14 - Você fez sua escolha.
Depois de algumas horas, alguém puxou o pano da cabeça de Teresa, bagunçando todo o cabelo da garota enquanto ela recuperava o fôlego. Teresa passou a mão no cabelo, logo vendo que quem tinha tirado era Thomas. Antes de olhar para frente, ouviu uma voz masculina lhe cumprimentar.
—Oi, Teresa! —Peterson exclamou com toda a sua ingenuidade, já que não tinha entendido muito bem até o momento o porquê de quase todo mundo estar de carranca.
—P-Peterson? Oi. —Ela deu um sorriso rápido e voltou-se para o resto do grupo, que a encarava de forma séria.
Com uma rápida análise, viu que Gally estava ali, mas antes olhou para cada uma das pessoas presentes. Brenda estava sentada à uma das mesas, um pouco afastada enquanto brincava de cartas com Peterson. Jorge estava atrás de uma mesa mais próxima, onde Caçarola estava apoiado na frente dela e Gally, sentado em cima dela. Newt estava ao lado de uma cadeira vazia, que estava entre ele e Peterson, sentado de lado na cadeira.
Thomas jogou o pano que colocara na cabeça de Teresa na mesa e sentou-se na cadeira vazia enquanto Peterson colocava os pés no colo dele, cruzando os braços e encarando os próprios pés. Teresa se perguntou de onde tinha surgido toda aquela intimidade, já que na última vez que tinha os visto, eles mal se falavam quando se encontravam. Porém, logo se lembrou que tinha se passado seis meses, percebendo que aquilo era tempo mais que o suficiente para pelo menos conversarem e finalmente resolver o que tanto quiseram por anos.
—G-Gally? —Ela chamou, surpresa ao vê-lo depois de tanto tempo, especialmente depois do seu fim.
—Vai ser da seguinte forma. —Ele respondeu, jogando um papel na mesa. —Nós vamos fazer umas perguntas e você vai nos dizer exatamente o que queremos saber.
Teresa olhou ao redor, vendo que estavam em uma espécie de catedral abandonada. Ela mal ouviu a pergunta, mas imaginou que seria aquilo mesmo que lhe obrigariam a fazer.
—Vamos começar por uma bem fácil. —Gally continuou, pegando uma cadeira e se aproximando da garota. —Cadê o Minho?
—Vocês não estão achando mesmo que...
Gally colocou a cadeira no chão, interrompendo Teresa com o barulho que ecoou pela catedral. Ele se sentou e apoiou os braços no encosto da cadeira, encarando a refém com indiferença.
—Não olhe para ele. Por que tá olhando para ele? —Gally perguntou, querendo apenas intimidá-la quando viu que ela buscava alguma ajuda de Peterson pelo olhar. —Olhe para mim. Ele não vai te ajudar.
Teresa encarou Peterson mais um pouco, mas não disse nada. O garoto brincava com sua pulseira, parecendo um pouco desanimado com aquela situação, mesmo que Thomas dedilhasse as suas pernas como um carinho engraçado.
—A gente sabe que o Minho tá no prédio. —Gally continuou, fazendo Teresa encará-lo. —Onde?
—Ele está com os outros na contenção. —Teresa respondeu sem rodeios. —Subnível três.
—Outros quantos? —Newt se pronunciou, mas nenhuma palavra saía da boca de Peterson.
—Vinte e oito.
Gally olhou para Brenda, que tinha ficado responsável por resgatar os outros imunes que vieram no vagão com Minho.
—Eu dou um jeito. —Brenda respondeu, jogando uma carta na mesa enquanto Peterson se distraía com sua pulseira.
—Não, vocês não entenderam. —Teresa interrompeu, fazendo todos olharem para ela, exceto Peterson que continuava a encarar os próprios pés no colo de Thomas. —O acesso ao andar é restrito. Você não entra sem identificar a digital...
—É por isso que você vai com a gente. —Thomas respondeu, pronunciando-se pela primeira vez.
—Eu não sei, não. Não precisamos necessariamente dela, né? —Gally deu de ombros, levantando-se logo em seguida e pegando um bisturi na mesa onde estava sentado anteriormente. —Não dela toda, só precisamos do dedo.
Teresa fechou os olhos e suspirou, apesar de uma atitude como aquelas ser esperada.
—Gally, pare com isso. —Foi a segunda coisa que Peterson falou, mas não foi diretamente para Teresa, como ela desejava.
—Tá ficando enjoadinho? Eu te garanto que ela fez muito pior com o Minho.
—Não é esse o plano. Para. —Thomas concordou, levantando-se e tomando o bisturi da mão de Gally.
—Não vai fazer diferença. —Teresa retrucou, finalmente ganhando alguma atenção de Peterson. —Façam o que quiserem comigo, vocês não vão passar pela porta da frente. Os sensores vão captar vocês e...
—Sabemos. —Thomas interrompeu com frieza, brincando com o bisturi nos dedos. —Somos marcados. Propriedade do CRUEL.
Peterson olhou para os dois, com medo de que alguém voasse no pescoço do outro quando Thomas se agachou ao lado de Teresa.
—Vai nos ajudar com isso também. —Ele continuou enquanto Teresa o encarava da cabeça aos pés.
Thomas ergueu o bisturi, oferecendo para Teresa, mas ela se assustou um pouco, percebendo só depois que não iria machucá-la. Peterson se tranquilizou um pouco, vendo que não tinha rolado nada muito estressante até aquele momento.
Teresa não tinha outra opção a não ser ajudar, então tirou o casaco e fez um coque no cabelo. O primeiro tinha sido Gally, depois Newt, Caçarola e Thomas. Por último, Peterson.
—Não quer que eu fique? —Thomas questionou à Peterson pela segunda vez, verificando o sangue no lenço que usava na nuca.
—Não precisa, Tom. —Peterson respondeu com um sorriso reconfortante, tirando sua jaqueta e a colocando em cima de uma cadeira. —Não se preocupe, tudo bem?
Thomas desviou o olhar para Teresa, como se exigisse que não fizesse mal para seu irmão. E ele realmente exigia. Teresa fingiu que não viu e começou a preparar o material, mas se sentiu desconfortável com o olhar que recebeu.
—Tom? —Peterson o chamou, fazendo com que ele olhasse de novo para ele.
—Tudo bem. —Ele respondeu, forçando um sorriso para Peterson e se afastando lentamente, não antes de deixar o pano que usava na nuca em cima da mesa que estava ao lado de Teresa.
Thomas ainda achava que aquele reencontro faria muito mal para Peterson e ele não conseguia evitar o rancor que sentia, mas tentaria se esforçar ao máximo para não deixar Peterson chateado mais uma vez.
—Tenta relaxar. —Teresa aconselhou, depois que o amigo cruzou os braços sobre o encosto na cadeira. —Isso vai doer.
—Pelo pior, eu acho que já passei. —Peterson suspirou, chateado pelo situação constrangedora.
Teresa suspirou também, percebendo que não era a única ali que estava se sentindo mal. Então, ela fez o primeiro corte e Peterson suspirou mais uma vez, fazendo uma careta de dor. Teresa rapidamente pegou um pedaço de gaze e colocou no pequeno corte, tirando o excesso de sangue.
—Por que você mal fala comigo? —Teresa indagou baixinho, indo diretamente para o que ela queria saber. —Você disse que realmente tinha me perdoado, mas age como se não tivesse.
—Na verdade, eu não queria estar fazendo isso. —Peterson suspirou. —Eles não querem que eu fale muito com você, porque todo mundo sabe que eu fui o único que te perdoou. Também acham que você pode tentar me usar, principalmente o Thomas, que ainda não confia nem um pouco em você.
Teresa suspirou, esperava algo como aquilo e não ficou tão surpresa, mas ainda se sentiu chateada.
—Mas eu ainda quero colocar o papo em dia. —Peterson riu baixinho, fazendo Teresa rir também.
—Como anda todo mundo? Além do fato de ainda me odiarem?
—Estão todos bem, só eu e o Tom que andamos meio afetados por causa... Daquela noite. O Newt finalmente me pediu em namoro novamente e Brenda resgatou a mim, Thomas, Newt e Caçarola no túnel de Cranks.
—Não brinca! O Newt te pediu em namoro. —Teresa riu.
—Não tô! E eu fiquei do mesmo jeito quando aconteceu. —Peterson pensou nas outras novidades e foi falando uma por uma. —Caçarola continua cozinhando maravilhosamente, Brenda e Jorge continuam os mesmos de sempre...
—E o Gally? Como o encontraram?
—Aqui mesmo, nos arredores da cidade. Não acreditamos que ele tava vivo. E eu tentei bater nele, mas me seguraram. E o Thomas bateu nele por mim, por causa do que ele fez com o Chuck.
Peterson pareceu triste ao se lembrar disso, mas Teresa tentou animá-la.
—Bater no Gally... Isso é bem a cara de vocês dois.
Peterson e Teresa riram um pouquinho, mas ela continuou a perguntar sobre as novidades para o garoto.
—Falando sobre vocês, como estão?
Peterson não sabia como responder aquela pergunta. Tanta coisa tinha acontecido desde aquela tarde, depois do roubo do vagão de trem...
—Nós... Acabamos brigando, uma vez. —Peterson respondeu, parecendo meio triste. —As coisas mudaram um pouco, mas eu não sei muito bem o que fazer agora. Principalmente depois...
—Depois do quê? —Teresa perguntou, percebendo que Peterson tinha hesitado em responder.
—Depois que eu briguei com o Newt. —Peterson respondeu, mostrando-se muito triste. —Nós fizemos as pazes e tudo mais, mas eu... Não sei, parece que as coisas não são as mesmas, apesar de eu me sentir mais próximo do que nunca do Newt.
—Eu fico muito feliz pelo pedido de namoro, sabia que não ia demorar muito para acontecer, mas sinto muito pela briga. —Teresa lamentou com tristeza também. —Você fala como se tivesse sido uma discussão horrível. Sobre o que era para conseguir abalar tanto vocês?
Peterson gelou ao ouvir a pergunta. Ele estava indo tão bem na conversa com Teresa!
—V-Você. Foi sobre você. —Peterson gaguejou, com medo da reação de Teresa que ele nem sequer conseguia imaginar.
Teresa parou em um segundo, sentindo todo o peso daquela culpa lhe pesar nas costas. Mesmo de longe, ela tinha abalado uma relação que nunca imaginou ter fim. E ontem mesmo ela quase tinha ganhado um.
—Não foi culpa sua. Nós estávamos apenas irritados por causa do resgate do Minho e o Newt ficou irritado com a possibilidade de eu mudar de lado se te envolvesem no plano. —Peterson disse rapidamente, percebendo que Teresa tinha ficado meio abalada. —Não se culpe por isso, por favor.
—Tudo bem, mas eu realmente sinto muito. —Ela gaguejou, voltando ao trabalho e mudando de assunto. —E como ele está? O Newt? Ele ainda parece o mesmo.
Peterson olhou rapidamente para o namorado e o viu colocar o braço na frente do rosto para tossir terrivelmente enquanto colocava um casaco do CRUEL, fazendo-o se lembrar da última novidade sobre o namorado.
—Não totalmente. Ele tem o Fulgor. —Peterson suspirou. —Nós vamos dar um jeito nisso também, enquanto tentamos resgatar o Minho.
—Eu sinto muito por isso também. —Teresa falou, percebendo que Peterson começara a agarrar o punho esquerdo.
—Tudo bem, eu tô começando a me preocupar menos sobre isso. Sei que vamos dar um jeito.
Teresa olhou para o lado e viu Jorge ir embora, deixando Brenda sozinha. Na tentativa de mudar de assunto, Teresa comentou:
—Ela parece bem. E você também. Saudáveis. Como tem conseguido o soro?
—Do que tá falando? —Peterson questionou, meio confuso com o que Teresa dizia.
—De você e da Brenda. Eu achei que ela não fosse estar viva. E eu lembrei do que tinha acontecido naquele shopping abandonado. Quando foi o último tratamento de vocês?
Peterson sentiu alguma coisa ser extraída bem devagar do seu pescoço, mas ficou mais intrigado com as perguntas de Teresa.
—Bom, o dela foi no Braço Direito, a última vez que a gente te viu. E eu sempre andei com uma faca por aí, com medo de que me tornasse um Crank.
Teresa franziu o cenho, um pouco confusa com a resposta de Peterson.
—Mas isso foi há meses. E você nunca fez um tratamento ou ficou doente?
Antes que Peterson respondesse, Teresa tirou o chip da nuca dele e Peterson se afastou com um impulso por causa da dor, levando a mão para trás do pescoço e olhando pro para Teresa, um pouco assustado.
—Peterson, isso não é possível. —Teresa continuou. —Vocês já deveriam ter virado. Não tem como vocês ainda estarem...
—Ei, o que tá acontecendo? —Thomas interrompeu, parecendo um pouco mais calmo do que antes.
Peterson se levantou, entregando o pano que usava para Teresa e abrindo a boca para dizer algo enquanto colocava sua jaqueta novamente, mas Teresa falou antes.
—Thomas, tem alguma coisa no seu sangue e no do Peterson que é diferente. —Peterson compreendeu o que ela queria dizer, mas ficou com medo da reação de Thomas. —É impossível a Brenda e o Peterson ainda...
—Tudo bem, já chega. —Thomas interrompeu, jogando um casaco para Peterson enquanto ele se posicionava ao seu lado, ainda meio atônito pelo o que Teresa queria dizer.
—Não acredita em mim? —Teresa indagou, aproximando-se de Thomas.
—Espera que eu acredite? —Thomas retrucou, aproximando-se dela também e deixando Peterson um pouco alarmado. —Você fez sua escolha.
—Tá tudo bem por aqui? —Gally se aproximou, colocando a mochila em um dos ombros.
Peterson abriu a boca para dizer alguma coisa de novo, mas Thomas o interrompeu, mesmo sem ter a intenção.
—Tá, sim. Já terminamos.
Ele se afastou, segurando a mão de Peterson e puxando-o junto. Peterson olhou para Teresa uma última vez, abaixando o olhar como se pedisse desculpas. Teresa acenou com a cabeça, entendendo que ele não podia fazer muita coisa enquanto Gally a levava para outro lugar, mas pegou o lenço com o sangue de Thomas em cima da mesa discretamente, enquanto segurava o que tinha o sangue de Peterson na outra.
Quando Thomas se aproximou de uma outra mesa, ele soltou a mão de Peterson e o encarou.
—Ela não disse nada para você, certo? —Thomas perguntou, parecendo mais preocupado do que nervoso. —Eu não quero...
—Tá tudo bem. Ela não disse nada. —Peterson respondeu, antes que Thomas pedisse desculpas antecipadas. —Eu juro.
—Desculpa, é que eu...
—Não, é sério, Tom. Eu tô bem.
Thomas o encarou por um tempo, preocupado se aquele reencontro realmente faria bem para Peterson.
—Tá bom. —Thomas disse baixinho, colocando o resto do disfarce de Peterson em cima da mesa e tentando esconder que queria voltar a chorar enquanto saía.
Peterson sabia que Thomas estava fazendo de tudo para protegê-lo de mais algumas cicatrizes no coração, como dissera uma vez. Peterson podia ler por dentro dele que Thomas era o mais assustado de todos ali, apesar de realmente querer fazer tudo aquilo pelo Minho. Peterson sabia que os dois tinham tudo a perder naquele resgate.
O garoto vestiu um casaco furtado de um dos guardas que Thomas tinha lhe entregado antes enquanto pensava nas palavras de Teresa. Será que ele realmente era cem por cento imune como Teresa pensava? E Thomas? Será que ele era como Peterson? Em um súbito, as palavras de Newt naquela noite no píer estalaram na sua mente.
"Essa mordida mostra como você é único e valioso. Não só para mim, infelizmente, mas para o CRUEL também. "
Newt sempre soube, desde o dia que Peterson tinha sido mordido. E aquilo realmente fazia sentido, apesar da insistência dele em pensar que iria se tornar um Crank a qualquer momento. Aquele pavor que Thomas sentia só de pensar no reencontro de Peterson e Teresa não era só por causa do que ela tinha feito naquela noite. Ele também tinha medo de que Teresa descobrisse o quão valioso Peterson era para uma organização como o CRUEL. E Peterson finalmente enxergou o que tanto agoniava seu irmão.
Thomas tinha medo de que tirassem Peterson dele para sempre.
•Não esqueçam de deixar uma estrelinha ou um comentário, que isso me motiva muito.
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