prólogo.
O salão de baile estava repleto de luzes cintilantes e risos abafados. Amélia Dickinson, com cabelos castanhos claros quase loiros, sentia o coração acelerar enquanto entrava no local de braços entrelaçados com seu irmão gêmeo, Edward. A família Dickinson estava completa, exceto pelas irmãs mais novas, Victoria e Mary, que ainda não tinham idade o suficiente para frequentarem esses eventos, então, ficarão em casa junto das babás.
Era seu primeiro evento oficial como debutante.
Usava um vestido azul-marinho deslumbrante, feito com uma seda vinda diretamente de Paris, que combinava com seus olhos da mesma cor. O tecido fluía em torno dela, realçando sua figura esbelta. No entanto, por baixo da elegância, ela se sentia um pouco sufocada pelo espartilho apertado.
━━ Querida, você precisa se acostumar com isso. O espartilho realça sua silhueta e seu busto, atraindo os pretendentes. ━━ comentou Lucretia, que estava ao lado do marido, ao perceber o incômodo da filha. ━━ Você está deslumbrante.
A Dickinson assentiu, embora o desconforto persistisse. Ela não estava acostumada a usar algo tão restritivo. Seus olhos varreram a multidão, observando as outras debutantes com seus vestidos impecáveis e sorrisos ensaiados. Ela se sentia como uma intrusa em um mundo de etiquetas e convenções.
Edward apertou seu braço suavemente.
━━ Respire fundo, Amy. ━━ O garoto sussurou em seu ouvido. ━━ Se manter a calma, talvez consiga atrair a atenção de um Conde ou Marquês.
Ela forçou um sorriso para ele, tentando parecer grata por seu apoio ─ e estava, de certa forma. O salão estava cheio de expectativas e possibilidades. Os cavalheiros de famílias influentes circulavam, e Amélia sentia o peso da responsabilidade sobre seus ombros. Ela não queria apenas atrair pretendentes; queria encontrar alguém que a compreendesse, alguém que visse além das aparências.
Enquanto a orquestra começava a tocar,
Samuel, o patriarca da família, trocou de lugar com Edward e agora era ele quem acompanhava a garota em direção à pista de dança. Seus passos eram hesitantes, mas ela se esforçou para manter a postura. O espartilho apertado lembrava-a de que aquele era um jogo de aparências, mas seu coração ansiava por algo mais profundo.
A morena ajustou o cartão de dança em seu pulso, sentindo-o como um símbolo de expectativas e possibilidades. Ela permaneceu à beira do salão, observando as outras debutantes girando elegantemente pela pista de dança. A música flutuava no ar, e os vestidos esvoaçavam em harmonia com os passos.
Sua família estava por perto, orgulhosa e ansiosa. Seu irmão William, o primogênito dos Dickinsons, dançava com uma donzela, e Amélia não pôde deixar de sorrir ao vê-lo. Enquanto seus irmãos e irmãs brilhavam com seus talentos específicos, ela se via como uma nota dissonante em uma sinfonia perfeita.
William, o primogênito, estava destinado a ser o futuro Lorde da família. Sua postura imponente e habilidades de liderança eram admiradas por todos. Lucretia II, com sua elegância e destreza no piano, encantava as pessoas com sua música. Edward, o valente, dominava qualquer desafio que se propusesse a enfrentar.
Victoria, apesar de jovem, exibia graça e carisma. Ela parecia nascer para a alta sociedade, cativando a todos com seu sorriso e humor encantador. E Mary, a caçula, sonhava em ser uma debutante, e sua juventude prometia um futuro brilhante.
E Amélia? Bem, ela tagarelava sobre livros e escrevia algumas coisas que a própria considerava como "bobas" e sem futuro. Afinal, uma mulher não deveria se preocupar com palavras e versos; seu papel era ser bela, recatada e obediente.
━━ Senhorita Dickison, me daria a honra de uma dança? ━━ Um jovem rapaz questionou-a, e pelos sussurros de sua mãe, Amélia pode entender que ele vinha de uma família nobre e importante.
━━ Claro, Milorde. ━━ Ela estendeu sua mão para ele, que a segurou com delicadeza, conduzindo-a para a o meio do salão.
A garota sentia seu coração acelerar enquanto os passos começavam a seguir a melodia. Ela se esforçava para não errar a dança e para não pisar no pé do cavalheiro. A humilhação seria insuportável.
Enquanto giravam pelo salão, o cavalheiro que a conduzia começou a fazer perguntas. Amélia tentou manter a compostura, respondendo com graça e educação.
━━ Perdoe-me por ser direto, senhorita, mas o que pensa sobre filhos? ━━ perguntou, e ela o encarou um tanto confusa.
━━ Talvez isso seja uma surpresa para a minha família, e até mesmo para mim, mas eu desejo ser mãe um dia. ━━ respondeu, com sinceridade. ━━ Eu quero ser uma boa mãe, assim como a minha. ━━ seu olhar se distraiu ao observar sua mãe, que já mantinha os olhos ─ cheios de orgulho ─ nela.
Não é como se ela odiasse os bailes e as obrigações de uma dama, mas sonhava com algo mais. Ela ansiava por explorar horizontes além do que lhe era oferecido por ser uma mulher.
━━ E quanto aos seus talentos?
Amélia hesitou. Ela não queria se gabar, mas também não queria parecer desinteressante.
━━ Bem, sou apaixonada por literatura e sei tocar o forte piano. Embora, eu não seja tão boa quanto minha irmã, Lucretia, mas acho que consigo lidar bem caso me obriguem a tocar. ━━ expressou a Dickinson.
O rapaz a encarou, assustado pois ela não parava de tagarelar. Um erro tão tolo havia acabado de arruinar sua noite.
━━ Hm, com licença, Senhorita Dickinson, preciso me retirar por um instante. ━━ murmurou ele, antes de se retirar.
Com o coração apertado, ela voltou para perto de seus pais, sentindo o olhar decepcionado deles, não se sentia pronta para tentar atrair algum pretendente novamente, precisava de um tempo. Os irmãos dançavam, e ela se perguntava se sua vida estava fadada a seguir um roteiro preestabelecido. Uma espécie de profecia.
Enquanto a música ecoava, ela imaginava voltar para casa, para o silêncio de seu quarto. Lá, não precisaria conversar com ninguém que a julgasse ou se sentisse decepcionado com suas palavras.
A única coisa que desejava era compreensão. Ou, como Mary certamente diria, ela só precisava esperar pela chegada de seu príncipe encantado, assim como em todo conto de fadas. Mas, Amélia não tinha certeza se sua vida se parecia com.
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