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Capítulo 12 - Old habits die screaming

It'me, hi! 🙂

Voltei novamente cedo – ou nao, ja que são quase três da manhã –, mas com o capitulo como o prometido.

Mais um pedido? Sim: não me matem, por favor KKKKKKKKK

Agora sem mais enrolaçoes, aproveitem a leitura, deixem estrelinhas e comentários.

Ps: tô muito feliz com os 4k de visualizações, muito obrigadoooo, amo vocês! ❤️

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TAYLOR SWIFT POINT OF VIEW


A tarde com Britt e as crianças transcorreu em uma harmonia caótica, onde risos soltos se mesclavam com a desordem encantadora que sempre acompanha os pequenos. O momento clímax, claro, foi a minha tentativa de preparar os cinnamon rolls, recebendo uma "ajuda" que, embora bem-intencionada, mais atrapalhou do que auxiliou.
Contudo, meu desejo era garantir que cada detalhe estivesse perfeito, como um gesto sutil de carinho e admiração para Tom, que merecia nada menos do que a excelência após seu brilhante desempenho no jogo. Eu havia assistido a gravação enviada por Patrick com uma atenção minuciosa, e cada lance reforçava em mim um sentimento crescente de orgulho por aquele garoto que, de forma quase inesperada, começava a ocupar um espaço especial no meu coração.

Entre uma distração e outra, havia uma saudade silenciosa que me envolvia, inescapável em sua presença quase palpável. Fazia apenas algumas horas desde a última vez que eu e Travis estivemos juntos, mas a ausência dele se alongava no tempo, como se o peso da falta fosse desproporcional à realidade cronológica. A forma como ele me envolvia em seus braços — aquele abraço que parecia transcender o toque físico, como uma barreira contra a desordem do mundo — ainda ecoava em mim. Havia, nesse simples gesto, uma profundidade e uma tranquilidade que eu não encontrava em lugar algum. Como se, naquele breve contato, eu redescobrisse uma paz que já considerava inalcançável.
Após o cansaço emocional e a inevitável apatia que marcaram o fim do meu relacionamento com Joe, jamais imaginei que algo tão genuíno e devastadoramente verdadeiro pudesse renascer em mim. Com Travis, porém, cada instante era permeado por uma intensidade inédita, algo que me desarmava de forma constante. O que mais me intrigava era a autenticidade com que ele se revelava — suas falhas e seus acertos coexistiam sem artifícios, e isso o tornava mais real do que qualquer idealização. Ele não era uma fantasia ou uma projeção de desejos futuros, mas uma presença concreta, que, de forma quase imperceptível, havia se tornado o centro gravitacional da minha vida. Era como se, sem eu notar, ele tivesse se tornado o protagonista de uma história que eu nem sabia estar escrevendo.
E, paradoxalmente, essa descoberta me trazia não só um conforto profundo, mas também uma inquietação inesperada. Travis, com toda sua complexidade humana, me desafiava a repensar o que sabia sobre o amor, não como uma abstração romântica, mas como uma força viva, imperfeita e irresistível.

A forma como Travis se dedicava a ser um pai exemplar, como se esforçava para se tornar o parceiro que eu secretamente almejei por tanto tempo, me deixava atônita. Ele encarnava tudo o que eu sempre desejei, sem que eu sequer soubesse que tais qualidades podiam existir em uma só pessoa. Havia algo quase em sua presença — uma simplicidade que carregava uma complexidade profunda, como se cada gesto, por mais cotidiano que fosse, revelasse camadas de um caráter que eu ainda estava descobrindo.
Ele transcendia minhas expectativas de maneiras que eu jamais havia considerado possíveis. Era como se, ao seu lado, o mundo ganhasse uma nitidez inédita, e tudo — até mesmo eu — se tornasse mais autêntico, mais significativo. Ele não só trazia uma nova dimensão de realidade à minha vida, mas também parecia aprimorar tudo ao redor, tornando o simples extraordinário, e o comum, inesquecível.

Enquanto observava o céu se transformar em uma paleta de tons alaranjados com a chegada da tarde, fui tomada por uma reflexão silenciosa sobre tudo que havia mudado desde que Travis cruzou meu caminho. Não se tratava apenas do conforto de estar com alguém; era algo mais profundo, quase tangível — a sensação rara de ser verdadeiramente vista e compreendida. Ele, de maneira quase instintiva, parecia decifrar cada mínima oscilação do meu humor, cada nuance escondida nas entrelinhas das minhas palavras, o que, as vezes me assombrava e fascinava ao mesmo tempo.
A entrega dele à relação era algo singular. Ele se jogava de corpo e alma, sem a armadura das reservas emocionais que eu tanto conhecera em outros. Não havia medo em expor suas fragilidades; pelo contrário, ele as mostrava com uma naturalidade desarmante, como se a força residisse exatamente ali, nas imperfeições. E isso era algo completamente novo para mim. No passado, as relações estavam envoltas em camadas de proteção, numa dança de distanciamento emocional onde ninguém revelava demais. Mas com Travis, o jogo era diferente. Não havia máscaras ou subterfúgios. Tudo era direto, cru e real.

Percebi, quase de forma involuntária, que havia começado a projetar o futuro com uma intensidade que, em tempos passados, teria me soado como algo perigoso. Com Joe, aprendi a conter meus anseios, a não alimentar expectativas exageradas para evitar as inevitáveis frustrações. Agora, com Travis, essa cautela — antes tão meticulosamente cultivada — estava se desintegrando, cedendo lugar a uma esperança que, para minha surpresa, parecia genuína. Ele me fazia acreditar novamente, acreditar que talvez eu não estivesse apenas vivendo uma breve fantasia romântica, mas, de fato, começando a escrever um livro inteiro ao seu lado, com cada página carregada de significado.
Obviamente, essa crença não era uma aceitação ingênua de uma realidade sem obstáculos. Eu sabia que o caminho à frente seria tudo, menos fácil. Não éramos jovens descobrindo o amor pela primeira vez; ao contrário, trazíamos conosco cicatrizes emocionais, traumas cuidadosamente enterrados e responsabilidades que não podiam ser ignoradas — principalmente em relação a Tom. Mas era precisamente essa complexidade que revestia nosso relacionamento de um valor especial. Longe de ser um conto de fadas, era uma jornada que exigia coragem, compromisso e uma vulnerabilidade que eu nunca soubera ser capaz de oferecer.

E, paradoxalmente, era isso que eu desejava. Eu queria enfrentar os desafios ao lado de Travis, queria confrontar nossas imperfeições e superá-las juntos.

Meus devaneios foram bruscamente interrompidos pelo som insistente do forno, anunciando que os cinnamon rolls estavam finalmente prontos. O doce aroma que rapidamente preencheu a cozinha trouxe-me de volta ao momento presente, resgatando-me das reflexões e lembrando-me do porquê de eu ter me dedicado com tanto afinco a essa tarde — queria que cada momento com Tom e Travis fosse permeado por essas demonstrações silenciosas de afeto. De alguma forma, desejava que eles sentissem, mesmo nos detalhes mais sutis, o quanto significavam para mim, ainda que eu mesma estivesse, aos poucos, aprendendo a dar voz a esse sentimento.

— Tay, eles estão prontos. — Brittany avisou , retornando à cozinha com o pequeno Bronze, agora com o rosto limpo e uma expressão serena após a troca de fralda, aninhado confortavelmente em seus braços. — E o cheiro está irresistível. — acrescentou, um leve sorriso em seu rosto.

Soltei uma risada suave, consciente da ironia que se ocultava por trás do meu próprio perfeccionismo.

— Espero que o gosto corresponda à expectativa. — respondi, enquanto ajustava a luva térmica na mão, pronta para abrir o forno.

O calor intenso escapou do forno no momento em que puxei a bandeja, inundando a cozinha com o aroma doce e amanteigado dos cinnamon rolls, que rapidamente dominou o ambiente como uma promessa silenciosa de perfeição. As espirais douradas, perfeitamente caramelizadas, pareciam uma obra de arte culinária, com a textura levemente crocante por fora e a maciez prometida por dentro. Cada pequeno detalhe parecia carregar o peso de um significado maior, e, naquele momento, esses rolos de canela eram mais do que apenas uma sobremesa; eram uma tentativa de expressar, de maneira tangível, o cuidado e a dedicação que eu tinha por Travis e Tom.

— Parece que você já tem certeza de que será um sucesso. — Britt comentou, arqueando uma sobrancelha, com um leve sorriso, enquanto me observava retirar cada rolinho com uma precisão quase meticulosa.

— Confiança é essencial na cozinha, minha amiga. — respondi, piscando de maneira exagerada, tentando manter o tom leve e descontraído.

Bronze, com seus olhinhos curiosos, observava cada movimento meu, sua atenção aguçada indicando que ele já pressentia que em breve teria um pequeno pedaço daquele paraíso doce em suas mãos. E, enquanto brincava com suas pequenas mãos ansiosas, fui tomada por uma epifania: momentos tão simples quanto aquele eram os que traziam uma sensação de plenitude que há muito não experimentava.

Enquanto organizava os pratos com uma precisão quase obsessiva, um sorriso involuntário se formou em meu rosto, produto da doce antecipação que começava a preencher o ambiente. Eu podia imaginar a cena vívida que estava prestes a se desenrolar: Tom, com sua energia contagiante, se lançando praticamente sobre os cinnamon rolls, devorando-os com o mesmo fervor ardente que exibia em campo. E Travis, sempre ao meu lado, rindo suavemente, com aquele olhar sereno e acolhedor que transmitia uma inexplicável sensação de que tudo estava, de fato, se alinhando no cosmos, exatamente como deveria ser. A harmonia daquele instante me fazia perceber que, talvez, a simplicidade dos momentos cotidianos pudesse ser, de fato, a essência de uma felicidade duradoura.

— Você está sorrindo como se estivesse em outro mundo. — a loira observou, sua voz leve e brincalhona, mas carregada de um significado mais profundo. — Acho que o Trav soube exatamente como conquistar seu coração.

O comentário dela me puxou de volta à realidade, enquanto um riso suave escapava de seus lábios, e, por um breve instante, hesitei. Britt tinha plena razão. Travis não era apenas um homem que despertava meu encanto; ele era o arquétipo do homem que, sem esforço aparente, tornava meu universo mais coeso e significativo, mesmo em meio a suas imperfeições intrínsecas.

— Ah... — suspirei, um sorriso inevitavelmente ingênuo se espalhando pelos meus lábios enquanto minhas mãos se apoiavam delicadamente sobre a mesa. — Ele é... diferente. Incrível, de um jeito que me desarma completamente. Não sei se consigo colocar em palavras... é algo que nunca experimentei antes, algo que vai além do que eu poderia imaginar.

Essa confissão escapou de mim com uma sinceridade quase involuntária, como se cada palavra tivesse ganhado vida própria, moldando-se na expressão de um sentimento cuja magnitude parecia grande demais para ser aprisionada por definições simplistas. Travis não era apenas um objeto de atração; ele era uma força gravitacional que, de algum modo, reestruturava minhas certezas e incertezas, puxando-me para um universo que eu sequer sabia que ansiava, até que me vi completamente imersa nele. Sua presença não apenas iluminava os recantos mais sombrios da minha alma, mas também desafiava as narrativas que eu havia construído sobre o amor e a vulnerabilidade. Era como se, ao lado dele, cada fragmento da minha vida estivesse finalmente encontrando seu lugar, criando uma tapeçaria complexa e rica, tecida com fios de emoção genuína e uma promessa de algo que poderia ser eternamente belo.
E foi então, que pela primeira vez, percebi que ele é o único que já conseguiu me deixar assim. Sem palavras.

Como eu, Taylor Swift, uma artista cuja vida é entrelaçada com a poesia das palavras e a melodia das emoções, lutava para articular a profundidade do meu amor por aquele homem? A linguagem, que normalmente flui com facilidade de meus lábios, parecia me trair, desafiando-me a encapsular em frases a imensidão de sentimentos que transbordavam dentro de mim. É curioso como, em meio a acordes e versos, a simplicidade do amor se revela um enigma intrincado, um labirinto de sentimentos onde cada caminho leva a uma nova descoberta, mas nenhum resulta na clareza que eu ansiava. O amor, em sua essência, é um paradoxo; ele é vasto e, ao mesmo tempo, singular, e nessa busca por expressão, percebo que as palavras, por mais elegantes que sejam, frequentemente se mostram insuficientes diante da complexidade do que realmente sinto.

— Creio que ele está irremediavelmente encantado, Taylor. — Britt diz, ajustando cuidadosamente Bronze no tapete ao lado de Sterling, que se entregava, em sua inocência infantil, a um sem-número de travessuras. — Sabe, há algo de pueril e quase ingênuo no modo como Travis se comporta. Ele não faz questão de esconder seu afeto por você. Acredite, sempre que Pat e ele se encontram, a conversa inevitavelmente se desvia para você. “Taylor isso, Taylor aquilo... a mulher dos meus sonhos... como fui afortunado ao conquistá-la”, ele diz, quase com um ar de incredulidade que é, ao mesmo tempo, adorável e comovente. — fez uma imitação exagerada de Travis, arrancando de mim um riso involuntário. — Pelo que Pat me confidenciou, esse tem sido praticamente o único tema que permeia suas interações. Às vezes, sinto que meu marido, por sua vez, está começando a sentir um certo ciúme, pois o melhor amigo dele parece obcecado por você, como se você fosse o centro do universo dele.

Rimos juntas, o som leve das nossas gargalhadas entrelaçando-se ao clima descontraído que permeava a casa. A cada palavra dela, uma onda de calor e alegria pulsava dentro de mim, aquecendo a certeza de que havia algo verdadeiramente especial entre nós. A vulnerabilidade de Travis, seu encantamento sincero, e a forma como ele se entregava a essa nova fase da nossa vida eram quase palpáveis, como se uma nova dimensão de amor estivesse se desenrolando diante de mim.

— Ele te ama, Tay. — Britt continuou, sua voz  numa seriedade suave que contrastava com a leveza anterior. — E, honestamente? Acredito que ele esteja apenas aguardando um sinal, uma palavra sua sobre casamento, para finalmente fazer o pedido.

— Eu quero, Britt. Casar é, sem dúvida, o meu maior sonho. — confessei, permitindo que a sinceridade pesasse em cada uma das minhas palavras. — Mas... ainda me parece cedo. Estamos apenas no início, e, por mais que eu deseje isso com toda a minha essência, não consigo ignorar as cicatrizes do passado. — suspirei, esforçando-me para organizar um emaranhado de pensamentos que se entrelaçavam em minha mente. — Passei seis anos esperando um pedido que nunca veio. E, sinceramente? A ideia de esperar mais um pouco agora não deve alterar o curso dessa história. Talvez seja apenas uma questão de prudência... ou talvez o medo esteja simplesmente falando mais alto.

Minhas palavras pairaram no ar, carregadas de um peso que refletia uma luta interna. A vulnerabilidade de um amor que florescia ao mesmo tempo em que o eco distante de um desamor passava por mim como uma sombra, desafiando a luminosidade que Travis trazia para minha vida. Era uma dança delicada entre o desejo ardente e a cautela, onde cada passo me conduzia de volta a memórias de um tempo em que a esperança havia se desvanecido sob o peso de promessas não cumpridas.

Enquanto falava, percebi que o que mais me assustava não era o compromisso em si, mas a possibilidade de me perder novamente em um ciclo de expectativas frustradas. Havia um anseio profundo dentro de mim, uma chama que se recusava a se apagar, mas o receio de que essa chama pudesse se transformar em um fogo devastador sempre à espreita, me deixava hesitante.

— Sabe, Tay, eu entendo. Ninguém pode te culpar por ser cautelosa. — ela disse, oferecendo um sorriso que transbordava compreensão. —Mas você também merece ser feliz. Não deixe o medo te afastar disso. Travis... ele é diferente. É palpável a maneira como ele te olha, a forma como fala sobre você. Ele não é o tipo de homem que deixaria as coisas passarem em branco. Quando ele decidir te pedir em casamento, será do jeito dele, e tenho certeza de que será especial.

Olhei para Britt, permitindo que suas palavras ecoassem em meus pensamentos, reverberando com um peso que eu não conseguia ignorar. A razão ressoava nítida, e eu sabia que ela tinha razão. Travis realmente era diferente. Ele trazia uma segurança palpável que nunca havia encontrado antes, como se sua presença tivesse o poder de dissipar as sombras do meu passado. Contudo, havia uma parte de mim, uma fração sutil, que hesitava em se entregar por completo. Era como se a ideia de confiar plenamente me expusesse a uma vulnerabilidade que temia ser devastadora.

— Talvez você tenha razão. — admiti, ajeitando os pratos sobre a mesa com um cuidado quase meticuloso, tentando encontrar uma âncora na normalidade da tarefa. — Ele realmente tem algo que me faz acreditar que tudo pode ser diferente. — A sinceridade nas minhas palavras era inegável, e eu percebia, naquele instante, que a esperança começava a se entrelaçar com meu ceticismo.

— Se alguém pode te dar o que você sempre quis, Tay, esse alguém é Travis.

Britt disse, sua voz carregada de convicção, e sorriu ao pegar Bronze no colo novamente, desviando sua atenção do pequeno e travesso, que já começava a puxar o cabelo de Sterling. A cena se desenrolava diante de mim, um balé desajeitado de risos infantis e choros inconfundíveis.

Assim que o choro de Sterling ressoou pela sala, meu coração se apertou. A pequena estava claramente indignada, suas bochechas coradas e os olhos arregalados em uma mistura de surpresa e desagrado que tornava a cena ainda mais cativante. Não consegui evitar um sorriso, mesmo diante do tumulto.

— Oh, não, não, não! — exclamei, apressando-me até a menina, abrindo os braços em um gesto acolhedor. — Vem cá, meu amor!

Assim que a puxei para meu colo, envolvi-a em um abraço protetor, como se quisesse escudar seu pequeno mundo da confusão que a cercava.
Conforme a segurava, seu choro começou a se acalmar lentamente, e pude sentir a tensão em seus pequenos músculos se dissolvendo à medida que a balançava suavemente de um lado para o outro.

— Tá bom, tá bom... — murmurei, fazendo o possível para acalmá-la. — Olha só, que tal deixarmos de lado esse puxão de cabelo e nos concentrarmos em algo muito mais delicioso? Que tal nos aventurarmos em uma “festinha” de doces, hm?

Assim que as palavras deixaram meus lábios, pude ver os olhos dela brilharem com a menção dos cinnamon rolls, como se cada letra tivesse despertado uma expectativa inocente. Um sorriso tímido começou a se formar em seu rosto, transformando sua expressão de indignação em uma luz suave e contagiante.

— S-sim! — respondeu ela, secando as lágrimas com a mãozinha.

— Isso mesmo! — exclamei, infundindo minha voz com um entusiasmo contagiante. — Vamos fazer uma verdadeira festa de doces! Aposto que o Tom e o Travis vão adorar, e você também vai se divertir, não é?

A menção dos dois parecia ter um efeito mágico. A pequena, que antes estava imersa em seu choro, agora começou a balançar a cabeça, os olhos iluminando-se com a perspectiva de um banquete açucarado.

Enquanto organizávamos os rolinhos, o som de passos apressados ressoou pela entrada, e logo a porta se abriu, revelando uma explosão de energia e entusiasmo. Travis, Patrick e Tom adentraram o ambiente, suas vozes alegres preenchendo o ar com uma vitalidade contagiante.

— Chegamos! — proclamou Tom, com um sorriso radiante que iluminava seu rosto, acompanhado de uma entrada dramática, como se estivesse prestes a fazer uma revelação grandiosa.

Ele ergueu o troféu com um gesto triunfante, sua exuberância quase palpável, como se o feito fosse uma celebração em si.

Sterling, movida pela alegria do momento, desceu do meu colo, e lançou-se em direção a eles, sua animação quase palpável, como se a própria felicidade estivesse a conduzir seus passos leves e rápidos.

— Papai! — exclamou ela, a voz ressoando com uma pureza contagiante, enquanto saltitava em direção a Patrick. Ele a aguardava de braços abertos, capturando-a em um abraço caloroso. — Bronze puxou meu cabelo! — acusou, manhosa.

Tom, em sua habitual voracidade infantil, estava prestes a se precipitar em direção aos doces, mas antes que pudesse dar sequer um passo, senti a necessidade de interromper seu ímpeto.

— Ei, pequeno! Espera aí! — chamei, caminhando até ele, a mão aberta em sinal de pare.

Envolvi-o em um abraço apertado, sentindo a vibração da sua energia contagiante em cada fibra do seu ser. Aquele momento era uma explosão de calor e alegria, um testemunho da autenticidade da infância.

— Você foi incrível! — afirmei, olhando diretamente nos olhos dele, que brilhavam com a luz da conquista. — Eu vi tudo. Sem dúvida, você é o melhor jogador de todos! — em um gesto de cumplicidade, inclinei-me mais perto de seu ouvido e sussurrei: — Mas não conta isso para o seu papai.

Aquela última frase provocou um riso espontâneo em Tom, seu sorriso se ampliando enquanto a brincadeira penetrava em seu entendimento infantil.

Então, voltei-me para Travis, o coração acelerado como se tivesse escutado um tambor vibrante, incapaz de ignorar o magnetismo que emanava dele. Com um gesto quase instintivo, aproximei-me e, em um movimento suave, beijei-o, pondo a mão na frente, para cobrir, afim de que as crianças não testemunhassem a intimidade daquele momento. Porém, o que ocorreu a seguir foi inesperado; sua reação não se conformou com o padrão do que eu esperava.

Em vez de retribuir meu afeto Travis hesitou. Havia uma distância palpável entre nós, como se estivesse imerso em um labirinto de pensamentos que o mantinha afastado. Seus olhos, normalmente tão expressivos, pareciam perdidos em algum lugar além do presente, como se estivesse lutando contra uma tempestade interna que eu não conseguia penetrar.
Aquele breve instante de hesitação lançou uma sombra sobre o nosso afeto, como se uma nuvem passasse pelo sol, e uma inquietação começou a brotar em meu interior. Era uma sensação estranha, uma desconexão que deixava um gosto amargo na boca, um dilema entre a felicidade que aquele momento deveria trazer e a inquietude que agora pairava no ar.

— Oi, Tay... — Travis murmurou, sua voz baixa como um sussurro perdido em meio à agitação da sala, enquanto eu me afastava um pouco, tentando decifrar a súbita mudança na atmosfera.

— Tudo bem? — perguntei, sabendo que havia algo mais em seu silêncio do que o simples cansaço ou distração.

Queria que ele falasse, que rompesse essa barreira que, de repente, se estabelecera entre nós. O desejo de entendê-lo era tão forte quanto a ansiedade que começava a se acumular em meu peito.

Travis respirou fundo, como se estivesse ponderando suas palavras, enquanto as vozes alegres das crianças preenchiam o espaço ao nosso redor, contrastando com a seriedade que agora dominava nossa pequena bolha. Eu me perguntei se ele poderia sentir a tensão, a incerteza que emanava de mim, ou se estava tão preso em seus próprios pensamentos que não percebia o quanto aquele silêncio me afetava.

Quando olhei em seus olhos, buscando aquela conexão profunda que sempre nos uniu, encontrei apenas uma sombra de dúvida refletida em seu olhar. O que poderia estar passando pela cabeça dele? Aquela ausência momentânea de luz que costumava brilhar em seu rosto era um sinal de que algo o perturbava.

Enquanto isso, Patrick e Sterling se juntaram a nós, a energia contagiante da pequena preenchendo o ambiente com risadas e sorrisos. Ela, ainda cheia de vitalidade, puxou Tom em direção à mesa, sua excitação por aqueles cinnamon rolls se manifestando em saltos e gritinhos de alegria.

— Vamos, Tom! — Sterling exclamou, a voz dela ressoando com um entusiasmo infantil que deveria ser contagiante,

— Vamos comer! — ela exclamou, os olhos reluzindo com uma expectativa genuína.

A atmosfera logo se revestiu de leveza, mas uma inquietação persistia dentro de mim, como uma nuvem escura pairando em um dia ensolarado. Enquanto todos se reuniam para a celebração, uma pergunta persistente se formava em minha mente: será que Travis estava preocupado com algo mais profundo? Ou seria apenas o peso das responsabilidades que ele carregava como pai? Essa dúvida começou a consumir meus pensamentos, mas optei por afastá-la, decidindo que aquele momento merecia ser celebrado sem a sombra das incertezas.

À medida que nos acomodávamos ao redor da mesa, a cena transformou-se em um turbilhão de risadas e conversas animadas. As crianças, repletas de uma energia quase inesgotável, mal conseguiam permanecer em seus assentos, ansiosas para se deleitar com os cinnamon rolls que, sem dúvida, prometiam ser o clímax de nossa festança.

— Vocês não têm ideia do quanto eu esperei por isso! — Tom exclamou, seus olhos brilhando com a intensidade de uma criança que acaba de descobrir um tesouro inestimável. E eu não pude deixar de sorrir diante da pureza de seu entusiasmo, uma lembrança de que, mesmo nas trivialidades da vida, havia espaço para a alegria genuína.

— Olha, Tom, se você comer muito, vai acabar igual ao seu pai depois do aniversário da Sterling no ano passado! — Patrick provocou, piscando para o garoto. — Passando mal e reclamando como se não soubesse de onde veio o problema.

A alusão ao excesso de açúcar rapidamente provocou risadas ao redor da mesa, um eco de alegria que ressoava como uma melodia familiar. Contudo, em meio ao riso coletivo, a figura de Travis permanecia à parte, imersa em um mar de pensamentos que pareciam afastá-lo da euforia do momento.

— Trav, você está ouvindo? — Pat chamou Travis, tentando arrancá-lo de sua aparente contemplação. — Está com a cabeça em outro lugar?

Travis desviou o olhar, recuperando-se rapidamente do transe.

— Huh? Desculpe, só estava pensando... — pergunto baixo, quase inaudível, como se ele estivesse mais preocupado com o que não dizia do que com a alegria ao nosso redor.

Brittany, percebendo a dinâmica, tentou mudar o assunto.

— Então, o que você acha da nova temporada? Você já viu os novos jogadores?

— Ah, sim, alguns deles têm se destacado. — respondeu Travis, mas sua resposta estava vaga, quase sem vida. Ele parecia estar ali fisicamente, mas mentalmente ainda estava longe, perdido em suas próprias reflexões.

Enquanto isso, as crianças, imbuídas de uma energia quase sobrenatural, começaram a se agitar em seus assentos, ansiosas para atacar os cinnamon rolls com uma voracidade que deixaria qualquer adulto atônito. Seus olhinhos brilhavam, repletos de expectativa e antecipação, enquanto as pequenas mãos se estendiam, quase desafiando a gravidade em sua busca insaciável pelos doces.

— Se vocês não pararem de se mexer, vão acabar derrubando tudo! — adverti, soltando uma risada leve, quase uma melodia, em meio ao caos. — Acalmem essas mãozinhas!

A advertência, longe de ser uma reprimenda, soava mais como um convite ao controle, uma maneira de suavizar a excitação palpável que preenchia o ambiente. As crianças, em sua inocência exuberante, pareciam ignorar a sugestão de moderação, e suas risadas e gritos de alegria ecoavam como uma sinfonia de pura felicidade.

— Prometo que só vou comer um! — Tom declarou, sua expressão carregada de uma inocência quase cômica, embora eu soubesse que essa promessa era tão efêmera quanto o açúcar sobre os rolinhos.

— Só um né? Claro. — minha amiga provocou.

Um sorriso involuntário brotou de meus lábios enquanto ele continuava, com a seriedade de um político fazendo uma promulgação: — Talvez dois... três. No máximo!

A audácia da contagem trouxe um ar de leveza à mesa, e as risadas se multiplicaram, criando uma atmosfera vibrante e contagiante.
À medida que as crianças se lançavam sobre os doces, a mesa se transformou em um cenário vibrante de pura diversão, onde risadas e brincadeiras se entrelaçavam em uma sinfonia de alegria. O ambiente pulsava com uma energia contagiante, mas, mesmo imersa naquela euforia, uma sombra de preocupação sobre a atitude de Travis se recusava a se dissipar. Seu sorriso, que em outras circunstâncias teria me trazido um conforto profundo, parecia estar encoberto por uma camada de distância.

O clima descontraído na sala continuou a evoluir, mas a quietude de Travis ainda pairavam no ar, criando uma leve tensão que contrastava com a felicidade ao nosso redor. Patrick, percebendo a atmosfera ligeiramente carregada, decidiu intervir com uma piada para aliviar a pressão.

— Bem, Tay, você é uma torcedora dos Eagles, não é? — Pat iniciou, um sorriso travesso brincando em seus lábios enquanto seu olhar perspicaz se fixava em mim. — Sempre disse ao Travis que ele deveria se cercar de pessoas que usam vermelho. — uma risada suave escapuliu de sua boca, como se a mera ideia fosse uma piada interna entre amigos. — Mas, no fundo, aposto que Jason será seu maior fã. No entanto, talvez seja hora de considerar uma mudança de time. Imagine só: uma camisa vermelha estampada com o número oitenta e sete.

O tom provocador de sua voz carregava um leve sarcasmo, mas havia uma centelha de camaradagem nas suas palavras. A ironia de sua sugestão pairava no ar, como uma brisa leve que insinuava a possibilidade de transgressão e lealdade. A dinâmica entre as cores e as rivalidades do futebol americano, entre as paixões de um time e as promessas de outro, refletia, de certo modo, a complexidade das relações que tínhamos construído ao longo do tempo.

— Que meu pai não ouça isso! — dramatizei, levando uma mão ao peito, como se o peso da revelação estivesse prestes a me fazer desmaiar. — Mudar de time antes mesmo de Travis conhecer o velho Scott? Isso seria um verdadeiro sacrilégio. Meu pai é um defensor fervoroso do seu time, quase como um cavaleiro em sua armadura. Para ele, meu coração é um tesouro sagrado que deve permanecer fiel aos Eagles, inabalável e imutável como a história da franquia.

A ironia da situação não me escapou. A possibilidade de alterar minha lealdade esportiva antes mesmo de solidificar um relacionamento com Travis soava como uma traição não apenas às cores que sempre representei, mas também a um legado familiar. Scott, com sua devoção inquebrantável, jamais aceitaria tal afronta; a ideia de um romântico relacionamento cruzando as linhas rivais do futebol americano parecia quase insensata.
As risadas ao meu redor foram se intensificando, como se cada um pudesse sentir a gravidade da minha dramatização.

Patrick soltou uma risada e levantou as mãos em rendição, como se estivesse diante de uma força irresistível.

— Você não vai resistir à grande família do Kansas City Chiefs! — garantiu, com um tom de brincadeira. — Quando você se tornar uma torcedora ávida, estaremos aqui para acolhê-la.

— Quem sabe daqui a alguns dias, após o Trav finalmente se conhecer com meu pai? — sugeri, arqueando as sobrancelhas de maneira insinuante, enquanto lançava um olhar divertido e provocador para meu namorado.

A ideia de que Travis e Scott se encontrariam em breve me deixava ansiosa, e o segredo de que já havíamos agendado a data tornava tudo ainda mais intrigante. A expectativa de vê-lo pego de surpresa, sem aviso prévio, conferia um tom cômico à situação. Imaginar como essa interação se desenrolaria

No entanto, por um breve instante, percebi que Travis estava completamente alheio à conversa que fluía ao nosso redor. A piada de Patrick ainda ecoava em nossos ouvidos, uma lembrança vibrante da leveza que permeava a sala, mas a expectativa que tentava cultivar em relação ao encontro entre ele e meu pai parecia ter passado desapercebida por Travis, como um sussurro ao vento.
A inquietação dentro de mim se intensificou. Eu queria que ele estivesse presente, compartilhando a alegria e a antecipação do que viria a ser um momento tão significativo em nossas vidas.

Com um gesto quase automático, deslizei minha mão sob a mesa, posicionando-a suavemente sobre sua perna. Acariciei-o levemente, um toque sutil, quase um convite silencioso para que ele retornasse à realidade que nos cercava. Então, inclinei-me um pouco mais perto, meus lábios se curvando em um sorriso esperançoso, e sussurrei, como se aquelas palavras fossem um segredo que apenas nós dois pudéssemos ouvir: — Ei, amor, você está me ouvindo? Daqui a poucos dias, você vai conhecer o meu pai.

Esperei que a expectativa contida nas minhas palavras provocasse alguma reação, um sinal de que ele ainda estava presente, mesmo que em um nível superficial. Queria que ele sentisse o calor do meu afeto e a importância do que estava por vir. Era um momento que significava muito para mim, e a esperança de que ele pudesse se conectar a essa emoção me preenchia de um otimismo silencioso.

Um silêncio pairou entre nós, e, mesmo assim, não obtive resposta. O riso e as conversas ao redor pareciam distantes, quase como se tudo estivesse acontecendo em uma camada acima da nossa. O peso da incerteza começou a me envolver, e me perguntei se havia algo mais profundo que o afastava.
Mas, mesmo com a minha mão em sua perna, Travis parecia alheio, mergulhado em uma contemplação profunda. Queria entender o que o impedia de me ouvir, de me ver.

— Trav? — repeti, dando um leve aperto em sua coxa, enquanto a sala se enchia de risadas infantis e o cheiro dos cinnamon rolls pairava no ar. — Você está bem?

— Ah... — ele finalmente sai de seu transe, balançando a cabeça. — Sim?

— Você não está ouvindo? — perguntei, mais preocupada com o bem estar dele — O que aconteceu? Está com dor?

— Não. Não é isso, só... — suspirou, pousando a mão sobre a minha em sua perna — Desculpe. O que você disse?

— Ele já está sem palavras por ter que conhecer o sogro tão cedo! — Patrick brincou, soltando uma risada que soava forçada, como se tentasse mascarar um nervosismo subjacente. Seu tom era leve, mas eu percebia nas entrelinhas que havia uma verdade velada em suas palavras. — Eu pagaria para ter uma gravação desse jantar. Ver um grandão nervoso seria hilário.

Brittany lançou a ele um olhar de incredulidade, sua expressão refletindo a mesma inquietação que me consumia. O clima de diversão que antes pairava na sala se dissipou como a fumaça de um fogo que se extingue, deixando apenas a fragilidade da situação em evidência. Eu sabia que Patrick estava, de alguma forma, acobertando ou ajudando Travis a ocultar algo mais profundo que se escondia sob a superfície da nossa celebração.

O castanho, por sua vez, tentava desviar o olhar, mas não conseguia escapar da realidade que o cercava. A expressão de seu rosto tornava-se cada vez mais sombria, e a conexão que compartilhávamos parecia estar se esvaindo entre as conversas e os risos.

— Nós já vamos — anunciou minha amiga, levantando-se com uma expressão de contentamento. — Muito obrigada pela tarde, Tay, e pela ajuda com as crianças.

Assenti, um gesto que encapsulava não apenas minha gratidão, mas também a mistura de emoções que me envolvia. Enquanto guiava-os até a porta, senti o calor de um abraço apertado de Sterling, seguido por um beijo estalado na minha bochecha que ecoou como um lembrete da leveza que costumava preencher aqueles encontros.

Após me despedir de nossos amigos, virei-me para encontrar Travis parado no meio da sala, sua postura rígida e o olhar distante revelando um labirinto de pensamentos que ele não compartilhava. Embora tenha sido cortês ao se despedir, tinha alguma desconexão em seu comportamento, como se estivesse fisicamente presente, mas emocionalmente alheio.
Com a porta agora fechada, a sala mergulhou em um silêncio palpável, e me permiti observar cada nuance do rosto de Travis, tentando decifrar a tempestade silenciosa que parecia assolar sua mente.

— Vou tomar um banho — declarou, espreguiçando-se de maneira quase mecânica, como se estivesse tentando se livrar de um peso invisível. — Depois volto para botarmos o Tom pra dormir.

A pressa que emanava dele me intrigava profundamente, uma sensação estranha que se infiltrava entre nós. Era como se estivesse fugindo de algo — ou talvez de mim. A confusão se aninhou em meu peito, um nó apertado que se recusava a se desfazer. Como poderia haver uma tal mudança de clima em tão pouco tempo? Quando ele saiu mais cedo, a conexão que compartilhávamos era palpável; ele estava carinhoso, suas palavras e gestos entrelaçados com a ternura que sempre valorizamos.
Agora, no entanto, a atmosfera estava repleta de uma ambiguidade desconcertante. O ar parecia denso, saturado com as perguntas não formuladas que pairavam em minha mente, desafiando-me a buscar respostas que, talvez, ele não estivesse preparado para fornecer. Cada passo que ele dava em direção ao banheiro se sentia como uma distância crescente entre nós, e a incerteza se tornava um eco insistente em meu coração.

— Amor — chamei, correndo até ele e bloqueando sua passagem para as escadas, um gesto quase instintivo, como se a simples presença dele pudesse dissipar a neblina de confusão que nos envolvia. — O que houve?

Ele hesitou, os olhos desviando-se para o chão enquanto balbuciava.

— Eu... eu realmente preciso tomar um banho. Nós podemos falar depois? — as palavras saíram entrecortadas, como se ele estivesse lutando contra um turbilhão interno que não conseguia decifrar. O gaguejar era um sinal de algo mais profundo, uma fissura em sua  que revelava um estado de espírito fragmentado.

— Não precisamos adiar. — insisti, minha voz suave, mas firme. — Se há algo te incomodando, quero que saiba que estou aqui. — ele se virou de costas para mim, pondo as mãos na cintura, suspirando. Como se evitasse meu olhar. — Isso tudo é por causa do torneio? Você está cansado? — perguntei, pousando as mãos em seus ombros e começando a massagear suavemente a área, como se tentasse dissipar não apenas a tensão muscular, mas também a neblina que obscurecia sua expressão. — Ou há algo mais?

Enquanto minhas mãos deslizavam sobre sua pele, percebi a rigidez de seus ombros, um reflexo de um fardo invisível que ele parecia carregar. O torneio, com sua pressão e expectativas, poderia muito bem ser a raiz do seu desânimo, mas havia algo em seu olhar que sugeria um tumulto mais profundo, algo que ia além do mero cansaço físico.

— Papai está estranho porque a mulher chata deu um beijo nele!

A frase de Tom ecoou em minha mente, repetindo-se como um mantra perturbador. Não era apenas uma vez; eram várias, cada repetição ressoando mais forte que a anterior. Que mulher? Quem teve a audácia de beijar meu namorado? A inquietação crescia em meu interior, uma tempestade de emoções que se formava rapidamente.

Afastei minhas mãos dos ombros de Travis, e desviei o olhar para a cozinha, onde Tom ainda se entregava à guloseima dos cinnamon rolls, sua expressão de pura satisfação contrastando com o turbilhão que se formava dentro de mim. Tentei buscar algum sinal que indicasse que ele estava apenas brincando, uma piada infantil que havia escapado de sua boca inocente, mas o semblante dele não deixava espaço para dúvidas.

Travis franziu o cenho, uma linha de tensão se formando entre suas sobrancelhas, claramente irritado com o rumo inesperado da conversa. Seu olhar se desviou para Thomas, e, pela primeira vez, percebi a frustração que ele vinha segurando ao longo de todo o dia, uma carga pesada que parecia prestes a se romper.

— Tom, você não pode sair falando essas coisas assim! — a voz dele ressoou com uma intensidade mais alta do que o habitual, firme e impregnada de exasperação, como se cada palavra fosse uma tentativa desesperada de recobrar o controle da situação.

— Ei, ei, calma! — intervi, fixando meu olhar nele, incrédula diante da explosão de emoções que acabara de testemunhar. — Não grite com ele! — exigi, a voz carregada de uma firmeza que buscava restabelecer a ordem no caos que se instaurava.

Sabia que tudo que envolvia a sinceridade de Thomas emanava da inocência infantil, uma inocência que não compreendia o estrago que palavras mal colocadas poderiam causar.

— Em vez disso, comece a me explicar o que ele está falando. — ordenei, minha voz  impregnada de urgência.

— Tá certo. — ele murmurou, massageando as próprias têmporas, um gesto que revelava a tensão acumulada em sua mente.

Dirigi-me a Tom, que observava a cena com olhos curiosos e um semblante que oscilava entre a inocência e a confusão.

— Tom, querido, chega de doces! — disse, aproximando-me e retirando delicadamente o cinnamon roll que ele acabara de pegar. — Vá brincar um pouco no seu quarto para a tia Tay e o papai poderem conversar, pode ser? — sugeri com um sorriso encorajador, buscando suavizar a tensão que permeava a atmosfera.

— Mas eu queria mais! — reclamou, a boca cheia de cinnamon roll, as palavras saindo entre risadinhas e mastigações.

— Você disse que iria comer três. — lembrei, sinalizando o número com os dedos, na esperança de que um apelo visual ajudasse a solidificar minha argumentação.

— Cinco. — protestou, a obstinação brilhando em seus olhos enquanto cruzava os braços, a expressão de emburrado transformando seu rosto em uma máscara de descontentamento que era ao mesmo tempo adorável e desafiadora.

Thomas.— exalei, sentindo uma onda de exasperação se instalar em mim, mas sem perder a paciência. Ele apenas fez uma careta, como se a lógica fosse um conceito completamente alheio a ele neste momento. — Vamos guardar para amanhã. Agora, por favor, suba. — implorei, sabendo que essa pequena batalha era apenas um reflexo da luta maior que se desenrolava entre mim e Travis.

Ele finalmente se rendeu, marchando para cima das escadas com uma determinação que era, ao mesmo tempo, um ato de rebeldia e uma demonstração de seu descontentamento. Cada passo soava como uma declaração de guerra, a forma como ele se movia sugerindo que a ira infantil era uma armadura que ele estava decidido a vestir.
Os pequenos pés batiam no chão de madeira, ecoando como se quisessem deixar claro que sua frustração não deveria ser ignorada. Eu o observava, uma mistura de divertimento e preocupação se entrelaçando em meu peito, enquanto o assistia se afastar.

Assim que ele desapareceu no corredor, a atmosfera voltou a se fechar ao nosso redor, e eu me preparei para o que realmente importava: a conversa que precisava acontecer entre mim e Travis.

— Que mulher? — perguntei casualmente, enquanto me ocupava em organizar a bagunça que dominava a cozinha, como se a tarefa trivial pudesse me oferecer algum controle sobre a tempestade emocional que se aproximava. — Um beijo?

As palavras saíram de meus lábios com uma leveza calculada, mas, por dentro, meu coração pulsava de ansiedade. A casualidade que tentei imitar era apenas uma fachada, uma tentativa de disfarçar a inquietação que reverberava em meu interior. Enquanto as mãos se moviam de forma quase automática, recolhendo utensílios e pratos, cada gesto parecia ressoar com um significado oculto, como se a própria cozinha estivesse testemunhando o tumulto que se desenrolava entre nós.

Um suspiro pesado escapou de Travis, ressoando na cozinha como um sinal de rendição e inquietude. Ele se movia em direção a mim em passos lentos, como se cada movimento fosse carregado de um peso emocional que ele hesitava em compartilhar.

— Beijo na bochecha! — ele pontuou, a afirmação saindo de seus lábios como uma defesa vacilante, como se isso por si só pudesse esclarecer a situação.

— Mas foi um beijo! — retruquei, a frustração transparecendo na minha voz enquanto pousava uma xícara de café suja com mais força do que pretendia na pia, o tilintar metálico soando como um alarme que ecoava no ar carregado de tensão. A pressão em meu peito aumentava a cada palavra, e a sensação de desamparo se transformava em uma indignação intensa. — Algo que, pelo que entendi, você permitiu!

— Eu não permiti, só... aconteceu. Fui pego de surpresa! — ele respondeu, a voz tingida de uma mistura de desconforto e frustração, como se tentasse se convencer de que suas palavras continham alguma verdade.

— Quem é essa mulher, porra!? — minha indignação se intensifica a cada sílaba, como se essa pergunta, carregada de uma urgência quase visceral, pudesse abrir as portas para a clareza que tanto ansiava.

Enquanto esperava sua resposta, o silêncio se estendia, carregado de uma tensão insuportável. Era como se o tempo estivesse congelado, cada segundo se arrastando

— É a Kayla. — Travis respondeu em um sussurro quase inaudível, e eu não pude evitar uma risada irônica, uma reação involuntária que expunha minha incredulidade, como se sua revelação não fosse suficiente para esclarecer a confusão que se formava em meu peito. — A mãe do Tom.

A esponja e o prato sujo escorregaram de minhas mãos, mergulhando com um estrondo na pia, o som ressoando como um sinal de alarme em meio ao meu turbilhão emocional. Eu definitivamente não estava preparada para essa revelação. A informação se instalou em minha mente como um golpe súbito; ela estava aqui? A ex de Travis? Mãe do Tom? As perguntas se amontoavam, criando um labirinto de confusão que se tornava cada vez mais complicado de navegar.

Meu coração pulsava acelerado, uma sensação de desorientação misturada a uma raiva crescente. Kayla. Uma presença do passado que agora eu sabia ser uma parte intrínseca da vida de Travis, começou a se formar em minha mente, e cada detalhe que me vinha à tona apenas alimentava a tempestade dentro de mim. Como ele poderia permitir que isso acontecesse, mesmo que por um momento, sem considerar as implicações? O passado, que eu pensara estar enterrado, agora ressurgia com uma força implacável, ameaçando desmantelar a segurança que havia construído ao lado de Travis.

— Oh! — funguei, lutando para conter as lágrimas que ameaçavam transbordar. — Você não ia me contar. Não ia me revelar isso, certo? — A decepção começava a se instalar em meu peito, como uma sombra persistente que se alastrava lentamente, envolvendo-me em um turbilhão de emoções confusas.

— Droga, você está triste? Por favor, não fique assim. Eu só queria te... te proteger.

— Por que ela estava lá?

— Ela apareceu no torneio. — continuou ele, a voz trêmula, como se cada palavra pesasse uma tonelada. — Eu não sabia, Tay, ela... ela só apareceu. E disse que queria assumir o papel de mãe.

— Ela quer o quê!? — indaguei, virando abruptamente para encará-lo, apoiando-me na bancada com uma força que quase a fazia tremer sob o impacto da minha indignação. — Você tem noção do que acabou de me dizer!? Estamos falando da mulher que abandonou um garotinho inocente! Um bebê!

As palavras saíram com um fervor ardente, cada sílaba um corte na atmosfera tensa que nos cercava. A incredulidade transbordava em minha voz, uma tempestade emocional que se formava em resposta à revelação perturbadora que ele acabara de compartilhar. Kayla, uma figura do passado, não era apenas uma lembrança distante; ela se tornava um elemento disruptivo no nosso presente, uma sombra que ameaçava obscurecer tudo o que construímos.

Como ele poderia permitir que isso acontecesse? A ideia de que ela queria retomar um papel que abandonou com tanta facilidade era inaceitável. A expressão em seu rosto, uma mistura de confusão e remorso, apenas acrescentava mais combustível ao fogo que queimava dentro de mim. Ele não estava apenas lidando com uma ex; estava abrindo as portas para uma mulher que poderia desestabilizar o mundo de Thomas.

— Eu sei, eu sei! Mas ela parecia genuinamente arrependida. — ele insistiu, em  uma súplica desesperada por compreensão.

— Quando você ia me contar que a viu? — cruzei os braços, a tensão em meu corpo aumentando à medida que a indignação tomava conta de mim. — Travis, eu só estou sabendo disso porque Tom me contou, não é? Se ele não tivesse dito, você diria?

A expressão dele se contorcia entre o arrependimento e a defensiva, e eu me perguntei se ele realmente percebia a gravidade da situação. O arrependimento de Kayla, por mais sincero que pudesse parecer, não apagava o passado nem as cicatrizes que deixara em Thomas.

Eu queria entender, mas a frustração me impedía de ver além da dor. A revelação de que ele não havia me falado antes sentia-se como uma traição silenciosa, um ato que deixava um rastro de desconfiança.

— Eu ia contar. — ele declarou, a frustração transparecendo em cada palavra.

Quando?

— Eu ia contar, Taylor, pare de agir como uma ciumenta maluca!

— Eu não sou uma ciumenta maluca. — retorqui, mantendo a postura firme, mas sentindo o calor da indignação que crescia dentro de mim.

— Tay, ela apareceu no jogo sem que eu esperasse. Ela me encheu de discursos de arrependimento e eu... eu enlouqueci. — ele disse, dando a volta na bancada e posicionando-se na minha frente, sua expressão refletindo a intensidade do conflito que o consumia. — Caralho, ela é a mãe do meu filho. Ele não sabe quem ela é, mas eu sei que ele tem curiosidade.

As palavras finais reverberaram em minha mente, fazendo ecoar uma série de emoções contraditórias. A revelação do desejo de Thomas de conhecer sua mãe biológica não era apenas uma consideração; era um alerta sobre o terreno instável em que estávamos pisando.
A tensão no ar era palpável, uma batalha silenciosa de vontades e medos não expressos. Eu queria entender a perspectiva dele, mas a ideia de que Kayla, uma figura que representava dor e abandono, poderia se reintroduzir em nossas vidas deixava um nó apertado em meu estômago. O peso da responsabilidade de proteger Thomas dos fantasmas do passado se sobrepunha à necessidade de apoiar Travis em seu papel como pai.

— O que você disse a ela? Por que ela beijou sua bochecha? — indaguei.

Ele permaneceu em silêncio, os olhos fixos no chão, como se o próprio peso de suas escolhas o aprisionasse, tornando-o incapaz de encarar a realidade. A imagem de Travis, um homem forte e confiante, agora tão vulnerável e encolhido sob o fardo da situação, era dolorosa de se observar.

— Travis! — chamei, elevando a voz em um tom que ecoou pela cozinha, quebrando o silêncio opressivo.

A sua relutância em responder alimentava uma tempestade de incertezas dentro de mim. O que mais ele estava escondendo? O que mais poderia vir à tona, como uma onda avassaladora, arrastando nossos momentos de paz e felicidade junto com ela? O beijo, aquele gesto aparentemente inócuo, agora carregava uma carga simbólica que distorcia tudo o que acreditávamos ser sólido em nosso relacionamento.

"Como você pode se calar assim?", pensei, a sensação de traição se intensificando a cada segundo. Eu precisava de respostas, de uma explicação que fizesse sentido em meio ao caos emocional que começava a se instalar.

— Foi só... uma ideia maluca. Eu... eu vou consertar. — gaguejou, suas palavras parecendo escapar como vapor em uma manhã fria, dissipando-se rapidamente e deixando apenas um rastro de confusão no ar.

— Que ideia? — franzi o cenho, a perplexidade tomando conta de mim. O nervosismo dele era quase palpável, e a maneira como coçava a cabeça apenas intensificava a sensação de que havia algo mais profundo que ele não estava compartilhando. — Que ideia, Travis!?

— Eu disse para conversarmos melhor aqui. Na semana que vem. — ele respondeu, sua voz trêmula e insegura.

A revelação me deixou aturdida. Conversar "melhor" na próxima semana? O que isso significava? Enquanto as palavras dele se estabeleciam em meu entendimento, uma onda de frustração e incredulidade me invadiu. Era como se estivéssemos navegando em águas desconhecidas, com cada resposta sua apenas abrindo mais perguntas, como buracos negros sugando minha capacidade de raciocínio.

"Como ele pode estar tão despreocupado?", pensei, sentindo a raiva começar a borbulhar. Era inaceitável que ele achasse que poderia simplesmente "consertar" as coisas ao agendar uma conversa, como se a complexidade das emoções humanas pudesse ser resolvida como uma equação matemática. O impacto das ações dele não era algo que poderia ser facilmente desfeito ou ignorado; cada escolha que ele fazia reverberava, afetando não apenas a nós dois, mas também Tom.

Meu coração descompassa, uma batida errada que ecoa a tumultuada tempestade emocional dentro de mim. A raiva, como uma maré crescente, invade minha mente, ameaçando me engolir.

— Semana que vem? — repeti, a voz carregada de indignação. — Quando eu não estiver por perto? Para quê? Para que vocês possam se beijar à vontade e se com—

— Taylor, não! — ele exclamou, sua voz ressoando com uma firmeza que cortou a tensão no ambiente como uma faca afiada. — Eu jamais faria algo assim com você. Vamos ser razoáveis. Se ela te visse aqui, seria um desastre. Não apenas para nós, mas para a percepção pública do nosso relacionamento. O que poderia surgir a partir disso? Rumores, conjecturas, uma tempestade de especulações que poderia corroer tudo o que construímos.

As palavras dele soaram como uma tentativa de anular a gravidade da situação. A frustração borbulhava em mim, um líquido fervente prestes a transbordar. Como ele podia pensar que isso era uma simples questão de gestão de imagem? A vulnerabilidade que estava sentindo não era apenas uma questão de ciúmes; era um desespero pela integridade do que tínhamos construído juntos. A ideia de Kayla, com seu passado nebuloso, reaparecendo na vida de Travis, transformava nosso relacionamento em um jogo arriscado de incertezas e mágoas.

— Você realmente acredita que isso não passa de uma mera formalidade? — perguntei, desafiando-o, enquanto a ironia permeava cada uma das minhas palavras. — Estamos falando da mãe do seu filho, uma mulher que optou pelo afastamento, que não apenas te deixou, mas também abandonou o próprio Thomas. E agora, como se se tratasse de um encontro casual entre amigos, você planeja se reunir com ela para discutir o quê? Arrependimentos?

A sensação de traição se entrelaçava com a preocupação. Cada palavra sua parecia minimizar o impacto que essa mulher poderia ter em nossas vidas. A raiva pulsava em minhas veias, mas por trás dela havia uma ferida profunda, a incerteza do que isso significava para nós.

— Você não pretendia me informar que ela estaria aqui. — A minha voz falha, sufocada por uma intersecção de tristeza e frustração. — O fato de que ela não pode saber da minha presença não altera o princípio fundamental de que você deveria ter me revelado isso.

Ele hesitou, a expressão no rosto um reflexo de conflito interno.

Eu ia contar.

— Quando Patrick e Brittany foram, você não demonstrou a menor intenção de querer conversar sobre. — acusei. — Você apenas disse que ia tomar banho, como se quisesse me evitar.

— Iriamos conversar depois. Não no meio de todos. Não era para você saber assim....

— Através do seu filho? Certamente que não. Deveria ter recebido essa informação diretamente de você, e não pela boca dele. — Uma lágrima desliza pela minha bochecha, um sutil reflexo da vulnerabilidade que me consumiu. — Achei que a nossa relação fosse diferente, Travis. Eu... eu depositei minha confiança em você.

A fraqueza em minha voz revelava a dor profunda que ele havia causado. Cada palavra que saía de sua boca parecia se dissolver no ar, como se as promessas que compartilhamos se desvanecessem. O peso da traição não era apenas pela revelação da presença de Kayla, mas pela quebra da confiança que construímos com tanto cuidado. O que deveria ser um relacionamento sólido agora parecia frágil, ameaçado por sombras do passado que eu desejava que permanecessem enterradas.

— Eu sou. Não ia fazer nada além de dialogar com ela, Tay.

— Você realmente considera normal aceitar um beijo da sua ex, enquanto está comprometido com outra pessoa? — questionei retoricamente, deixando que a incredulidade transparecesse em minha voz. — Ninguém se comporta dessa maneira quando tem a intenção de valorizar uma relação. É uma falta de respeito não só com o parceiro, mas também com você mesmo. Como você pode ignorar a fragilidade da confiança que se constrói entre duas pessoas?

Eu não conseguia entender a lógica por trás de suas ações, o que o levava a agir de forma tão descuidada com algo que para mim era sagrado. Um beijo não era apenas um gesto; era um símbolo de intimidade, uma ligação que transcende palavras. Como ele podia desconsiderar o peso daquelas ações e a dor que isso poderia causar?

O olhar de Travis, que antes era de certeza, agora vacilava sob o peso da culpa. Eu queria que ele enxergasse a gravidade do que havia feito, que entendesse que suas decisões não afetavam apenas a si mesmo, mas também a mim e a relação que construímos com tanto esforço. A frustração crescia dentro de mim, um turbilhão de emoções que se misturavam em um grito silencioso por compreensão e lealdade.

— Foi um beijo na bochecha! — ele insistiu, sua voz carregada de irritação, como se tentar fazer-me compreender sua perspectiva fosse um fardo insuportável. — Entenda. Eu estou pensando no Tom!

— E eu repetirei: estamos falando da mulher que abandonou Tom sem olhar para trás, sem hesitar uma única vez — repliquei, as palavras saindo com uma precisão que me surpreendeu, dada a tempestade de emoções que rugia dentro de mim.

Eu não podia simplesmente ignorar o fato de que aquela mulher havia se afastado de um filho inocente, um menino que só queria uma mãe. A ideia de que ela pudesse retornar à vida dele, mesmo que de forma temporária, me causava um nó no estômago. Como ele podia se esquecer da profundidade dessa traição?
A expressão de Travis, embora irritada, revelava uma sombra de confusão, como se ele estivesse lutando contra uma maré de emoções contraditórias. Ele não estava apenas defendendo uma ex; estava, de alguma forma, tentando proteger o próprio filho, mas essa justificativa não diminuía a ferida que seus atos infligiam a mim. Era como se estivéssemos em uma encruzilhada, cada um segurando um caminho que não estava disposto a ceder, e o resultado poderia ser devastador.

— As pessoas podem, de fato, mudar.

— Eu esperei por anos uma transformação no Joe, mas ele nunca se desvinculou daquela indiferença em relação ao nosso filho. — argumentei, minha voz carregada de frustração. — Uma mulher que tem a audácia de encarar o semblante inocente de um bebê, um ser que depende inteiramente dela, e ainda assim opta por partir sem um olhar para trás, é alguém desprovida de humanidade. E o que a motiva agora? Ela não demonstrou interesse em ser mãe antes; por que essa repentina disposição para desempenhar esse papel?

— Talvez, neste momento, ela tenha despertado para esse desejo!

— Por que você continua a defendê-la, agindo como se eu fosse sua adversária nesta situação? — perguntei, batendo o pé com impaciência.

— Eu não estou tratando você como se fosse minha inimiga. — murmurou, sua voz mais serena. — Apenas acredito que esses anos possam tê-la levado a refletir sobre suas escolhas. Talvez, agora, ela tenha se tornado uma pessoa melhor.

— Bem, já percebo que você não mencionou meu nome a ela. — deduzi, enxugando as lágrimas que teimavam em escorregar pelo meu rosto. — Mas, ao menos, você a informou que está em um relacionamento?

O silêncio se instalou entre nós, pesado e constrangedor.

— Travis, você disse ou não? — repeti, insistindo, minha ansiedade crescendo a cada segundo.

— A Kayla não é uma alienada, porra! — ele explodiu, seu tom carregado de frustração. — Ela deve ter visto algo sobre isso. Não sei! Droga, não quero discutir isso agora.

— Ninguém teve a confirmação sobre o que realmente estamos vivendo. — respondi, respirando fundo, enquanto contava até dez internamente, tentando domar a tempestade que se formava dentro de mim. — Para eles, eu ainda sou um ninguém na sua vida. E se Kayla percebeu algo, provavelmente está voltando para reivindicar o que acredita ser dela. E você está permitindo isso, agindo como se estivesse solteiro. Sinceramente, você ainda sente algo por ela?

— Para, você está viajando! — ele exclamou, sua voz refletindo incredulidade.

— Eu não estou... — controlei-me para não levantar a voz, e, em um gesto de rendição, levantei as mãos. — Sabe de uma coisa? Deixa pra lá. Cheguei à conclusão de que talvez não possamos funcionar. Me enganei ao pensar que você era diferente dos outros.

— O que você disse? — inclinou a cabeça para o lado, piscando repetidamente, como se tentasse decifrar um enigma intrincado. — Você está...

— Desistindo? Sim, é isso mesmo. Estou completamente cansada dessa maratona de relacionamentos e não tenho a menor intenção de reviver mais um capítulo cheio de traições e desilusões. — me acomodei em uma cadeira, arrastando-a com um suspiro, enquanto as lágrimas ameaçavam embaçar minha visão, transformando o ambiente ao meu redor em uma névoa turva. — Amanhã, vou embora.

— Não. — a palavra escapuliu de seus lábios com uma força que parecia desafiar o próprio ar ao nosso redor, reverberando com a certeza de um compromisso irrevogável. — Não, Taylor. Eu não posso deixar você partir. — ele puxou a cadeira para mais perto, a proximidade forçando-me a desviar o olhar do meu próprio desespero e encará-lo. Seus olhos brilhavam com uma mistura de paixão e dor, como se revelassem um mundo de sentimentos que eu hesitava em explorar. — Você sabe que o que temos é real, e eu não vou permitir que você se afaste de quem te ama de verdade. — a intensidade de suas palavras ressoou em mim, despertando uma resistência que eu não sabia que ainda existia. — Você sempre se esquiva quando as coisas começam a se estabilizar. Como fez com alguns dos caras com quem namorou... O que há de tão ameaçador no amor verdadeiro? Estou aqui para te proteger, não para te machucar. — ele beijou o dorso da minha mão, um gesto que misturava a fragilidade das nossas almas. Suas lágrimas se uniram às minhas, formando um testemunho silencioso da vulnerabilidade que compartilhávamos. — Eu não quero te perder, Taylor. Eu não posso deixar você fugir de mim. Velhos hábitos precisam morrer, e eu não vou permitir que você mantenha essa tendência de se afastar de quem realmente a quer. Eu levo nosso relacionamento a sério, e quero me casar com você. Por favor, me perdoe por esse erro estúpido. Eu posso desfazer o convite; ela não vai vir aqui. Mas eu imploro, não vá embora.

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