25 - Viram? Eu sou um fofo!
Peterson se sentou em um pulo, assustado por algum motivo. Ao olhar ao redor, percebeu que estava em uma tenda pequena feita de bambus finos. A cama era tão confortável que o fazia sentir vontade de deitar de novo, mas Peterson ainda não tinha entendido como tinha parado ali, muito menos o que tinha acontecido. Ele costumava dormir em redes com o resto dos amigos. E onde estavam? Apesar de ter outra cama do lado esquerdo da tenda, ela estava vazia e bem arrumada.
Depois de recuperar um pouco o fôlego, viu que suas roupas eram novas e nunca imaginou que uma camiseta verde claro lhe cairia tão bem. Peterson colocou os pés no chão, sentindo uma pontada de dor na sua costela esquerda, tão dolorosa que fez uma careta e levantou a camisa para ver o que era. Ao fazer isso, viu um grande curativo branco com uma mancha vermelha bem clara, trazendo à mente tudo o que havia acontecido antes de ter apagado no chão do Berg.
Seu ferimento. Janson. Teresa. A Última cidade.
Peterson arrumou a roupa, encarando o chão e suspirando profundamente, sentindo um leve ardor na bochecha esquerda por causa de um arranhão. Todas aquelas lembranças pareciam tão distantes, mas ao mesmo tempo tão reais. Sonhos vívidos, do tipo que não sabemos dizer se realmente aconteceu ou não. E Peterson esperava que tudo aquilo não passasse de um puro pesadelo criado pelo seu subconsciente.
Ele calçou os sapatos, estranhando o fato de ouvir as ondas quebrarem mais alto do que de costume e de que ninguém tinha vindo acordá-lo, como muitas vezes faziam. Normalmente, o seu despertador era Thomas ou Newt, mas onde eles estavam?
O garoto tirou o pano fino da sua frente para se situar, e ao passar pela porta, Peterson constatou que estava em outro lugar.
Era uma linda praia, tanto que parecia um sonho e Peterson ficava cada vez mais confuso quando tentava definir se era realidade ou ilusão. Havia montanhas altas e igualmente lindas à esquerda dela, coberta por árvores bem verdes até a metade delas, depois era tudo rocha. Ao ficar de frente para o mar para apreciar melhor as ondas, viu o navio que o Braço Direito vinha reformando há seis meses - ou até mais, Peterson não tinha recobrado a noção de tempo ainda.
Quando se virou para a direita e se afastou um pouco da tenda, ficou ainda mais confuso, ao mesmo tempo que bem contente. Na parte gramada, havia várias outras tendas, muito mais largas e elaboradas - inclusive, seguras - que aquelas que os meninos costumavam construir na Clareira. Tinha muita gente, muitos cheiros, muitas cores. Era um mundo completamente novo. Peterson não hesitou mais um segundo para explorar o novo lar, mesmo sentindo-se deslocado.
Peterson sentia a brisa do mar balançar os seus cabelos de uma forma tão tranquilizante que a fazia ter vontade de fechar os olhos e se deitar ali no gramado, apenas para curtir o clima do lugar, mas continuou a procurar os seus amigos. Foi quando ouviu uma risada que não ouvia fazia sabe-se lá quanto tempo, uma risada tão gostosa que fez Peterson ter vontade de rir junto. Foi quando ele viu Thomas.
Thomas estava próximo de uma tenda que parecia ser um grande refeitório, em cima de uma fundação de madeira bem nova, rindo e conversando com Newt. Peterson riu com os dois quando viu eles gargalhando por bastante tempo, mas Newt notou a presença do namorado antes de qualquer um.
—PETERSON! —Ele gritou para quem quisesse ouvir enquanto corria até Peterson.
Minho estava lixando algumas tábuas de madeira com Jorge e se levantou no mesmo segundo que ouviu o loiro gritar, logo mais apareceu Brenda, Caçarola, Gally, Aris e Harriet. Thomas ficou estático, tentando crer nos próprios olhos, mas não hesitou em se aproximar dos amigos que encaravam Peterson com certa tristeza no olhar. Vince e Sonya vinham logo atrás, mas Peterson ainda não tinha notado.
Newt abraçou Peterson como nunca tinha abraçado alguém na vida, fazendo Peterson recuar alguns passos por causa do impacto, o que fez Peterson sentir uma pontada ainda maior na sua costela esquerda. Por não querer fazer desfeita e sentir-se ótimo com o reencontro do namorado, não disse nada, acariciando a cabeça dele de volta e rindo baixinho.
—Que bom que você acordou! Eu tenho um milhão de coisas pra te contar e te mostrar! —Newt falou, olhando Peterson nos olhos. —Eu e o Thomas fizemos desenhos durante a viagem de barco pra você não ficar por fora, mas você tinha que acordar justamente quando eu não estava no quarto com você?
Peterson ficou atordoado pelo velocidade que Newt tinha falado com ele, mas ficou empolgado mesmo assim.
—Newt, não fui eu que escolhi isso, ok. —Peterson riu, parecendo um pouco exausto enquanto passava a mão no cabelo loiro e macio do namorado.
—Eu sei. —Newt sorriu enquanto passava as mãos pelo cabelo de Peterson, o bagunçando um pouco.
Newt abraçou Peterson com mais força e se afastou, Peterson sorriu e passou a mão pelo cabelo para tentar ajeitá-lo.
Depois de olhar para o namorado uma última vez, Peterson se virou para o resto dos amigos, só que mais sério. Ele sentiu falta de muito gente ali, ao observar todos na sua frente. Depois de conferir umas duas ou três rápidas vezes, viu que Teresa não estava lá, aumentando o receio de que aquele sonho vívido tinha sido mesmo uma memória. Peterson até se lembrou de Chuck, sentindo o seu peito inundar de uma profunda tristeza que logo transbordaria em lágrimas.
O olhar de Peterson estacou em Thomas, uma pessoa que ele não aceitaria perder de jeito nenhum. Apesar de ter perdido a sua amiga e dois dos seus melhores amigos de maneiras horríveis, Thomas estava ali e aquilo era tudo o que Peterson tinha pedido. Ter alguém para lhe consolar, alguém para lhe abraçar, alguém para lhe amar...
Thomas deu um suspiro, piscando algumas vezes ao ver que Peterson suplicava pelo olhar que tudo aquilo tivesse sido apenas um sonho muito doido, mas estava longe de ser. Peterson mordeu os lábios, sem conter as lágrimas nos olhos por um segundo enquanto agarrava o pulso esquerdo. Thomas se aproximou devagar e o abraçou lentamente, logo levando a mão à cabeça de Peterson e fazendo um cafuné que o lembrou dos tempos da Clareira mais uma vez, quando era só Thomas e Peterson boa parte do tempo - e voltaria a ser assim dali adiante. Peterson retribuiu o abraço, sentindo-se um pouco culpado por molhar a camisa azul-marinho do irmão com as suas lágrimas, pois Thomas tinha ficado muito bem naquela roupa.
Depois de mais outros abraços melancólicos e nostálgicos, Thomas e Peterson não desgrudaram mais nenhum segundo, andando de mãos dadas boa parte do tempo. Thomas fez questão de mostrar cada parte do novo acampamento para Peterson, enfatizando como se sentia orgulhoso ao se fazer de metido. Caçarola logo chamou Peterson para almoçar, pois ele tinha acordado tarde e todo mundo já tinha comido, menos Peterson. Aproveitando o momento descontraído, Minho, Gally e Newt se sentaram com Peterson e Thomas para conversar.
—Sentiu saudade do ensopado do Caçarola, Peter? —Newt perguntou, entregando uma tigela para Peterson, pois tinha feito questão de tratá-lo como um príncipe enquanto Diana não liberava o garoto dos últimos cuidados.
—Parece que eu não como faz anos! —Peterson comentou, logo dando a primeira colherada. —Aliás, quanto tempo eu dormi?
—Três semanas, Bela Adormecida. —Minho riu. —Uma delas ficamos no acampamento antigo, porque os imprevistos atrasaram a viagem. As outras duas, foram durante a viagem e alguns dias em terra firme.
Ao ouvir Minho dizer "imprevistos", Peterson se lembrou do que houve e desanimou no mesmo segundo. Todos os outros estavam mais leves como se já estivessem seguido em frente. Não que não se importassem, mas eles pareciam mais felizes. Peterson não teve tempo de superar tudo o que houve, mas se forçou a ficar mais feliz também.
—Nossa, foi bastante tempo. —Peterson comentou, tentando focar no ensopado.
—E você sabia que esse trolho. —Gally começou, apontando para Thomas, que tinha corado no mesmo instante. —Dormiu na tenda médica todas as noites porque tinha medo que você acordasse e o Newt não estivesse lá com você?
Thomas fez um beicinho, meio envergonhado por ser exposto daquele jeito enquanto fazia Minho, Gally e Newt rirem. Agora, Peterson sabia porque tinha outra cama na tenda médica e decidiu entrar na brincadeira.
—Parem de rir dele, coitado. —Peterson riu, agarrando o queixo de Thomas e apertando-o como se fosse uma criancinha. —O Thomas é um fofo. Obrigado, Tom.
Um pouco tímido pela brincadeira, Peterson apenas voltou a comer, mas riu junto com os amigos.
—Viram? Eu sou um fofo! —Thomas riu, mostrando a língua para Minho, Gally e Newt.
—E o Newt é um Romeu apaixonado. —Minho zombou. —Desde que vocês se conheceram lá dentro da Clareira, eu sabia que iria rolar alguma coisa. E vocês nem disfarçam!
—Cala a boca! —Newt e Peterson riram, começando a corar.
—Eu devo concordar. —Gally acrescentou. —Isso porque eu só vi vocês na Clareira e na Última Cidade, perdi todos os episódios do Deserto.
Peterson não disse nada, pois começava a repassar cada memória que tinha o levado até ali, inclusive as ruins. Os meninos discutiam animadamente sobre a relação dele com Newt e Thomas, mas Peterson não conseguia parar de pensar como seria bom ter Chuck ali para brincar com eles também.
—Peterson? Você tá legal? —Minho questionou, chamando a atenção dele em um instante.
—Oi? Tô, sim. —Ele respondeu, ainda meio distraído enquanto brincava com o ensopado, deixando Thomas e Newt meio preocupados.
—Aí, Newt. —Gally chamou, chamando a atenção do loiro. —Que tal um passeio na praia para animar o Peterson? Romântico, né?
—Cala a boca! —Newt e Peterson exclamaram novamente, fazendo Minho e Gally rirem ainda mais.
—O Newt já te contou que ele e o Thomas fizeram alguns desenhos, né? —Peterson apenas afirmou a pergunta de Minho e ele começou a dramatizar de forma exagerada, fazendo muita graça. —O Romeu aqui desenhou mil noites estreladas, "porque todos lembram os seus olhos".
—Agora é sério, para com isso. —Newt disse com seriedade, apesar de sorrir um pouco enquanto corava ainda mais. —Eu só fiz três porque dois não deram certo. E era uma surpresa, Minho!
—Ai, que lindo! —Gally zombou, fazendo Minho rir e Newt revirar os olhos. Thomas ficou quietinho no seu canto, com medo do foco voltar pra ele.
Peterson tinha se comovido com o que Thomas e Newt tinham feito durante aquele tempo todo que ele esteve em coma, sentindo-se até meio mal por não ter dividido esses momentos com eles. Peterson queria pedir para os meninos pararem de curtir com a cara de Thomas e Newt e que aprendessem com eles, pois meninos sensíveis eram os melhores de todos, mas Peterson estava tentando lidar com sentimentos que tinham hibernado durante aquelas três semanas e aqueles que estavam aparecendo agora. Era muita coisa, muita informação e muita novidade.
—O Peterson ficou tão apaixonado que parou de funcionar. —Minho brincou, se erguendo na direção de Peterson para lhe dar um peteleco na testa. —Foi uma flecha que acertou o seu coração?
Peterson ficou encarando seus amigos por alguns segundos, gaguejando alguma coisa, mas sem ter um jeito de dizê-las. O último comentário de Minho não tinha maldade nenhuma, mas Peterson ficou muito ferido ao ouvir, pois lembrou-se que quase tinha sido morto quando foi salvar alguém muito querido.
—E-Eu... Desculpa, eu não prestei atenção. —Ele finalmente respondeu, voltando a atenção para o ensopado, mas sem apetite nenhum.
—Peter, tem certeza que você tá bem? —Thomas indagou, vendo como Peterson parecia desnorteado. —Você parece distraído. Foi alguma coisa que a gente falou?
—Não! Não, de jeito nenhum. —Peterson respondeu depressa, forçando-se a comer porque sabia que estava meio fraco, mas não conseguia engolir mais nada depois do nó que apareceu na sua garganta. —Tá divertido conversar com vocês, eu só...
Peterson olhou para o ensopado, sentindo-se cada vez mais nostálgico. Chuck gostava muito daquele prato do Caçarola, mas adorava encher o saco dele quando chamava o ensopado de gororoba. E Peterson nunca tinha perguntado o que Teresa achava da comida, nem sabia se ela tinha comido alguma vez. Quando menos percebeu, tinha começado a chorar.
—Peter? —Thomas sussurrou, tentando olhar bem para o rosto de Peterson enquanto o cabelo castanho cobria parte dele. —Você tá pensando bem? O Caçarola pode fazer outra coisa. Ou você não tá com fome? O que houve? Quer que eu chame a Diana?
—N-Não, Tom. Obrigado. —Peterson gaguejou, sentindo-se claustrofóbico, mesmo estando em uma tenda aberta no litoral mais lindo que ele já tinha visto. —Eu... Licença.
Sem explicar nada, Peterson se levantou e saiu da tenda.
•Não esqueçam de deixar uma estrelinha ou um comentário, que isso me motiva muito.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro