29 - Que bom que eu não te perdi.
A manhã finalmente havia chegado, acompanhada de um lindo céu azul. A fumaça do fogo semi apagado ainda tomava conta do ar, relembrando os momentos de guerra da madrugada.
Harriet e Vince enfileiravam os corpos com outros membros do Braço Direito que haviam restado. Thomas e Newt procuravam por coisas que ainda podiam ser usadas. Brenda e Jorge estavam sentados um do lado do outro, parecendo refletir. Caçarola fazia o mesmo, mas um pouco distante deles.
Peterson parecia ter voltado de uma trincheira. Sua costela só sangrava mais ainda, com uma dor insuportável, usava uma tipoia feita com um pano velho porque havia torcido o seu pulso machucado e além de tudo, estava sujo de fuligem. Não havia uma parte do corpo de Peterson que não estivesse dolorido.
As pessoas olhavam para ele como um verdadeiro sobrevivente, mas Peterson não se sentia tudo isso. Preferia ter morrido naquela noite, assim não sofreria tanto. Ao pensar em Minho e em Teresa, sentia vontade de chorar, mas não conseguia mais.
Peterson havia se isolado de todo mundo e todos respeitaram isso, mas a vontade que Newt tinha de ficar perto dele era inquietante. Thomas foi o primeiro a tomar uma atitude, indo até o irmão para conversar.
—Oi, Peterson. —Thomas cumprimentou, tentando esconder o desânimo na voz. Ele também estava sujo de fuligem, mas parecia a salvo de qualquer cicatriz física daquela noite.
—Oi, Thomas. —Peterson sussurrou, quase não ouvindo a própria voz.
—Não fale muito, sua garganta já tá ruim. —Thomas alertou, recebendo um aceno de cabeça como resposta. —Eu só queria te dizer que você foi incrível ontem. Você...
Antes que Thomas continuasse, Peterson já balançava a cabeça com os olhos fechados, discordando de tudo o que ele havia dito.
—Peterson, é verdade! —Thomas insistiu. —Todo mundo tava com medo ontem à noite, mas você foi muito corajoso e encorajou todo mundo sendo assim. E você tem que aceitar um elogio de vez em quando!
Aquilo fez Peterson sorrir, acendendo uma pequena vela de alegria dentro dele. Thomas se aproximou e o abraçou, ele retribuiu e ficou um tempo assim. Quando Thomas se afastou, percebeu que aquela pequena vela de alegria que havia acendido se apagou. Ele precisava animar seu irmão de alguma forma. E sabia exatamente quem poderia fazer isso.
—Já sei quem vai te animar. —Ele falou, saindo de perto de Peterson e desaparecendo atrás de alguns destroços do acampamento.
Depois de um tempo, Newt apareceu com uma mochila nas costas, provavelmente carregando o que ele havia encontrado no caminho. Peterson olhou para ele quando surgiu atrás dos mesmos destroços que Thomas havia sumido e voltou a encarar o chão sem dizer nada.
Newt se aproximou dele lentamente e Peterson quase não se mexeu.
—Eu posso... Posso ficar aqui com você, Peter? —Newt perguntou baixo, preparado para dar meia-volta e ir embora, pois sentia que Peterson não queria ninguém por perto.
Peterson não disse nada, apenas acenou com a cabeça. Como ele havia permitido, Newt colocou a mochila no chão e sentou ao lado do amigo, suspirando pesadamente.
—Thomas disse que você queria falar comigo. —Newt comentou, o tom de voz ainda baixo. —Não sei se você ouviu ele me chamar de "namorado do Peterson".
Peterson soltou um risinho, fazendo Newt sorrir, tanto por vê-lo feliz quanto por ter conseguido animá-lo.
—Não ouvi. —Peterson sussurrou, pois sua garganta não lhe permitia falar mais alto. —Na verdade, eu não te chamei, mas fico feliz por ter vindo.
—Imaginei, eu... Eu não sabia se você queria alguém por perto, mas eu queria ter vindo antes.
—Eu só estava com a cabeça cheia. Desculpa.
—Não, tudo bem. Eu entendo.
Os dois sorriram e encararam o chão, ficando em silêncio por um tempo.
—Você é muito forte, sabia? —Newt continuou, virando-se para Peterson enquanto ele desenhava na terra com um graveto e sorria ao ouvir aquilo.
—Todo mundo me diz isso.
—Porque é a verdade. Thomas levou só um soco no rosto e não fez metade do que você fez ontem. Você é guerreiro de verdade.
Peterson sorriu novamente e o silêncio voltou. Newt sentiu que seus esforços não valiam muita coisa, mas Peterson começou a se abrir.
—Eu... E-Eu me isolei porque eu não queria que as pessoas me vissem assim. —Ele explicou, ainda rabiscando na terra.
—Assim como?
—Tão... Machucado. —Ele respondeu baixinho, engolindo o choro. —E-Eu... Eu não gosto das minhas cicatrizes, elas me deixam feio. E eu já não sou muito bonito.
—Não! Isso é mentira. —Newt procurou por um graveto para acompanhar Peterson nos rabiscos. —Você é lindo. Não me lembro de um momento em que você pareceu feio. E você só está... Maltratado.
—É a mesma coisa! —Peterson riu, tossindo um pouco e melhorando a voz.
—Não, não é.
—E qual é a diferença?
—Feio é uma coisa que não tem mais conserto. Tipo eu.
O modo que Newt explicou fez Peterson rir mais um pouco, mas ele logo ficou mais sério, apesar de sorrir.
—Você também é lindo, Newt. —Peterson disse.
—Se você diz. —Newt sorriu, encolhendo os ombros pelo elogio que tinha feito o seu dia. —E maltratado é quando podemos concertar. Você é muito bonito, mas ficou maltratado depois de tudo que aconteceu ontem.
—E quando eu fui mordido, quando levei um soco na costela de Janson e toda vez depois de uma sessão de tortura.
Aquelas lembranças fizeram com que Peterson se sentisse frustrado e ele jogou o graveto longe, fazendo Newt encará-lo.
—Eu discordo. Você não ficou maltratado, você continuou lindo. E eu vou reformular a minha frase: você não está maltratado, continua lindo como sempre.
Newt encarou o chão, tímido e brincou com o graveto que tinha achado enquanto Peterson o encarava com um sorriso.
—Mesmo com um hematoma na costela?
—Mesmo com um hematoma na costela. —Newt afirmou, acenando com a cabeça, mas não encarou Peterson porque estava com vergonha, apesar daquilo ser do fundo do coração dele.
Peterson encarou Newt por alguns segundos, sorridente. Depois, olhou para o chão e murmurou:
—Thomas tinha razão. Ele sabia quem ia me animar.
Newt olhou para Peterson surpreso, mas Peterson continuava a encarar o chão com um sorriso no rosto, o que fez Newt sorrir também.
—Olha, você quer fazer alguma coisa? —Newt questionou, meio sem jeito, mas tinha que tirar Peterson dali. —Eu tava procurando algumas coisas que podem ser reutilizadas. Quer me ajudar?
—Pode ser, vamos lá. —Peterson respondeu com um pouco de entusiasmo na voz.
—Tudo bem. —Newt sorriu enquanto se levantava.
Newt ficou de pé, mas viu que Peterson não e virou-se para vê-lo. Peterson tentou se levantar, mas seu machucado na costela limitava seus movimentos. Peterson abaixou a cabeça e retomou fôlego.
—Ajuda? —Newt indagou, agachando-se na frente dele com um sorriso.
—Por favor. —Peterson respondeu com um sorriso, pendendo a cabeça um pouco para o lado,
Newt colocou as mãos na cintura de Peterson, com cuidado para não acertar seu machucado. Peterson agarrou um dos braços de Newt e apoiou-se no amigo, impulsionando o corpo com as pernas. Rapidamente, ele já estava de pé e eles ainda não haviam se soltado.
Os dois se encararam. Os olhares de ambos eram indecifráveis, mas tanto Newt quanto Peterson sabiam que eles estavam tentando dizer alguma coisa. Depois de alguns segundos assim, o braço de Peterson escorregou para debaixo do braço de Newt e ele mergulhou o rosto na jaqueta do amigo, abraçando-o da maneira que conseguia.
—Que bom que eu não te perdi. —Peterson sussurrou.
A voz fora abafada pelo casaco, mas Newt pôde ouvir como se tivessem sido sussurradas no seu ouvido.
Newt não disse nada, apenas retribuiu o abraço e apertou Peterson fortemente, encostando o nariz no ombro de Peterson. Ouviu que ele soluçou baixinho e o apertou mais forte ainda, fazendo esforços para não chorar também. E foi naquele triste e simples momento que Newt percebeu algo que jamais mudaria.
Peterson era o garoto que ele amava e Newt faria a maior loucura das maiores loucuras por ele.
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