Capítulo 32 - Doce sonho de amor
Anne flutuava entre sua realidade terrena e os labirintos de sua mente, que a carregavam por um mundo conhecido e também desconhecido. Seus pés pisavam na areia branquinha da praia e o odor que exalava pelo ar era tão familiar que lhe causava uma nostalgia boa no peito.
Ela se abaixou por um segundo para tocar na areia, segurando um punhado dela nas mãos, que escorregou por seus dedos, restando apenas alguns grãos grudados em sua palma, como se estivesse contando o tempo. Ela não sabia bem o que aquilo significava, nem se simbolizava alguma coisa, mas decidiu que não pensaria naquilo, porque tinha voltado para casa e se sentia extremamente feliz.
Anne se levantou novamente e olhou o céu acima de sua cabeça. Não havia nuvens no céu; ele estava completamente limpo e o sol brilhava tanto, que ela sentia seus raios espalhando por toda a ilha.
O verde ao redor era esplendoroso. Nunca tinha visto tanta natureza reunida em um único lugar. O mar azul dava uma sensação de liberdade, enquanto ela observava as ondas virem lamber os seus pés descalços. Era incrível poder caminhar por ali, sentindo a familiaridade do ambiente lhe trazer um sentimento de pertencer àquele lugar, como se o seu coração tivesse sido conquistado na primeira vez que pisara ali.
O som das ondas do mar era hipnotizante. Anne fechou os olhos e deixou que a melodia marinha entrasse pelos seus ouvidos e dominasse todo o seu sistema, como um entorpecente que deixava cada músculo de seu corpo relaxado. Quando ela tornou a abri-los, avistou ao longe uma figura masculina terrivelmente familiar.
Ele se movia sob as águas com sua prancha de surf e parecia um deus, controlando a velocidade e fazendo as manobras mais difíceis. Anne podia vê-lo quase voar, como se as águas seguissem apenas ao seu comando, fazendo-o deslizar triunfante sobre o mar azul. Era um filho de Poseidon, com certeza, e ela se sentia tão atraída por aquela cena que não conseguia desviar o olhar.
Após a onda se quebrar, o rapaz mergulhou nas águas cristalinas para logo em seguida emergir triunfante e com os cabelos molhados e cacheados reluzindo ao sol. Logo, ele saiu da água e, com a prancha embaixo do braço, caminhou na direção dela apressadamente.
Enquanto andava, o rapaz lhe acenou e sorriu, fazendo com que o coração dela disparasse. Ele era tão familiar, mas sua mente não a deixava lembrar. Entretanto, quando o surfista chegou mais perto, os olhos dela se arregalaram e Anne murmurou:
― Gilbert.
― Você demorou a chegar. Pensei que não viria mais. ― Ele falou, sacudindo os cabelos molhados e continuando a sorrir para Anne de forma charmosa.
― Por que está aqui? ― Anne perguntou, franzindo a testa, sem entender o motivo daquele encontro.
― Aqui é o nosso lugar. Não se lembra? ― Gilbert perguntou, afastando uma mecha de cabelo do rosto de Anne, enquanto seus olhos encaravam os dela, oferecendo-lhe um mundo cheio de promessas.
― Do que está falando? ― Ela tornou a perguntar, observando o rapaz sorrir e dizer:
―Você vai se lembrar um dia. Vem comigo. ― Gilbert pediu, estendendo-lhe a mão, a qual ela pegou sem hesitação, porque de repente estar com ele parecia ser a única coisa certa a se fazer.
Anne acordou e se viu no próprio quarto, com os vestígios do sonho vibrando em sua cabeça. Ela não conseguia compreender o que tinha vivido naquele sonho. Fora tão real, que ela conseguia sentir o cheiro da maresia e a carícia do vento em seus cabelos. Ainda impressionada, ela lançou um olhar para o relógio e percebeu que ainda era muito cedo. Três da manhã não era um horário no qual normalmente ela estaria acordada, mas o sonho a pegara de jeito.
Entretanto, naquele dia específico, ela voltaria para o apartamento. Não podia mais dispor da bondade de seus tios. Além disso, queria ter seu próprio espaço, voltar a trabalhar e trazer a normalidade de volta para a sua vida.
Acalmando sua ansiedade interior, provocada principalmente pelo sonho estranho, tentou voltar a dormir, enquanto pedaços do sonho continuavam a perturbá-la, mexendo com lembranças que ela ainda não sabia o que tinha.
Oito da manhã naquele sábado, Gilbert despertou. Após se espreguiçar na cama e se sentar nela preguiçosamente, ele se lembrou do sonho que tivera com Anne no Havaí.
Eles tinham se reencontrado naquele mesmo cenário, onde viveram tanto amor. Fazia tempo que não tinha sonhos relacionados a ela. Desde que despertara do seu coma, nunca mais tivera o prazer de reviver os momentos que tiveram com Anne naquela ilha paradisíaca.
Talvez fosse porque agora estavam juntos na vida real. Mas Gilbert não estava satisfeito. Ele queria que Anne se lembrasse também, pois não queria ser o único a ter as memórias daquele sentimento que nascera quando pensara que não estava preparado para ele.
A mágoa o fizera se fechar para o mundo. Mas seu coração estava pronto para recomeçar sem que ele o reconhecesse. Anne o atingira em cheio. Como uma bela onda, ela o arrastara para seus braços e não pudera resistir ao poder daqueles olhos azuis.
Era por isso que precisava que ela se lembrasse, pois se Gilbert lhe contasse que ele a amava desde que a conhecera em um sonho, talvez a ruivinha nunca mais o olhasse na cara.
Sua história com ela era bem incomum, se o rapaz parasse para pensar, mas como um bom romântico,acreditava nessa coisa de destino, almas gêmeas e tudo o mais. E por essa razão, tinha certeza de que na hora certa, Anne se lembraria e, nem que levassem anos, ele iria esperar por ela, porque não tinha chance nenhuma de ele se apaixonar por outra mulher.
Anne era aquele tipo de amor que viera para ficar e apagar todos os outros que ele vivera antes dela. Por isso, cedo ou tarde, iriam ficar juntos para sempre e Gilbert acreditava nisso cem por cento.
Com bom humor, Gilbert se levantou, tomou o café da manhã sem pressa e foi para o trabalho. Normalmente, sábado era o dia em que aproveitava para fazer coisas para si mesmo, mas, naquele em específico, ele precisava ir para o estúdio por conta do prazo curto da campanha que estava produzindo e, como prezava pela qualidade, não se furtava de dedicar sua manhã de sábado ao seu novo projeto.
No caminho, ele ligou para Anne, pois adorava falar com sua namorada logo de manhã. Seu dia sempre começava melhor depois que ouvia a voz dela e aquele era um prazer do qual desfrutava todos os dias.
A voz sonolenta dela do outro lado da linha a fez sorrir. Anne era linda sempre, mas quando acordava, sua beleza estava no auge. Ela era natural, sem precisar de maquiagem para realçar seus traços delicados. Parecia uma garotinha com ar imaculado.
― Desculpa ter te acordado. ― Gilbert disse, esperando que ela respondesse.
― Eu já estava acordada. Apenas estou com preguiça de sair da cama. ― Ele ouviu Anne responder e bocejar.
― Então, hoje é o grande dia? ― Gilbert perguntou, enquanto estacionava o carro na frente do estúdio.
― É. Sim. Pena que você não pode me acompanhar na mudança. ― Anne se lamentou.
― Eu adoraria, Pimentinha. Mas preciso trabalhar. Desculpe-me. ― Gilbert disse, sentindo-se mal por desapontá-la. Voltar para o apartamento dela já era um grande passo em sua recuperação e ele adoraria participar, mas não podia adiar o trabalho e desapontar seu cliente, que esperou o rapaz se recuperar para dar início à campanha.
Gilbert era um profissional muito responsável e não podia deixar os interesses de um cliente de lado, especialmente um, que tinha tanta consideração por ele.
― Tudo bem. As meninas vão me ajudar. Mas quero te convidar para jantar comigo no apartamento hoje à noite. Você aceita?
― Vai cozinhar para mim? ― Gilbert perguntou de bom humor.
― Não exatamente. Vou pedir comida chinesa. Você se importa? ― Anne perguntou e parecia insegura.
― Não. Eu adoro comida chinesa. Quer que eu leve alguma coisa? ― Gilbert disse, saindo do carro e pegando seu equipamento de trabalho no porta-malas do carro.
―Talvez uma garrafa de vinho seja bom. Você acha que consegue aparecer às vinte horas? ― Anne perguntou.
― Consigo sim e vou levar o melhor vinho francês que encontrar para comemorarmos sua nova vida. ― Gilbert respondeu, sorrindo de orelha a orelha. Ia ver sua garota naquela noite e não havia mais nada que a deixaria feliz.
― Certo. Nos vemos à noite então. ― Anne se despediu.
― Até mais tarde, Pimentinha. ― Gilbert respondeu, entrando no estúdio.
Quando ele passou pela recepção, Moody estava lá e lhe disse:
― Acho que sei o motivo desse sorriso satisfeito.
―Acabei de falar com a Anne. ― Gilbert admitiu para o amigo a razão de sua felicidade.
― Que bom que está de bom humor, pois vai precisar dele. ― Moody o avisou.
― O que foi? ― Gilbert perguntou, olhando para Moody um pouco surpreso.
― Acho bom você ir falar com a Samantha. ― Moody o alertou.
― O que aquela louca está aprontando? ― Gilbert perguntou, arqueando a sobrancelha.
― Ela está reclamando das roupas da coleção que terá que usar para a campanha. ― Moody explicou.
―Mas foi ela quem as escolheu. ― Gilbert disse, surpreso.
― Eu sei. Mas acho melhor você falar com ela.
― Vou tentar. ― Gilbert falou, caminhando até o local onde as modelos estavam se arrumando para as fotos.
Ele encontrou Samantha emburrada, de braços cruzados frente ao peito, enquanto sua assistente a olhava desesperada, sem saber o que fazer. Quando a moça viu Gilbert, sua expressão preocupada relaxou e ela saiu dali assim que o rapaz fez um sinal para ela com a cabeça.
― O que está acontecendo, Samantha? ― Ele perguntou, enquanto a moça o encarava com ar de desafio.
― Eu não quero usar esse vestido. Não valoriza em nada o meu corpo. ― Samantha disse com um biquinho de amuo, apontando para um vestido lilás em cima da cadeira.
― Mas foi você quem escolheu as roupas, Samantha. Não sei por que está reclamando.
― Eu sei. Mas não tinha percebido o quanto é sem graça. ―Ela retrucou, pegando o vestido e o colocando na frente do corpo, enquanto se mirava no espelho. ― Não acha que ficaria melhor se fosse vermelho? ― Samantha perguntou, encarando o olhar de Gilbert pelo espelho.
Ela usava apenas um robe curto sobre a lingerie de renda preta e estava aberto, dando a Gilbert uma boa visão do corpo dela.
O rapaz sabia que a moça tinha feito aquilo de propósito, mas não se impressionou. Samantha não tinha mais nenhum controle sobre ele.
― Você sabe que fica bonita de qualquer jeito. Se é essa sua preocupação. ― Gilbert disse, observando um sorriso se formar no rosto da morena. ― Bem, vista-se. Não temos tempo a perder. Começo os trabalhos daqui a dez minutos.
― Só isso que tem a me dizer? ― Samantha perguntou, completamente decepcionada pela reação fria do rapaz.
― Só. E acho que não tenho que te lembrar quem é o chefe e quem é a funcionária aqui, não é? ― Gilbert perguntou, saindo em seguida, sem esperar pela resposta dela.
Gilbert foi até seu escritório, respirando fundo. Samantha vinha lhe causando problemas desde o dia da festa de lançamento da campanha. Ela já faltara ao trabalho no outro dia, alegando estar resfriada. Depois, chegara atrasada no outro dia, atrapalhando o trabalho de todo mundo e, por fim, discutiu com um dos funcionários que lhe serviu seu suco de laranja com açúcar, gritando que ela estava de dieta e não podia consumir o líquido adoçado. Por pouco não atirou o copo no rapaz, ato esse que foi evitado por Gilbert.
Ele só não a dispensava porque ela era a queridinha do cliente, senão o rapaz colocaria outra modelo no lugar dela, que tivesse mais boa vontade e fosse mais fácil de lidar.
Com outro suspiro profundo, ele pegou seu equipamento e foi para o local das fotos, pois queria terminar logo aquele trabalho, ir para casa descansar e ver sua ruivinha de quem estava morrendo de saudades.
Durante toda a sessão de fotos, Samantha tentou provocá-lo com poses insinuantes, mas Gilbert sequer notou. Sua cabeça estava em outro lugar e, principalmente, porque ele não via mais graça em uma mulher que tinha na testa escrita a palavra fútil. Era uma pena que não tivesse percebido isso antes.
Quando a sessão acabou, o rapaz reuniu suas coisas e foi para casa, deixando que Moody ligasse com o mau-humor de Samantha, que àquela hora já estava nas alturas.
A manhã de Anne foi um pouco diferente da de Gilbert. Com a ajuda de suas amigas, ela voltou para o apartamento que estava fechado desde seu acidente. A única coisa que a deixou triste foi ver os olhos chorosos de Marilla quando foi se despedir. Matthew também parecia baqueado, mas deu a maior força para que ela fosse para o apartamento, pois entendia que estava na hora de recomeçar sua vida.
Antes de ir, Anne teve que prometer que iria almoçar com eles todos os domingos, pois Marilla não a deixou sair de lá sem que tivesse feito aquela promessa. A ruivinha estava muito grata pelos meses que passara com eles, pois sem o apoio que recebera não teria conseguido se recuperar tão rápido.
Assim, ela pôde finalmente seguir o seu caminho e entrar em seu apartamento lhe trouxe uma emoção diferente. Era bom estar de volta, mas o melhor de tudo era que estava viva e comemorar isso em seu antigo lar tinha um sabor diferente.
― Vai ficar bem? ― Diana perguntou, logo que terminaram de arrumar todo o apartamento.
― Vou sim, não se preocupe. ― Anne respondeu, sorrindo para a amiga.
― Precisamos fazer uma noite de garotas um dia desses. ― Josie sugeriu.
― Boa ideia. Podemos comprar pizza, assistir a um daqueles filmes românticos que adoramos e depois tomar vinho do Porto. ― Ruby completou.
― Podemos fazer isso aqui. Não nos reunimos para algo assim há meses.- Anne respondeu.
― Meses não, anos. Precisamente depois que você começou a namorar aquele babaca. ― Josie falou, franzindo o cenho. Não falava o nome do ex-noivo de Anne para não atrair má sorte.
― Eu sei que andei ausente. Desculpem por isso. ― Anne respondeu.
Seu namoro e, depois, seu noivado com Michael a tinham afastado de suas amigas. Na época, ela não tinha enxergado assim, mas agora podia ver claramente o que fizera de sua vida naqueles seis anos.
― Tudo bem. O importante é que está de volta e bem. Odeio pensar que quase perdemos você. ― Diana disse, com os olhos lacrimejantes.
― Não vão se livrar de mim assim tão fácil. ― Anne disse, apertando a mão da amiga carinhosamente.
― Ainda bem. ― Diana respondeu, fazendo um carinho no rosto da amiga.
― Que horas são? Preciso começar a me arrumar. ― Anne disse de repente.
― Vai sair? ― Josie perguntou, encarando Anne.
― Gilbert vem conhecer o apartamento. ― Anne respondeu.
― Quer dizer que vai ter uma noite romântica? Quero detalhes depois. ― Ruby disse com um sorriso malicioso.
― Parece que nossa amiga saiu de uma vida celibatária para outra bem intensa sexualmente. ― Josie disse, fazendo graça.
― Gente, também não é assim. ― Anne respondeu, envergonhada.
― Não precisa ficar inibida. Aproveita aquele gostoso. ― Josie disse, rindo.
― É melhor a gente ir. Até logo, Anne. Manda um beijo para o Gilbert. ― Diana disse, arrastando as duas outras amigas inconvenientes para longe da ruivinha.
Anne ainda estava sorrindo quando foi tomar banho naquele dia. Suas amigas sempre a colocavam em uma saia justa com situações que tinham a ver com sexo, mas eram as melhores pessoas para ter em sua vida. Eram leais e estavam sempre do seu lado, e isso era o mais importante.
Logo que terminou o banho, Anne pediu comida chinesa no melhor restaurante da cidade. Depois se arrumou com capricho, colocando um de seus vestidos mais joviais.
Ele era verde-escuro, sem mangas, preso no pescoço por um laço discreto. A cintura era bem marcada e a saia rodada chegava aos seus joelhos. Para dar um toque um pouco mais sofisticado ao seu rosto, a ruivinha prendeu os cabelos em um coque alto, mantidos no lugar por um lápis japonês.
Ela ainda não podia usar saltos, por isso, usou sapatilhas de cetim do mesmo tom do vestido e, depois de se sentir satisfeita com sua aparência, Anne foi cuidar do jantar que tinha acabado de chegar.
Às sete e meia, a campainha do apartamento tocou e Anne sabia que Gilbert tinha acabado de chegar. Ele nunca atrasava e essa era uma das características que mais amava no rapaz. Detestava quando tinha que esperar por muito tempo. Ficava ansiosa e mal-humorada e isso não lhe fazia nada bem.
Com cuidado, Anne chegou até a porta e, quando a abriu, se deparou com o sorriso de Gilbert, que lhe trouxe conforto no mesmo instante. Era daquela paz que precisava em sua vida, daquela alegria simples e jovial que Gilbert lhe transmitia. O engraçado era que toda vez que se sentia daquela maneira, a familiaridade daquela emoção a deixava desconcertada.
― Espero não ter chegado atrasado. ― Gilbert comentou, observando a aparência de Anne com aprovação.
― Você nunca se atrasa. Eu fico impressionada com isso. ― Anne disse, corando ao ver o olhar que Gilbert lançou para o seu corpo. Ele sempre a deixava saber o quanto estava sendo apreciada, pois ele era o tipo de homem que, quando estava em um relacionamento, fazia de tudo para sua parceira se sentir bem, o que era bastante raro se ela parasse para pensar e comparasse com seu antigo e desastroso relacionamento.
― Eu estava louco para te ver. Eu trouxe o vinho. ― O rapaz disse, segurando na mão de Anne com carinho, levando-a aos lábios e deixando um beijo na palma.
Consequentemente, a pele de Anne se arrepiou e aquele magnetismo que os olhos dele tinham a atraiu perigosamente. Ela estava apaixonada por Gilbert, mas em certos momentos ainda tinha medo de ir fundo demais naquele sentimento. Michael era o culpado por sua insegurança, mas esperava aos poucos superar isso também.
― Entre, quero que conheça meu apartamento. ― Anne disse, sentindo-se um pouco tímida ao pensar que ele estava entrando em seu mundo.
Não havia muita sofisticação como no dele, mas ela gostava do seu cantinho, onde tinha seus livros, os filmes que gostava de assistir, os CDs que gostava de ouvir e também tinha uma vista para a praia ali perto da qual não trocaria por nada.
Michael quase nunca estivera ali. Além de achar o lugar afastado demais do centro da cidade, ele dizia que não tinha o conforto que ambos mereciam, por isso, passavam muito tempo no apartamento dele. No passado, ela ficara magoada com tais afirmações, mas agora pensava que tinha sido uma bênção que Michael nunca tivesse se interessado pelo local, pois assim não teria más lembranças para exorcizar depois de tudo o que tinha acontecido, o que teria maculado seu cantinho para sempre.
Um tanto curioso, Gilbert entrou no apartamento dela, enquanto seus olhos se demoravam em cada detalhe delicado. Tudo ali era encantador. Desde a estante de livros, colocada charmosamente no canto da sala, perto da janela, até a poltrona de couro cru que era um convite para tardes aconchegantes em companhia de uma xícara de chá.
As paredes brancas não possuíam quadros, mas havia um enorme relógio de ponteiro enfeitando o local acima da lareira. O chão era coberto por um tapete persa macio e, em uma mesa de canto, várias fotos de Anne com os Cuthberts e suas amigas enfeitavam boa parte do local. Para sua alegria, não havia nenhum lembrete sobre a presença de Michael no apartamento, nenhuma foto ou qualquer outra coisa que pudesse deixá-lo desconfortável.
― Adorei o apartamento. Ele tem sua personalidade, cheio de vida e vibrante. ― Gilbert disse, olhando para Anne com aquele sorriso de arrasar seu coração.
― Obrigada. ― Ela agradeceu, encabulada. ― Que tal se jatássemos agora? ― Anne sugeriu.
― É uma boa ideia. ― Gilbert concordou, e segurando a mão dele, a ruivinha o levou até a mesa da pequena cozinha, onde ela arrumara a mesa com capricho.
― Espero que não se importe de comermos aqui. ― Anne comentou, fazendo o rapaz sorrir.
― Desde que eu esteja com você, qualquer lugar é o paraíso para mim. ― Gilbert respondeu, fazendo Anne quase se lembrar de algo que passou por sua mente, mas logo desapareceu.
O jantar ocorreu tranquilamente. Gilbert era excelente em entreter quem quer fosse. Suas histórias sobre o mundo das fotografias eram tão fascinantes de ouvir, que Anne não conseguia desviar os olhos dele nem por um segundo. Ele tinha muita experiência em viagens e sua vivência de mundo a deixava com inveja porque ela não tivera essa oportunidade. Talvez agora que estava começando uma nova vida, pudesse corrigir isso.
Quando terminaram o jantar, Gilbert fez a gentileza de ajudá-la com a louça suja. Além de tudo, ele era prestativo. Ela nunca pensara em encontrar um homem assim, que reunisse tantas qualidades juntas e ainda era lindo de morrer.
O rapaz estava tendo uma ótima noite ao lado de Anne. Depois de uma semana turbulenta de trabalho, encontrava ao lado dela a paz de que tanto precisava para sua cabeça e coração.
Estar ali, com ela, era o ápice da sua noite, pois passara a semana toda sonhando com esse momento e agora queria aproveitar cada segundo ao lado dela.
Eles foram para a sala e Gilbert serviu o vinho. Anne tomou um gole da bebida deliciosa e foi até a janela, onde a luz do luar dava um brilho especial à paisagem do lado de fora.
Olhando para sua garota de costas, Gilbert não podia deixar de admirar a cabeleira ruiva presa no alto da cabeça, deixando alvo à mostra. Sem resistir, ele colocou a taça vazia em cima da mesa de centro, aproximou-se dela e a abraçou pela cintura, enquanto seus lábios tocavam de leve o pescoço delicado. Suspirando, Anne encostou suas costas no peito dele e fechou os olhos.
Gilbert mexia com ela de um jeito que fazia seu coração galopar em seu peito. Ele sabia exatamente como provocá-la com tão pouco, como naquele momento em que ele deslizava a ponta da língua pela lateral do pescoço dela, fazendo seu ser estremecer.
Incapaz de resistir, ela se virou, capturando a boca masculina que ainda tinha o gosto do vinho nela e tão deliciosa quanto a primeira vez que Gilbert a beijara. Assim, ela aprofundou ainda mais o contato entre os lábios dele e os dela, abraçando-o pelo pescoço e tentando equilibrar a taça de vinho que ainda tinha nas mãos.
Levado pelo instinto, Gilbert a apertou contra si, sentindo seu corpo reagir àquela proximidade que o afetava de forma poderosa. Havia uma magia sobre eles naquela noite que os deixava reféns de seus sentimentos.
Quando tiveram que se separar, ele encostou a testa na dela e disse, com os olhos fixos naquele mar azul dos dela:
―Senti sua falta essa semana. Contei as horas para estar aqui com você.
― Eu também senti saudades. Só não te liguei porque não quis atrapalhar seu trabalho. ― Anne respondeu, perdida no brilho único dos olhos dele.
― Você pode me ligar a hora que quiser. Nunca me atrapalha. Adoro ouvir sua voz e, se eu pudesse, teria você perto de mim o dia todo. ― Gilbert respondeu, beijando-a na ponta do nariz.
― Não ia se cansar de me ter por perto o dia todo? ― Anne perguntou, surpresa com a afirmação dele.
― Nunca. Você é meu mundo todo. Espero que saiba disso. ― Gilbert falou, deixando um selinho nos lábios dela.
― O que acha de descermos para a praia. A noite está tão linda hoje. ― Anne sugeriu, vendo um sorriso lindo se desenhar nos lábios de Gilbert. Se ele soubesse como ficava irresistível quando sorria daquele jeito. O coração dela era totalmente rendido por aquele sorriso.
― Ótima ideia. - Ele falou, segurando na mão direita dela.
Anne terminou de tomar o vinho que restava em sua taça e rumou para a porta do apartamento e, depois, para o elevador, com Gilbert atrás de si. Quando chegaram no térreo, ambos caminharam em direção à praia e, logo que alcançaram a faixa branca de areia, tiraram os sapatos e andaram descalços por toda extensão branca, deixando as marcas de pegadas atrás de si.
Fitando as ondas do mar, que tocavam a margem de mansinho, Anne se lembrou do sonho da noite anterior e suspirou sem perceber. Curioso com o silêncio dela, Gilbert perguntou:
― O que foi?
― Nada, só estava me lembrando de algo. ― Anne respondeu, suavemente.
― Quer compartilhar comigo? ― Gilbert perguntou, com curiosidade, pois quando Anne ficava calada daquela maneira, tendia a pensar demais e nem sempre eram pensamentos saudáveis, e isso era algo que o deixava preocupado.
― Não é nada realmente. ― Anne disse, quando a inquietação somente para si. Havia algo naquele sonho que a deixava perturbada e ainda não queria falar disso com ninguém. ― Sabe o que eu quero fazer agora? ― Ela perguntou, olhando para Gilbert de um jeito maroto.
― O quê?
― Quero nadar nesse mar imenso. Nunca fiz nada assim antes, pelo menos não à noite e em uma praia como essa. ― Ela disse, surpreendendo-o.
― Quer nadar agora? Mas não temos roupa de banho. ― Gilbert respondeu, arqueando a sobrancelha.
― E quem disse que vamos precisar de roupa de banho? ― Anne disse com ousadia. Na verdade, ela estava um pouco inibida, pois nunca se expusera a tal ato de forma tão explícita. Mas, de repente, queria se sentir livre e não pensar tanto antes de determinadas situações, como naquele momento.
Ela levou as mãos às alças do vestido presas em seu pescoço e encarou Gilbert, que mordia o lábio inferior em expectativa. A forma como o olhar dele a queimava a fazia se sentir mais ousada, poderosa e estimulada. Assim, ela desamarrou as alças, sem perder contato visual com ele.
O vestido deslizou até o chão e Anne sentiu os olhos de Gilbert deslizando por cada curva dela, como se a estivesse tocando com suas mãos. Sua pele começou a queimar e ela ofegou baixinho, sentindo a eletricidade daqueles olhos desenhando seu corpo em cada detalhe.
Então, Anne levou as mãos aos cabelos, puxando o lápis que o prendia ali e, quando eles caíram em ondas por seus ombros e costas, foi a vez de Gilbert prender a respiração.
Deus! Aquela garota era tão sexy que o fazia ficar louco por ela sem a ter tocado ainda. A lingerie preta que Anne usava contrastava com sua pele que brilhava à luz do luar. Se ele não soubesse que ela era real, com certeza pensaria que a ruivinha era uma sereia, pronta a seduzi-lo e levá-lo para o fundo do mar.
Quando ela se virou e caminhou para o mar vagarosamente, como se esperasse que ela o seguisse, o rapaz não pôde fazer nada a não ser obedecer ao comando que seu corpo lhe enviava. Despindo-se rapidamente, ele a alcançou no momento em que Anne entrou no mar e mergulharam juntos na onda espumante que chegou até eles tranquilamente.
Logo que tornaram a emergir à superfície, ambos se olharam e, sem dizer uma só palavra, atiraram-se um nos braços do outro.
O beijo foi intenso, assim como seus corpos gritavam por algo mais que lábios se tocando fervorosamente. Gilbert a pegou no colo e a carregou para terra firme, até uma pedra alta que os mantinha livres de qualquer olhar curioso.
As mãos masculinas viajaram pela pele macia, enquanto Anne apoiava as costas na pedra atrás dela e apertava o ombro de Gilbert com força, ao sentir os lábios quentes dele provocando seus seios por cima do tecido fino de seu sutiã de renda. Não era suficiente, ela queria sentir a boca dele em sua pele, por isso, a ruivinha levou as mãos até as costas e abriu o sutiã, gemendo baixinho quando Gilbert brincou com a ponta da língua em seus mamilos excitados.
Ele os sugou com força, fazendo a cabeça de Anne girar. Ela estava tão quente que sentiu como se pudesse incendiar-se por dentro.
Abandonando os seios dela, Gilbert serpenteou pelo tronco feminino, passando pelo abdômen, abaixando-se até ficar quase de joelhos. Ele estava sedento por ela, mas não ousou tirar a calcinha do corpo dela, pois o local onde estavam não era seguro, apesar de a praia estar totalmente deserta naquele momento.
Ao invés disso, ele acariciou a intimidade de Anne por cima do tecido, deixando vários beijos quentes em suas coxas semi-abertas. Anne delirou com o toque dele e desejou que ele fosse em frente, frustrando-se quando ele se levantou e tornou a beijá-la com ardor.
Por entre os beijos, ela sussurrou quase sempre conseguir se desgrudar dos lábios dele:
―Eu preciso de você.
― Vou te levar para o apartamento. Eu também preciso de você. ― Gilbert disse, sem conseguir parar de beijá-la.
― Não, eu quero ser sua aqui. ― Anne disse, deixando-o surpreso mais uma vez.
― Não há conforto aqui. Estamos ao ar livre e acho que entre quatro paredes podemos fazer o que quisermos. ― Gilbert falou, distribuindo beijos pelo colo sedoso.
Anne segurou o rosto dele entre as mãos, o fez encará-la e respondeu:
― Podemos fazer o que quisermos aqui também. Olha esse céu cheio de estrelas, esse mar imenso tão perto de nós. Tudo é tão romântico e irresistível. Estou ardendo por você e quero ter você com toda essa beleza acima de nós e ao nosso redor.
Anne sabia que era loucura, mas não queria perder aquela sensação selvagem que tomava conta dela. Pela primeira vez, estava se sentindo livre, linda e desejada por aquele homem tão generoso que sempre lhe dava tudo de si sem poupar nada.
Gilbert acariciou o rosto dela por um instante, tentando absorver em sua mente como ela estava linda naquele momento, e sabia que faria o que ela quisesse, porque qualquer coisa com sua garota era incrível e valia a pena.
Com cuidado, ele tirou a última peça de roupa dela e aproveitou para também tirar a sua. Anne o olhava com tanta intensidade que era difícil negar o que ela queria. Ele não tinha nenhuma proteção no momento, mas quando olhou para Anne, ela disse:
―Você sabe que não precisamos. Eu confio em você.
O último obstáculo foi derrubado e o rapaz a penetrou, ouvindo seu coração se acelerar junto com o dela. Anne estava tão úmida e quente que Gilbert sentiu seu desejo aumentar. Estar dentro dela, pele a pele, era como mergulhar em um vulcão pronto a explodir.
Quando Anne fechou os olhos e pediu para que ele fosse mais rápido, Gilbert sentiu que arderia vivo na paixão daquela mulher mais linda de todas.
Eles se moveram juntos, seus corpos no mesmo ritmo, enquanto o barulho das ondas do mar abafava os gemidos que se tornavam cada vez mais altos, com a intensidade do que estavam sentindo. Assim, o êxtase os fez gritar um pelo outro no momento final em que seus corpos se chocaram pela última vez.
Quando Gilbert levantou a cabeça, depois que seu corpo se acalmou de toda aquela paixão, ele viu o rosto de Anne coberto de lágrimas e perguntou preocupado:
― Querida, o que foi? Eu te machuquei? Por que está chorando?
― Não, você não me machucou. Eu estou chorando porque estou feliz. Obrigada por me mostrar que posso ser amada por ser quem sou. ― Ela respondeu e Gilbert entendeu exatamente o que ela quis dizer.
Por Michael, ela mudara sua essência, pois acreditara que só seria amada se moldasse sua aparência e comportamento nos parâmetros de outra pessoa, mas com Gilbert, ela podia ser quem era sem julgamento ou cobranças.
Feliz com aquela descoberta, Gilbert apenas respondeu:
― Eu te amo.― tornando a beijá-la.
Um pouco mais tarde, sentados na areia da praia, vestidos e felizes, Anne trocou um olhar com Gilbert, encontrando naquela cumplicidade exatamente o que estava procurando.
Olá pessoal. Desculpem a demora. A vida anda corrida demais. Espero que apreciem o capítulo de hoje. Obrigada. Beijos.
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