Capítulo 27 - Eu te amo
A vida parecia estar sorrindo para ele outra vez. Aos poucos, seus sonhos estavam se tornando realidade, algo que Gilbert pensara não ser mais possível.
Quando sofrera o acidente, a sua carreira estava no auge, enquanto seu coração estava aos pedaços.
Penara demais por uma relação que não tinha futuro, mas não enxergara isso na época. Agora que tinha os olhos bem abertos, a venda que o impedira de ver o quão superficial Samantha era, fora finalmente retirada.
Era triste perceber, que tivera que quase morrer para entender os sinais de que estivera no caminho errado. Um anjo ruivo lhe foi enviado para que sua percepção do que era realmente importante fosse ativada e, por sorte, ele soubera captar a mensagem verdadeira.
Ainda não tinha conquistado Anne como desejava, mas estava caminhando no mesmo ritmo que o dela. Sua pimentinha era inconstante, cheia de altos e baixos e parecia agarrada a um passado que não a deixava em paz.
Gilbert queria que ela percebesse que a vida dela estava apenas começando, que o passado não devia ser cultivado e que a alegria entraria em seu coração se ela estivesse aberta para novas experiências, inclusive o amor.
Todavia, ao mesmo tempo em que ela se aproximava dele, também o afastava e isso, às vezes, o aborrecia um pouco.
Então, Gilbert se lembrava que precisava ter paciência, pois Anne não se recordava do que tiveram, como ele. Mas, o rapaz tinha quase certeza de que, na hora certa, a ruivinha também se lembraria.
Ele chegou ao trabalho animado, pois o banho de chuva que ele e Anne tomaram no fim de semana rendera muitos beijos. Ficaram abraçados por horas, curtindo o momento como dois namorados, e quando a levou para dentro, ela parecia tranquila, embora se mostrasse um pouco pensativa. Esperava vê-la em breve, pois seu coração já estava com saudades.
Concentrando o pensamento no momento presente, Gilbert entrou na agência, e a primeira pessoa que viu foi Samantha.
Seu bom-humor se dissipou como fumaça, pois não entendia qual era a intenção de sua ex-namorada de aceitar aquele trabalho, além do bom pagamento que receberia pelas fotos.
Samantha era bem-sucedida em sua carreira de modelo. Poderia ganhar muito mais em outro projeto, que conseguiria com facilidade, pois ela continuava linda e seu biótipo era exatamente o que as agências procuravam.
Ele poderia dispensá-la naquele instante e no momento seguinte, haveria inúmeras portas abertas para ela, pois sua fama internacional era um chamariz perfeito para novos trabalhos.
Era verdade que Samantha se tornara famosa por causa dele. Gilbert fora o maior incentivador de sua carreira e também seu empresário, quando começaram a namorar. Assim, sua ex-namorada era famosa no mundo da moda porque ele a ajudara a galgar esses degraus.
Mas o rapaz nunca cobrara isso dela, pois tudo o que fizera por Samantha fora porque vira seu potencial, a ajudara a lapidar seu talento e estava satisfeito com isso. O que não significava que iria aceitá-la de volta à sua vida.
Sem dizer uma palavra quando ela o encarou, Gilbert foi para seu escritório, pegou todo o equipamento que precisaria para o trabalho daquele dia e foi para o cenário, onde as modelos maquiadas e vestidas propriamente, o esperavam.
O fotógrafo assistente o ajudou a posicionar a câmera e verificar se não havia nada faltando para iniciarem as sessões de fotos e, logo, eles estavam trabalhando a todo o vapor.
Toda vez em que a câmera do rapaz fotografava as poses de Samantha, ela parecia fazê-las mais insinuantes do que deveriam ser. Embora Gilbert tivesse que admitir que ela era incrivelmente fotogênica, sentia-se incomodado com o comportamento dela.
Por fim, quando a primeira sessão acabou, o rapaz deu uma pausa de quinze minutos para que as modelos pudessem se trocar e aproveitou para sair dali pois estava louco para falar com Anne.
Ele foi para o escritório, onde teria mais privacidade e, impaciente, discou o número da ruivinha. Quando a voz suave dela soou do outro lado da linha, Gilbert sorriu e se lembrou que a voz dela era assim também, em seus sonhos, principalmente ao acordar.
— Bom dia. Eu te acordei? — Ele perguntou, desejando mais do que nunca estar com ela.
— Bom dia. — Anne respondeu, fungando.
— O que foi? Sua voz está estranha.
— Acho que peguei um resfriado ontem, depois do banho de chuva. — Anne respondeu, fungando novamente.
— A culpa foi minha. Devia ter imaginado que algo assim poderia acontecer. — Gilbert disse, aborrecido.
Era sua culpa que Anne estivesse doente. Como não pensara na imunidade dela após meses em coma dentro do hospital? Ele tinha esquecido desse detalhe importante e agora Anne estava resfriada e ele não estava por perto para cuidar dela.
— Não foi culpa sua. Eu adorei nosso banho de chuva. A única coisa que está me irritando é esse nariz que não para de escorrer. — Anne falou, fungando furiosamente.
— Queria estar aí com você. — O fotógrafo disse, fixando o olhar no teto do escritório. Só ouvir a voz dela não bastava. Ele precisava vê-la, estar com ela e beijar aqueles lábios tão doces.
— Você tem a sua vida, Gilbert. Não pode estar comigo o tempo todo. Adoro sua companhia e sua amizade, mas eu entendo que tem seus compromissos e obrigações.
— Eu também adoro estar com você, e quanto aos meus compromissos, vou sempre ter tempo para você, não importa o dia ou a hora. — Gilbert respondeu, um pouco incomodado com o fato de Anne usar a palavra amizade, quando na verdade, estava rolando muito mais que isso entre eles.
— Eu sei disso, mas não quero abusar. — Anne disse, espirrando do outro lado da linha, fazendo com que Gilbert dissesse preocupado:
— Acho melhor descansar. Nós nos falamos depois.
—.Tudo bem.— Anne falou, com a voz um pouco rouca.
— Tente se alimentar e tomar bastante líquido. Isso ajuda muito na recuperação. — Ele a aconselhou.
— Obrigada pela sugestão. — Anne agradeceu e em seguida, ela desligou o telefone.
Gilbert ficou por alguns minutos quieto, como se estivesse em outro mundo, pensando na ruivinha e tentando acalmar sua ansiedade.
Se não tivesse trabalho para fazer, deixaria a agência nas mãos de Moody e seu assistente, mas a campanha na qual estava trabalhando demandava muita atenção e dedicação de sua parte.
Sua profissão era gratificante, mas também lhe ocupava muito tempo. Ele não podia sair no meio da sessão de fotografia, somente porque seu coração desejava outra coisa.
Sempre fora responsável com seu trabalho e esse fato não iria mudar. Infelizmente, sua saudade teria que esperar até que ele terminasse o que tinha que fazer naquele dia.
Gilbert se levantou da mesa, colocou o celular no bolso e, quando ia caminhar para a porta, o rapaz deu de cara com Samantha, que o olhava quase com ódio.
— O que está fazendo aqui, Samantha? Seu lugar é junto com as outras modelos. — Gilbert falou secamente.
—.Agora eu sei porquê você anda me ignorando. Quer dizer que já tem outra mulher na sua vida? — Ela perguntou, fazendo com que Gilbert desse seu famoso sorriso de canto.
— O que te dá o direito de me perguntar isso? — O fotógrafo perguntou, cruzando os braços na frente do corpo.
— Eu ouvi você falando com ela no telefone. — Samantha afirmou, encarando Gilbert como se ele lhe devesse alguma satisfação.
— Agora você também ouve minhas conversas. Quanta deselegância, Samantha. Logo você, que me dizia que detestava esse tipo de comportamento em uma mulher. — Gilbert falou, quase debochando da garota, cujas bochechas ficaram vermelhas de embaraço.
— Foi um acidente. Vim para falar com você e acabei ouvindo sua conversa com a garota. — Ela disse, tentando se justificar.
— Entrou na minha sala sem bater. — Gilbert a censurou.
— Eu nunca tive que fazer isso antes. — Samantha o lembrou.
— Você disse bem. Isso foi antes. Agora, você é apenas uma modelo contratada pela minha agência para fazer um trabalho. — Gilbert respondeu, observando a expressão de Samantha mudar radicalmente.
— Nós nos relacionamos há tanto tempo, Gil. Não pensei que fosse me tratar assim. — Ela disse, como se não acreditasse no que estava acontecendo.
— Samantha, o vínculo que tínhamos acabou no dia em que você me deixou. Não espere tratamento especial por conta do nosso passado. — Gilbert esclareceu, já impaciente com aquela conversa.
—.Eu não penso assim. — Samantha disse, encarando-o com um sorriso irônico nos lábios, como se Gilbert não estivesse falando sério.
— Pois devia pensar. Agora, se não tem nada mais a me dizer, precisamos voltar ao trabalho. — Gilbert falou, passando por ela, que lhe segurou o braço e perguntou:
— Não podemos ser amigos?
— Não. Eu prefiro as coisas como estão. — Gilbert respondeu com secura, arrancando da garota um olhar cheio de ira, quando disse:
— Quem é ela?
— Ela quem? — Gilbert perguntou sem interesse.
— A mulher que te tirou de mim. — Ela completou, fazendo Gilbert quase gargalhar.
Samantha estava vivendo em um mundo de faz de conta. Ainda acreditava que tinha algum peso na vida dele. Ela era cínica demais, ou simplesmente pensava que o mundo girava em torno dela.
— Você mesma fez o trabalho de me perder, Samantha. Ninguém me tirou de você. Acorde e enxergue a realidade. Eu não te amo mais. — O rapaz disse, se afastando dela e voltando ao trabalho.
Sem dizer mais nada, a garota também voltou ao cenário fotográfico e, pelo tempo que durou a sessão de fotos naquele dia, ela não disse uma palavra ou olhou para Gilbert uma só vez.
Na casa dos tios, Anne tossia sem parar. Fora uma bela gripe que pegara e só podia culpar a si mesma por isso.
De qualquer forma, aquilo tinha sido perfeito. A combinação romântica de chuva e Gilbert Blythe conquistara seu coração de um jeito, que a deixava com medo.
Estava perdendo o controle de seus sentimentos novamente, e aquilo não era bom e nem coerente, pois acabara de sair de um relacionamento que lhe deixara traumas profundos, e tornar a se interessar por alguém não era, nem de longe, uma escolha sensata.
Mas seu coração não queria suas análises depressivas, muito menos estava preocupado com a dor ou desilusão ainda presentes em sua memória. Ele queria atenção, carinho e zelo, justamente tudo o que Gilbert lhe oferecia e sua razão no meio daquilo tudo, era apenas um eco sem valor algum.
Gilbert era maravilhoso, disso Anne não tinha dúvida alguma. Ele tinha provado que era um homem diferente de Mike, mas ainda assim,a ruivinha tinha medo de confiar demais e se magoar.
Ela dera tudo de si em um relacionamento longo que só lhe causara dor. Sentia-se drenada, vazia e sem condições de oferecer a quem quer que fosse a sinceridade de seus sentimentos.
Gilbert a deixava confusa, principalmente quando lhe dizia coisas que a tocavam no fundo do seu ser. Contudo, tinha a sensação de que ele sabia mais coisas sobre ela do que seus lábios lhe contavam, e a percepção disso, a deixava totalmente insegura.
Uma nova onda de tosse a acometeu, interrompendo seus pensamentos. Marilla logo apareceu com um de seus chás caseiros, trazendo com ela uma bandeja de rosquinhas amanteigadas.
— Não precisava ter todo esse trabalho, Marilla. Estou sem fome. — Anne disse, assoando o nariz com um lenço de papel.
— Você precisa se alimentar. Não tomou café e comeu muito pouco no almoço. — Marilla afirmou, colocando a bandeja na cama ao alcance de Anne.
— Não consigo sentir gosto de nada. — Anne disse, espirrando outra vez.
— Matthew me disse que você entrou em casa toda molhada ontem, assim como Gilbert. Não acha que foi imprudente? — A boa mulher perguntou, acariciando os cabelos da ruivinha.
— Não foi culpa dele. Eu quis e, se pudesse caminhar, teria feito isso sozinha. — Anne disse, tomando um gole do chá completamente desanimada.
— Você e Gilbert estão namorando? — Marilla perguntou com curiosidade.
— Não. Somos amigos, Marilla. — Anne respondeu, fazendo com que a senhora a olhasse desconfiada e dissesse:
— O comportamento dele não sugere só amizade, não.
— Você está querendo me arrumar um namorado, Marilla? — Anne perguntou, comendo uma das rosquinhas que sua tia tinha lhe trazido.
— Não, mas acho Gilbert um excelente partido. É um rapaz decente, honesto e que cuida de você de verdade. — Marilla declarou.
— Eu sei, mas não acho que eu esteja preparada para me envolver com ninguém, principalmente nas condições em que me encontro. — Anne falou, colocando a xícara de volta no pires.
— Acho que Gilbert não se importa com isso, querida. Não deixe de viver algo bonito por medo. Você pode se arrepender. — Marilla a aconselhou.
Anne balançou a cabeça concordando. Em seguida, sua tia emendou:
— Vou sair para jantar com John e Matthew também tem um compromisso mais tarde. Acha que vai ficar bem se passar algumas horas sozinha?
— Claro que sim. Tenho a cadeira de rodas para ajudar. Já aprendi a manuseá-la sozinha. — .Anne respondeu.
Era a primeira vez que ficaria sozinha desde que voltara para a casa dos tios. Não desejava atrapalhar a vida deles de jeito nenhum, por isso, não podia dizer a Marilla para ficar, mesmo que estivesse um pouco temerosa.
— Não queria te deixar sozinha. — Marilla declarou com preocupação.
— Pode ir tranquila, Marilla. Vou ficar bem. — Anne disse com convicção.
— Está bem, mas por favor, qualquer problema ligue para mim. Vou deixar o celular ligado. — Marilla a avisou.
— Está bem, mas quero que curta sua noite. Não quero que se preocupe comigo. — A ruivinha disse, encarando Marilla com um sorriso no rosto. - Então, você e John estão namorando?
— Não, ele apenas me convidou para jantar. — Marilla respondeu, sem graça.
— Sei. — Anne disse, olhando para a tia com certa malícia.
— Não brinca comigo, garota. Sou uma mulher de respeito. — Marilla disse com o dedo em riste, enquanto Anne ria incontrolavelmente. — Vou me arrumar e antes de sair, eu trago o seu jantar.— Ela tornou a dizer.
—. Está bem. — Anne respondeu, lhe entregando a xícara vazia e a travessa de rosquinhas quase intacta.
Quando Marilla a deixou sozinha, Anne recostou a cabeça no travesseiro e decidiu dormir um pouco, pois o chá que tomara a deixara muito sonolenta.
Naquele fim de tarde, Gilbert terminou seu trabalho na agência e, assim que entrou no carro, recebeu uma mensagem do pai que dizia que ele sairia para jantar com Marilla Cuthbert.
John lamentava não poder preparar o jantar daquela noite e esperava que Gilbert pudesse se arranjar sozinho, pois não estaria em casa quando ele chegasse.
Gilbert riu da mensagem, principalmente porque seu pai se esquecia que ele era um homem, e sabia se virar muito bem.
Ele já morara sozinho e estava prestes a voltar para seu apartamento, só não o fizera ainda, porque seu pai lhe pedira para ficar mais um pouco em sua casa. De qualquer forma, Gilbert entendia que John sempre o veria como seu garotinho.
Em poucos minutos, o rapaz chegou na casa do pai, tomou banho e, após uma refeição rápida,decidiu visitar Anne.
Não sabia se ela gostaria de vê-lo, mas estava preocupado com ela por causa do resfriado. Ainda se sentia culpado por ela estar doente.
Ele chegou à casa dos Cuthberts em pouco tempo e, como de costume, Matthew o atendeu na porta.
— Gilbert, não sabia que viria aqui hoje. —.O bom homem disse, apertando a mão do rapaz.
— E não vinha. Decidi de última hora. Tem algum problema? — Gilbert perguntou, preocupado com a ideia de estar sendo invasivo.
— Não. Na verdade, chegou em ótima hora. Eu tenho que sair e Marilla também não está aqui. Estava preocupado em deixar a Anne sozinha. — Matthew contou com seu sorriso mais simpático.
— Pode deixar que cuido dela. — Gilbert afirmou.
— Ótimo. Eu vou sair, mas espero não demorar. — Matthew disse, pegando as chaves do carro em seu bolso.
— Certo. — Gilbert disse, indo em direção ao quarto de Anne, enquanto Matthew fechava a porta.
Ao entrar, o rapaz encontrou a ruivinha adormecida e, para não acordá-la, ele sentou em uma poltrona próxima à cama e ficou observando-a dali.
Aquela cena o lembrava de tanta coisa. Quantas vezes a vira dormir assim em seu sonho do Havaí? Às vezes, queria voltar no tempo só para viver cada segundo com ela outra vez.
Anne abriu os olhos como se pressentisse que ele estava ali. Confusa, ela o fitou com seus olhos enevoados de sono e perguntou:
— Gilbert? Você não disse que viria hoje.
— Decidi de última hora. Fiquei preocupado quando disse que estava doente, por isso, eu vim. — Ele explicou, observando seu rosto corado e os olhos que brilhavam ainda mais intensamente.
— Eu disse que a culpa não foi sua. E eu não estou tão mal assim.— Anne disse, se sentando na cama.
— Como está se sentindo? — Gilbert perguntou, se levantando da poltrona e se aproximando dela.
— Como se um caminhão tivesse passado por cima de mim. — Anne respondeu com um sorriso fraco.
— Continua linda, mesmo assim. — Gilbert comentou, sentando-se na cama, onde podia estar mais perto dela. — Adoraria fazer uma sessão de fotos suas. — Ele disse, a surpreendendo.
— Com esse cabelo despenteado e nariz vermelho como um tomate? —.Anne disse, fazendo graça.
— Você é perfeita, Anne. Quando vai se convencer disso? — Gilbert disse, encarando-a intensamente.
— Estou longe de ser perfeita. — Anne respondeu, se sentindo mais quente do que antes, conforme os olhos de Gilbert a encaravam intensamente.
Havia algo ali que não sabia como explicar e que lhe causava uma saudade dolorida a qual nunca sentira antes. Essa não era a primeira vez que se sentia assim com Gilbert. Ele tocava seu coração de um jeito que Mike nunca fizera. Era por isso que tinha tanto medo de perder sua razão.
— Não, você é perfeita em cada pequeno detalhe desse rosto incrível. Acho que nunca te disse, como seus olhos se parecem com estrelas, pois brilham tanto quanto elas à noite.
— Está me deixando sem graça. — Anne respondeu, desprendendo os olhos dos dele.
— Estou dizendo a verdade. Eu queria que pudesse se ver assim também. — Gilbert disse, deslizando os dedos pelos contornos do rosto de Anne até chegar aos lábios, os quais desenhou com o polegar.
Deus! Aquele homem sabia seduzir uma mulher com tão pouco. Ela estava derretendo naquelas palavras e naquele olhar, que lhe dizia tudo o que precisava ouvir. Mas não podia se deixar levar por completo ainda, porque seu coração continuava sangrando pela sua última decepção.
Uma série de espirros interrompeu os dois, e preocupado, Gilbert perguntou:
— Você está tomando alguma coisa para esse resfriado?
— Marilla já me entupiu de chás caseiros. — Anne respondeu, enxugando os olhos lacrimejantes.
— Posso te preparar um chocolate quente com canela. Meu pai costumava fazer para mim quando eu estava gripado.— Gilbert sugeriu.
— Acho uma boa ideia. — Anne respondeu, sentindo certa necessidade de ficar sozinha por alguns minutos para acalmar seu coração.
— Vou até a cozinha e já volto.
Assim que Gilbert saiu, Anne suspirou baixinho e deitou a cabeça no travesseiro novamente. Estava cada vez mais confusa em sua relação com Gilbert. Queria fugir do que estava sentindo, mas isso ficava difícil toda vez que ele estava por perto.
Um barulho de passos na porta do quarto fez Anne dizer:
— Nossa, você foi rápido. — Mas ela quase engasgou com a própria saliva ao ver Mike em seu quarto.
— Oi, meu amor. — Mike disse com todo o cinismo do mundo.
— O que faz aqui? Como entrou? — Anne perguntou com incredulidade.
— Seu tio deixou a porta destrancada. — Mike respondeu, observando Anne com atenção e a deixando desconfortável.
— E por isso, você achou certo entrar assim sem bater? — Anne tornou a perguntar com indignação.
— Eu entro e saio dessa casa há seis anos sem precisar bater. — O rapaz respondeu, se aproximando da cama e fazendo Anne se encolher debaixo das cobertas, temerosa do que o rapaz poderia lhe fazer.
— Isso mudou, Mike. Terminamos nosso relacionamento, por isso, você não é mais bem-vindo aqui.
— Você terminou, eu não. — Mike disse, estendendo uma mão e tocando as mexas do cabelo de Anne, e continuou: - Seus cabelos estão ruivos novamente, mas logo vamos mudar essa cor vulgar.
— Não vamos mudar coisa nenhuma. Esse é o meu cabelo e você não faz mais parte da minha vida. — Anne disse com a voz mais alta do que pretendia.
— Você é tão ridícula, querida. Sabe que ninguém mais vai te amar como eu. Quem vai querer ficar com uma garota como você? Magra, ruiva e sardenta? Além de não ser nem um pouco inteligente. — Mike disse com deboche, fazendo com que Anne se sentisse tão mal a ponto de gritar:
— Saia daqui, Mike! Vá embora e me deixe em paz!
— Anne, o que foi? — Gilbert perguntou, entrando correndo no quarto. Quando viu Mike ali, ele disse, cheio de ira. - Vá embora, seu idiota. Não tem nada para você aqui!
— O idiota aqui é você, amigo. Anne é minha noiva e com quem vou me casar. Está perdendo o seu tempo.— Mike respondeu sarcasticamente.
— Eu não sou seu amigo, e já que não quer sair por bem, vou fazer isso por você. — Gilbert falou, agarrando Mike pela gola da camisa e o arrastando dali.
Quando chegaram à porta, Mike disse:
— Anne me ama. Duvido que ela vai se apaixonar por um engomadinho feito você.
A ironia do rapaz irritou tanto Gilbert, que ele lhe deu um empurrão, o derrubando no meio da varanda.
— Isso é pela Anne e por falar de mim como se me conhecesse. Se tiver algum escrúpulo, nunca mais volte aqui e se pensar em voltar, saiba que a Anne não estará sozinha. — Gilbert disse, fechando a porta na cara do rapaz.
Quando ele foi para o quarto, encontrou Anne chorando sem parar, a abraçou e disse:
— O que quer que tenha sido o que Mike te disse, esqueça, ele não merece suas lágrimas.
Anne sabia que Gilbert estava certo, mas as palavras de Mike tinham aumentado a ferida do seu coração. Ela estava frágil e construir sua autoconfiança de volta era uma estrada cheia de conflitos internos, por isso, ela murmurou:
— Acho que prefiro ficar sozinha.
— Mas Anne... — Gilbert ia começar a protestar, contudo, Anne falou:
— Você não entende como me sinto. Mike esteve em minha vida por seis anos e ainda não consegui me livrar da mágoa que ele me causou.
— Eu posso te ajudar, Anne. — Gilbert insistiu.
— Eu preciso fazer isso sozinha. Existem coisas que você não pode fazer por mim. Tenho que encontrar meu caminho, Gilbert, e por mais que você queira estar aqui comigo, não tenho nada a lhe oferecer senão um coração machucado demais. — Anne explicou, fazendo Gilbert se levantar e responder:
— Eu te entendo mais do que pensa. Se quer que eu vá embora, eu vou. Entretanto, também quero que saiba que eu sempre vou voltar, não importa quantas vezes me pedir para não estar aqui. Eu te amo, Anne, e nem sei se esse é o melhor momento para te dizer isso, mas não posso mais esconder meus sentimentos.
Ele se inclinou, deixando um beijo na testa de Anne e saiu do quarto, deixando a ruivinha com o coração disparado e as palavras do rapaz ecoando em sua mente.
Olá, pessoal. Capítulo novo. Espero que gostem e me deixem suas opiniões. Beijos e obrigada.
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