The Broken and Smart Girl
Prythian; Terras Mortais
Cinco anos atrás
Minha mãe disse que eu era uma indigna quando apareci em casa tremendo, sangrando e toda rasgada na manhã seguinte. Eu chorei por horas e horas e ela me jogou na neve e me mandou nunca mais por os pés lá. Disse que eu tinha desgraçado ainda mais nossa família. Que eu estava machada e que eles teriam sorte se meu estuprador ainda quisesse se casar com Elizabeth.
E eu estava machucada, quebrada, vazia. Eu ainda conseguia sentir a dor, o choro preso na minha garganta, minhas súplicas e meu pedido por misericórdia. Misericórdia que eu não recebi.
Eu me sentia suja. E eu não conseguia parar de rever aquilo repetidas vezes na minha memória, até que aquilo me rasgasse por dentro, me corroendo até os ossos.
Como se vivia depois disso? Como eu poderia um dia voltar a ser o que eu era novamente? Encaixar de volta as partes que haviam sido partidas dentro de mim? Não acho que isso é possível. Nem sequer se eu conseguiria.
Nos piores momentos, desejava morrer. Talvez assim aquela merda toda fosse embora. Queria dormir e nunca mais acordar. Que o gelo me consumisse, que o frio enfim me matasse. Que a fome me levasse.
Ninguém queria abrigar uma garota podre. Porque, no fim das contas, Peter não havia me violentado, eu quem havia dado mole pra ele. Era isso que todos diziam, era isso que eu tinha que escutar enquanto meu peito doía e meu coração sangrava e minha pele estava suja, meu interior estava rasgado, e eu desejava desesperadamente gritar, gritar, gritar e gritar. Meu mundo girava e eu só desejava ter algo para aliviar a minha dor.
Eu estava com frio, fome e me sentindo um pedaço de merda que as pessoas nem mesmo faziam questão de olhar pra desdenhar. Ninguém me ajudou. Ninguém, eu não tinha ninguém.
-Ei, mocinha.- uma voz masculina disse atrás de mim, uma mão tocando meu ombro.
Eu dei um salto, me afastando o máximo que consegui, meus olhos se arregalando em choque e horror, minhas pernas começando a tremer, o medo ameaçando me dominar e engolir. E eu somente rezava, rezava para os deuses que eu nem sequer acreditava. Por favor, não de novo, por favor, não de novo.
-Calma.- disse o senhor me olhando cautelosamente, as mãos erguidas num sinal de boa fé. Mas eu já não acreditava em mais nada e em mais ninguém. Porque uma parte crucial de mim estava quebrada, partida e estilhaçada. -Não vou machucar você.
-Por favor, por favor vai embora.- eu disse, a voz embargada, o medo óbvio em meu rosto. Eu odiava me sentir assim, fraca, inútil, impotente. Mas não era exatamente isso que eu era, que sempre fui? O senhor me olhou com pena.
-Está tudo bem, querida.- disse uma voz feminina se aproximando, e uma mulher surgiu ao lado do senhor, colocando uma mão no ombro dele. -Meu pai e eu só queremos te ajudar.
-Agradeço, mas dispenso.- eu disse. Jamais poderia confiar em alguém novamente. Porque, honestamente, não existiam pessoas boas num mundo quebrado e afundando nas chamas e no caos.
-Não precisa confiar em nós.- disse a mulher com doçura. -Mas aceite essa sacola. - ela estendeu uma trouxinha feita com um cobertor azul (não era bem uma sacola). Quando não fiz menção de pegar, ela suspirou e a colocou sobre o tronco que eu estava sentada. -Tem dinheiro, comida e roupas quentes aqui. Pra você.
-Por que estão me ajudando?- eu perguntei, desconfiado.
-Porque sabemos como é passar fome. Ser expulso de casa.- disse o senhor olhando pra mim. -Use o dinheiro com sabedoria. Vá para o outro continente. Lá vai poder recomeçar, bem longe de todos aqui. E do que a memória desse lugar te trás a tona.
Eles não esperaram por uma resposta antes de se afastarem de mim, me dando o espaço que eu precisava. Eu peguei a sacola, uma lágrima silenciosa escorrendo pelo meu rosto. Tinha dinheiro o suficiente ali. E eu segui as instruções que me foram dadas: o usei com sabedoria.
O Outro Continente; Terras Mortais
Dois meses depois
Eventualmente, o dinheiro se esgotou. E com isso, passar fome se tornou algo do meu dia a dia.
E lá estava eu, na capital, morando nos becos ao lado do grande Castelo das Seis Rainhas Mortais, suja, imunda e largada pras traças.
Se já não bastasse ter que lidar com a minha merda interior, ainda tinha as damas de nariz empinado que me olhavam com desdém e os homens que achavam que eu ia roubar suas barracas de comida. Não que eu não fizesse isso, mas eu era esperta o suficiente para fazer escondido.
E eu tinha estratégias. Era boa nisso. Sempre um plano diferente, sempre como uma missão. E era mesmo: conseguir comida ou morrer de fome. Eu, de fato, havia virado uma ladrazinha barata que precisava disso pra sobreviver. E como eu me sentia em relação a isso? Ah, eu amava.
Porque isso fazia eu me sentir viva novamente. A adrenalina que percorria todo meu corpo nos momentos de ação, as horas e horas enfiada na minha toca nojenta bolando um plano maligno. E eu sabia, ah, eu sabia que se fosse pega um dia seria meu fim.
Hora de lidar com isso. Minha barriga estava roncando.
O vendedor da barraca de frutas era o mais idiota de todos. Burro, era só um par de peitos aparecer em sua frente que ele esquecia completamente o resto do mundo.
Pro tipo de gente como o velho Henry, nós devemos usar pessoas para conseguir o que queremos. Ele nunca prestaria atenção numa garota magrela e suja de dezesseis anos, mas que tal em uma prostituta com um par de peitos gigantes? Ah, ai já e outra história.
-Não esquece minha parte nisso, coisinha.- disse Penélope me dando um sorriso sarcástico. Eu simplesmente a ignorei, era assim que nossa relação funcionava. Ela era a marionete e eu a mão que controlava.
-Vai logo. Vou roubar a caixa dele hoje.
-Não acha arriscado?- perguntou ela e, se não fosse o fato que ela só pensava em si mesma, diria que estava se preocupando comigo.
-Não dou a mínima. Gosto da emoção.
-Você vai ser morta um dia, garota. Se te pegam, você perde a cabeça.
-E eu não ia me importar se isso acontecesse. Como pode ver, minha vida já é uma merda. - eu disse irritada, dando um empurrão em Penélope na direção da barraca. -Vai logo, cacete.
-Tá, tá, projeto de piranha, já to indo! E vê se não enrola, porque esse velho é nojento.
-Mostra mais os peitos. Talvez queira arranca-los pra fora da camiseta logo.- eu disse a provocando e ela riu antes de me mostrar o dedo do meio.
Fiquei escondida, somente analisando enquanto Penélope se atirava em Henry. Ele estava literalmente babando pra ela, os olhos fixos nos peitos da garota. Perfeito. Hora de criar uma distração pro resto das pessoas ao redor.
Peguei o rato que havia colocado numa caixa velha pelo rabo, o animal se contorcendo na minha mão e chiando. O enfiei no bolso furado do casaco e caminhei entre as pessoas. O bom de ser uma garota de rua, é que ninguém olhava pra você duas vezes. E fazia de tudo pra evitar seu olhar.
Assim que cheguei perto o sificiente, estiquei a mão e enfiei o rato pelas costas abertas do vestido da mulher ao lado. Quando ela começou a gritar, eu já estava agachada e me enfiando dentro da barraca de Henry.
Eu poderia ter ficado ali somente para apreciar o furduncio que havia causado. Quando entrei na barraca do homem, foi extremamente fácil achar a caixa que ele guardava a grana. E extremamente fácil arrombar o cadeado.
Enfiei metade do dinheiro no bolso. Ei, sou uma ladra, mas tenho ética, não ia deixar o cara sem nada!
Depois disso, saí de fininho. A mulher ainda gritava por conta do rato e Penélope ainda estava ocupada com o Mrs Henry.
Saí andando despercebida da mesma forma que havia chegado ali. E um sorriso satisfeito foi crescendo nos meus lábios. Isso até alguém agarrar meu braço.
Quando me virei, quase caí dura. A mulher parada diante de mim tinha pele marrom, olhos inteligentes e frios e rugas que cobriam seu rosto. Ela me deu um sorriso frio, um que fez um calafrio percorrer minha espinha.
-Você é uma garota esperta.- ela disse. -Mas deveria analisar bem todos ao seu redor, e não somente os perto da barraca. Alguém pode estar sempre de olho.
Merda, eu tinha sido pega. Pela primeira vez, tinha que admitir minha derrota. Nem sabia o que viria a seguir.
-Está bem.- eu disse forçando um sorriso. -Você me pegou. Quer o dinheiro? É seu. Quer me entregar pras rainhas? Vai fundo. Admito minha derrota.
-Tão nobre e corajosa. - ela disse estalando a língua.
-Bem, acho que não vai fazer muita diferença depois que as rainhas me matarem, certo?- eu respondi e vi o brilho malicioso nos olhos daquela senhora.
-Língua afiada. Assim como a mente. Interessante.
-Senhora!- disse um homem e a mulher se virou, ainda segurando meu braço. -Está criança está te importunado? Posso tira-lá daqui. - o homem desceu a mão até o cabo da espada presa no cinto, e eu engoli em seco. A mulher sorriu pra mim.
-Não, Jeffrey. Ela não estava me incomodando de forma alguma. Vá buscar minha carruagem, por favor.
-Sim, majestade.- ele disse fazendo uma reverência e se afastando. E ai que eu quase tive outro desmaio.
Porque aquela mulher na minha frente não era qualquer mulher. Era uma das seis rainhas. A mais velha de todas, a mais fria e calculista. Rainha Luna.
-Então, acho que é você que vai me matar, afinal das contas.- eu disse e, deuses, porque não conseguia manter a droga da língua dentro da droga da boca?
-Matar? Porque mataria se você possuí habilidades que podem me ser úteis?- ela disse e eu franzi o cenho. -Te farei uma proposta e somente farei uma vez. Se aceitar, então sairemos daqui juntas, como velhas amigas. Vai ter uma casa, comida, roupas e um propósito. Se negar, vou fingir que nosso encontro nunca aconteceu e pode levar esse dinheiro com você.
-Estou ouvindo.
-Venha morar comigo no Palácio. Treine todos os dias, de manhã essa mente afiada, de tarde suas habilidades estratégicas, e de noite, luta. Treine, prove seu valor, e se conseguir, terá para sempre um lar na minha casa.- ela disse e eu tive que me segurar pra não a olhar boquiaberta. -Mentes como a sua são raras e eu faria um bom proveito delas. O que me diz...
-Aisha. - eu respondi e ela sorriu, docemente dessa vez.
-O que me diz, Aisha?
Eu nem sequer pensei duas vezes.
-Aceito sua proposta.
Boa noite, meu povo
Enfim, um único aviso: como a Sarah J Maas nunca falou os nomes das rainhas (não todas, no caso só sabemos duas, a Vassa e a outra lá que ta morta) eu inventei um nome pra bicha porque ela vai ser importante na vida da Aisha
Enfim, espero que estejam gostando!
Vejo vocês no próximo capítulo!
~Ana
Data: 04/02/21
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