05. ira
Bom diaaaaa!!! Tudo bem, gente?
Vou ter uma semana bem cheia mas passo bem 🤡👍
Ainda traumatizados com o capítulo passado? Kkkkkk eu sim
O capítulo de hoje não tem tanta coisa pesada então podem ficar tranquiles 💖 (só é meio grande e gay)
Boa leitura!
"A raiva é uma coisa quieta
Você pensa que a dominou
Mas ela está lá só aguardando"
— Simmer, Hayley Williams
Hotel Inferno
Quinto andar
00:00
— Você matou duas pessoas. A princesa está morta. Você usou drogas pelo menos duas vezes, levou socos no corpo inteiro, além de alguns cortes, e a sua roupa ta toda manchada de sangue, seu e de outras pessoas, além de que a cabeça não deve estar muito lúcida. Tudo isso em uma noite, e a festa ainda está longe de acabar. Não pode continuar assim — Catra disse tudo rapidamente e apontou para o corpo inteiro de Adora.
A loira já teve com aparências piores, mas também melhores. O rabo de cavalo já não era tão firme, o terno havia rasgos no casaco e na calça, e na camiseta também — que por sinal estava manchada de sangue como uma daquelas blusas tie dye. Os olhos azuis, opacos. O rosto cheio de cortes e machucados roxos, a postura curvada. Adora pressionava a região onde sangue insistia em escorrer da barriga.
— Ela tem razão — Bow disse cuidadoso. O trio estava no elevador. — Precisa abortar a missão.
Adora ficou em alerta.
— De jeito nenhum!
Mesmo assim ela sentiu que iria vomitar se ficasse naquele elevador por mais cinco segundos. Ela cobriu a boca e fez uma careta ao perceber a bile subindo à garganta.
— Certo — Catra disse e pôs as mãos na cintura. — Então se vai continuar ao menos precisa trocar de roupa. Vamos procurar algum armário de limpeza pra pegar uniformes — Bow quase viu cálculos flutuarem ao redor da cabeça de Catra — ou então procuramos um quarto, closet, o que for.
— Entrapta — Bow chamou a amiga, pressionando o dedo no fone, mesmo não sendo necessário. — Procure alguma brecha nos corredores. Esse andar precisa ser o certo. Foi o que Glimmer disse.
— Já estou fazendo isso há uma hora.
— Ótimo.
Ele cruzou os braços. Pareciam muito apertos naquela roupa, que marcava seus músculos. Os olhos de Bow encontraram os de Adora, ambos mostrando preocupação. Ainda não conseguiam acreditar na morte de Glimmer.
O elevador abriu com o som característico. Os convidados dobraram à direita, e o trio os seguiu. Mas o corredor também os levava para a esquerda, e lá, aparentemente, não havia nada de muito interessante (a menos que essa fosse a intenção).
Adora franziu o cenho. Eles ouviram um som de instrumentos de orquestra sendo testados. Pela grande porta em tons de vermelho e toque dourados, as pessoas entravam animadas. Catra chegou mais perto para ver melhor.
— Parece ser um teatro.
— Vai ser uma ópera? — Bow perguntou, também espionando. Ele conseguia captar melhor por ser mais alto.
Catra negou.
— Mamãe odeia óperas porque dão sono. Ela prefere balé.
— Justo.
Catra olhou para Adora atrás deles. A loira parecia um zumbi. Ela fez uma careta e endireitou os ombros, assumindo sua postura de "filha mimada" e dirigiu-se a Bow:
— Vou tentar cuidar disso.
Adora, que já tinha o rosto verde como o Shrek, se apoiou em Bow e ambos esgueiraram-se no corredor, tentando manter-se escondidos ou discretos.
Catra esperou sua vez de entrar no local, mas em vez disso puxou o segurança pela gola da camiseta e o puxou para baixo de modo violento.
Bow percebeu que o homem era enorme comparado à Catra, e tinha um olho robótico e vermelho assustador.
— Que merda ela tá fazendo? — Adora perguntou tonta.
— Ameaçando, eu acho. Entrapta, apressa isso aí. Se a gente for obrigado a entrar no teatro então a oportunidade já era.
Adora franziu o cenho e espionou a outra extremidade do corredor. Devia haver alguma passagem secreta que dava para o escritório da Weaver. Algo assim.
O segurança apontou justamente para o corredor e entregou uma chave à Catra com medo. Ela disse outra coisa ameaçadora a ele, que fez uma cara de choro e assentiu. Catra saiu rebolando e chamou os agentes para que a seguissem.
— O que disse pra ele? — Bow perguntou em passos rápidos. Catra deu um sorriso malicioso. O segurança recobrou a postura, mas olhava o grupo com medo.
— Conheço aquele segurança faz tempo. Hordak, o nome dele. Fiz o que qualquer pessoa faria: perguntei se tem algum quarto aqui e pedi as chaves, senão ele perderia o olho bom ali mesmo e depois o emprego. E olha que eu faço isso tudo mesmo.
— Você é cruel — Adora disse.
— Obrigada — Catra sorriu satisfeita, como se realmente fosse um elogio. Ela suspirou, contente. — Quando eu tinha oito anos arranquei o dedo da minha governanta porque ela não quis me dar sorvete no almoço. Foi memorável.
Catra ergueu um dedo que pendia a chave. Eles procuraram qualquer porta naquele corredor infinito e repleto de quadros assustadores de demônios em um céu de fogo, corpos humanos raivosos e sangrentos no chão correndo até o rio, sem salvação. Adora se perguntou se realmente tinha salvação para si mesma a essa altura.
O som de seus saltos ecoaram no corredor em um som irritante. Acharam uma porta quase no fim, e a herdeira de Weaver abriu com delicadeza.
— Parece que essa sua amiguinha nerd não ajuda em nada mesmo — Catra disse revirando os olhos. — Se não conseguiu achar esse cômodo, imagina o escritório.
Adora sentiu a boca ficar amarga. Ela tinha razão.
Bow procurou o interruptor e o acendeu. Luzes paralelas em lâmpadas retangulares ligaram no teto e eles descobriram que na verdade se tratava mesmo de um quarto. Grande parte das paredes eram de vidro e exibiam uma linda vista da cidade ao redor. Outra porta deveria levar ao closet. Uma cama gigante se encontrava próxima à parede e o carpete era limpinho. A penteadeira enorme estava cheia de produtos para a pele, perfumes e maquiagens. Catra inspirou, sentindo o cheiro familiar de Chanel N° 5. Todo o cômodo tinha cores neutras mais voltadas para tons escuros.
— A planta desse lugar não faz sentido — Bow passou a mão pelo queixo e coçou. — Precisamos procurar mais. Shadow Weaver deve ter um computador aqui em algum lugar.
— Precisamos de um kit de primeiros socorros, isso sim — Catra se apressou e levou Adora consigo. — Bow, procura alguma passagem, objeto, sei lá. Qualquer coisa estranha. Vou ajudar a Adora a parecer como gente.
Bow assentiu. Adora não protestou quando Catra a levou até o closet iluminado cheio de armários lotados de roupas, sapatos, bolsas e jóias. Catra não pareceu impressionada (claro, aquele seu sapato Gucci devia valer uns três salários mínimos). Mas Adora observou o cômodo com curiosidade. Assim como aquele hotel todo, era chique e com cheiro agradável e forte.
— Fecha a boca ou vai entrar uma mosca — Catra disse rindo. Adora mostrou o dedo do meio.
— Já fui pra lugares muito mais caros que esse, mas sei lá, ainda não me acostumei.
Catra sorriu compreensiva, mesmo que não soubesse como era a sensação. Ela achou um kit de primeiros socorros num banheiro adjacente e voltou com a caixa. Adora sentou em um banco estofado circular que mais tinha o tamanho de uma cama e deixou que a outra cuidasse de seus ferimentos.
— Pensei que espiões ganhassem um salário bom — Catra murmurou e buscou algodão e álcool. — Tipo o Brad Pitt.
Adora ergueu uma sobrancelha (e doeu).
— Você quis dizer Tom Cruise.
Catra deu de ombros.
— Mesmo cara.
— Nada a ver.
Percebendo que não havia álcool o suficiente, Catra buscou uma garrafa de vodka no quarto que estava ali apenas para ser exibida. Seria bom o suficiente para desinfeccionar. "O banheiro tem duas pias e nenhum sabão, que hipocrisia" Catra reclamou.
— O Brad não fez aquele filme que era um espião com a Angelina Jolie? — Catra franziu o cenho ao tentar lembrar e Adora soltou uma risada. — Ah, que seja, você entendeu. Os dois são ricos pra caramba.
Adora chiou quando Catra limpou seu rosto com o algodão molhado, uma ardência horrível, mas não se afastou.
— Eu tenho dinheiro — enfatizou. — Mas não fico esbanjando por aí. Tenho uma casinha legal, uma moto...
— Uma moto! — a outra se empolgou, interrompendo-a.
— ...consigo assinar um monte de streamings e comprar os livros que gosto. E o Palácio ainda cobre meu plano de saúde.
Catra riu.
— Eles seriam uns escrotos se não fizessem. O tanto que você deve se machucar, puta merda... — a mente de Catra vagava. Seu rosto estava bem próximo do de Adora. — Parece uma vida dos sonhos.
— Não é como se eu tivesse tempo pra assistir séries ou ler. O trabalho e os treinos consomem tudo.
— E você não pode tirar férias?
Adora franziu o cenho.
— Sim, mas... Essa é uma rotina de anos. — Ela pensou em Mara. — Minha treinadora diz que preciso manter o foco.
— Sua treinadora parece ser uma controladora obcecada e nojenta.
Ela fez um gesto para que Adora tirasse a roupa. Ela o fez sem protestar, ficando apenas de sutiã e calça. Aproveitou a pausa e jogou os sapatos para o lado. Era bom descansar os pés. Elas ficaram em silêncio um minuto, apenas o som de Bow revirando as coisas no quarto quebrando o clima.
Catra encarou a barriga de Adora com medo e empatia.
— Tá bem feio.
— Não me diga — ela conseguiu rebater com a voz baixa, o mínimo de sarcasmo possível. — Acho bom ter muito gaze aí.
Catra assentiu e lutou contra a vontade de vomitar ao limpar o ferimento que mais parecia a boca de um vulcão — só que ao invés de lava, havia sangue, o que para Catra não fazia muita diferença.
Adora soltou um xingamento sujo quando Catra limpou o local do corte que a faca de Lonnie fez. Ela costurou tudo do melhor jeito possível pois não tinha tanta experiência assim. Depois enrolou tudo com gaze. Ficou uma manchinha de sangue, mas já não era tão grave. Adora aproveitou o kit de primeiros socorros e tomou um analgésico, engolindo comprimidos e o vodka para ajudar.
Catra costurou alguns cortes que a loira tinha na sobrancelha e limpou outros nos braços e ombros.
— Você parece uma múmia com tantas faixas — Catra brincou.
Adora suspirou cansada.
— Espere um segundo — os olhos de Catra brilharam quando disse isso.
Adora chutou as roupas inúteis no chão só pelo simples prazer de revidar a frustração em algo. Aquela noite definitivamente não estava sendo o que ela esperava.
Do quarto, Bow reclamava com Entrapta nos fones, e Adora ouvia tudo.
A loira deitou-se no sofá circular e visou as lâmpadas de formato esquisito. Tudo era esquisito. Ela fechou os olhos, tentando retomar os flashes de sua vida de muito tempo atrás.
Tentou lembrar dos momentos em que matou pessoas, mas não conseguiu. Era como se alguém desligasse uma chave em seu cérebro e ela simplesmente não fazia nada porque queria. E quando tudo acabava, a chave ligava e Adora voltava a ter consciência.
Era uma observadora do próprio caos.
Talvez seja melhor assim, ela pensou. Nunca lembrar do momento, apenas sentir um pouco, como se fosse um sonho.
— Pode ficar assim, eu não me importo — Catra disse calmamente e Adora engoliu seco. Ela permaneceu deitada e Catra ficou por cima, uma perna de cada lado. Ficava tão bonita naquela luz, especialmente com sua pele marrom brilhando em dourado. Uma mecha curtinha caiu na frente de sua testa quando se inclinou para mais perto. — Você gosta de ficar por cima ou por baixo, Adora?
Adora bufou e deu um tapa em Catra.
— Quer descobrir?
— Qualquer dia desses. — Catra riu com malícia.
Adora não conteve as bochechas vermelhas. Catra trouxe consigo um conjunto de maquiagem em uma daquelas caixas enormes com tantos compartimentos que nem Adora sabia para o que serviam. Ela retocou sua maquiagem borrada em várias partes, deixou as olheiras menos perceptíveis e usou uma cor que ressaltava seus olhos azuis.
Tentou não ficar tensa com a sensação do corpo de Catra em cima do seu, a respiração dela indo de encontro com a sua. Ela se perguntou se Catra conseguia sentir seu coração batendo rápido como se fosse explodir ali mesmo.
— Ótimo — Catra disse quando finalizou. — Acho que achei um vestido certo pra você.
Adora aceitou a roupa. Não tinha muitas opções mesmo. Era isso ou o terno em frangalhos.
Catra sentou no puff capitonê redondo e observou Adora de costas com uma exclamação. A loira estava apenas de calcinha boxer e sutiã — e parecia tímida o suficiente.
— O que é isso? — Catra perguntou quando viu o desenho tatuado nas costas musculosas de Adora.
Duas linhas se cruzavam, com alguns losangos e pontos do meio, formando a figura parecida com a de um coração. Bem no centro havia uma espada apontada para baixo.
Adora umedeceu os lábios. Tinha esquecido daquele detalhe.
— Está na língua dos Primeiros. Longa história. Representa um coração, vida e força. E a espada representa a Rebelião. Todos os agentes treinados fazem uma tatuagem dessas quando completam dezoito anos.
Catra ficou de pé para observar mais de perto. Percorreu as unhas afiadas pelas costas de Adora como se apreciasse uma devida obra de arte. Ela respirou fundo e disse rouca:
— Você ficou, tipo, cinco vezes mais gostosa agora.
Isso fez a espiã rir. Catra quis dizer que Adora ficaria mais linda ainda se estivesse totalmente sem roupa, mas a loira ainda estava abalada demais para pensar nessas coisas.
Adora continuou de costas porque ainda não estava totalmente preparada para que Catra visse seus seios (não naquela luz). O vestido tinha suporte, então a lingerie não tinha função.
Terminando de se vestir, Adora pôs o vestido branco no corpo. Era justo e de alças bem finas, e era longo sem atrapalhar os movimentos devido à grande fenda na perna esquerda. Tinha detalhes pragueados, o que era lindo. As costas eram bem abertas, deixando a tatuagem à mostra.
— Acha que vão notar a tatuagem? — Adora perguntou tentando olhar as costas no espelho mais próximo. Catra fez um bico e pensou.
Ela pediu uma permissão silenciosa para tocar Adora, que foi aprovada. Seus dedos envolveram o elástico de cabelo da loira e puxaram-no com facilidade, apenas com alguns fios embaraçados atrapalhando.
O cabelo de Adora era longo o suficiente. Um liso bonito, meio ondulado e brilhante. Uma franja caiu sobre a testa, que Catra fez questão de arrumar. Ela soltou um assobio, impressionada.
— Ok, você está mais bonita ainda. Sério, por onde andou durante a minha vida toda, Adora?
Ela sorriu e as duas se observaram no espelho. Catra com o vestido curto e preto, Adora mais iluminada e estonteante. Isso lhe lembrou como as duas eram diferentes, mas podiam entrar em sintonia. Adora, o Sol. Catra, a Lua.
Seus olhos abaixaram, tristes. Glimmer teria amado aquilo.
— Eu sinto muito — Catra murmurou como se escutasse seus pensamentos e deu um abraço gentil e confortável em Adora. — Essas coisas não são fáceis.
Adora retribuiu o gesto.
— Sinto muito por sua mãe ser uma escrota.
Catra assentiu em resposta. Ainda era difícil falar sobre tudo: os treinamentos desde crianças, as famílias, as mortes...
Catra a fez se sentar no puff de novo e lhe deu sapatos novos para calçar, além de tiras para serem amarradas nas pernas e prenderem uma faca e uma arma que Adora carregava. Ela recebeu brincos e pulseiras também, porque "um pouquinho de brilho nunca é demais."
— Hey, Adora — Catra chamou baixinho, tímida e sem jeito, sentada ao seu lado. — Você lembra do que aconteceu na festa?
A loira engoliu seco.
— Não muito. O suficiente.
A outra sorriu de canto.
— E você lembra...?
— Sim. Isso sim.
Elas falavam sobre aquele beijo maravilhosamente delirante. Se fechasse os olhos, Adora ainda conseguia sentir a língua de Catra em sua boca, o gosto dela, e todos os cantos do corpo que ficaram quentes por conta disso.
— Eu gostei — Adora disse e tocou seu rosto. — Não sei como essa noite vai acabar, mas eu quero te conhecer melhor depois disso.
Catra sorriu sem exibir os dentes. Era exatamente o que ela queria ouvir, e foi até melhor. Seu coração se aqueceu.
Adora a puxou levemente para um beijo, dessa vez mais simples, sereno e, o mais importante, lúcido.
Catra sussurrou, com olhos fechados e boca contra a de Adora. Havia sido um dos beijos mais doces que deu na vida.
— E eu quero andar na sua moto um dia.
— Se sairmos daqui vivas.
Adora soltou uma risada, e ambas se divertiram com isso.
Catra beijou Adora de novo, um pouco mais intensamente dessa vez, fazendo carinho em seus cabelos loiros e volumosos.
Ela era tão hipnotizante que Adora se perguntava se sempre seria assim. Desde o momento que bateu os olhos em Catra, seu corpo havia sido guiado por um caminho sem volta de desejo. E ao conhecê-la um pouco mais, deu-se conta de que uma era mais complicada e misteriosa que a outra. Mas nada disso importava. A noite inteira naquele hotel andava uma merda, com exceções de Catra e Bow e uma pista escondida naquele quarto. Catra podia ser um erro de Adora — e à essa altura ela não dava a mínima.
Catra era uma ideia ruim, mas Adora gostava de ideias ruins.
— Meninas! — a voz desesperada de Bow soou alto do quarto. — Achei algo!
Elas encerraram o beijo e o que mais estivesse por vir e voltaram ao quarto.
— Caramba, Dorinha — ele disse impressionado, olhando-a dos pés à cabeça. A loira sorriu. — Você parece uma milionária.
— Obrigada — Catra respondeu. — Eu que fiz.
— Encontrou alguma coisa?
Respondendo a pergunta da amiga, Bow tirou um tapete do caminho, localizado embaixo da penteadeira. Ergueu o material, revelando um azulejo estranho ali no meio, de uma cor quase diferente dos demais, mas que se olhasse de certo ângulo, ele mudava de cor. Adora não teve tempo de processar aquilo porque ele já pressionava o local com o pé.
Os três se assustaram com o som estranho vindo do closet e foram até lá. Onde antes havia o compartimento de casacos, agora se abria como uma porta.
— Na mosca — Adora disse impressionada e satisfeita. Ela e Bow trocaram um cumprimento com os punhos e visaram a passagem. — Está escuro ali.
Como um sinal, lâmpadas pequenas e circulares se iluminaram, revelando a passagem estreita adentro. Não parecia ter fim, mas ao menos era algo.
— Entrapta, você achou isso? — Bow perguntou.
— É como se não existisse. Não consigo fazer qualquer leitura de calor, então não deve ter ninguém. Mas... — Ela engasgou e tossiu. Devia ser um milkshake. — Esse quarto todo é estranho. Não vejo vocês aí dentro. Os localizadores estão dando defeito.
Adora ergueu a sobrancelha.
— Estranho. Como se tivesse um campo magnético à nossa volta impedindo tudo em volta de entrar.
Entrapta fez uma pausa.
— Tipo isso, sim.
Adora deu de ombros.
— Inteligente. Então não temos muita escolha agora.
Ela foi a primeira. O espaço só permitia que o trio fizesse uma fila, sendo impossível andar lado a lado. As luzes azuladas fizeram Adora ficar mais nervosa do que já estava. Tudo estava frio, e ela se sentiu como carne em um freezer.
A caminhada já durava cinco minutos e nada.
O ouvido de Adora começou a chiar e ela fez uma careta. Bow imitou o gesto.
— Entrapta? Merda — ele disse. — Acho que perdemos sinal.
— Acha que vamos conseguir mandar tudo pra ela depois de colocar no pen-drive?
Bow balançou a cabeça. Era bom de tecnologia tão bem quanto Entrapta, e pelo visto qualquer arquivo encontrado ficaria guardado até que se reunissem novamente.
— Nós devíamos criar um código — Catra mudou de assunto. Sua voz falhou, claramente com um pouco de medo. — Para quando um de nós precisar de ajuda, ou se as coisas estiverem difíceis.
Adora mordeu o lábio. Foi burrice não ter feito isso logo no início da missão. Talvez ela tivesse se virado bem com a Scorpia no elevador...
Talvez Glimmer estaria viva.
Ela balançou a cabeça e o cabelo loiro flutuou. Não adiantava de nada pensar no que poderia ter feito. Já aconteceu.
— Tipo o quê?
Catra deu de ombros.
— Sei lá. Algo que a gente fale e não pareça suspeito.
— Nós não compartilhamos um fone — Bow disse, prático.
— Eu dou um berro, então.
Adora sorriu.
— Já sei. Que tal "Socorro!"?
Catra deu um cutucão em suas costelas (onde não estava ferido).
— Isso é o oposto do que eu quero.
Bow resmungou, pensativo. O som dos saltos contra o chão faziam um som chato quase metálico, o que atrapalhava o fluxo de pensamento de todos.
— Acho que "regras" é algo bom para se colocar em uma frase. Talvez passe despercebido. É a única coisa que consigo pensar. — Bow deu de ombros. Adora e Catra refletiram por três segundos, e concluíram que poderia dar certo, caso precisassem.
Adora ficou sem ar.
— Chegamos.
Ela se apressou e seguiu em frente. O corredor levava a um espaço fechado, pouco iluminado e quieto. Não havia muito o que olhar — a não ser a mesa no centro com um computador e papéis empilhados do lado, juntamente com uma cadeira no canto. Catra cerrou os olhos para os cantos. Era sem saída, sem câmeras, sem proteção.
— Só pode ser aqui.
— Vamos ser rápidos — Adora disse. Bow já estava se sentando na cadeira quando ela o parou e pôs a mão no couro estofado. — Não está quente. Acho que ninguém vem aqui há um tempo.
Bow passou um dedo sobre a mesa. Não saiu poeira.
— Mais ou menos.
— Então melhor se apressar.
Ele assentiu. O computador ligou, e Bow conectou o pen-drive de uma vez, depois fez coisas que nem Adora sabia o que eram. Acessou todo o tipo de arquivo necessário e desnecessário e copiou, depois enviou. Aquilo tudo era uma tela estranha, cheia de códigos vermelhos caindo como uma chuva de sangue.
— Não dá pra acessar e vermos logo?
— Estou cuidando disso — ele respondeu nervoso. Um relógio imaginário contava os segundos deles ali dentro. — Olhe.
Adora percorreu os olhos azuis pela tela rapidamente. Catra rodava no cômodo à procura de alguma brecha estranha, porque aparentemente tudo era suspeito ali. Eles encontraram o computador, o que já valia o esforço deles — e o que custou a morte da princesa.
— Plantas do castelo de Bright Moon — ela dizia em voz baixa. Era muita coisa. Adora chegou mais perto, mesmo que a luz azulada prejudicasse sua visão.
— Tem de todos os castelos de todos os reinos.
— Espere — ela ergueu as sobrancelhas e apontou o dedo para um projeto desenhado. Bow deu zoom. — Puta merda. São bombas?
— De um tipo diferente. Nunca vi algo assim. — Adora coçou a nuca, desacostumada com o cabelo solto. — Acho que ela quer colocar bombas em todos os castelos.
Bow tentou puxar ar.
— Crime de terrorismo? Por quê?
— Porque ela odeia todos os tipos de monarquia, até as que têm parlamento e tudo o mais. Sem exceções — Catra respondeu dessa vez. Ela estava de braços cruzados, encarando o chão, bem longe deles. Seus olhos eram tristes. — Passei a vida inteira ouvindo isso.
Adora assentiu para ela. Lembrou-se das conversas com Catra sobre isso. Essa obsessão de Shadow Weaver pelas princesas e rainhas.
Como uma oração amedrontadora, ela sussurrou as palavras uma vez ditas por Glimmer naquela mesma noite:
— Acabar com a monarquia em apenas uma noite.
Ela estremeceu.
Bow foi percorrendo as páginas e pastas rapidamente. Era demais para ficarem ali lendo e perdendo tempo.
— É esse o plano, então? Explodir tudo?
— Deve ter muito mais que isso. — Bow apontou para o nome gigantesco na página. Catra se aproximou da mesa. — "Projeto Paraíso". Já ouvi isso em algum lugar, não me é estranho.
— O que mais tá me intrigando — Catra disse apontando para uma notificação verde piscando. O upload dos arquivos foi concluído — é o que o Hotel tem a ver com isso, se a mamãe demorou anos planejando o lugar como se fosse a porra do Burj Al Arab. — Os agentes fizeram uma careta em interrogação. Catra bufou. — É um prédio muito chique. Deixa pra lá.
— Tô entendendo — Adora falou curiosa também. — Mas acho que tenho uma ideia.
— Vamos discutir isso no próximo andar então. — Bow pegou o pen-drive e guardou no bolso do blazer. — Não temos muito tempo e acho que uma apresentação de balé não dura tanto assim. E esse lugar me dá arrepios.
Elas não discutiram. Bow foi na frente dessa vez. Catra entrelaçou sua mão com a de Adora, ambas extasiadas com a descoberta de pelo menos grande parte do mistério.
O trio saiu do quarto meia-hora depois. A apresentação de balé encerrou rápido, resultando em uma multidão de pessoas se reduzindo à poucas no corredor de elevadores.
— Quase chegamos atrasados.
— Entrapta? — Bow chamou-a.
— Estou aqui! Descobriram algo?
— Até demais — ele conseguiu sorrir. Catra e Adora o puxavam para qualquer elevador. — Quando saímos daqui?
— Estou resolvendo isso. Esperem só mais pouco.
O trio entrou. Adora ficou nos fundos com Catra, ainda segurando sua mão em um encaixe perfeito. Toda a ansiedade de descobrir o plano de Weaver a deixou mais nervosa e com um pressentimento ruim, apesar da pequena gota de vitória presente.
Ela tentou conectar o hotel àquilo tudo, porque alguma peça faltava.
Mas estava prestes a descobrir.
O estalo veio apenas quando as portas do elevador se abriram, e em seguida foram levados ao próximo salão, que aparentemente não era nada demais.
Adora suspirou de terror quando encarou o teto cheio de gravuras de homens chorando um líquido escuro enquanto anjos de três cabeças apontando para eles, em julgamento.
Além disso, foi o choque do corpo de Catra se chocando contra o seu que a fez perceber uma horda de pessoas ao redor, todas com ternos padronizados demais. Um mesmo grupo. Seguranças.
— Adora... — Catra chamou-a, mesmo estando literalmente ao seu lado. Seu braço tinha pelos arrepiados. — Acho que estamos cercados. Isso é contra as regras.
Regras.
A mão de Bow parou na cintura, onde uma arma se escondia. Adora fez o mesmo gesto até a coxa. Os seguranças agiram normalmente, calmos, como se não fosse nada demais.
Dois segundos se passaram.
Adora não soube dizer de onde veio o tiro.
...
A Shadow Weaver é meio doida né? Não que isso seja novidade
Aaaaa o que vcs acham que vai acontecer?
A parte que eu mais gosto tá quase chegando! ✨
Aliás, o vestido que a Adora usa é esse aqui:
Eu tava pesquisando alguns vestidos no Pinterest e achei esse PERFEITO
Espero que tenham gostado 💗💗
Vejo vcs semana que vem de novo com muitos surtos 🤭😵💫
Não esqueçam de beber água, entrar no grupinho do WhatsApp e me seguir no Instagram (@/liviawritter) que posto várias coisas sobre escrita, meu livro publicado e em breve sobre o próximo lançamento! 🌈
Beijão 💜💜💜 se cuidem!
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