Capítulo 6- Caindo feito estrelas
Gilbert se levantara antes do sol nascer naquela manhã, pois tivera um de seus pesadelos. Ele pensara que ali no Havaí, com tranquilidade e longe da agitação de trabalho, seria muito mais fácil se livrar deles, contudo estava enganado.
Parecia que o pior dia de sua vida estava para sempre gravado em sua mente, quase como se fosse um lembrete de que a morte que o rondara uma vez poderia não ser tão piedosa na próxima, caso algo parecido lhe acontecesse no futuro.
Gilbert nunca pensara na morte. Por ser jovem, achava que ainda tinha muitas coisas a realizar na vida antes de deixar esse mundo, mas depois do que ocorrera, ele entendia que ninguém estava livre desse infortúnio.
O que o levava a pensar na garota loira do dia do acidente. O que será que tinha acontecido com ela? Teria sobrevivido? Estava feliz? Gilbert não sabia explicar, mas sentia uma estranha ligação com ela, sem mesmo conhecê-la, pois passara toda sua convalescença pensando nela e questionando sobre seu bem-estar.
Talvez quando voltasse para casa fosse uma boa ideia procurar alguma informação sobre ela, descobrir se estava bem e se precisava de alguma coisa. O problema era que não sabia por onde começar, pois sequer sabia o nome dela. Contudo, não conseguia esquecer aquele rosto assustado que passara por ele em um carro desgovernado. Não pudera olhar nos olhos dela ou mesmo enxergá-la por inteiro, porém ela se tornara um fantasma em seu subconsciente, vivendo escondida nas reminiscências de seus pesadelos.
O rapaz fora para cozinha preparar o café da manhã em uma tentativa de clarear as ideias. O dia estava muito bonito, com o sol brilhando alegremente, serpenteando seus raios por entre as nuvens.
As manhãs no Havaí eram sempre assim, uma explosão de energia e cor, tornando impossível para qualquer pessoa não se sentir envolvida por aquela paz relaxante que a ilha praiana era capaz de causar.
Gilbert descobriu naqueles poucos dias longe de sua rotina agitada, que aquele lugar lhe fazia muito bem e que despertava nele uma sensação tão boa, que seria difícil partir quando suas férias terminassem.
Enquanto preparava algumas torradas e omelete,Anne saiu do quarto dela e entrou na cozinha, parando na porta assim que viu que o rapaz estava ali.
-Bom dia.- Gilbert disse ao vê-la ali, tentando não prestar atenção nas pernas dela de fora enquanto a ruivinha vestia apenas uma camiseta larga que ia até o meio de suas coxas.
-Bom dia. Desculpe, pensei que não haveria ninguém aqui. Volto depois.- ela disse, fazendo menção de sair.
-Não se preocupe. Estou preparando o café da manhã. Quer que eu prepare o seu?- o rapaz perguntou polidamente. Aprendera com seu pai, que com uma mulher, não importava quem fosse, ele deveria se portar como um cavalheiro, embora Anne parecia não se ligar nem um pouco com esse detalhe.
-Não quero incomodar. - Anne disse sem jeito. Não esperava por aquilo, principalmente depois das regras que impusera. Gilbert não era obrigado a fazer nada por ela, uma vez que estavam vivendo na mesma casa, mas não estavam juntos.
-Não incomoda de forma nenhuma. Posso muito bem preparar o café para nós dois. O que prefere? Torrada ou omelete?- ele perguntou,esperando que ela se decidisse.
-Acho que prefiro os dois.- Anne respondeu, quase rindo da expressão surpresa do rapaz. - Que foi Blythe? Acha que sou muito gulosa?
-Não. Eu me surpreendi por você ter um apetite saudável. Como disse, sou fotógrafo, e as garotas com quem convivo, jamais comeriam assim logo pela manhã. Estão sempre preocupadas com os números na balança. - ele explicou, pensando que era muito bom saber que estava convivendo com uma garota que não passava o dia a base de alface e água.
-Acha que estou precisando perder peso?- Anne perguntou de forma divertida, fazendo Gilbert lançar um olhar para seu corpo e dizer:
-De forma nenhuma. Seu corpo é perfeito.- Anne sentiu um certo arrepio se espalhar por sua pele, e se sentou à mesa para disfarçar, dizendo sem pensar:
-Meu ex-noivo não pensava assim. Vivia controlando minha alimentação, pois não queria que eu engordasse, e também me convenceu a pintar meu cabelo de loiro. Até hoje não entendo como me deixei levar tão fácil pela lábia dele.- ela parou abruptamente ao perceber o quanto tinha falado. Gilbert a olhava surpreso, e ela abaixou a cabeça envergonhada. Não queria que ninguém sentisse pena dela, muito menos aquele rapaz a quem tentava manter longe de si, porque não conseguia gostar dele de jeito nenhum.
-Seria um crime pedir que mudasse a cor de seu cabelo. Ele é lindo exatamente assim.- Gilbert disse, fazendo Anne corar imediatamente, ao mesmo tempo em que respondia irritada consigo mesma por sua momentânea fraqueza:
-Obrigada.
-Acho que é a primeira vez que temos uma conversa civilizada sem brigar. - Gilbert constatou, colocando as torradas e a omelete na frente de Anne.
-Não se acostume, Blythe. Ainda não gosto de você. - Anne respondeu, comendo com prazer a comida que ele preparara. Não diria em voz alta, mas Gilbert era um excelente cozinheiro.
-Ainda. - ele disse, a olhando de um jeito que lhe causou um frio no estômago. Como odiava aquela sensação de insegurança que ele provocava nela, a colocando na defensiva. Não queria se sentir assim, mas ainda estava machucada demais para se sentir livre daquele sentimento que a fazia não confiar em homem nenhum.
Por isso, terminou rapidamente seu café, agradeceu Gilbert com poucas palavras e foi para seu quarto se vestir, pois queria dar uma volta pela ilha, e se sentir relaxada novamente.
Enquanto lavava a louça do café, Gilbert pensava no que Anne havia lhe contado. Então, ela tivera um noivo, que pelo jeito fora um grande babaca com ela. Anne não dissera porque o noivado acabara, mas rapaz não precisava de muito para se perguntar por que alguém desejaria mudar outra pessoa que dizia amar.
Ele jamais fizera algo assim com Samantha, embora ela tivesse algumas manias que o irritavam. Mesmo assim, Gilbert a aceitara como ela era, pois cada pessoa tinha uma personalidade única, e não nascera para agradar ninguém que não fosse a si mesmo.
O jovem fotógrafo conhecia Anne apenas superficialmente, e mesmo nos momentos em que ela era extremamente seca com ele, sua companhia não era de forma nenhuma desagradável, sem contar que ela era linda e olhar para ela não era nenhum sacrifício. Como um homem podia desperdiçar alguém assim?
De qualquer forma, o que acontecera com Anne não era de sua conta, principalmente porque ela não parecia ter lhe contado aquilo intencionalmente. Assim, o rapaz terminou sua tarefa ali, pegou sua prancha e foi para a praia, pois queria aproveitar o clima bom para surfar novamente.
As ondas, como no dia anterior, estavam magníficas. Gilbert tirou qualquer preocupação da mente e se focou naquele momento no qual se sentia livre como se pudesse voar. Seu corpo sentia adrenalina passando por seu sistema sanguíneo, como uma injeção de ânimo a mais para que ele continuasse naquele ritmo, até que a onda se quebrou, e ele mergulhou nas águas do mar completamente revigorado.
Quando voltou nadando para a praia, ele encontrou a morena do dia anterior.
-Incrível! Você parecia estar se divertindo demais naquelas ondas. Eu quase me juntei à você. - ela lhe disse, observando-o de alto a baixo.
-E por que não foi? Teria se divertido também. - ele disse com ar brincalhão.
-Esse é um convite?- ela disse com um sorriso insinuante.
-Para surfar? Sim.- ele disse, ignorando os olhares da garota sobre ele. Ela parecia ser aquele tipo de mulher que não escondia seus desejos, e Gilbert sabia o que ela desejava naquele momento. Se fosse em outros tempos, até poderia aceitar o que ela tão explicitamente lhe oferecia, mas naquele momento não tinha interesse nenhum.
-Agora sou eu quem quer te fazer um convite.- ela disse, continuando a olhá-lo de um jeito que o estava incomodando, mas o rapaz fingiu que não entendeu os sinais que ela lhe enviava com sua linguagem corporal.
-Que tipo de convite?- ele perguntou com a expressão mais séria.
-Vai ter uma apresentação musical no barzinho aqui perto hoje a noite. Está a fim de ir?- a garota o olhou cheia de expectativa e Gilbert pensou em recusar. Mas antes de declinar o convite, ele mudou de ideia. Fazia meses que não se socializava e precisava começar a sair mais. Quando estava com Samantha, eles saiam para jantar todos os fins de semana, iam a festas constantemente, mas depois que terminaram o namoro, Gilbert passou a se isolar e isso só piorou com o acidente. Então, talvez essa fosse a oportunidade que ele tinha para voltar a se divertir como o homem solteiro que era.
-Obrigado. Te encontro lá hoje a noite. - ele respondeu antes que mudasse de ideia.
-Vai precisar de carona? Posso passar passar por sua casa se quiser.- ela se ofereceu.
-Não precisa. O barzinho do qual falou, fica perto da casa que estou alugando. Posso ir a pé mesmo.
-Ótimo. Vou te esperar lá então. A propósito, meu nome é Jéssica.
-O meu é Gilbert.- ele respondeu, sorrindo para a garota que retribuiu ao se despedir e perguntar:
-Nos vemos mais tarde?
-Claro.- Gilbert confirmou, e depois a observando se afastar, mexendo os quadris de forma exagerada.
Ele nunca gostara de mulheres que se exibiam demais, embora apreciasse a objetividade. Mas o que realmente o atraía era o mistério, a necessidade de se esforçar para descobrir os encantos de alguém. O que era fácil cansava rápido, ao passo que quando havia certa dificuldade, e ele tinha que lutar pelo que queria, ganhava seu coração completamente.
Ele voltou caminhando para casa, espantado por perceber que era quase hora do almoço. Passara na praia mais tempo que pretendia, mas valera a pena. Estava de férias e tinha que aproveitá-las ao máximo, pois quando voltasse ao trabalho, sua vida estaria novamente imersa em uma rotina louca.
Naquele mesmo instante, Anne passeava pela ilha. A beleza daquele lugar realmente a deixava sem palavras. Sempre sonhara em conhecer o Havaí, e até pensara em passar sua lua de mel com Mike ali, mas ele a convencera que Aspen seria uma melhor escolha, pois além do cenário totalmente romântico, poderiam esquiar.
Anne detestava lugares frios, e esquiar nunca fora um esporte que a atraira. Mas acatara o desejo do seu noivo, pois mais uma vez quisera agradá-lo e ainda não acreditava em toda sua estupidez.
Contudo, estava satisfeita por não ter vindo com Mike para aquele paraíso, pois qualquer lembrança dele ali, teria estragado aquele lugar para sempre. Queria embora dali sem sequer se lembrar que ele existia, pois seu ex-noivo merecia isso depois do que lhe fizera.
Anne passou em frente a uma Rotisserie e decidiu comprar uma massa para o almoço. Queria agradecer Gilbert pelo café da manhã, e também se sentia em dívida com ele e não queria dever nada aquele rapaz que parecia sempre desejar ler sua mente, como se entendesse instintivamente suas reações.
Ela pensou em comprar uma pizza de legumes, pois ali tudo parecia ser feito com alimentos produzidos e colhidos da própria terra, o que não deixava de ser saudável, mas que lhe provocou uma careta, pois pensar em comida daquele tipo a levava inadvertidamente à Mike, e ele era a última pessoa em quem queria pensar no Havaí.
Com tal pensamento a encher sua mente, ela optou por uma sopa de carne com batatas e creme de leite, pois lhe pareceu mais saborosa que a pizza. Quando saiu da Rotisserie, um menino de pouco mais de doze anos lhe estendeu um folheto, o qual ela pegou sem muito interesse e assim que passou os olhos pela informação contida ali, Anne mudou de ideia radicalmente.
O folheto era uma propaganda sobre um barzinho local onde tinham música ao vivo , e naquela noite teriam uma apresentação especial de um cantor natural da ilha.
Anne decidiu que iria até lá naquela noite, pois queria se divertir e aquele barzinho parecia ser um lugar ideal para aquilo.
Um pouco mais animada, ela caminhou de volta para casa, e quando entrou, Anne sentiu um cheiro delicioso vindo da cozinha e caminhou até lá, parando na porta para observar Gilbert no fogão.
Ele estava preparando algo dentro de uma panela de ferro, que não dava para ver exatamente o que era, mas não foram as habilidades culinárias dele que lhe chamaram a atenção, e sim seu dorso sem camisa que a fez morder o lábio inferior sem perceber.
Ele tinha costas musculosas, cujas ondulações eram perfeitamente modeladas, como se ele passasse muito tempo exercitando aquela região. Sua pele queimada de sol parecia destacar ainda mais os músculos que pareciam tão firmes que Anne sentiu vontade de tocar. Mike nunca fora musculoso daquele jeito e muito menos bronzeado.
Seu ex noivo pensava que construir um corpo como aquele era perder tempo na academia, era coisa de gente sem inteligência, que gastava sua energia com coisas sem importância como a vaidade. Ele mantinha sua boa forma em esportes como tênis e squash, enquanto ganhava muito dinheiro fazendo negócios de milhões.
Contudo, Anne tinha que se lembrar que Gilbert tinha uma natureza diferente de seu ex-noivo. Ele tinha uma alma livre, que amava estar perto da natureza, sentindo o odor da maresia e realmente parecia fazer parte de tudo aquilo, como se pudesse se encaixar em tudo ao redor.
Gilbert virou a cabeça e a pegou no ato de observar o corpo dele com um interesse que o divertiu. Então, a ruivinha não era uma pedra de gelo como parecia.
-Precisa de alguma coisa, Anne?- ele perguntou, mantendo a expressão séria, mas por dentro ele ria, ao vê-la corar como uma adolescente.
-Não, na verdade, eu trouxe minha contribuição para o almoço. Você foi tão gentil em me preparar o café da manhã que quis fazer o mesmo por você, embora não seja comida caseira.
-Obrigado. Eu estava nesse momento começando o almoço e tentando imaginar o que você gosta de comer. - Gilbert respondeu, se virando para a ruivinha, enquanto enxugava as mãos em um pano de prato em cima da pia.
-Achei que iríamos separar nossa comida. -Anne disse com a testa franzida.
-Eu penso que não precisamos fazer as refeições separadas. Se você não se importar, posso cozinhar para nós dois. A geladeira está cheia de comida, e podemos dividi-la sem invadir o espaço um do outro.- ele sugeriu.
-Tudo bem, mas não acho certo apenas você cozinhar. Posso fazer isso também. - Anne respondeu, pensando se aquilo seria mesmo uma boa ideia.
Gilbert era um estranho, e queria que continuasse assim. Não desejava nenhum tipo de amizade com ele, intimidade ou o que fosse. Já bastava estarem dividindo a mesma casa, embora nenhum dos dois pudesse ter imaginado aquela situação.
-Ok. Podemos revezar então,embora eu adore cozinhar. Fiz um curso de culinária há alguns anos quando fui morar sozinho, e criei gosto por preparar pratos diferentes.- Gilbert lhe contou, fazendo Anne olhá-lo admirada e comentar:
-Jamais imaginaria isso.
-Por que? Acha que um homem não pode ser um bom cozinheiro?- Gilbert perguntou com a sobrancelha direita erguida.
-Eu não disse isso. Apenas estranhei que alguém como você gostasse de passar seu tempo na cozinha. - Anne respondeu. Mike não tinha essa virtude. Preferia ser servido do que servir, o que não deixava de ser um pensamento mesquinho.
-Por que alguém como eu? Se tivesse um pouquinho de interesse, veria que não sou nenhum ogro.
Ogro? Aquele homem com certeza não se olhava no espelho. Como Josie diria, ele era um tremendo gostoso, mas Anne não admitiria aquilo para ele nem sobre tortura.
-Não acho que essa nossa conversa tenha alguma relevância. Não quis ofendê-lo. Foi apenas um comentário sem importância. - Anne disse, se sentindo incomodada com a situação.
-Não me ofendeu. Não sou tão sensível assim. Eu estava apenas brincando, mas acho que você não está acostumada com esse tipo de humor. Na verdade, te acho séria demais na maior parte do tempo. Nunca se diverte?- ele a questionou, tentando conhecê-la um pouco melhor, mas como sempre Anne se fechou e apenas respondeu:
-Eu costumava me divertir, mas os últimos meses foram difíceis, e por isso,não tenho tido muitos motivos para sorrir ultimamente.
Anne não deu mais detalhes sobre aquele assunto, mas Gilbert sentia que havia mais naquela história do que ela lhe revelara. Contudo, não desejando se intrometer, somente falou:
-Vou preparar uma salada. Fica pronta daqui cinco minutos, caso esteja com fome.
-Vou lavar as mãos. - ela disse, aliviada por Gilbert não insistir no assunto, e logo estavam almoçando juntos e conversando sobre coisas triviais.
Quando a noite chegou, Anne procurou em suas roupas algo adequado para ir ao barzinho local. Como não sabia qual era o tipo de roupa que as pessoas no Havaí usavam para eventos daquele tipo, ela escolheu um vestido preto e curto, cujo tecido se grudava a seu corpo de forma bastante aderente, e a parte de cima era amarrada ao pescoço, deixando boa parte das costas completamente nuas.
Não era o tipo de roupa que costumava usar, e bem sabia bem porque comprara aquele vestido, pois Mike nunca aprovara que sua noiva se vestisse de forma insinuante. Talvez em seu íntimo fora uma forma de rebelião contra o lado controlador dele, enquanto tentava provar a si mesma que ainda tinha controle sobre sua vida. E por fim, de nada adiantara sua dedicação ao noivado dos dois, uma vez que ele escolhera um tipo bem diferente de mulher para traí-la.
Ela deixou os cabelos soltos, e colocou uma sandália de salto médio,caprichando na maquiagem e no perfume. Quando saiu do quarto, encontrou Gilbert no corredor que a olhou de cima embaixo e lhe perguntou:
-Vai sair?
-Acho que a resposta é um pouco óbvia. - Anne respondeu com uma expressão desafiadora que fez o rapaz perguntar novamente:
-Sozinha?
-Acho que isso não é da sua conta.- Anne disse, pronta para discutir.
-Eu não pensei que era. Apenas me preocupo ao vê-la sair vestida assim.- ele falou, correndo os olhos pelo corpo dela, se demorando mais do que devia nas pernas nuas.
-Por que? Vai dizer que o vestido está curto demais? O decote escandaloso? Me poupe, Gilbert. Sou adulta o suficiente para saber o que vestir e sair como quiser.- ela respondeu com aspereza. Vivera em uma coleira por seis anos, e sabia muito bem qual era o sabor da liberdade agora, e não ia deixar que homem nenhum, principalmente um estranho, tentasse colocá-la de volta no cativeiro.
-Eu ia dizer que está linda, mas que tome cuidado.Mesmo o Havaí sendo um lugar que inspira segurança, pode ser um problema para mulheres sozinhas como você. - ele respondeu, a deixando sem graça com seu cavalheirismo.
-Obrigada pela preocupação, mas como disse, sou adulta e sei muito bem colocar um homem em seu devido lugar se necessário. Até logo. - ela disse, saindo em seguida, deixando Gilbert observá-la até sumir pela porta.
Ele suspirou, enquanto ia para o quarto tomar banho e se arrumar para sair, pensando qual era o real problema daquela ruivinha ranzinza. Ela tomava tudo o que ele dizia como ofensa, e o atacava sem motivo algum.
O que dissera a Anne, diria a qualquer amiga que saísse sozinha e vestida para arrasar. Ele tinha um complexo de irmão mais velho, que tentava proteger a todos a seu redor que queria bem.
Anne era uma desconhecida, e ele não tinha sequer obrigação moral com ela, mas a ruivinha lhe causava alguns sentimentos confusos. Não se davam bem, não sabiam nada um do outro, mas havia algumas coisas nela que o intrigavam e ele estava tentando descobrir o que eram.
Ele terminou de se vestir e caminhou até o barzinho,sobre o qual Jessica havia lhe falado naquela manhã na praia, e assim que avistou o local, percebeu que ele estava bastante animado.
Uma banda de rock tocava um sucesso popular de U2, e logo que entrou, Gilbert foi comprar uma bebida. Não costumava beber muito, apenas quando queria se socializar, e assim que encontrou um lugar para curtir a música, uma voz conhecida lhe disse:
-Então você veio.
-Não achei que me encontraria tão rápido, Jessica. - Gilbert falou,encarando a morena enquanto bebia seu Martini com limão.
-Eu estava esperando por você. Vi quando chegou e se acomodou aqui.- ela respondeu, lhe sorrindo com os lábios pintados de vermelho.
-Você sabe que somos apenas amigos, não é? Acabei de sair de um relacionamento complicado, e não estou à procura de outro.
-Não se preocupe, Gilbert. Eu sei separar as coisas. - ela disse, atirando os longos cabelos para trás.
-Certo. Achei melhor esclarecer esse ponto, antes que tivesse outro tipo de pensamento a nosso respeito.Espero que não se ofenda.- o rapaz explicou.
-Não estou ofendida, mas podemos nos divertir juntos, não é?- ela sorriu e Gilbert assentiu, se perguntando o que se divertir juntos significava para ela.
Logo, o rapaz descobriu, pois depois de beber o quinto Martini em companhia de Jéssica, sua cabeça já estava em outra dimensão, completamente relaxada e deixando-o um pouco eufórico demais.
E quando a garota o puxou para o palco,depois da banda dar uma pausa e anunciar karaokê para quem quisesse se aventurar, ele a seguiu sem se sentir envergonhado com isso.
Naquele instante, Anne andava pelo barzinho, se sentindo um peixe fora d'água, pois viera com a intenção de se divertir, mas descobriu que não sabia fazer mais isso sozinha.
Ela caminhou mais pouco, até que esbarrou em alguém que lhe disse:
-Perdida por aqui, ruivinha?
-Antes só do que mal acompanhada.- Anne respondeu ao dar de cara com o loiro da praia, que lhe fizera um elogio tão grosseiro.
-Eu queria aproveitar para lhe pedir desculpas. Creio que fui um tanto inconveniente com você. - ele disse, fazendo Anne responder:
-Só um pouco não. O que pensou conseguir com aquilo? Saiba que não é qualquer homem que me impressiona, principalmente um que tem uma linguagem tão suja. - o rapaz riu, e disse:
-Você não é uma garota muito fácil de se conversar.
-Deve ser o cabelo ruivo.- ela afirmou e ambos riram.
-Então, vamos começar de novo. Sou James. - ele lhe estendeu a mão.
-Anne.- ela respondeu, apertando a mão do rapaz.
E assim começaram uma conversa interessante, fazendo Anne perceber que James não era tão babaca quanto pensara.
Depois de um tempo, eles foram para a frente do palco, e James disse:
-Vai começar o karaokê. Quer tentar?
-Não. Sou péssima cantora. - Anne respondeu e encarou o palco ao ver um casal se voluntariar.
Sua surpresa foi imensa ao ver Gilbert ao lado da morena da praia, escolher uma música que Anne reconheceu como sendo Falling like stars, de James Arthur. Ela nunca pensara que Gilbert gostasse desse tipo de coisa, e quando a voz melódica dele chegou aos seus ouvidos, ela não conseguiu parar de observá-lo.
Anne também não falhou em observar o olhar dele sobre a morena que cantava com ele, e apesar de ser afinada, não chegava aos pés de Gilbert.
Algo no peito dela se agitou de forma desagradável, e Anne não soube explicar a razão de seu desconforto, mas ao vê-lo tão íntimo da garota, a deixou de certa forma entristecida.
Então, o olhar dele a capturou exatamente ali, e naquele ponto da música, o refrão pareceu mais cheio de significado, enquanto Gilbert cantava sem tirar os olhos dos seus.
We're falling like the stars ( nós estamos caindo feito estrelas)
Falling in love (nos apaixonando)
And I'm not scared to say those words, with you, I'm safe( e eu não sinto medo de te dizer aquelas palavras, pois com você, me sinto mais seguro)
We're falling like the stars ( nós estamos caindo feito estrelas)
We're falling in love ( nós estamos nos apaixonando)
Anne sentiu seu rosto quente, assim como todo o seu corpo, e decidiu ir embora antes que aquela sensação se tornasse pior e a deixasse confusa por dentro.
Assim, ela se despediu de James, e foi para casa, sem saber o motivo de estar andando tão rápido. Quando chegou lá, se despiu, escovou os dentes e foi para cama, demorando para dormir, pois além da noite estar quente, sua cabeça não a deixava em paz.
Anne teve um pesadelo com Mike, e acordou empapada de suor, e para aliviar sua garganta seca, ela se levantou para ir à cozinha, e passou perto do quarto de Gilbert que estava com a porta aberta. Quando lançou um olhar para dentro, viu o rapaz e a morena agarrados na cama. Ela estava por cima dele, e beijava seu pescoço e peito nus.
Anne levou a mão ao pescoço, se sentindo estranha ao observar a intimidade do casal, o que só piorou quando Gilbert abriu os olhos e a viu parada no corredor.
Por uma fração de segundos, eles se encararam, e o que Anne viu dentro daqueles olhos, a deixou totalmente desestabilizada. Era como se o rapaz lhe dissesse silenciosamente que queria que ela e a morena trocassem de lugar.
Com o rosto em chamas, ela voltou correndo para seu quarto, esquecendo totalmente da sede que a estava incomodando. E quando os gemidos do quarto ao lado se tornaram insuportáveis, ela cobriu a cabeça para abafá-los, e disse mentalmente com toda a fúria do mundo, que mataria Gilbert Blythe assim que amanhecesse.
Olá, pessoal. Postando mais um capítulo. Me digam o que estão achando da história, pois sua opinião é muito importante para mim. Beijos.
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