3 - Só se você também prometer, meu parceiro no crime.
Newt e Peterson se reencontraram no meio do acampamento depois de um tempo, ainda um pouco mexidos pelo o que aconteceu naquele galpão. Depois de reunir Thomas, Brenda e Caçarola para convencer Vince de um segundo resgate, já tinha acontecido.
Peterson era ótimo em convencer as pessoas, tanto que foi ele quem tinha convencido todos do primeiro resgate - depois de Newt animá-lo, claro. O garoto estendeu um mapa e começou a discutir.
—Olha, é bem aqui. —Ele contou, apontando para um círculo no mapa que ele mesmo tinha feito. —Há umas centenas de quilômetros. Pelas ferrovias e pelo o que o Aris contou, só podem estar indo para lá. É para onde estão levando o Minho.
Vince tomou um gole no seu café da sua caneca, mostrando que não estava tão convencido. Então, Peterson continuou:
—Levamos todos que puderem lutar, vamos pela estrada... Por onde der! —Ele se colocou de bruços na mesa. —Voltamos em uma semana.
—Uma semana? —Vince repetiu, um tanto indignado. —Levamos seis meses para chegar aqui, temos mais de cem crianças agora e não vamos poder ficar aqui para sempre, principalmente depois do que aprontamos. Quer se perder em um ponto aleatório do mapa, sem nem saber o que tem lá?
—Eu sei. —Jorge respondeu, aparecendo na porta da sala. —Já faz alguns anos, mas já estive lá. A Última Cidade, era assim que o CRUEL chamava. A base de operações deles.
Jorge olhou para Peterson, depois posicionou-se ao lado de Vince e apontou para o ponto do mapa que indicava o fim da linha, encarando o garoto nos olhos.
—Se essa cidade ainda está de pé, é o último lugar onde você quer ir, hermano. —Ele se afastou e ergueu o queixo, assim como Peterson. —É a toca do leão.
—Isso não é novidade para a gente. —Peterson replicou, balançando a cabeça.
—É. Com meses de planejamento, informações confiáveis e um elemento surpresa. —Vince acrescentou com ironia. —Não temos nada disso agora!
—Vince, eu pensei muito sobre isso...
—Aí! Da última vez que nós fomos capengando, eu perdi tudo! —Vince interrompeu, dando um tapa na mesa e apontando para Peterson. —Você se lembra?
Peterson tirou os braços da mesa e os cruzou, encarando Vince como se a resposta fosse óbvia. E realmente era.
—Claro que eu lembro! —Peterson respondeu, assustando os amigos presentes com o tom de voz. —Também perdi muito desde que saí daquela porcaria de Labirinto, tá bem? Não fale comigo como se eu não soubesse o que é ver alguém especial morrer na sua frente.
—Olha, eu sei que é o Minho. Tá bom? Mas não pode me pedir que eu bote as crianças em risco por um cara. Não vou fazer isso.
Peterson ficou encarando o homem por mais um tempo, mas não disse nada. Depois, levantou o pulso esquerdo na altura do abdômen e o apertou com a outra mão, indicando a ansiedade que ele costumava sentir quando lembrava daquela maldita madrugada. Peterson baixou os olhos, mas quando ouviu um ruído do rádio, olhou para o objeto atrás de Newt.
Todos olharam para o comunicador, esperando algum sinal ou algum som compreensível. E eles conseguiram, mas não esperavam que fosse uma má notícia. Peterson foi o primeiro a reconhecer a voz de Janson no meio dos ruídos de interferência.
—Droga, apaguem as luzes! —Peterson exclamou assim que percebeu.
Todos se espalharam, Peterson até pegou o seu rifle. Ele seguiu Vince até a praia, um lugar mais aberto para tiro à distância, caso houvesse alguma ameaça. Jorge desligou o gerador, apagando toda a energia do acampamento em um segundo.
Chegando lá fora, os dois viram todos correrem para dentro de construções, com o objetivo de se esconder dos faróis dos Bergs. Ao ouvir o som das hélices daquela nave monstruosa, Vince e Peterson viram um Berg acompanhado de um helicóptero. Sempre era assim.
—Eles estão mais perto. —Vince afirmou ao ver que o Berg e o helicóptero iam para a direção oposta do acampamento.
—Tem razão. —Peterson respondeu. —Não dá para ficar aqui.
Vince encarou Peterson e viu como ele estava triste, então passou a mão na cabeça dele. Peterson o abraçou forte e se afastou, indo até o píer de concreto onde Vince tinha feito o seu discurso mais cedo.
Todos já tinham ido dormir, mas Thomas e os outros ainda estavam se preparando.
—Onde tá o Peterson? —Brenda perguntou enquanto se deitava na rede.
—Eu não sei, acho que ele foi só dar uma volta. —Thomas respondeu, se cobrindo até o queixo com o cobertor.
—Ele não vai conversar com a gente hoje?
Newt estava sentado na janela e se levantou a ouvir aquilo, pegando um casaco nas suas coisas e o vestindo.
—Eu acho que vou falar com o Peter. —Ele respondeu. —Não se preocupe, gente. Eu já vou voltar com ele.
—Por que ele tá lá fora? Tá tão frio! —Brenda questionou, encolhendo-se mais no cobertor enquanto Thomas fazia a mesma coisa.
—Ele ficou triste quando soube que o Minho ainda está com o CRUEL. —Thomas respondeu, aconchegando-se enquanto bocejava. —O Peterson gosta de ficar sozinho quando fica triste.
—Mas não faz bem para ele. —Newt replicou, ajeitando o casaco. —Eu já volto.
Antes que mais alguém dissesse qualquer coisa, Newt já tinha saído.
—Esse Newt... —Caçarola riu, deitando na rede enquanto arrumava o travesseiro. —Apaixonado pelo Peterson desde o primeiro dia que o viu.
—E quem não sabe? —Thomas riu junto.
—E você não tem ciúmes? —Brenda indagou, parecendo estranhar o comportamento do irmão do garoto em questão. —Irmãos têm ciúmes dos irmãos?
—Eu não tenho. —Thomas respondeu em meio a um suspiro, fechando os olhos logo em seguida. —Newt faz tão bem para Peterson quanto o ar que ele respira. Como posso afastá-lo dele?
Todos sorriram, mas logo se cumprimentaram para ir dormir, apesar de ainda esperarem para conversar com Peterson.
Chegando no píer, Newt viu que Peterson estava lá na ponta. A lua estava ao lado esquerdo deles e iluminava um pouco a noite escura, mas as estrelas estavam por toda a parte e deixavam o manto azul acima deles ainda mais bonito. O cabelo castanho escuro de Peterson parecia brilhar ainda mais e ver que ele ainda não tinha desfeito aquele penteado deixou Newt ainda mais admirado.
Ele parou em pé bem ao lado de Peterson, vendo como o píer era alto - uma queda de dez metros até a água. Peterson olhou para Newt e sorriu. Newt sorriu de volta e perguntou:
—Posso sentar com você?
—Claro.
Apesar do píer ser largo, Peterson se afastou um pouco para que Newt senta-se, mas foi bem automático. Depois, Peterson se aproximou mais de Newt.
—O que você está fazendo aqui sozinho? —Newt questionou, olhando para Peterson enquanto ele observava a água abaixo deles.
—Só pensando. —Peterson respondeu sem encará-lo.
Peterson pegou no próprio pulso, obviamente o esquerdo. Newt estava cansado de vê-lo ansioso daquele jeito, então tirou a mão dele do próprio pulso e segurou a mão esquerda do garoto, entrelaçando os dedos dele com os seus.
—E eu não preciso ser telepata para saber sobre o quê você tá pensando. —Newt disse, balançando a cabeça. —Eu odeio te ver ansioso.
—Eu também não gosto de ficar assim, mas... E-Eu não consigo evitar.
—Tudo bem, isso acontece. —Newt acariciou a mão de Peterson e ficou em silêncio.
Os dois ficaram de mãos dadas por um tempo, completamente em silêncio enquanto apreciavam aquela imensidão azul. Uma brisa veio, trazendo o gostinho salgado do mar e Newt fechou os olhos para aproveitar melhor, mas acabou se assustando quando Peterson se aproximou ainda mais dele e tremeu um pouquinho, percebendo que ele estava só de camiseta.
Newt nem perguntou nada, apenas soltou a mão dele e tirou o casaco. Peterson ficou meio confuso, mas entendeu quando Newt colocou a jaqueta nos seus ombros.
—Newt...
—Não, pode ficar, Peter. —Newt falou antes que Peterson dissesse que quem passaria frio era ele.
—Obrigado.
—Por nada.
Newt voltou a segurar a mão de Peterson, mas começou a conversar enquanto Peterson se ajeitava no casaco.
—Todo mundo sentiu falta de você lá dentro, principalmente eu. E a Brenda queria conversar com você.
Peterson sorriu.
—Só queria ficar um pouco sozinho. E você? O que veio fazer aqui fora?
Newt o encarou de cenho franzido, como se Peterson estivesse louco.
—Conversar com você, ué! —Ele respondeu como se fosse óbvio. —Eu fiquei preocupado com você.
—Mas eu tô bem! Só queria pensar melhor. —Peterson riu.
—Se você vai atrás do Minho sozinho?
Peterson o encarou, surpreso com a pergunta. Parecia que Newt tinha lido os pensamentos dele.
—Você realmente lê minha mente ou o quê? —Peterson riu, fazendo Newt rir.
—Não, eu só acho que eu pensei a mesma coisa. —Newt respondeu. —Mas você topa ir comigo? Eu enlouqueceria se você fosse sem mim.
—Claro que sim! —Peterson exclamou, um pouco mais alto que o necessário, depois repetiu mais baixo. —Claro que sim. O que te faz pensar que não?
—O Vince. Eu sei que ele é como um pai para você e eu achei que você ficaria muito arrependido em desobedecê-lo.
—Sim, ele é como um pai para mim, mas eu ficaria mais arrependido de não ter tentado ajudar o Minho.
—E se não for uma boa ideia? —Peterson o encarou confuso, então resolveu explicar o porquê de voltar atrás. —Você sabe quem vai estar lá além do Minho.
Peterson suspirou e volta a olhar para a água.
—Eu sei, mas também sei que o Minho faria o mesmo por mim, sem se importar com os obstáculos que ele encontraria. Talvez eu não consiga mesmo lidar com esse segundo resgate, mas eu vou fazer isso por ele.
Newt sorriu e olhou para a água também.
—Eu me esqueci de como você é forte.
—Não sou tanto assim, só um pouquinho.
—Não! Você é muito forte mesmo, de diversas formas.
—O que te faz pensar isso?
—Suas cicatrizes. —A resposta surpreendeu Peterson, o que o fez ficar mais curioso para ouvir. —Todas elas contam um pedaço da sua história. Tem uma na sua perna, de quando descobrimos uma saída do Labirinto e você acabou se cortando na fuga das Lâminas.
Peterson balançou a perna com a cicatriz, apesar de não mostrar por causa da calça que vestia.
—Eu não gosto muito dessa, mas a sua costela machucada por causa de uma fuga num prédio abandonado mostra o quanto você se importa com o seu irmão. —Newt mencionou, erguendo a mão esquerda de Peterson enquanto arregaçava a manga da jaqueta que ele tinha emprestado. —Essa mordida mostra como você é único e valioso. Não só para mim, infelizmente, mas para o CRUEL também.
Peterson sorria mais a cada palavra que Newt pronunciava.
—Bom, a dor enorme no seu pulso e porque você já tinha o torcido antes em uma luta contra o Gally. E venceu o maior e mais forte garoto da Clareira. —Newt riu junto com Peterson. —Perto do seu olho, tem um corte bem pequeno. Não sei se já percebeu, mas o sinal de que você sobreviveu a uma das piores noites da sua vida tá bem aqui, bem na sua costela esquerda.
Peterson colocou a mão na própria costela e sentiu o curativo do machucado que Newt havia mencionado. Era um enorme hematoma roxo, provavelmente Janson havia piorado a sua condição quando o socou no local.
—Eu sei que muitas delas não trazem boas lembranças, mas as cicatrizes que você carrega mostra pelo quanto você já passou. Você é realmente muito forte, mas o que mais me preocupa. —Newt colocou a mão de Peterson sobre seu próprio coração. —São as cicatrizes daqui de dentro.
Peterson sentiu os olhos se encherem d'água, mas conseguiu segurar um soluço.
—Eu não posso vê-las e não sei se o tempo já curou todas, eu posso nem saber que cicatrizes são essas. —Newt continuou. —Me preocupa saber que elas podem piorar, que algumas podem se abrir de novo e que novas podem aparecer, o que é a última coisa que eu quero nesse mundo. Por mais que você se importe, por mais que você sinta a necessidade de ir atrás do Minho, a questão é se você pode fazer isso por ele. E eu não quero arriscar perder nenhum de vocês dois, entende, Peter?
Peterson não respondeu, apenas rodeou os braços ao redor do pescoço de Newt e o abraçou. Newt retribuiu, apertando a cintura de Peterson e fechando os olhos.
—Você ainda não entendeu, Newt. —Peterson sussurrou em meio ao choro. —Não importa o que aconteceu, quanto tempo se passou ou quem me machucou. Se eu estiver com você, eu estou ótimo e sempre vou estar.
Newt se arrepiou pela segunda vez naquele dia, o que se tornava muito frequente quando ele estava na presença de Peterson. Newt apertou Peterson mais um pouco, mesmo com medo de que o machucasse.
—Só quero que me prometa uma coisa. —Newt sussurrou de volta, acariciando os cabelos castanho escuro de Peterson. —Promete que vai ficar bem, Peter?
—Só se você também prometer, meu parceiro no crime.
Newt apertou Peterson mais forte e fez ele rir, pois Peterson sabia como ele ficou contente ao ser chamado pelo novo apelido. E agora Newt faria de tudo para provar a Peterson que realmente era seu parceiro no crime, pois aquele segundo resgate não seria fácil.
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