pudesse questionar, ele estendeu a mão para mim. — Vem. Vamos pedir doces com nosso filho.

Minha hesitação foi pequena, mas real. Peguei a máscara que estava largada na cama e deslizei os dedos pelas bordas de tecido, adiando por alguns segundos a necessidade de reagir. Algo naquela troca — ou talvez na falta dela — fez minha mente acelerar.

A forma como ele disse "nosso filho" não passou despercebida. Havia uma ênfase ali, algo quase deliberado, como se precisasse reforçar uma ideia que eu já sabia ser verdadeira. — E não me deixou nada convencida.

Ainda assim, segurei a mão dele, meus dedos se entrelaçando aos seus quase automaticamente. O calor da sua palma contra a minha sempre tinha o efeito de suavizar qualquer dúvida. Mas não o suficiente para apagar o que minha intuição estava gritando.

— Você tem certeza de que era ninguém? — perguntei baixinho enquanto descíamos as escadas.

Ele não respondeu de imediato. Em vez disso, apertou minha mão de leve e me lançou um olhar rápido. Era aquele olhar misturado de "não agora" e "depois a gente fala".

Quando descemos as escadas, o som dos nossos passos logo se mistura à energia vibrante de Thomas correndo pela sala. Mas, de repente, ele para no meio do caminho. Literalmente congela, com os bracinhos soltos ao lado do corpo e os olhos fixos em mim.

Por um instante, ele só fica ali, me encarando com aquela expressão de completa admiração. Seus olhinhos, brilhando com a pureza de quem ainda acha o mundo cheio de magia, fazem meu coração quase transbordar. — Não é todo dia que você é vista como uma heroína aos olhos do seu filho, e naquele momento, posso apostar que sou a Batgirl mais incrível que ele já viu.

— Uau! — ele finalmente solta, quase sem fôlego, antes de começar a bater palmas de forma animada. Ele corre até mim e me envolve em um abraço apertado, enterrando o rostinho contra meu corpo. — Você está linda, mamãe. Digo... Batgirl.

Eu senti o peito aquecer de uma forma que só aquele garotinho sabia fazer. Ele tinha um dom especial para me derreter em pedaços com sua doçura.

Ajoelhei no chão, deixando-me ficar à altura dele, e segurei seu rostinho nas mãos, com cuidado para não bagunçar sua máscara.

— Obrigada, meu pequeno Batman. — sorri para ele, piscando um olho como se compartilhássemos um segredo. Inclinei-me para deixar um beijo rápido em sua bochecha rechonchuda, mas, claro, meu batom deixou uma marquinha ali. Ele riu, e eu rapidamente limpei com o polegar, rindo junto.

Travis observava a cena da lateral, encostado no batente da porta com os braços cruzados e um sorriso tranquilo nos lábios. Eu podia sentir o olhar dele sobre nós, carregado daquele amor silencioso que não precisava de palavras para se fazer presente.

— Vamos pedir doces, meu ajudante? — perguntei para Thomas, que acenou vigorosamente com a cabeça, os olhos arregalados de excitação.

— Sim! — ele praticamente saltou no lugar, já correndo para pegar seu baldinho de abóbora que estava no sofá.

O ex-atleta se aproximou, pousando uma mão leve nas minhas costas enquanto me ajudava a levantar.

— Escute bem, filho. — Travis interveio com aquele tom leve e brincalhão que ele dominava tão bem, aproximando-se e pegando Thomas no colo com facilidade. O garoto soltou uma risadinha, mas logo se ajeitou nos braços do pai, preparado para ouvir o que vinha a seguir. — A mamãe é quem manda na gente, entendeu? Nós somos apenas os ajudantes dela. Então, você não manda em mim, tá bom?

A resposta veio rápida e cheia de convicção.

— Não! — o garotinho negou com um balançar de cabeça firme, o rostinho assumindo uma expressão determinada. Ele apontou o dedinho indicador para o pai, como se estivesse ditando uma lei universal. — A Batgirl manda no Batman, mas o Batman manda no Robin.

Eu não consegui segurar o riso enquanto observava a cena. Ele era tão pequeno, mas já exalava uma autoridade que fazia qualquer um parar para escutá-lo.

Kelce, por sua vez, olhou para mim com um misto de surpresa e diversão nos olhos, como se estivesse pensando: "De onde esse menino tirou isso?" Mas, em vez de argumentar, ele apenas rendeu-se com um dar de ombros exagerado.

— Bom argumento. — comentou, tentando manter a seriedade enquanto colocava Thomas de volta no chão.

— Vamos logo, menino prodígio. — provoquei meu parceiro, dando uma batidinha nas suas costas.

Enquanto aguardávamos por Patrick e seus filhos, decidimos começar a pedir doces para não perder o embalo da noite. Thomas liderava o caminho com uma energia contagiante, mal conseguindo conter a empolgação a cada campainha que tocávamos. Ele ficava segurando firme o balde de abóbora, os olhinhos brilhando de expectativa enquanto esperava para descobrir qual doce iria ganhar.

Ao lado dele, Travis parecia mais relaxado, embora fosse difícil não notar o pequeno constrangimento que sua fantasia causava. Era quase inevitável.

A combinação da capa esvoaçante, do uniforme justo e da peruca preta — que ele colocara para não arriscar ser reconhecido, e que também dava um ar mais fiel ao personagem — arrancava gargalhadas sinceras de alguns adultos que nos atendiam. Mas eram os adolescentes que realmente se divertiam. — Meu namorado descrevera isso como "o pesadelo de sua vida."

A casa que estavamos agora era um exemplo perfeito da nossa noite. A porta foi aberta por um adolescente de uns dezesseis ou dezessete anos, que usava uma fantasia improvisada de zumbi, com uma camiseta rasgada e tinta vermelha simulando sangue seco. Ele deu uma olhada em nós, claramente se esforçando para segurar o riso quando seus olhos pousaram em Travis.

— Fantasia maneira, grandão. — o garoto zombou, enquanto colocava alguns doces no recipiente de Thomas.

Travis, mantendo a compostura, sorriu daquele jeito típico dele, cheio de um humor disfarçado. Ele levou a mão à testa em uma saudação exagerada, como se estivesse em um desfile militar, e piscou um olho para o adolescente.

— Valeu, parceiro. — respondeu com um tom carregado de deboche amigável.

O garoto riu alto, fechando a porta logo depois, ainda balançando a cabeça como se não conseguisse acreditar no que tinha acabado de ver.

Enquanto caminhávamos para a próxima casa, ele inclinou-se em minha direção, falando baixo para que apenas eu pudesse ouvir:

— Tá vendo? Ele riu, mas eu sinto que traumatizei o garoto.

Eu gargalhei, quase tropeçando nos degraus da calçada, mas ele me segurou. — Ele parece programado para evitar qualquer mico que eu possa pagar.

— Ah, amor. Você é o Robin mais icônico que esse bairro já viu.

Não demorou muito até encontrarmos Patrick — que estava com a máscara ajustada de forma estratégica, provavelmente para evitar que alguém o reconhecesse.

No entanto, não foi a sua aparência disfarçada que chamou a minha atenção. Em seus braços, Patrick segurava Sterling, vestida como princesa, visivelmente incomodada. Seus olhinhos estavam cheios de lágrimas, e ela soluçava baixinho, escondendo o rosto no pescoço do pai.

Bronze estava ao lado de Patrick, segurando sua mão, enquanto saltitava como uma bolinha de energia, aparentemente imune ao desconforto da irmã. Ele usava uma fantasia super-man — que imediatamente chamou a atenção de Tom — e seu sorriso tímido era inconfundível. Ao contrário da irmã, que parecia o oposto de entusiasta para a noite de Halloween, Bronze irradiava um entusiasmo leve e genuíno.

A cena era quase cômica: ele, saltitante e alegre, enquanto Sterling parecia carregar o peso do mundo em seus ombros infantis.

Os três — Travis, Thomas e Bronze — fizeram um high-five animado de super-herois.

— O que aconteceu? — perguntei assim que me aproximei.

Acariciei suavemente a bochechinha de Sterling, limpando com a ponta dos dedos as lágrimas que ainda escorriam pelo seu rosto, e olhei para ela com carinho.

— Por que está chorando, meu amor?

Sterling, sem coragem de olhar para mim, apenas escondeu mais ainda seu rostinho no ombro do quarterback, apertando os bracinhos ao redor de seu pescoço. A cena era realmente comovente.

Patt suspirou, claramente frustrado, e soltou a mão de Bronze, que já estava brincando com Tom, e pulando de um lado para o outro.

— Acho que vou precisar de uma ajudinha. — Patrick admitiu, coçando a nuca, desconfortável. Ele parecia um pouco perdido na situação, como se estivesse tentando encontrar uma solução rápida para algo que parecia simples, mas que com crianças pequenas, qualquer coisa poderia se transformar em um drama. — A Sterling está chateada porque, bem, algumas pessoas disseram que só tinham doces para o Bronze, e deixaram ela de fora. E porque isso "não acontece quando a mamãe está." — fez aspas.

— O quê? Mas que palhaços! — Travis exclamou, claramente indignado, sua voz carregada de incredulidade e uma pontada de frustração.

Nesse momento, a reação de Patrick foi imediata. Ele arregalou os olhos, claramente surpreso com o que vira. A expressão no seu rosto se transformou em uma risada sincera, um riso aberto que ecoou pelo ar.

— Você está mesmo vestido de Robin? — ele perguntou, com os olhos brilhando de diversão, quase sem conseguir parar de rir. Sua voz estava cheia de incredulidade, mas também de um toque afetuoso, como se ele estivesse mais impressionado com a situação do que qualquer outra coisa.

Travis, encarou-o, fingindo ameaça com o dedo, como se realmente estivesse pronto para dar uma resposta mais séria, mas sua expressão não conseguia esconder a diversão que também estava tomando conta dele.

— Vou bater em você, cara. — respondeu, tentando manter o semblante sério, mas falhando miseravelmente.

Sua voz, carregada de humor, não conseguia disfarçar o quanto ele estava se divertindo —especialmente porque Bronze e Thomas já estavam seguindo Patrick, saltitando ao redor dele com risos contagiantes, acompanhando sua reação, como se já estivessem completamente imersos na diversão da noite.

— Ei, princesa, você viu o tio Trav? — Patrick perguntou suavemente, tentando capturar a atenção dela. Ele levantou gentilmente o queixo da pequena, procurando encontrar aquele olhar triste, que estava quase desaparecendo, enquanto ele continuava, com uma voz suave e brincalhona: — Olha como ele está engraçado, filha.

A menininha, que ainda estava com os olhinhos cheios de lágrimas acumuladas nas pontas dos cílios, finalmente olhou para Travis. Sua expressão, que até então estava carregada de desconforto, mudou um pouco.

Os olhos dela seguiram o ex-atleta, e por um breve momento, a tensão em seu rosto começou a ceder. Os cantos de sua boca se curvaram suavemente para um sorriso tímido.

— Tá engaçado. — apontou, dando uma risadinha.

O impacto em Travis foi imediato e quase palpável. Ele, que até então mantinha a postura descontraída, com os ombros relaxados e um ar casual, pareceu congelar por um instante, como se aquela risadinha doce de Sterling tivesse o poder de pausar o tempo. Era como se cada músculo em seu corpo, antes firme e seguro, simplesmente cedesse àquela onda de ternura. Seus ombros baixaram sutilmente, não em cansaço, mas em um alívio silencioso que transbordava em sua expressão.

E então veio o sorriso. — Não era qualquer sorriso, mas aquele sorriso inconfundível que surge quando algo verdadeiramente puro toca o coração de alguém. Era leve, despretensioso, mas, ao mesmo tempo, carregado de uma intensidade genuína. Ele pendeu a cabeça ligeiramente para o lado, como se precisasse olhar a pequena de outro ângulo para acreditar no que estava presenciando. Havia algo quase incrédulo na forma como seus olhos brilhavam, como se a risada tímida daquela garotinha fosse o som mais precioso que ele havia escutado em semanas.

Movido por aquela risadinha suave, ele parecia determinado a prolongar o momento.

— Olha só, Sterling! Eu sou o Robin! — anunciou com uma voz alta e teatral, ajustando as mãos na cintura em uma pose exageradamente heróica. Chegou a inclinar o queixo para cima, como se estivesse desfilando em algum palco imaginário, a capa falsa balançando levemente nas costas graças ao movimento.

Sterling piscou algumas vezes, como se tentasse processar aquela performance inesperada. Mas logo outra risada voltou, ainda tímida, porém agora mais constante.

— Tio Trav tá engaçado. — repetiu, rindo mais alto agora.

O ex-jogador, com os olhos fixos na garotinha, deu um passo para o lado, rodopiando lentamente como se quisesse exibir sua fantasia por completo.

— Engraçado? Garotinha, você acabou de fazer meu dia! — disse ele, ainda com aquele tom leve e brincalhão, mas com um toque de sinceridade que não dava para ignorar.

De forma exagerada, ele manteve uma postura de herói.

— Tudo bem, Patt. — ajeitou a capa nas costas, como se tentasse dar um ar ainda mais heróico à fantasia, antes de estender os braços em direção à Sterling. — Deixa comigo. Eu fico com essa princesinha e peço doces com ela. Você fica com o Bronze, e a gente vê quem consegue encher o balde mais rápido. — piscou para Patrick, mas logo voltou sua atenção para a garotinha. — O que acha, bonequinha? Vai comigo nessa aventura?

A pequena olhou para ele, depois para o pai, hesitando por um momento antes de assentir levemente.

Aquele simples gesto pareceu o suficiente para Travis, que abriu um sorriso caloroso enquanto a pegava com cuidado do colo de quaterback. Ele a ergueu no ar por um instante, fazendo um movimento exagerado como se fosse um voo, antes de acomodá-la em seu braço, certificando-se de que ela estava segura.

— Agora sim, missão pronta. — proferiu, ajustando a garotinha em um equilíbrio perfeito. Ela passou os bracinhos pequenos ao redor do pescoço dele, como se buscasse conforto.

A cena me atingiu de forma tão inesperada quanto previsível. Não importava quantas vezes eu já tivesse presenciado momentos assim; sempre tinha algo de diferente. — Meu coração parecia derreter um pouco mais toda vez que meu parceiro mostrava aquele lado tão genuíno e carinhoso.

Ele tinha um jeito especial com crianças, especialmente meninas. Era o tipo de homem que se moldava ao que elas precisavam no momento: um herói, um palhaço, ou apenas alguém que as fazia sentir seguras.

Lembrei-me de como ele era com Thomas, sempre equilibrando a diversão com a responsabilidade, mas havia algo nas interações dele com as sobrinhas que era ainda mais doce. — Travis parecia entender que, para uma garotinha, pequenos gestos podiam significar o mundo. Fosse uma ligação engraçada no meio da semana ou abraços exagerados nos encontros de família, ele exalava uma aura de “papai de menina” que eu sabia, no fundo, que ele já era — mesmo sem uma filha própria.

Com um sorriso brincando nos lábios, me inclinei e cobri suavemente os olhinhos de Sterling enquanto ela estava aconchegada no colo de Travis. Suas mãozinhas pequenas e quentinhas se agarraram ao tecido da camisa dele, como se buscassem segurança.

Ao lado, Patrick, claramente tentando transformar a situação em uma diversão improvisada, exagerava na tarefa de cobrir os olhos de Thomas e Bronze. Ele puxou suas cabeças para próximo de si, enquanto declarava aos meminos: "Nada para ver aqui, rapazes, nada para ver!" em um tom teatral que arrancava risadinhas de Bronze, enquanto Thomas protestava com indignação brincalhona.

Fiquei um pouco na ponta dos pés para deixar um selinho em seus lábios — breve, mas suficiente para que eu sentisse a suavidade familiar e a sensação de segurança que ele sempre trazia.

— Cuida bem dela, tá? — murmurei, recuando um passo.

Travis riu baixinho, balançando a cabeça enquanto ajustava Sterling no colo, agora de um jeito que parecia ainda mais protetor.

— Sempre. — declarou, erguendo o indicador, e então, olhou para a menininha. — Vamos lá, princesinha. Vou te ensinar os melhores truques para ganhar os doces mais legais.

Ele começou a andar com passos largos e engraçados, como se estivesse marchando, a capa balançando ao ritmo de seus movimentos.

— Nos encontramos aqui depois. — declarei, virando-me para Patt, que assentiu.

Não levou nem dois minutos que o homem saira junto com Bronze e, como uma pequena flecha, Tom disparou na frente, os passos rápidos ecoando pela calçada enquanto ele corria em direção a uma casa particularmente decorada de maneira aterrorizante. — As luzes piscavam em tons de vermelho e laranja, teias falsas balançavam com a brisa, e uma figura assustadora de um esqueleto mecânico fazia movimentos bruscos ao som de uma risada macabra gravada.

Automaticamente, suspirei. Lá ia ele de novo.

— Thomas! — chamei, mas a voz se perdeu na confusão de risadas infantis e conversas das pessoas ao redor.

Sem escolha, precisei correr atrás dele — tentando manter o máximo de elegância que uma mulher podia ter ao tentar correr com botas de salto fino. A cada passo, eu sentia o leve desequilíbrio causado pelas pedras irregulares da calçada.

Finalmente, alcancei-o antes que ele chegasse à porta da casa. Minha mão agarrou firme a dele, e, sem demora, abaixei-me até ficar na altura dos seus olhinhos brilhantes, que estavam fixos nas decorações macabras.

— Thomas — comecei, em um tom mais firme do que estava acostumada a usar com ele. Usei a mão livre para suavemente guiar seu rostinho em minha direção. Seus olhos me encararam, grandes e curiosos, mas também um pouco surpresos. Talvez ele não esperasse ver a mamãe — vestida de Batgirl, diga-se de passagem — tão séria.

— Nunca solte a mão da mamãe, entendeu? Nunca. — fiz uma pausa, deixando a gravidade da minha voz pesar no ar. Seus lábios se entreabriram, mas nenhum som saiu. Ele parecia atordoado, claramente não acostumado a me ouvir tão firme. Respirei fundo, tentando aliviar um pouco a tensão, mas mantendo o tom sério. — Tem muita gente aqui, está escuro, e não é legal correr na frente da mamãe, tá bom?

Aguardei sua resposta, os segundos parecendo mais longos do que eram de fato. Ele finalmente assentiu, devagar, com aquela relutância infantil que dizia que ele havia entendido, mas não estava exatamente feliz com isso.

— Ótimo. — murmurei, endireitando-me e ajeitando minha capa que, a essa altura, já estava um pouco torta com toda a correria.

Segurei firme sua mãozinha, mas agora com um toque mais delicado, tentando recuperar o equilíbrio entre autoridade e conforto.

Enquanto caminhávamos de uma casa para outra, a balde de doces de Thomas ia ficando cada vez mais cheio, assim como sua energia parecia inesgotável. Entre uma porta batida e outra, ele tagarelava sem parar, preenchendo o silêncio da noite com sua voz animada e cheia de vida.

Ele falava de tudo. Desde as decorações mais legais das casas, até as coisas que ele e Travis já tinham feito juntos. — como esquiar, ou a vez que eles andaram de bicicleta juntos no que ele disse ser a "cidade das praias", ou seja, Miami.

Eu ria, apertando levemente sua mão enquanto o guiava pela calçada iluminada apenas pelas luzes das abóboras e lanternas decorativas.

— Mamãe, você já foi casada?

A pergunta parecia ecoar nos confins da minha mente, ressoando mais forte do que qualquer outra palavra dita naquela noite. — Por um momento, não consegui processar.

Meus passos diminuíram até que parei ao lado de alguns arbustos, tentando fingir que estava admirando as luzes piscantes de uma decoração próxima. Ele estava me encarando com seus olhos atentos, esperando pacientemente pela resposta que parecia demorar uma eternidade para sair.

— Hã... — limpei a garganta, como se isso fosse me ajudar de alguma forma. — Bom... Não.

Thomas franziu a testa, uma expressão de pura curiosidade infantil. Ele soltou minha mão e mergulhou a dele no pote quase cheio de doces, puxando uma bala embrulhada em papel brilhante. Enquanto desembrulhava com a concentração típica de uma criança, lançou a próxima pergunta sem aviso:

— Por que não?

Minha boca ficou seca. Senti uma onda de calor misturada com uma leve tontura, um peso invisível que parecia se instalar em meus ombros. Aquela pergunta, tão simples aos ouvidos de um garoto de sete anos, carregava uma profundidade que ele ainda não era capaz de compreender. Tudo relacionado ao meu passado com Joe sempre trazia à tona uma pontada de dor que eu tentava esconder de mim mesma. — Não porque eu ainda o amasse. Não mesmo. Mas por tudo que havia ficado para trás. Meu bebê.

Respirei fundo, tentando dissipar a névoa que parecia se formar ao meu redor, tentando focar minha visão. Olhei para Tom, seus olhos verdes tão semelhantes aos de Travis, mas com uma inocência que fazia meu coração doer.

— Querido... — comecei, minha voz soando mais trêmula do que eu gostaria. — Algumas coisas... são mais complicadas.

Ele parou de mastigar a bala, ainda esperando por mais. Não era o tipo de criança que aceitava respostas vagas, e isso só tornava as coisas mais difíceis. Forcei um sorriso, tentando soar mais confiante do que me sentia.

— Eu amei alguém, muito. Mas às vezes, mesmo quando você ama, não é a pessoa certa para você.

O menino inclinou levemente a cabeça enquanto me observava, seu olhar cheio de curiosidade e um traço inconfundível de travessura. Ele apertava os lábios em um gesto quase calculado, como se estivesse prestes a soltar uma daquelas perguntas que só crianças conseguem fazer sem qualquer filtro.

— Humm... — murmurou, a boca ligeiramente torcida para o lado. — E por que você não casa com meu papai agora?

Por um segundo, fiquei imóvel, surpresa pela simplicidade e, ao mesmo tempo, pelo impacto da pergunta. Mas logo deixei escapar um suspiro de alívio. — Dessa vez, não era uma daquelas perguntas que me fariam tropeçar nas palavras ou engolir a dor do passado.

Uma risada escapou dos meus lábios, espontânea, aliviando o peso da conversa anterior. Balancei a cabeça levemente.

— É, talvez seja mesmo uma boa ideia. — dei de ombros, um sorriso brincando em meu rosto enquanto olhava para ele.

Tom arregalou os olhos, surpreso e animado com a resposta.

— Legal! — levantou o balde de doces como se fosse um troféu, seus passos ganhando mais energia, quase dançando. — Quando eu crescer, também quero casar! — declarou com uma certeza inabalável.

— Ah, é mesmo? — perguntei, arqueando uma sobrancelha, disfarçando a surpresa.

Como que uma criança pode declarar isso?

— Aham. — Thomas assentiu. Ele abaixou um pouco a cabeça, um gesto tímido que parecia carregado de algo mais profundo. Chutou de leve o chão com a ponta do sapato, hesitante, antes de murmurar com a voz cheia de convicção infantil: — Mas vai ser bem mais facinho. Vou casar com a Lily. E vamos ser muito felizes.

Ah, não.

Senti o estômago dar uma reviravolta inesperada, um enjoo subindo rápido e implacável. — Não tive tempo para qualquer racionalização ou reação educada.
Virei de costas para Thomas, curvando-me perto do arbusto próximo, e tudo que consegui fazer foi despejar ali, em meio às folhas e à escuridão.

Meu filho parou ao meu lado, hesitante, seus olhos verdes arregalados em um misto de confusão e medo.

— Mamãe, você tá bem? — perguntou, sua voz mais baixa, quase sussurrada, como se temesse que qualquer palavra mais alta pudesse piorar meu estado.

Eu queria responder, acalmá-lo, mas outra onda de náusea tomou conta de mim antes que eu pudesse sequer levantar a cabeça. Inclinei-me novamente, tentando ser discreta – embora, sejamos honestos, não há nada de discreto em vomitar no meio da rua, em um bairro cheio de casas decoradas para o Halloween.

Thomas me observava fixamente, e eu podia sentir sua preocupação crescente, mesmo sem olhá-lo diretamente. Ele deu um passo mais perto, seus pequenos dedos apertando levemente meu braço, como se quisesse me oferecer algum tipo de apoio.

— Você vomitou porque eu disse que ia casar? — questionou, sua voz carregada de genuína preocupação e uma pitada de ofensa infantil.

Não consegui evitar uma risada fraca entre uma respiração e outra. Estava exausta, humilhada e, agora, completamente envergonhada.

— Amor! — a voz de Travis cortou o ar, firme e urgente. O som de seu chamado foi o último estalo que precisei para me permitir relaxar, mesmo que um pouco, e sentir o peso do momento começar a dissipar.

Foi quase automático. Senti suas mãos na minha nuca, puxando meus cabelos para trás, fazendo um movimento suave, mas ao mesmo tempo cheio de familiaridade. Seus dedos desenhavam círculos lentos e reconfortantes nas minhas costas, tentando aliviar a tensão que tomava conta do meu corpo.

Eu, por outro lado, ainda me sentia quente demais e com uma sensação persistente de desconforto, enquanto lutava para respirar de forma mais controlada.

— O que houve? — a preocupação na sua voz era palpável. Ele parecia alarmado, os olhos fixos em mim como se buscasse algum sinal de que estava tudo bem.

Respirei fundo, tentando reunir o pouco de tranquilidade que restava. Me virei lentamente para encará-lo, sentindo uma onda de alívio. — Para minha sorte, havia apenas Patt e seus filhos nos observando, e eu sabia que, por mais desconfortável que fosse a situação, não havia uma plateia inteira nos encarando.

Patrick me observou — com uma expressão de curiosidade que me fez recuar um pouco. Como se soubesse ou desconfiasse de algo.
Mas não disse nada. Já os filhos dele pareciam mais curiosos do que qualquer outra coisa, observando a cena com atenção.

Travis, que percebeu minha demora em responder, olhou para baixo, buscando de forma firme o olhar de Thomas, mas ainda cheio de cuidado.

— Tom, o que houve? — ele questionou.

— Eu disse que ia casar, e ela vomitou. — o menininho deu de ombros, sua carinha confusa de quem não tinha a menor ideia do que estava acontecendo, e fez um beicinho.

A reação do meu namorado foi imediata e, talvez, mais dramática do que o necessário. Ele levantou as sobrancelhas, os olhos arregalados, como se acabasse de ouvir a maior bomba do dia.

— Você vai o quê? — a voz dele subiu um tom, cortante e assustadoramente alto, e eu quase pude sentir o susto na sua expressão.

Instintivamente, coloquei minha mão sobre o peito de Travis, tentando acalmá-lo. Eu mesma ainda estava me recuperando, o estômago em revolta, e a sensação de náusea não passava. Era um esforço simultâneo de tentar me acalmar e dar alguma sensação de controle à situação.

— Ele não vai casar. — minha voz saiu mais fraca do que o normal, ainda carregada pelo amargor do ácido que percorreu minha garganta. Meu corpo inteiro pedia por descanso. — Digo, não agora. Digo, não até os vinte e cinco anos.

Tentei brincar, uma tentativa desajeitada de aliviar o clima, mas não consegui alcançar meu objetivo. — Travis não riu.
Ele estava sério demais, com um olhar intenso e preocupado, como se tentasse entender exatamente o que havia causado aquele descontrole repentino. O tipo de preocupação dele era quase palpável, e eu podia ver que ele queria, mais do que tudo, tirar minha máscara — Talvez para me dar o alívio de respirar um pouco melhor. Mas não queriamos correr riscos.

O ar estava tenso demais para qualquer risada ou brincadeira.

— Não foi por isso. — respondi com um tom mais baixo, um suspiro escapando pelos lábios. Olhei para ele, sentindo o peso da explicação escorregar pelas palavras. — Eu só... Tive um mal-estar.

— Vamos cancelar a festa. — declarou de maneira resoluta, pegando seu celular com a intenção clara de fazer a ligação. Eu agi instintivamente, colocando a mão sobre o braço dele.

— Não! — a palavra saiu com uma firmeza inesperada, e eu realmente não podia deixar ele seguir com aquela ideia. Já tínhamos planejado tudo, as pessoas estavam contando, e seria injusto, no mínimo, jogar tudo para o alto por causa de um simples mal-estar. Um mal-estar, que eu esperava, passaria logo. — A festa vai acontecer. Já marcamos, e não seria justo com nossos amigos.

Ele me olhou, franzindo a testa, visivelmente desconfortável com a minha insistência. Eu sabia que ele estava preocupado, que estava vendo meu estado, mas eu também sabia que ele, mais do que ninguém, entenderia que algumas coisas, como compromissos com amigos, não poderiam ser desfeitas tão facilmente.

— Taylor, mas você não está... — parou, a preocupação evidente na maneira como ele me observava. Eu podia ver que ele queria dizer algo mais, mas estava tentando medir suas palavras. Era como se ele estivesse tentando avaliar minha resistência e o quão grave minha condição poderia ser. E eu realmente estava começando a me preocupar com o que estaria se passando comigo. — ...não está bem.

E a verdade era que, sim, eu não estava bem. O mal-estar não passara, mas eu não queria ser a razão para cancelarmos tudo, para deixar que a diversão de todos fosse anulada por algo que eu sabia que poderia controlar. —Ainda que minha garganta estivesse um pouco arranhada, e meu corpo não estivesse completamente de acordo com os planos, o último coisa que eu queria era dar o exemplo de fraqueza naquele momento.

— Vamos para a casa. — pedi, prendendo meu braço ao dele, e pegando a mão de Tom. — A festa vai acontecer. E você tem o direito de comemorar com seus amigos, agora que é oficialmente o ajudante tecnico dos jogadores dos Chiefs.

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A festa estava em pleno andamento, e a casa pulsava com o som das conversas animadas e risadas que ecoavam de cada canto. Era o tipo de celebração que eu amava — cercada por pessoas queridas, uma mistura de amigos e família que fazia tudo parecer acolhedor e caloroso.

Austin e Sidney estavam próximos à mesa de petiscos, compartilhando algum tipo de piada interna que fazia Sidney jogar a cabeça para trás de tanto rir. Os rapazes do time ocupavam a sala de estar, as vozes altas e cheias de entusiasmo enquanto falavam sobre a próxima temporada. As esposas deles formavam um grupo à parte, no canto oposto, com Gigi e Grace liderando a conversa. Era bom tê-las ali, minha pequena bolha de apoio em meio ao caos.

Na cozinha, Jason e Kylie conversavam enquanto ajudavam a servir bebidas. Minhas sobrinhas, sempre cheias de energia, corriam pela casa, seus risinhos infantis misturados aos gritos animados de Tom, Sterling e Bronze, que já haviam transformado o lugar em um pequeno campo de batalha imaginário. Era uma bagunça, mas uma bagunça linda — exatamente o tipo de coisa que fazia uma casa parecer um lar.

Mas, apesar de toda essa alegria ao meu redor, eu não conseguia relaxar — Não quando todo meu corpo parecia teimar comigo, e o cansaço dominava.

Eu me esforçava para sorrir, rir nos momentos certos e fingir que estava tudo bem, mas cada vez que Travis cruzava meu campo de visão, eu podia sentir seus olhos me analisando. Ele sabia. Ele sempre sabia.

Ele estava em seu modo protetor, algo que eu amava nele, mas que, naquele momento, me deixava um pouco desconfortável. Não queria que ele se preocupasse, não naquela noite. — Esse era o momento dele, a celebração de algo tão importante em sua carreira, um cargo diretamente confiado a ele pelo técnico Reid. Era justo que ele aproveitasse sem distrações.

Mas não era o que ele estava fazendo. Eu podia sentir seus olhos em mim sempre que me afastava. Até mesmo nos momentos em que ele conversava com alguém, parecia que uma parte dele ainda estava concentrada em mim. E quando recusei comer qualquer coisa – algo que, compreendo porque o deixe apreensivo –, vi o músculo em sua mandíbula apertar discretamente.

Apoiei-me na bancada da cozinha, tentando encontrar algum alívio no frescor do mármore contra minhas mãos, enquanto a música alta tocava ao fundo. Antes que pudesse fingir qualquer coisa, senti Travis surgir atrás de mim, o calor de sua presença quase palpável.

— Você quer ir dormir? — ele perguntou, próximo ao meu ouvido, para que a música nao me atrapalhasse de ouvi-lo, enquanto colocava um copo de suco natural na bancada à minha frente. Sua mão pousou suavemente na minha cintura, um gesto tão instintivo quanto protetor. — Está parecendo cansada.

— Estou bem. — minha voz saiu baixa, mas firme o suficiente para que ele não insistisse. Peguei o copo que ele havia me oferecido e virei-me para encará-lo de frente. O olhar dele era cheio de questionamento, mas eu mantive o contato, deixando claro que não queria mais discutir. — Vou ficar aqui com você até o fim. Prometo.

O ex-jogador hesitou por um segundo, analisando minha expressão como se tentasse decifrar algo nas entrelinhas. Então, um chamado vindo do outro lado da sala interrompeu o momento.

— Ei, Trav! — a voz de Aric soou alta e descontraída, cortando o som das conversas e risadas ao nosso redor. Ele estava próximo ao bar improvisado, segurando uma taça, enquanto os outros caras riam. — Vem cá, cara! Olha isso!

Travis virou a cabeça na direção do amigo e depois me olhou de relance, claramente dividido. A preocupação ainda estava lá, evidente na linha sutil de sua testa franzida.

— Vai lá. — eu disse com um pequeno sorriso, tentando tranquilizá-lo. Dei um leve tapinha em seu ombro, como incentivo.

Ele parecia relutante, mas acabou cedendo com um pequeno aceno.

Assim que Kelce deu os primeiros passos na direção de Aric, a figura de Gigi passou pela sala em um vestido vibrante, movendo-se graciosamente em meio às pessoas. A ideia surgiu antes que eu pudesse pensar demais. Coloquei o copo de suco em uma mesinha de canto, deixando-o ali ao lado de uma pilha de guardanapos impecavelmente dobrados, e estendi a mão para segurar o pulso dela.

— Ei, Gigi! — chamei, puxando-a levemente para perto, tentando parecer casual.

Ela se virou com a naturalidade de quem está acostumada a ser interrompida, seus olhos me encarando com curiosidade, embora uma pitada de preocupação tenha se formado em seu rosto ao ver minha expressão.

— Preciso fazer uma ligação. — falei em um tom que mal disfarçava minha urgência. — Vou para o banheiro. Você pode tentar distrair o Travis? Fazer ele não perceber que eu sumi por uns minutos?

Ela piscou, confusa, mas assentiu devagar.

— Hã... claro, eu acho? — respondeu, a frase soando mais como uma pergunta.

— Obrigada. Eu volto rápido. — murmurei, apertando o braço dela brevemente antes de me afastar.

Peguei meu celular no bolso enquanto me dirigia ao corredor. O som abafado das risadas, da música e da conversa parecia me seguir, pressionando meus ouvidos enquanto eu tentava me afastar da agitação. Assim que alcancei o banheiro, fechei a porta com cuidado e girei a trava. Encostei a testa contra a madeira por um momento, respirando fundo para me estabilizar.

A música ainda ressoava, embora mais distante agora, então levei um dedo ao ouvido para abafar o som assim que disquei o número da minha mãe. Meu coração estava acelerado, mas minha mente tentava manter o foco. O som de chamada ecoou na linha, e cada segundo de espera parecia se arrastar interminavelmente.

Eu me movi para o espelho, encarando meu reflexo enquanto aguardava. Meu rosto estava pálido, e os olhos denunciavam o cansaço que eu tentava esconder durante toda a noite. A luz fria do banheiro parecia tornar tudo ainda mais evidente, desde os fios de cabelo desalinhados até a curva tensa dos meus lábios.

Finalmente, ouvi a voz dela do outro lado da linha.

— Taylor? — a familiaridade acolhedora da voz da minha mãe quase me fez desmoronar ali mesmo.

— Oi, mãe. — respondi, tentando manter a voz firme, mas sentindo a emoção tremer nas bordas. — Desculpa ligar assim, no meio da festa. É só que... eu precisava conversar com você.

Ela ficou em silêncio por um segundo, e eu sabia que ela estava tentando entender o que estava acontecendo sem pressionar.

Encostei a cabeça na parede do banheiro, sentindo o peso de cada palavra que eu ia formando antes mesmo de pronunciá-las. A linha estava silenciosa do outro lado, e eu conseguia imaginar minha mãe esperando, pacientemente, mas com aquela atenção maternal que só ela tinha. Respirei fundo, mas o ar parecia não preencher meus pulmões o suficiente.

— Mãe, eu preciso de ajuda. Conversar. Não sei... — falei, minha voz saindo mais trêmula do que eu esperava, e pressionei a mão livre contra minha testa. — Tem acontecido coisas estranhas. Quero dizer... eu não sei se estou bem.

— Estranhas como? — perguntou, de um jeito acolhedor que me fez fechar os olhos por um instante.

Engoli em seco, procurando as palavras certas enquanto me sentava na tampa do vaso.

— Desde o jantar com o papai... tudo tem sido estranho.  — soltei um suspiro pesado, enquanto meus dedos brincavam distraidamente com a bainha do vestido. — Tive vários episódios de enjoo, tontura... Cansaço. Mãe, eu estou tão cansada. E eu nunca fico assim. Eu nunca canso desse jeito. — as palavras começaram a sair em um fluxo quase descontrolado, e percebi que minha respiração estava ficando curta de novo. — Eu estou doente? Será que é algo grave? Estou pensando em tudo que poderia ser e—

— Taylor! — minha mãe me interrompeu, sua voz mais firme agora, como se quisesse me puxar de volta antes que eu me perdesse no pânico. Ouvi um som abafado, como se ela estivesse mudando de posição. — Você não parou pra pensar que isso pode não ser nada além de... você grávida?

O silêncio que seguiu foi ensurdecedor. Era como se todas as palavras que eu tinha preparado simplesmente evaporassem.

Era como se o ar ao meu redor tivesse sido sugado no momento em que aquela palavra atravessou o telefone.

Grávida. — Era um eco incessante na minha mente, repetindo-se em um ritmo quase ensurdecedor.

— Grávida? — minha voz saiu baixa, quase como um sussurro, enquanto meus olhos imediatamente se voltaram para a fechadura da porta. Sem pensar duas vezes, caminhei até ela e girei o trinco para me certificar de que estava trancada. Meu coração estava disparado, e minha mente trabalhava a mil por hora.

Minha mente começou a correr em círculos, tentando juntar as peças enquanto eu começava a andar de um lado para o outro no banheiro apertado. Meus dedos estavam trêmulos enquanto os passava pelo cabelo, puxando os fios para trás nervosamente.

— Mas... isso é impossível. Não é? — eu ri nervosamente, uma tentativa desesperada de afastar a ideia. — Eu quero dizer... eu tomei todos os cuidados. Pelo menos, eu acho que tomei. — pausei, ainda tentando digerir. — Grávida? — repeti, sem acreditar.

— Sim, querida. — a risada suave da minha mãe ecoou pelo telefone, como se a ideia fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Enjoo, tontura, cansaço... o que você pensou que fosse?

Eu segurei o telefone com as duas mãos, como se aquilo pudesse me ancorar de alguma forma. Pisquei algumas vezes, sentindo o calor subir para meu rosto enquanto balançava a cabeça lentamente, ainda tentando absorver suas palavras.

— Ah... sei lá. — murmurei, sem muita convicção, e dei de ombros, mesmo que ela não pudesse me ver. — Achei que estivesse morrendo ou algo assim.

O tom de humor autodepreciativo na minha voz não era suficiente para esconder a pontada de nervosismo que me consumia. E, naquele instante, a percepção me atingiu como um soco no estômago.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, deixando o peso daquela possobilidade se acomodar.
Eu já estive grávida. — Como eu não tinha notado antes? Os sintomas estavam todos ali, claros como o dia, mas minha mente insistia em ignorar o óbvio.

— Mas como eu não percebi? Quero dizer... eu já passei por isso antes, mãe. Não era para eu saber? Não era para ser óbvio?

— Querida, às vezes estamos tão imersas nas coisas do dia a dia que simplesmente não ligamos os pontos. — ela respondeu com paciência.

Eu fiquei em silêncio por um momento, a cabeça girando com um turbilhão de pensamentos. A ideia de estar grávida — ou de que pudesse estar — parecia tão surreal quanto se fosse uma história distante. Eu ainda não conseguia processar completamente a informação. Mas, o que realmente me preocupava era como Travis reagiria a tudo isso.

— Mas... — comecei, minha voz fraca, mas a ansiedade estampada. — Travis e eu ainda não tivemos uma conversa profunda sobre isso. E se ele não quiser... eu não sei. E se não for o momento certo?

Eu me encostei na pia, sentindo as mãos ligeiramente suadas enquanto passava os dedos pela borda fria. Era como se, de repente, a casa estivesse mais quente, e o som da festa ao fundo fosse abafado pela minha mente. Cada um dos meus pensamentos parecia se sobrepor aos outros, e as palavras da minha mãe ecoavam em minha cabeça com uma clareza alarmante.

— Não, não chegue a conclusões precipitadas. — a voz dela parecia firme, tentando ancorar-me em alguma forma de lógica. — O Travis é um ótimo pai, e tenho certeza de que ficará feliz, Taylor. Mas... você precisa ter certeza primeiro. Faça o teste. Depois você fala com ele.

Eu me encostei no lavatório do banheiro, ainda com o olhar fixo no reflexo no espelho. O som da festa parecia distante, como se estivesse vindo de outro mundo, enquanto a realidade de tudo aquilo começava a pesar sobre mim. A respiração estava um pouco mais ofegante agora, um misto de ansiedade e um medo palpável que se espalhava por cada célula do meu corpo. A conversa com minha mãe tinha sido esclarecedora, mas não aliviava a tensão que crescia dentro de mim.

Certo. — Ela está obviamente correta.
Eu precisava fazer isso de jeito certo, mas a verdade era que a ansiedade estava começando a me dominar, e não apenas pela decisão de contar a Travis. — Era o temor da reação dele.

E tinha o medo.

O medo do que tudo isso envolvia. — O medo que se arrastava por mim como uma sombra que nunca se ia.

Havia algo em mim que me fazia temer que a história pudesse se repetir. O medo de reviver tudo o que havia acontecido anos atrás, de ter de enfrentar novamente o inferno da dor que ainda me marcava de forma invisível. — Como se uma cicatriz, ainda não completamente curada, fosse arranhada de novo.

Aquela dor nunca tinha desaparecido por completo, mesmo que eu tivesse seguido em frente de forma quase automática. Eu ainda lembrava de cada instante daquele pesadelo, da sensação de perda, da confusão emocional que se seguiu. Mesmo que o tempo tivesse passado, ainda existia uma parte de mim que se perguntava se eu estava pronta para enfrentar a possibilidade de voltar àquele lugar, de viver tudo de novo.

Respirei fundo, sentindo o peito apertar com a ansiedade. O medo, de tudo se repetir estava muito mais presente do que eu gostaria de admitir.

— Você está pensando no... — Andrea começou, e eu soube exatamente o que ela queria dizer.

— Peter. — o nome saiu da minha boca como um sussurro, e, apesar de ela não poder me ver, eu acenei com a cabeça, como se isso fosse de alguma forma importante.

— Se isso for real... e acontecer a mesma coisa... — eu parei de falar por um segundo, a garganta seca. As palavras ficaram presas lá, como se uma parte de mim tivesse medo de que só ao pronunciá-las pudesse trazer de volta aquele pesadelo.

Minha mãe suspirou do outro lado da linha, e eu podia quase sentir o conforto nas palavras que ela procurava me oferecer. Ela sempre soubera o que dizer para me acalmar, mesmo nos momentos mais difíceis.

— Não vai acontecer, Tay. — O tom de voz dela foi firme, mas gentil, como sempre. — Travis cuida de você. Ele sequer vai deixar você fazer o mínimo esforço.


Suspirei profundamente, tentando afastar esses pensamentos negativos.

Não vai acontecer. Não vai acontecer. — repeti mentalmente, como um mantra.

Eu respirei fundo, tentando absorver suas palavras, mas uma parte de mim ainda estava incerta.

— Mãe? — chamei, quase em um sussurro, quebrando o silêncio que havia se estendido por segundos que pareciam horas.

Do outro lado da linha, a resposta não veio imediatamente. Eu podia ouvi-la, movendo-se, talvez fazendo algo enquanto me aguardava continuar.

— Sim? — a voz dela finalmente chegou, suave, mas cautelosa. Uma paciência presente em cada sílaba.

Eu engoli em seco, meu estômago dando voltas, meu peito apertado. As palavras estavam lá, prontas para sair, mas meu corpo parecia hesitar, se retrair. — Como se eu tivesse medo de finalmente aceitar a realidade que estava diante de mim.

— Eu posso estar... posso estar gra-gravida. — a última palavra saiu quase engasgada, falha.

As lágrimas começaram a escorrer sem que eu tivesse qualquer controle sobre elas, quentes e rápidas, misturando-se com a confusão que eu sentia dentro de mim. — A sensação de não saber se aquilo era algo bom ou algo que eu não estava pronta para encarar.

Eu nem mesmo sabia se aquelas lágrimas eram de felicidade, medo, ou uma mistura dos dois.

— Sim, Tay. — a resposta dela foi calma, simples, e não disfarçou a felicidade na possibilidade de ser avó.

A palavra "sim" soou como um peso, como uma confirmação de algo imensurável. — A verdade estava ali, nua, sem adornos.

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It's me, hi!

Voltei, e, primeiramente, queria dizer que este capítulo é dedicado às minhas queridas amigas Malu (natashastrogonof) e Ana Clara (srtafangirl) que me arrancaram boas risadas com os comentários na ultima atualização, e também, à Natasha (AnneBridge), que sempre está aqui, e sempre comenta sobre o quanto está gostando da historia. — e me faz rir tambem.
À Ju (moonligthbabie) e a omgshesinsane89. 💗💗💗

Eu noto o comentário de todos, e até as mensagens no quadro de anuncios. — nem sempre respondo, mas vocês tem um lugarzinho especial no meu coração, e eu agradeço muito o apoio.🫶🏻

Obs: acho que o wattpad está com um problema, e toda vez que marco o perfil de alguem, ele fica apagado😒

Comentem o que estão achando e preparem seus corações porque vem muita coisa por aí!👀

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