10. paraíso
bom diaaa ❤️❤️💜
ai gente, como estão nessa semana linda? eu não consigo acreditar que a segunda-feira chegou, nem consigo processar que tô aqui escrevendo isso pela última vez 🥲🥲
conseguem ouvir meu choro daí? kkkkk
olhem, pelo lado bom, o capítulo é muuuuito grande, então dá pra aproveitar. espero que gostem. não esqueçam de ler as notas finais e o capítulo de agradecimentos e curiosidades sobre a fic! tá super legal :)
boa leitura! (boa sorte kkk)❤️
"E se eu tivesse que fazer tudo de novo
Eu faria, porque, amor, no final
Isso me trouxe aqui até você
... escapei de todas as cinzas, corri em direção ao escuro
E isso me tornou selvagem por dentro"
— Wild at Heart, Lana del Rey
Bright Moon
Sede da Rebelião
15:46
— Isso vai dar certo mesmo? — Bow perguntou.
— Confia — Adora respondeu.
Bow riu de nervoso.
— Acho que vai acabar mal. Tipo uma briga. Prisão. Fuga. Essas coisas.
Adora deu de ombros.
— Não me importo mais. Depois de tanto tempo praticamente cega, sem escolha, parece que finalmente vou fazer algo por mim mesma.
Bow concordou com ela, pois sentia o mesmo. Ainda assim, ficou com calafrios pelo corpo.
Era uma tarde quente. Adora e Bow pediram para Mara os encontrar na garagem da Rebelião, um lugar bom e espaçoso e mais ou menos discreto. Ninguém ficava por ali. Carros, vans, motos — tudo aquilo enchia os olhos dos amigos.
Adora se apoiou em sua moto. Era majoritariamente preta e com detalhes metálicos. Não era um veículo apenas para exibir, mas também para ser veloz.
A loira não se importava em ter uma jaqueta de couro para combinar (mas estava pendurada no guidão). Bow brincava dizendo que ela parecia uma personagem de Velozes e Furiosos, e mesmo assim Adora amava.
O amigo limpou uma manchinha de um retrovisor e respirou fundo. Pelo espelho, viu a silhueta de alguém se aproximando por trás e virou-se na hora.
Adora ajeitou a postura. A loira usava seus coturnos e calça cargo pretos, uma camiseta branca justa que destacava seus músculos. Ela queria parecer casual, mas estava mais para alguém que você cruza olhar na rua e tem medo dela. Pelo menos foi o que Bow pensou.
Eles observaram Mara entrar no estacionamento. Uma vez, a mulher disse a Adora que a loira parecia um jaguar, como um felino ágil e feroz. Bem, se Adora era um jaguar, Mara era uma puma. Parecidas em muitos aspectos, mas ainda assim diferentes.
— Não precisam ficar enrolando o papo porque eu já sei de tudo o que vocês fizeram — Mara nem se incomodou em dizer "oi". Ela nunca foi do tipo que cumprimentava.
Sempre direto ao assunto, Adora pensou e quis revirar os olhos. Em vez disso, manteve os braços cruzados e o corpo encostado na moto. Bow ficou do mesmo jeito.
— Acharam mesmo que eu não ia descobrir que foram até Entrapta ontem e entraram no meu sistema? — a mulher riu, sarcástica. Ela agitou os dedos para os dois como se fossem dois pontinhos de sujeira no vidro. — As paredes têm ouvidos. E eu sei quando meus dois melhores agentes tramam algo.
— Se você descobriu então deve ser porque não somos tão bons — Bow disse.
Adora mordeu o lábio.
— Já que pulou as preliminares, vamos direto ao assunto — Adora disse com aquele humor mortal e o sorriso travesso que mostrava apenas quando ameaçava alguém.
— Muito bem. — Mara sorriu do mesmo modo. Ela havia ensinado tudo o que Adora sabia. Eram areia do mesmo saco à essa altura. — Sou toda ouvidos.
Adora deu um passo à frente. As duas mulheres ficaram a dois metros de distância. De onde estava, Bow percebeu a arma guardada na cintura de Adora. Mara também deveria ter uma escondida. Bow também tinha.
— Por que se dar ao trabalho de esconder tudo isso de nós? — Adora perguntou. Mara apenas mordeu o lábio. — Não podia simplesmente ter dito a verdade? Quantos agentes não sabem sobre as próprias vidas?
Mara pressionou os dedos contra as têmporas.
— Olha, meu bem, você quer que eu seja sincera. Certo. Isso vai doer.
Adora apertou os próprios braços com força. Ela quis muito chorar. Mas mais do que isso, queria voar no pescoço de Mara. A mulher foi sua única figura de autoridade a vida inteira, e ainda lhe dava medo. Mentiu para Adora, para Bow, e para todos os outros agentes da Rebelião. E pelo visto estava pouco se fodendo.
— Não deve doer mais do que saber que meus pais morreram pelas minhas mãos — Adora disse com a voz falhando.
Mara suspirou e encarou Bow como se pedisse autorização. Ele mirou a treinadora com ódio nos olhos.
— A questão é que treinamentos apenas os melhores dos melhores. Ou pelo menos tentamos — ela disse. — Os pais de todos vocês morreram ou os abandonaram, e em vez de irem logo até um orfanato, nós os pegamos e os acolhemos. Não podem reclamar disso. Tiveram uma vida boa.
— Uma vida de mentiras. Sem saída.
Mara revirou os olhos.
— Por que iriam querer desertar? Têm todos os benefícios do mundo.
Adora deu outro passo.
— Porque nunca sequer pensamos na possibilidade disso. Vocês manipulam nossas mentes desde cedo. Ficamos sem saída. E o pior de tudo, me deixou às cegas sobre mim mesma. Sobre minhas condições. Meus pais.
Mara ajeitou os longos cabelos castanhos e secou o suor da testa. Ela parecia exausta por ter aquela conversa.
— Quanto menos soubesse sobre seus pais, menos iriam querer ir embora. E falando sobre seu caso... — Mara deu de ombros. — Tivemos o diagnóstico bem cedo. E no momento em que pus os olhos em você soube que era a melhor. Essas fraquezas foram transformadas em algo bom. Devia se sentir agradecida por ter uma personalidade tão cruel e nem lembrar depois.
— Uma doença não é uma fraqueza.
Mara riu.
— Certo. E mesmo assim, sem saber de nada, chegou onde chegou.
— Sempre soube que havia algo comigo, só nunca entendi o que era. Não graças a você. — Adora sentiu que os olhos marejaram e a vista embaçou. — Vive dizendo que somos uma boa causa, mas é tudo mentira.
Mara balançou a cabeça como se lidasse com uma criança.
Ela abriu a boca para dizer algo, mas foi a vez de Bow.
— Há quanto tempo implantam o Disk nos agentes? — perguntou ele. Foi caminhando até ficar ao lado de Adora. A amiga agradeceu por ele ser essa presença confiante, porque ela mesma já estava a ponto de chorar ou gritar. Ou ambos.
A treinadora arqueou a sobrancelha. Bow pôs as mãos nos bolsos da jaqueta esportiva. Adora percebeu o símbolo de um coração vermelho bem no peito e deu um sorriso mínimo.
— Ah, vocês sabem sobre o Disk.
— O suficiente — Bow respondeu. Sua voz não fraquejava. — Eu não tenho tanto conhecimento assim das leis, mas acho que implantar dispositivos em corpos de crianças para fins duvidosos é um crime. Se não é, deveria ser.
Mara deu de ombros.
— Uma forma de controlar vocês. — Ela assumiu. Adora arrumou a postura e ergueu o queixo. Mara deixava o jogo mais fácil, e aquilo não parecia ser coisa boa. Bow estava certo. Aquilo acabaria mal. — Saber suas localizações, manipular suas mentes para que não se lembrem das vidas antes da Rebelião. Foi um projeto necessário e que funcionou.
Ela estava mesmo jogando todas as cartas na mesa.
Bow passou a língua nos lábios. Ele e Adora acertaram quando pensaram sobre isso: nenhum deles tinha memórias concretas de seus passados, e não era apenas porque eram crianças e novos demais para lembrar — mas porque foram manipulados esse tempo todo.
— A rainha sabe?
— Ela apenas financia nossos projetos, mas não. — Mara respirou fundo. Os olhos claros brilharam de excitação. — Ela não sabe e nem vai saber.
Mara levou a mão até a cintura e de lá tirou uma arma. Apontada bem na direção de Adora. Ou melhor, para a sua testa.
Mas Adora também foi rápida.
Bow não teve tempo de reagir. Ele não era tão rápido. Seu ponto forte era a mente e a discrição, não agilidade. Nesse espaço cheio de felinos, Bow estava mais para o rumo de uma serpente.
Mara sentiu o primeiro tiro no ombro e caiu.
Adora recuou por segurança, empurrando o amigo junto, sem deixar de encarar Mara.
A mulher gemeu de dor e riu.
— A aluna supera a mestre — ela disse. Seu ombro começou a sangrar.
Adora torceu a boca em um sorrisinho. Seus ouvidos ainda doíam pelo som alto do disparo. Bow apontava a própria arma para Mara, porque a mulher ainda estava com a sua em mãos.
— Eu nunca erro — Adora disse.
Mara estava em desvantagem, claro — se apoiou com o braço bom, enquanto o ruim segurava a arma, além de que estava sozinha —, e mesmo assim não fez menção de desistir, recuar ou se render.
— Quem vai te salvar agora, ein? — Adora continuou.
— Todo mundo vai saber que você atirou em mim. Vão atrás de você.
Bow negou.
— Eles podem tentar. Não acho que vão te defender depois de nós vazarmos os arquivos.
Mara arqueou a sobrancelha, impressionada.
— Largue — Adora ordenou e indicou a arma. A treinadora não se mexeu. Queria ver até onde sua aluna chegaria. Adora usou seu tom de voz mais ameaçador, do tipo que poderia te deixar de joelhos de medo. — Largue agora ou eu atiro de novo, porra!
Mara arregalou os olhos, curiosa. Isso só fez com que Bow apertasse a sua mão com mais força em torno do objeto.
— Você não tem coragem — Mara sussurrou.
— Quer apostar? — Adora sorriu.
— Não consegue atirar em mim para matar porque sabe que é errado demais. Além disso — Mara pendeu a cabeça para o lado e gemeu de dor de novo, pois seu braço já estava quase que completamente vermelho —, tem medo de começar a ser violenta e não parar mais.
Adora mordeu a língua. Sua treinadora estava absolutamente certa. Ela nunca gostou de matar. Seria muito mais difícil com Mara.
— Eu odeio você — Adora falou assentindo. — A vida inteira te detestei por me obrigar a fazer coisas que eu não queria. Por me atirar de prédios altos, por me fazer lutar, e todo o resto. Eu nunca pedi isso, e parece que não tem mais saída. Então parece que vai ter que aprender a lidar com a porra dos seus erros de uma vez, e diretamente por mim. Larga a arma agora ou eu vou atirar no meio da sua testa. Não tô nem aí. Não vou lembrar depois mesmo.
Mara olhou para ela por longos segundos.
Olhou para Bow, que não moveu um músculo.
Então soube que não tinha chance.
Ela largou a arma com uma careta, lançando-a até os pés de Bow. Ele pisou no objeto com o tênis e guardou na cintura.
— Você está presa, Mara — ele disse. — Mãos para cima e tente não resistir. — Bow mostrou as algemas que carregava consigo esse tempo inteiro. A mulher ergueu as mãos com dificuldade por conta do ombro e Bow a algemou.
Mara ficou de pé com os olhos claros em fúria. Adora a encarou do mesmo modo.
Bow deu três passos para o lado.
— O que foi? Vou caminhar sozinha até lá em cima? — A mulher riu com desdém. Bow riu também.
— Você não conhece mesmo a gente, né? — ele disse. — Ninguém nessa história é bom ou mau, muito menos nós.
Adora desceu a mira até o tornozelo de Mara. Ela atirou.
Mara caiu de lado e bateu a cabeça com um grito que ecoou por todo o estacionamento.
Ela gemeu e xingou. Adora encarou o estrago feito, tentando gravar na memória. Dessa vez, ela lembraria.
Olhou para Bow, que voltou a ajudar Mara a ficar de pé.
— Vai pro inferno — ela disse para Adora.
— Eu já fui e voltei de lá, lembra?
Adora piscou um olho para Bow, que retribuiu e levou Mara embora dali, restando apenas seu sangue no chão de concreto.
A loira seguiu em outra direção: rumo à sua moto.
Aquele dia ainda não tinha terminado. Mesmo que fosse um erro, ela ainda precisava libertar alguém da prisão.
...
Prisão da Rebelião
16:37
Catra cantarolava uma música da Doja Cat enquanto pensava onde errou para chegar até aquele ponto.
Ok, talvez tenha errado em tudo. Ou quase.
Mas a verdade era que não se arrependia.
Ela nunca esteve tão... Feliz era uma palavra muito forte. Talvez serena. Isso.
Sua mãe ainda estava presa com ela naquele mesmo prédio, mas elas nem se viram direito na última semana, muito menos trocaram qualquer palavra. E todas as vezes que Shadow Weaver olhava para a filha, Catra fazia uma careta ou mandava o dedo do meio.
Ela encostou a cabeça no travesseiro fino que fazia parte de sua cama. Ficou sozinha na cela, o que lhe dava espaço para pensar e não precisar conversar com qualquer pessoa. Aquele lugar era quente durante a tarde, e o macacão laranja não combinava com ela. Mas tudo bem. Ela podia estar presa, mas por dentro se sentia livre.
Não tinha de cumprir as expectativas da mãe em momento algum. Não precisava fingir ser isso ou aquilo, não precisava agir como uma mulher gato e muito menos fingir sua felicidade e satisfação.
Shadow Weaver a acolheu não porque queria uma filha para cuidar. Ela quis Catra porque viu potencial de uma mulher poderosa, de um brinquedo. E assim foi durante toda a sua vida.
Catra teve de tudo e do melhor. Viajou para lugares incontáveis, sempre teve roupas bonitas e carros caros, comida em excesso, treinadores capazes. E em troca, fazia o que a mãe mandava: suma com essa pessoa, faça essa aqui calar a boca para sempre, investigue isso, se disfarce daquilo.
Catra nunca teve tempo para nada mais além disso. Muito menos para sentir o mínimo de amor genuíno.
Isso era o que mais doía.
E então, quando achou que as coisas seriam sempre as mesmas, seu coração de ferro acabou derretendo. Ela fez tudo o que Weaver mandou porque sabia que sofreria se a desobedecesse logo em seu projeto mais importante e — mais insano, psicótico e imprudente. Aquele hotel foi um erro.
Ela fingiu o máximo que pôde. Até o último segundo, quando entregou o pen-drive para Adora.
— Pelo menos nada explodiu — ela disse consigo mesma.
Adora foi a única pessoa que conheceu a vida inteira que foi instigante o suficiente para que Catra quisesse se aproximar. Elas compartilharam algo mais além de desejo. Queria que tivessem conversado mais sobre tudo. Se aberto sobre suas vidas, os medos, as ambições.
Disso ela se arrependia: não ter feito mais por Adora.
Catra apenas queria que a loira lhe ouvisse uma última vez.
Mas depois de mais de uma semana presa ali, soube que Adora nunca mais voltaria, e que Catra ficaria presa por todas as merdas que fez, e por todas as merdas que sua mãe fez.
Adora não viria.
Ela só acreditava vendo.
Então ela virou o corpo e viu Adora.
— Não acredito.
Catra quase caiu da cama, mas conseguiu se sentar e sorrir.
— Hey, Adora. Tudo bem?
A loira revirou os olhos em resposta.
Adora tinha um dos braços apoiado na grade. A postura descontraída. Ela ficava uma gracinha naquela jaqueta de couro (mas Catra achou melhor não dizer isso). Seu cabelo voltou ao habitual rabo. Por um momento, Catra pensou que fosse apenas sua imaginação estar ali, mas não. Os olhos azuis mostravam curiosidade e frenesi.
Catra continuou com ironia.
— Você me olhando assim... Não sei se quer me dar um soco ou um beijo.
— Talvez você mereça os dois.
Catra sorriu e umedeceu os lábios. Ficou de pé e parou próxima à grade. Como estava só de chinelo, sua altura diminuiu e precisou erguer um pouquinho a cabeça para olhar a loira.
— Veio me deixar um presente?
Adora fez um bico.
— Own, você deve estar muito carente, né? — Então ela sorriu com crueldade. Aquilo não assustou Catra, ela sentia falta daquilo. — Na verdade, eu trouxe uma coisa. Mas só vai ganhar se for uma boa menina.
Catra arqueou a sobrancelha, ansiosa por um jogo. Mal podia acreditar que ela estava ali, e também não conseguiu acreditar quando Adora mostrou uma chave e abriu a cela. Mas ao invés de libertar Catra, ela entrou e trancou ambas ali dentro.
— Isso não tá me cheirando bem — disse Catra. — Definitivamente não é Silêncio dos Inocentes, ok? — Ela inspecionou o cômodo como se fosse uma compradora avaliando uma casa. — E se quiser fazer qualquer coisa comigo aqui dentro... Não é um lugar muito confortável. — Catra riu e agitou seus dedos à frente do rosto de Adora apenas para provocá-la. — Olha, eu até tive que cortar as unhas. Você gosta?
Adora deu um tapa leve nos dedos de Catra. Ela deu de ombros.
— Sem sexo, então.
Adora carregava uma mochila. Catra percebeu isso apenas quando a loira jogou-a no chão ao seu lado. Não parecia estar pesada. Havia a logotipo da rebelião bem na frente.
— Veio aqui pra acabar comigo? — Catra perguntou.
— Sua idiota. Cinquenta por cento do meu corpo quer isso.
— E os outros cinquenta?
— Ainda não desistiu das pessoas, muito menos de você.
Catra respirou fundo. Adora cruzou os braços.
— É o seguinte — disse Adora sem paciência. — Essa é a decisão mais idiota e doida que eu já fiz na vida. Então você vai calar a boca e me ouvir. Depois você se defende, e aí eu decido se vale a pena te dar a mochila. — Ela deu uma olhada no relógio no pulso. — Temos menos de quinze minutos.
— Quinze minutos até o quê?
— Até perceberem que eu tô aqui dentro. — Adora sorriu. — O que foi mesmo que eu acabei de dizer?
— Eu calo a boca e você fala.
— Bom. Senta.
Catra obedeceu tentando não rir. Sentou-se na cama e cruzou as pernas. Adora observou pensativa, de braços cruzados, como se avaliasse se aquilo realmente valia a pena. Catra apenas esperou.
— Quero que saiba que eu nunca vou te perdoar pelo que fez com a Glimmer — Adora disse rouca e triste. — Mesmo que você não tenha feito de fato, ainda sabia o que ia acontecer e deixou.
Catra abaixou a cabeça e assentiu. Ela sabia do estrago feito. Talvez nunca se perdoasse.
— Bow disse que isso é uma estupidez. Eu nem deveria estar aqui — ela continuou. — E mesmo assim não consegui resistir ao impulso. Porque você sempre mexeu comigo desde a primeira vez que te vi.
Adora apoiou as costas na parede. A luz de um quase pôr-do-Sol da janela lhe deixava mais bonita do que já era. Também deixava a dor no olhar mais evidente.
— Então é isso o que eu quero dizer. Estou aqui arriscando minha vida e minha carreira. Você não merece compaixão, mas vai ter do mesmo jeito porque eu não posso evitar. Não sei se isso é tóxico demais, ou se é empatia demais. — Adora fechou os olhos por um momento e suspirou. — Naquela noite eu me senti diferente. Mais viva. Reparei em coisas que nunca tinha notado antes, e tudo por sua causa. E pior, comecei a querer você. Muito. Até hoje não consegui esquecer. E quando você contou toda a verdade, meu coração se quebrou.
Adora abriu os olhos. Catra segurava a respiração, sem saber como reagir.
— Agora eu quero que você diga o que tem pra dizer, porque não temos mais ninguém nos vigiando, certo? Pode ser honesta. Eu fiz a mesma pergunta naquela noite e você não falou, mas concordou. Você sentiu o mesmo que eu ou foi tudo um fingimento idiota? Aquelas coisas que nós conversamos sobre liberdade, sobre uma vida de verdade longe da sua mãe e da Rebelião... Foi sincero? Porque pra mim foi. E prefiro saber logo a verdade do que passar o resto dos meus dias me torturando.
Catra ficou de pé, e ainda não acreditava no que Adora dizia. Não acreditava que era mesmo verdade. Era tudo o que ela sempre quis. Mesmo depois de tudo, Adora ainda lhe dava uma chance.
Isso significava que Catra valia a pena. Que ela não era inútil.
— Antes de tudo... — Catra disse e umedeceu os lábios. Sua voz estava mais rouca que o normal. Adora lhe analisou com apreensão. — Eu sinto muito pela Glimmer.
Adora piscou, surpresa. Depois assentiu.
— Sei que nunca vou conseguir reparar meus erros. E isso vai me consumir pra sempre. E você pode me xingar de todos os nomes possíveis, porque sei que mereço. — Catra sorriu de canto. Adora não demonstrou nada além de uma mordida no lábio. — Enfim, obrigada por me dar uma chance.
Adora ajeitou os ombros.
— Continue.
Catra limpou a garganta.
— Não vou ficar culpando minha mãe pra sempre porque eu também fiz merda. Mas que ela foi ruim comigo isso é um fato. Talvez por isso somos tão parecidas. Um dia, eu espero, a gente possa contar tudo uma pra outra sobre nossas vidas. — Catra deu de ombros e andou um passo. Não ficou mais perto de Adora, mas foi o suficiente para encarar seus olhos azuis. — Eu venho esperando a vida toda por alguém que me faz sentir como você faz. E... — Catra riu. — Não consigo sentir a maioria das coisas que as pessoas sentem, mas eu sei que gosto de você de verdade. E eu quero estar com você. — Ela pôs a mão no peito em forma de juramento. — Não de um jeito estranho, eu prometo.
Adora mordeu a bochecha e soltou uma risadinha.
— Você tá falando sério mesmo?
— Claro que sim! — Catra arregalou os olhos. — Como você disse, não tem ninguém me vigiando. Posso dizer o que quiser. Fazer o que quiser.
Adora respirou fundo e fechou os olhos com força. Catra esperou esses segundo pacientemente. A loira os abriu, apenas para revelar algumas lágrimas.
— Você veio pra acabar comigo, Catra.
Catra ergueu uma sobrancelha com humor e apoiou a mão na cintura.
— Ah, então você tá reclamando? — disse irônica. — É só sair da cela e eu juro nunca mais te incomodar.
Adora riu e a empurrou levemente no ombro — que não tinha sido ferido pela bala. Catra agarrou sua mão e a trouxe para si. Ambas ficaram mais perto uma da outra. Catra pôde até sentir a respiração acelerada de Adora, incluindo seu coração batendo rapidamente.
— Eu levei mesmo um tiro por você. — Adora visou seu ombro, que ainda tinha ataduras por baixo, já quase curado. Depois voltou a encarar Catra. Seus olhos reluziam. — E levaria outros. Caminharia no fogo por você. Faria qualquer coisa pra que me perdoasse e pra mostrar o quanto te considero. Não sobrou mais ninguém que eu me importe, exceto você.
Adora deixou uma lágrima escapar pela bochecha. Catra teve de secá-la com a mão livre. A loira sorriu ao sentir a pele dela contra a sua.
A espiã abriu a boca para dizer algo, mas não conseguiu. Tudo o que precisava ser dito já havia sido feito. Ela segurou o rosto de Catra e puxou sua cintura, colando seus corpos em um calor confortável. Adora não pensou duas vezes quando a beijou.
Catra envolveu seu pescoço e ficou na ponta dos pés. Sentiu a boca macia de Adora contra a sua e não queria sair nunca mais. Ela quase quis chorar também, porque pela primeira vez em muito tempo sentiu uma felicidade genuína. Alívio. Pertencimento. Amor.
Adora separou suas bocas para encarar os olhos bicolores de Catra. Ela sorriu.
— Vamos sair daqui.
Catra franziu o cenho sem entender. Adora pegou a mochila no chão e abriu para entregar-lhe mudas de roupas: short, camiseta, jaqueta e um par de tênis.
— Tá falando sério?
— Achou que eu vim aqui pra dizer todas essas coisas e te deixar apodrecer depois? Não mesmo. — Adora riu e bateu um dedo no relógio. — Vamos. O tempo está passando. Entrapta disse que o sistema fica inativo por pouco.
Catra balançou a cabeça sem acreditar e sorriu. Adora ajudou a tirar seu macacão laranja feio. Catra vestiu-se rápido.
— Eu me sinto uma criminosa.
— Você é — Adora respondeu rindo.
— Então... Vamos simplesmente fugir?
Adora assentiu.
— É, acho que sim. Depois de tudo o que descobri sobre mim, sobre a Rebelião... Pode ser uma decisão estúpida, mas que não ligo. Quero saber como é ter uma vida.
Catra ficou de pé, já vestida.
— Quer saber como é ser livre.
Adora assentiu sorrindo. Catra lhe beijou mais uma vez.
A loira visou-a de cima a baixo.
— Você tá parecendo uma adolescente grunge.
— Isso é culpa sua. — Catra cutucou a testa de Adora.
— Tudo bem. Eu tenho o suficiente de dinheiro pra sobrevivermos na estrada. Além disso, Bow vai ficar me encobrindo, agora que ele é importante.
Catra sorriu, os olhos brilhando de curiosidade.
Adora abriu a grade da cela e ambas saíram em passos rápidos.
— Com "estrada" você quer dizer que vamos fugir na sua moto? — Catra perguntou tendo de apressar mais os passos. Adora sorriu ao seu lado.
— Talvez.
— Por que Bow é importante agora?
Adora pendeu a cabeça para o lado. Ainda era estranho pensar no amigo como alguém de cargo tão alto de um dia para o outro. Ela se espremeu contra uma parede para ver se não havia seguranças armados. O corredor ficou livre. Adora agarrou a mão de Catra para levá-la consigo.
— Ele é o príncipe consorte. Na verdade, já tem um tempo.
Catra engasgou.
— Uma semana na prisão e olha as coisas que eu perco. Mais alguma coisa que preciso saber?
Adora e Catra foram apressadas até um corredor. Faltava pouco para irem embora. Com sorte, não haveria guardas demais.
A loira estalou a língua.
— Dei dois tiros na minha treinadora, e ela provavelmente vai ser presa. Ou eu. Então meio que sou procurada agora. E já que estou te ajudando a escapar, bem... Vou ser uma criminosa de um jeito ou de outro. Ah, e minha ficha médica é maior do que eu pensava. Te conto os detalhes depois.
Catra assentiu tentando processar tudo.
Ela apertou a mão de Adora.
— Não precisa fazer isso por mim. Posso me conformar com passar a vida atrás das grades. — Já que Adora a perdoava, Catra não tinha mais inseguranças. Realmente não dava a mínima em ficar presa ali.
Adora virou o corpo abruptamente para lhe encarar com determinação.
— Eu quero fazer isso.
As duas trocaram uma conversa silenciosa. Então assim seria. Tudo ou nada. Adora e Catra contra o mundo, se fosse preciso.
Catra sorriu, satisfeita.
— Pode me guiar, loirinha.
A loira piscou um olho para ela. Tinha uma arma na cintura, que segurou com a mão livre.
Elas se direcionaram até a saída. Por mais que aquilo fosse loucura, a mente de Adora apenas dizia "vá, vá agora!". Ela teve certeza de que era a coisa certa a se fazer.
Elas passaram pelo primeiro pátio, então finalmente chegaram até a última linha de defesa. O portão que dava acesso à rua. Adora conseguiu entrar sem ser percebida quando o sistema todo "caiu", mas dessa vez não tinha tanta certeza.
Um alarme estrondoso soou por toda a penitenciária.
— Acabou o tempo — Catra disse.
— Corra — Adora falou já puxando-a.
Ouviram passos rápidos vindo de dentro da prisão. O vento fazia seus cabelos balançarem, e Adora já conseguia ver sua moto estacionada do outro lado da rua.
Ela puxou o portão enorme com força. Era muito pesado, mas conseguiu com a ajuda de Catra. Ambas arregalaram os olhos com a frota de cinco policiais vindo em sua direção — todos armados e furiosos. Adora sorriu, presunçosa, e atirou apenas para lhes dar um susto.
Eles se abaixaram e desviaram. Foi o suficiente para Catra conseguir sair primeiro. Um dos homens que vigiava o portão ameaçou atirar nas garotas, mas Adora foi mais rápida e atirou em sua direção primeiro, errando o alvo de propósito. Ele se abaixou e gritou (provavelmente informando uma fuga e ataque no portão principal).
Se elas tivessem tido mais uns dois minutos, teriam saído quietas. Mas não. A sirene soou alarmante, e o som fez os ouvidos de Adora reclamarem. Ela grunhiu e passou pelo portão aberto minimamente. Catra lhe esperava apressada.
— Vamos, vamos! — Ela pulava já próxima da moto.
— Pega. Deixa que eu dirijo. — Adora jogou a arma para Catra. Ela pegou no ar. Adora subiu na moto e deu partida. Catra subiu logo atrás.
A moto rugiu feroz em resposta, e os pelos de Catra se arrepiaram. Ela agarrou a cintura de Adora com uma mão e com a outra fez a mira na direção do portão.
Elas saíram disparadas. Adora não conseguiu relaxar muito pois logo um carro de polícia começou a segui-las. Sua moto era mais rápida, mas ela não sabia por quanto tempo.
— Caramba. Isso aqui vai ser divertido — Catra disse com uma risada perversa. Conseguiu mirar bem no pneu do carro, mas estava longe demais. — Se você desacelerar, eu consigo! — Ela gritou para Adora.
A loira olhou pelo retrovisor e assentiu. Catra segurou um de seus ombros para não cair. Ficou de pé o melhor que conseguiu. A moto era grande e vil, e Catra também era impiedosa.
Ela atirou três vezes no mesmo pneu dianteiro do carro. Ele desacelerou e fez o som característico de perder o ar comprimido. Ele ficou murcho na hora.
Adora acelerou quando Catra voltou à posição normal. Ela mexeu o ombro dolorido pela ação.
— Vão vir mais deles em breve.
— Eu tenho outro caminho — Adora disse.
Catra segurou firme sua cintura. Elas foram rapidamente pela estrada até se dividir em três. Adora pegou a da esquerda, e logo a paisagem foi mudando.
Árvores ficaram mais altas e verdes, e o Sol começou a se pôr, dando enfim início à hora dourada. Catra teve de apertar os olhos devido ao vento. Ela olhou para Adora, e viu que a loira estava sorrindo.
— E agora? O que vamos fazer? — Catra perguntou contra o vento, sorrindo também.
Adora deu de ombros.
— Não sei. Vamos descobrir juntas.
Catra assentiu. Envolveu a cintura de Adora em um abraço e encostou sua cabeça contra suas costas. Adora sorriu, tranquila e satisfeita. Não sabia ao certo seu destino, e estava ansiosa por uma aventura.
E assim seguiram rumo ao desconhecido.
...
Cinco meses depois
Sede da Rebelião
11:11
— Senhor, chegou outra carta — disse Frosta, uma das novas agentes recrutadas recentemente.
Bow virou o corpo e assentiu. A garota entrou no escritório (que antes pertencia à Mara), e pôs a carta na mesa.
— Obrigado.
Frosta sorriu e saiu da sala, fechando a porta em seguida. Bow pegou a carta, já sabendo de quem era. Abriu o envelope e retirou um cartão postal com a vista de Mystacor. O desenho de duas carinhas felizes estampavam o verso do papel — Bow reconheceu Adora e Catra representadas no desenho e riu.
Ele passou os dedos pelo brinco na orelha, ainda desacostumado com a jóia. Guardou o cartão postal na gaveta onde já começava uma coleção, pegou o papel com a carta e desdobrou. Dirigiu-se até a janela a fim de pegar a luz forte da manhã.
Ele leu o conteúdo:
"Querido Bow,
"Eu e C estamos bem — e já muito longe de Bright Moon. A vida na estrada é complicada às vezes, mas nada que não possamos lidar. Semana que vem devemos ir para Salineas, então acho que consigo algum telefone pra te ligar sem que sejamos rastreadas.
"Fico feliz em saber que você está lidando com a Rebelião agora. Queria poder estar aí pra te ajudar, mas você sabe que meu lugar nunca foi aí, muito menos na liderança de alguma coisa. Quem sabe um dia eu consiga. Por enquanto, só te desejo o melhor e que se saia bem. Os agentes estão em boas mãos agora (os atuais e os em treinamento).
"Assistimos à sua cerimônia de coroação pela televisão em um bar na estrada (que servia um hambúrguer delicioso). Você estava bonito, todo nervoso (mas a C disse que você fica feio usando capa).
Parece que a população aprova você sendo príncipe consorte, o que é bom. A rainha Ângela vai ter um bom substituto no futuro, tenho certeza.
"Se tiver algum progresso sobre a retirada do Data Disk, me diga, porque dou um jeito de voltar só pra tirar essa coisa de mim. Pelo menos as novas crianças estão sem isso, e fazem tudo por livre arbítrio. Só de pensar já fico mais tranquila.
"Não tive crises recentemente, o que é um recorde de semanas. Estou melhorando. Já a C se meteu em uma briga no meio do posto de gasolina e levou um ponto na sobrancelha. Mas ela está bem agora.
"Garanta que Mara, Hordak e Weaver fiquem bem quietinhos na prisão — e bem longe um do outro também.
"Não esqueça o Mc Lanche Feliz da Entrapta. Até que ela não é tão ruim assim. Se estou com a C agora, é porque ela me ajudou. Você também. Estou com saudade.
"Acho que nunca me senti tão feliz.
"Amo você.
- A"
Bow leu mais uma vez para gravar tudo na memória. Em seguida, fechou a carta e a jogou no fogo da lareira. Não poderia deixar rastros. Por enquanto, ninguém poderia saber que estava em contato com Adora e Catra.
Ele observou a carta até o papel virar cinzas e sorriu. Talvez ficasse mais em paz se Glimmer estivesse viva, mas soube que a princesa lhe observava com carinho onde quer que estivesse.
Bow também nunca se sentiu tão feliz e sereno.
Ele sorriu mais. Adora e Catra estavam bem. Juntas, em paz.
Livres.
...
choro e lágrimas e gritariaaaaa
meu deus acabou
o que acharam?????
gente eu realmente não sei o que escrever aquiiiii tô só digitando o que vem à cabeça
essa fic foi tão importante pra mim, das suas maneiras, e aprendi muito com ela. espero que vcs tenham gostado dessa jornada, que tenham gostado do final dos nossos personagens
como sempre, eu faço algo feliz/ triste kkkk é meu estilo, sorry. sinto muito quem chorou um pouquinho. toma aqui um abraço virtual meu *abraço*
enfim, vou falar mais sobre essa fic no capítulo seguinte, mas por enquanto, muito obrigada por tudo que vcs fizeram: comentários, surtos, votos, etc. obrigada de verdade, isos me deixou muito feliz. é bom fazer uma história e saber que existem pessoas boas que gostam tanto quanto eu
agora bora lê tudo do início já sabendo dos plot twists kkkkkk (talvez eu tenha lido essa fic umas 8 vezes)
muuuito obrigada! eu amo vcs! já estou com saudades ❤️
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