{ Alynia & Lucien }
Corte Noturna
Velaris
Dois meses antes
Alynia estava esparramada no sofá da Casa do Vento, o estômago embrulhado enquanto Nestha falava e falava sobre técnicas Valquirias que ela havia aprendido. Alynia não entendia absolutamente nada sobre o treinamento de sua melhor amiga, e, obviamente, preferia o treinamento illyriano, mas adorava ver o brilho voraz nos olhos de Nestha.
-Me sinto como um pedaço de merda. - choramingou Alynia novamente. Nestha, pela terceira vez, ficou tensa, as costas eretas, quando a illyriana comentou. -Que merda está acontecendo, Nes? Eu não posso falar nada que você me olha com essa cara!
-Nem comece, Sallow! E vê se para de ser louca!- disse Nestha e Alynia riu.
-Esta sala cheira a sexo. Por favor, por favor, me diga que você e Cassian não transaram nesse sofá que estou sentada agora. - ela disse infeliz e Nestha gargalhou. Algo tão raro, mas que a illyriana adorava ouvir. Sempre fazia Alynia abrir um pequeno sorriso em resposta.
-No sofá, não. Já na mesa ali do lado...
-Pelo Caldeirão!- disse Alynia rindo.
-Vai dizer que você e Lucien não são iguais?- desafiou Nestha e Alynia franziu o cenho.
-Sexo selvagem? Não, obrigada. - disse Alynia e Nestha arqueou a sobrancelha. -O que é?
-Você tem cara de quem curte um sexo selvagem.- disse Nestha dando de ombros.
-Costumava gostar, mas isso foi antes de Lucien. Quando sexo era somente sexo.- ela disse e Nestha abriu um sorriso malicioso e Alynia praticamente podia ver as palavras naqueles olhos. -Não fode, Archeron.
-Ah, que fofinha, ela gosta de dormir de conchinha depois de fazer amor. - zombou Nestha recebendo um gesto vulgar da illyriana.
-Eu vou enfiar minha adaga no seu pescoço.- grunhiu Alynia. Nestha riu.
-Você pode tentar.
-Sabe, você está falando com a primeira guerreira illyriana da história, que foi a primeira fêmea a chutar traseiros illyrianos no Rito de Sangue, que chegou a montanha sangrando, cortada de fora a fora, mas ainda assim matou dez imbecis, que se tornou uma oristiana no final. Que matou o Grão Senhor da Corte Outonal. Matou a cadela da Clythia lindamente. Passou vinte e nove dias sendo torturada e não cedeu. Posso continuar o dia todo. Sabe, nada de uau, Archeron.- disse Alynia, se virando para encontrar Nestha sorrindo pra ela.
-Orgulhosa prepotente.- suspirou Nestha.
-Oh, eu definitivamente sou. - disse Alynia.
Ela sentiu o estômago revirar novamente, e dessa vez ela não aguentou. Deu um pulo e correu até o banheiro, vomitando tanto que a fez pensar que talvez devesse visitar Madja. Suas pernas tremiam, a cabeça girava. Deuses, como ela estava mal.
Uma batida suave na porta a tirou daquele estado de choque. Ela usou a magia de seus sifões para abrir a porta e Nestha estava lá, os braços cruzados.
-Acho que vou ter que ver Madja. Não me sinto nada bem.
-Você realmente não percebeu nada, Alynia? - disse Nestha e a illyriana franziu o cenho.
-Como assim?- ela disse se levantando, cambaleando até a pia e lavando a boca, o rosto.
-Seu cheiro... Está diferente. Não percebe?- disse Nestha e Alynia franziu o cenho. Não, ela havia passado os dias tão ocupada, tão mal que... Que nem notou nada. -Lucien não notou nada?
-Lucien está na Corte Diurna, aprendendo truques idotas com Helion. Talvez uma desculpa para passarem tempo juntos. Fazem duas semamas que não o vejo. Mas perceber o que?
-Que você está grávida.
Alynia parou e encarou Nestha. Piscou. Não; não, ela não estava grávida. Como assim estava grávida? Sim, ela não tomava nenhum anticoncepcional, mas... Grávida.
-Não... O que?- ela murmurou, meio chocada. Nestha deu um sorriso carinhoso pra ela.
-Talvez ninguém tenha notado antes porque estão todos tão maravilhados com Nyx e... De alguma forma, todo o peso de quase perder Feyre... É demais. - disse Nestha. -Mas eu notei. E quero que saiba, minha amiga, que estou profundamente feliz por você.
Alynia deu uma risada, lágrimas em seus olhos, uma felicidade repentina a atingindo, a preenchendo. Ela estava grávida. De um filho de Lucien, o macho que ela amava com todo seu coração partido. A illyriana deixou que a mão descesse até a barriga chapada. Um filho. Nestha foi até ela e a envolveu em um abraço apertado.
-Não quero te deixar ainda mais em choque.- disse a fêmea em seu ouvido. -Mas acho que são dois.
Alynia arregalou tanto os olhos que achou que fossem saltar pra fora. Nestha riu, provavelmente sentindo o cheiro do desespero de Alynia.
-Eles vão rasgar meu útero.- ela disse, se afastando de Nestha para olha-la nos olhos. -Vão rasgar meu útero!
-Você tem anatomia illyriana!- retrucou Nestha.
-E dai? DOIS, NESTHA, DOIS!- gritou Alynia. Nestha espremeu os lábios, tentando conter a risada.
-Sua mãe teve gêmeos. Você tem um irmão gêmeo.- pontuou Nestha.
-Provavelmente o motivo pra eu estar fodida agora.
-Ah, pelo amor, criatura!-disse Nestha. -Se sua mãe conseguiu ter dois e sobreviver, você consegue!
-Dois pares de asas rasgando meu utero.- murmurou Alynia.
-Eles podem nascer sem asas.- ponderou Nestha. -Metade de chance, já que Lucien não é illyriano.
-Que a Mãe me salve.- gemeu Alynia.
-Achei que queria ter filhos.- disse Nestha franzindo o cenho. Alynia riu, os olhos brilhando enquanto ela alisava a barriga.
-Eu queria, e muito. Deuses, Nes, vou ter um filho.- ela disse rindo, as lágrimas escorrendo pela bochecha. A própria Nestha apertava os olhos para impedir as lágrimas de caírem, um sorriso verdadeiro nos lábios.
-Provavelmente dois.- disse Nestha com divertimento e Alynia riu, a abraçando com força.
Elas escutaram passos e logo em seguida Cassian estava parado na porta do banheiro, franzindo o cenho para as duas.
-Que merda estão fazendo num banheiro fedendo a vômito e porque estão se abraçando e chorando?- ele disse fazendo uma careta. Alynia riu.
-Merda, tinha esquecido do fato que logo Cassian vai ser o tio deles. - disse Alynia para Nestha e os olhos dela se incendiaram.
-Qual a probabilidade disso dar certo?
-Espera, do que estão falando?- ele disse confuso.
-Pense o lado positivo: Nyx não vai ter que lidar com os três patetas sozinho.- disse Nestha e Alynia riu.
-Do que estão falando?- disse Cassian mais alto e elas o olharam.
Quando Alynia se aproximou, Cassian sentiu. E então, escancarou a boca antes de dar uma risada verdadeira, a puxando para seus braços e a apertando com força, sem se importar em esmagar as asas dela no processo. Alynia riu.
-Só vê se não abre a bocona grande e conta pra todos antes da hora!- disse Alynia o dando um tapa no braço. Cassian sorria tanto, um brilho verdadeiro nos olhos.
-Não vou dizer. Mas sou privilegiado sim por ser o primeiro a saber.
-Segundo.- corrigiu Nestha. Cassian fez cara feia.
-Contou pra Nestha primeiro?- ele disse fazendo biquinho.
-Não. Nestha que contou pra mim primeiro.- disse Alynia. Cassian rugiu uma gargalhada.
-Você não percebeu que estava grávida?- Cassian estava rindo tanto que teve que tomar um soco de Alynia para parar.
-Imbecil.- ela rosnou.
-E Lucien?
-Ele não sabe.- ela disse com um sorrisinho. -Acho que tenho que ir pra Corte Diurna agora.
-É, acho que sim né.- disse Nestha.
Os três se olharam e riram antes de se abraçarem de novo. Porque uma felicidade daquelas... Alynia se sentia completa de uma forma nova, diferente. Ela nunca achou que pudesse ser mais feliz do que já era graças a Lucien. Até aquele momento.
Corte Diurna
Alynia usou a força de seus sifões para esconder seu cheiro quando Mor a atravessou até a Corte Diurna, após Rhys avisar Helion que ela estava a caminho.
A illyriana havia decidido que não queria que ninguém mais soubesse antes de contar a Lucien e ter mais tempo de gravidez. Então, fez Cassian e Nestha jurarem não dar um pio, nem mesmo para contar a Azriel. Na verdade sua preocupação era com o primeiro, que estava tão animado que só faltava sair voando e quicando por Velaris.
Lucien já a esperava na porta quando ela colocou os pés no Palácio de Helion. Ele deu um sorriso tão cheio de amor pra ela que Alynia quase contou tudo pra ele ali. Ela se aproximou e deixou que ele segurasse seu rosto entre as mãos e a beijasse com carinho.
-Também senti saudades, raposinha.- ela disse o apertando contra ela. Era surreal o fato de como Alynia havia se acostumado tanto com aquele macho que havia se tornado impossível passar alguns dias sem ele. O como ela não queria passar alguns dias sem ele.
E ela havia o odiado, um dia, anos atrás.
Lucien passou a mão pela bochecha dela, bem acima da cicatriz horrorosa que marcava o lado esquerdo do rosto da illyriana. Uma das tantas cicatrizes que ela carregava. Esta havia sido a primeira, resultado de um ataque covarde que quase resultou no corte de suas belas asas violetas. Mas Cassian a havia salvo naquela época e agora Alynia não precisava de ninguém para salva-la de suas batalhas. Bem, talvez somente de Lucien, mas ele a ajudava a vencer outros tipos de batalhas.
-Tempo demais sem você, não estou mais acostumado.- ele disse com um sorriso enquanto esticava a mão para passa-la de forma preguiçosa pela asa ajustada na parte de trás do corpo dela. Alynia estremeceu com o toque. Ele havia explorado cada canto das asas dela e aprendido quais lugares tocar. Lucien deu um sorriso, como se também estivesse pensando nisso. -Vamos pro nosso apartamento. Meu pai disse para nos encontrarmos somente no jantar. - ela ainda ficava meio chocada em ouvir Lucien chamar Helion de pai. Mas fazia ela ficar feliz também, principalmente quando via o como Helion ficava feliz com isso.
-Ótimo. Porque temos assuntos sérios pra conversar, Lucien.- ela disse e ele travou, parando no meio do caminho para olhar sua esposa. Ela reprimiu a risada e continuou andando em direção ao apartamento luxuoso que haviam adotado como deles dentro do Palácio de Helion.
As coisas ainda estavam no mesmo lugar desde a última vez que ela estivera ali, somente com algumas coisas de Lucien espalhadas pela sala.
-Está tudo bem?- ele perguntou segurando delicadamente o pulso dela. Alynia se virou para ele, a verdadeira máscara indecifrável. Lucien fez uma careta. -Sabe, eu odeio quando você usa essa cara. Parece o Azriel!
-Aprendi com ele.- ela disse sem conseguir conter a risada.
-Me diga.- ele disse, a mão segurando a dela. -O que tem de errado?
-Por que acha que tem algo errado, raposinha? - ela peruntou franzindo o cenho.
-Único motivo pra você deixar de lado os vinhos exóticos que Aisha te deu e vir até aqui.- ele disse com divertimento de Alynia deu uma risada fraca.
Ela havia brincado com a mortal, namorada de Azriel, seu belo e idiota parceiro, dizendo que se Aisha queria namorar Azriel, teria que compra-la primeiro com vinhos exóticos. Aisha entrou completamente na brincadeira: enviou a ela uma caixa com seis das melhores garrafas de vinho do reino mortal. Como Aisha havia arranjado dinheiro para aquilo sendo que morava em um cubículo, Alynia não sabia e, honestamente, não se importava.
-Está certo, realmente vim até aqui porque precisavamos conversar.- ela disse com um suspiro e viu as costas de Lucien ficarem tensas, único indício de seu nervosismo.
-Porque não consigo sentir seu cheiro?- ele perguntou franzindo o cenho.
-Porque isso significa revelar tudo.- ela disse com um sorriso. Lucien, ainda assim, estava sério demais.
-Você mudou de ideia quanto a nosso casamento? Está pensando que não deveria ter se casado comigo?- ele perguntou, a olhando nos olhos. Aquilo fez Alynia rir, e os ombros dele relaxaram.
-Claro que não, seu burro!- ela disse o dando um tapa e passando os braços ao redor do pescoço dele, a boca grudada contra a de Lucien. Ela roçou os lábios contra a orelha pontuda dele e Lucien grunhiu. Ela sorriu. -Mas ainda assim tenho algo a dizer. Ou talvez seja melhor que você mesmo sinta.
Então, ela deixou que ele sentisse. Sentisse aquele cheiro que, apesar de fraco por ser tão recente e novo, ainda assim era o suficiente para que Lucien percebesse. Ele arquejou e ela ouviu o coração dele disparar. Os olhos dela se encheram de pura alegria quando ela se afastou de Lucien para olha-lo no olho vermelho e no de metal.
Lucien tinha lágrimas na bochecha e a felicidade dele... Ah, Lucien estava mesmo feliz, pois estava brilhando. Alynia riu em meio a suas próprias lágrimas, e estendeu a mão para secar a bochecha dele com carinho. Ele segurou as mãos dela, a pegou no colo e a abraçou com força. Alynia deu risada novamente.
-Você está grávida.- ele disse num sussurro e ela assentiu.
-Nossa família está prestes a ficar um pouquinho maior, raposinha.- ela disse rindo e Lucien a beijou. A beijou com amor, com carinho, o coração de ambos batendo forte. -Nestha disse que são dois.- ela murmurou contra a boca dele e Lucien engasgou.
-Dois?- ele disse meio incrédulo e Alynia riu.
-Realmente maior, de fato.- ela disse e Lucien riu.
-Eu te amo tanto.- ele disse passando a mão pelo rosto dela e descendo até a barriga. -Vocês todos. Como posso amar dois seres que acabei de descobrir que existem?
-Você não ouse se tornar uma galinha superprotetora que nem o Rhys. - ela sibilou e Lucien gargalhou.
-Sabia que aprender aquele escudo indestrutível ia servir pra algo, no fim das contas. - ele disse com divertimento. Tudo bem, com o escudo ela podia concordar; mas não naquele momento, não quando ela ainda queria sentir aquele cheiro, o cheiro dos filhos deles. Sentir e sentir e sentir.
-Eu te amo, Lucien.- ela disse segurando o rosto dele em suas mãos. -Te amo.
Alynia o beijou novamente, sem pressa, sem nenhum sinal daquele fogo que sempre os consumia. Ela somente o beijou e o beijou, deixando que ele visse o quanto ela o amava, infinitamente. O quanto estava feliz e completa graças a ele e a família que construíram. E Lucien deixou que ela visse também, o quanto ele a amava, o quanto aquela família que estavam prestes a construir significava.
Novamente, ela pensou naquela mesma frase. O mundo podia ruir e se destruír em chamas e gelo. Porque tudo o que importava era Lucien. Lucien e a família que estavam construindo juntos.
Eu fiquei mega boiola escrevendo esse
capítulo
Uma coisinha mais soft depois do caos do outro capítulo
Espero que tenham gostado e matado a saudade dessa duplinha ai
Vejo vocês no próximo capítulo!
~Ana
Data: 26/02/21
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