Capítulo 25 - Recomeço
A luz de um novo dia entrou pelas frestas da janela de Anne, fazendo-a perceber que já era hora de despertar.
Ela não se sentia exatamente satisfeita com isso, porque seria mais uma manhã de exercícios de fisioterapia que a deixavam arrasada.
Não sentia que estava evoluindo, apesar de sua fisioterapeuta lhe dizer que tinha feito ótimos progressos, e odiava ficar naquela cama a maior parte do tempo.
Sua vida não só mudara por conta da traição de Mike, mas também pelo acidente que deixara naquela condição por tempo indeterminado.
Diana veio vê-la várias vezes naquela semana e lhe dissera que ela deveria deixar de ser imediatista, e aceitar que certas coisas demandavam tempo para terem um resultado positivo, e embora soubesse que a amiga tinha razão, não conseguia não se sentir impaciente para voltar a andar.
Gilbert continuava a visitá- la todos os dias. Mesmo quando estava ocupado com algum trabalho, ele dava um jeito de passar pela casa de seus tios para falar com ela e Anne se sentia grata por essa iniciativa.
Falar com ele, a tirava do buraco escuro onde se encontrava. Às vezes, se sentia tão sufocada que nem chorar adiantava, então, algumas palavras de Gilbert proferidas no momento oportuno, a deixavam mais leve.
O rapaz não mencionara nenhuma vez o beijo que trocaram. Talvez tivesse sido um erro pensar que significara para ele mais do que significara para ela e em vista de quem Gilbert era, por que afinal ele se interessaria por alguém como ela?
Desde o começo, Gilbert lhe dissera que sentia uma conexão com ela por conta do acidente que sofreram. Em alguns momentos, amargurados, Anne pensava que não precisava de nenhuma caridade. Não fora culpa dele o acidente, então, por que cargas d'água, parecia que o fotógrafo tentava compensar algo pelo qual não era o responsável?
Com tal pensamento remoendo em seu cérebro, Anne se sentou na cama, afastando os cabelos emaranhados do rosto. Dali há uma hora, sua fisioterapeuta estaria chegando e ela precisava estar pronta. Não estava animada para fazer os exercícios habituais, mas não era a animação que contava e sim a força de vontade e por mais que detestasse o que teria que fazer, aquilo não era uma opção e sim uma necessidade.
-Anne, trouxe o seu café. Já está acordada?- a voz de Marilla do outro lado da porta, a fez responder:
-Estou sim. Pode entrar.
-Fiz aquele bolo de milho especial que você gosta, pois anda se alimentando tão pouco. Está estranhando o meu tempero?- Marilla perguntou, a olhando com preocupação, enquanto colocava a bandeja com o café da manhã sobre a mesa.
-Não. É que estou com pouco apetite, mas seu tempero está ótimo como sempre.- Anne respondeu, tomando um gole de chá de ervas.
-Ainda bem. Pensei que Mike tivesse estragado seu paladar com aquela alimentação natureba dele.- Marilla deixou escapar, e logo se arrependeu ao ver a testa franzida de Anne.- Desculpa, não queria te fazer lembrar daquele crápula.
-Tudo bem. Mike fez parte da minha vida e ele é sim um crápula. Mas não sou assim tão sensível a ponto de não conseguir ouvir o nome dele. - Anne explicou, concentrando sua atenção na torrada com geleia que Marilla lhe trouxera.
-Você ainda o ama? - Marilla perguntou com cuidado.
-Não.- Anne respondeu rapidamente, sem acrescentar nenhuma palavra a respeito.
-E o Gilbert? A presença dele tem se tornado constante nessa casa.- Marilla comentou.
-Ele é apenas um amigo.- Anne disse, sentindo um arrepio ao se lembrar do beijo.
Por que não conseguia tirar aquilo da cabeça? Qualquer garota teria aceitado aquele fato como normal e corriqueiro, mas ela tinha que fazer uma festa dentro de sua cabeça com milhares de sonhos e possibilidades. Não estava apaixonada por Gilbert e no entanto, o gosto dele ainda estava em sua boca, e o mais incrível era que tinha a impressão de já saber como era estar nos braços dele.
-Ele parece querer mais do que isso.- Marilla comentou, sorrindo para Anne discretamente.
-O que um rapaz como aquele iria querer com alguém como eu? - Anne perguntou sem encarar Marilla.
-Pensei que já tivesse superado esse complexo de inferioridade.- a boa senhora a alertou.
-Fui traída por meu noivo com uma loira de parar o trânsito. Então, isso responde sua pergunta. - a ruivinha disse de cabeça baixa.
-Querida, o que aconteceu não tem nada a ver com sua aparência. Mike é um idiota, se me permite a palavra, e não sabe valorizar a pessoa maravilhosa que você é. Você é linda por dentro e por fora, meu amor.- Marilla disse, tentando alegrá-la.
-Você diz isso, porque é minha tia, mas não é assim que me sinto presa à essa cama.- Anne respondeu.
Não queria se vitimizar, porque afinal, não era a única pessoa no mundo naquelas condições, mas não andava de bom humor desde que saiu do hospital, por mais que tentasse se encher de leituras positivas.
-É temporário, Anne. Nós duas sabemos disso. Agora, por que não termina esse café da manhã e se arruma para sua fisioterapia? - Marilla sugeriu.
-Posso entrar?- a voz de Diana interrompeu a conversa de tia e sobrinha.
-Pode sim. E vê se me ajuda a animar essa cabeça dura.- Marilla disse, saindo do quarto para dar privacidade às duas amigas.
-O que foi, Anne? Parece tão triste. - Diana comentou preocupada.
-Nada. Só me sinto terrivelmente entediada nessa cama. Queria estar levando minha vida como todo mundo.- Anne respondeu, passando a mão pelos fios de cabelo despenteados.
-Eu entendo, mas não pode deixar se abater. Você não está sozinha. Tem suas amigas, Matthew e Marilla e tem Gilbert. - Diana disse, olhando-a com certa malícia ao mencionar o nome do rapaz.
-Gilbert é um amigo.- Anne disse, dando a mesma resposta para Diana que dera para Marilla, porque pensava que quanto mais repetisse isso, mas acabaria acreditando e tiraria de dentro de si qualquer ilusão que tivesse a respeito do rapaz.
-Sim, e eu sou a Fada do dente.- Diana disse, rindo.- Acha mesmo que aquele rapaz vem até aqui, apenas por que tem sentimentos de amizade por você? Pensei que tivesse deixado de acreditar em fábulas há muito tempo.- A morena afirmou, se sentando perto de Anne na cama.
-Eu não acho que ele tenha algum motivo especial para me visitar sempre, na verdade, acredito que eu seja algum projeto de caridade no qual Gilbert decidiu se engajar.
-O que está dizendo, Anne? Você não precisa da caridade de ninguém, muito menos de um homem como Gilbert e não acredito que ele te veja assim também. - Diana disse, um pouco zangada pela maneira como Anne estava vendo as coisas. A ruivinha nunca tivera esse tipo de raciocínio antes, e era mais uma coisa para culpar Mike por deixá-la naquele abalo psicológico tão grande.
-Na verdade, eu não sei o que pensar. Outro dia, eu perguntei sobre isso a ele, e a resposta que me deu é que não pode se afastar de mim.- Anne respondeu, sabendo que aquelas palavras dariam margem a muitos pensamentos, mas não queria se aprofundar em algo que poderia deixá-la magoada no final.
-Isso quer dizer muita coisa.- Diana a alertou.
-Ou não quer dizer nada.- Anne completou.
-Se quer pensar assim, esse é um direito seu. Mas não vim aqui para discutir sobre Gilbert Blythe. Quero saber o que quer fazer no seu aniversário?- Diana perguntou, a pegando de surpresa.
Aquela era uma data que queria esquecer aquele ano, pois não estava com espírito nenhum para comemorar. Seu aniversário sempre fora importante para ela, porque mesmo que não tivesse uma grande festa, gostava de passá-lo com suas amigas e familiares.
No último ano, ela e suas três amigas viajaram para as montanhas. Ficaram em um chalé alugado e fizeram grandes caminhadas juntas, visitaram lugares pitorescos e brindaram o aniversário dela com uma taça de vinho diante de um pôr de sol magnífico.
Talvez os pedidos que fizera naquela noite, tivessem sido ouvidos às avessas, porque não acontecera nada do que tinha desejado, e ainda, lhe trouxera dores e traumas pelos quais não esperara.
Contudo, Matthew sempre dizia, que todas as dificuldades e problemas vivenciados na vida deviam ser aceitos como um aprendizado e que nada acontecia em vão. E era uma pena que ela não conseguisse ver o que de bom podia tirar daquele caos que se tornara sua vida, depois da traição de Mike.
-Não quero fazer nada. Vamos só esquecer essa data neste ano. Não estou com disposição para comemorações. - Anne disse, descansando seu pescoço na cabeceira da cama.
-Mas você sempre adorou comemorar seu aniversário. - Diana comentou, franzindo a testa.
-Não esse ano. Não tenho nada para comemorar.
-Vou ter que discordar de você. Sofreu um acidente grave e sobreviveu a ele, então, você tem sim o que comemorar. - Diana a lembrou.
-Eu sei, mas não me sinto no clima.- Anne rebateu, suspirando alto.
-Essa não é a Anne que conheço, sem contar que está em um humor azedo que não combina com você.- a amiga retrucou.- Estar em uma cama sem poder andar não é uma situação fácil, mas não é como se fosse ficar assim para sempre. Logo estará de pé, Anne, mais forte que antes.
A ruivinha não falou nada, porque não tinha o que dizer. Diana não entendia como ela estava se sentindo, e não esperava que ela entendesse mesmo.
Sua depressão não era apenas pelo problema em suas pernas, e sim algo mais profundo. Sentia sua alma quebrada, como se tivesse ficado seriamente danificada no acidente e não tinha a menor ideia de como consertar isso.
-Está bem. Se é assim que deseja, não vou te contrariar. Tenho que ir para o trabalho. Venho aqui amanhã para ficar com você. Não quero que passe seu aniversário sozinha.- a amiga afirmou e Anne apenas sorriu tristemente, quando Diana deixou um beijo em seu rosto e foi embora.
No estúdio de Gilbert, a manhã começara intensa. A nova campanha tinha se iniciado, e seria sobre uma nova coleção de biquínis de uma marca bastante conhecida.
Quando viera para o trabalho, sua intenção fora apenas supervisionar o novo fotógrafo, pois por ser uma campanha importante, não queria que nada saísse errado. Mas quando o rapaz começara a fotografar as modelos escolhidas para a campanha, nada que ele fazia ficava do gosto de Gilbert, por isso, pedira para o fotógrafo apenas observar enquanto ele assumia aquela tarefa.
Moody sorriu ao ver seu parceiro em ação de novo, e não se admirou que isso tivesse acontecido, porque Gilbert era terrivelmente perfeccionista no trabalho e se alguém não conseguia compartilhar com ele aquela paixão que ultrapassava os limites do que era comum, podia simplesmente arrumar as coisas e partir.
Enquanto Gilbert pedia para aa modelos determinadas poses, ele não conseguia parar de pensar na Anne e no que ela devia estar fazendo.
Ele a tinha beijado e depois recuado para o papel de amigo que ocupara antes, pois a ruivinha tinha se assustado com sua investida e principalmente, pelo pedido que fizera a Anne de permitir que ele ficasse por perto.
Tinha medo de perdê-la, antes mesmo de fazê-la se lembrar do que viveram no Havaí em seus sonhos. A pergunta era: e se ela nunca se lembrasse? E se tudo aquilo fosse apenas uma causa perdida? E se no final, a Anne que o amara naquela aventura incrível, jamais o olhasse com o mesmo amor com o qual ele sonhava?
Gilbert tinha um medo terrível de que ele estivesse andando em círculos, que não estivesse fazendo nenhum avanço e que Anne acabasse o afastando no final.
Não podia contar tudo, dizer que estava apaixonado pela garota dos seus sonhos, que a conhecia bem mais do que ela imaginava e que estava disposto a tudo para ficar com ela, pois aquela história toda soava absurda até para ele que a vivera intensamente.
Desejava apenas saber o que fazer, para chegar até onde precisava para conquistá-la de uma vez por todas e trazê-la para sua vida. Tinha certeza que eram certos um para o outro, mas Anne tinha que ser convencida disso também, ou ele correria o risco de terminar amando sozinho.
Gilbert terminou a primeira sessão de fotos, deu quinze minutos de folga para as modelos e foi dar uma checada nas fotos que acabara de tirar.
Enquanto falava com o outro fotógrafo e discutia algumas técnicas de fotografia, o celular de Gilbert sinalizou uma mensagem chegando, que dizia de forma curta, prática e seca, no melhor estilo de sua amiga Josie Pie:
"É aniversário da Anne amanhã, mas ela não quer comemorar, por favor, faça alguma coisa."
Ele sorriu de leve ao se lembrar que Josie fora sempre assim. Autoritária, às vezes arrogante, cheia de si, mas muito leal aos amigos. Se existia alguém a quem confiaria sua vida além de seu pai, seria a ela.
Não sabia o que Josie esperava dele naquela questão, mas daria um jeito de pensar em alguma coisa, quando saísse do trabalho. Sua pimentinha não ficaria sem uma comemoração decente.
Após terminar a última sessão de fotos, Gilbert estava louco para chegar em casa e preparar algo para o aniversário de Anne no dia seguinte, mas quando estava indo para o carro que acabara de comprar, Samantha surgiu na sua frente, deixando-o espantado.
-Oi, Gil. - ela disse de forma descontraída, como se não o tivesse abandonado meses atrás.
-O que quer aqui, Samantha?- ele perguntou, secamente, não sentindo a menor disposição para aturar sua ex-namorada.
-Eu queria saber se está bem. Fui te visitar no hospital quando estava em coma. Moody não te contou?- Samanta perguntou, e ao ver o olhar surpresa que ele lhe lançou, ela sorriu de forma irônica e completou:- É claro que não.
-Mesmo que ele tivesse me contado, isso não muda nada do que aconteceu entre a gente.- Gilbert disse, sabendo exatamente porque Moody não lhe dissera nada.
O amigo nunca gostara de Samantha. A seus olhos, ela era apenas uma modelo oportunista, que se aproveitara da fama do namorado para se dar bem. E Gilbert estava começando a enxergar isso também.
-Como não muda? Tivemos um longo relacionamento. Isso não significa nada para você?- Samantha perguntou, passando a mão sobre os músculos do braço direito do rapaz, o que o fez sorrir com sarcasmo e responder:
-Não significou nada para você, já que me abandonou por outro.
-Não fala assim, Gil. Eu amava você. - Samantha disse sem graça.
-Que foi, Samantha? O atorzinho com quem você fugiu, não era o que você esperava? Ou ele não te deu a notoriedade que você queria?- Gilbert perguntou cheio de ironia.
-Que isso, Gil? Eu não sou interesseira, você bem sabe disso.- Samantha respondeu, fazendo o rapaz rir, balançar a cabeça e dizer:
-É, eu sei. Se a sua preocupação era meu bem estar, saiba que estou ótimo. Agora preciso ir para casa.- Gilbert abriu a porta do carro e quando ia entrar, Samantha segurou em seu pulso e disse:
-Espera, você está indo para a casa de seu pai? Fiquei sabendo que está passando um tempo com ele.
-Estou sim.- Gilbert falou, tentando imaginar como ela conseguira aquela informação.
-Posso ir com você? Quero muito ver seu pai. Estou com saudades.- Samantha pediu e Gilbert quase riu na cara dela pelo tamanho da ousadia.
Seu pai e ela nunca tiveram uma conversa de verdade. Primeiro, porque Samantha não tinha metade da cultura de John Blythe para conseguir acompanhá-lo em uma discussão sobre qualquer coisa, e segundo, porque ambos não se simpatizavam um com o outro, portanto, ela teria que inventar uma mentira melhor, se quisesse que Gilbert acreditasse em qualquer palavras dela.
-Sinto muito, mas meu pai não está com saudades de você. Então, a resposta é não. - Gilbert finalizou a conversa, entrando no carro e deixando Samantha plantada no meio da calçada.
Quando chegou em casa, seu pai não estava e o rapaz se lembrou que era o dia dele jogar xadrez com os amigos. Assim, Gilbert foi para seu quarto, tomou banho e pensou em ligar para Anne, já que naquele dia, não conseguira visitá-la, mas depois mudou de ideia e decidiu ir vê-la no dia seguinte, pois já tinha em mente como comemorariam o aniversário dela.
No outro dia, Anne acordou no mesmo horário e foi Matthew que lhe trouxe o café da manhã acompanhado de Marilla, que tinha preparado um cupcake com uma velinha de aniversário, marcando os vinte cinco anos que Anne estava fazendo naquele dia.
-Sei que não quer comemorar, por isso, fiz esse cupcake para representar o bolo que gostaria de ter te preparado.- Marilla explicou, ao ver o olhar que Anne lançou para o doce.
-Obrigada. - a ruivinha disse, sentindo o olhar de seus tios sobre ela.
-Feliz aniversário, minha querida. - Matthew disse, a abraçando e quase a levando às lágrimas por aquele gesto tão simples. Ele sempre fora como um pai que ela nunca tivera, e tê-lo em sua vida era um bem extremamente precioso.
-Obrigada. - Anne agradeceu novamente, recebendo um beijo no rosto de sua tia
-Faça um pedido.- Marilla falou, parecendo uma criança curiosa, enquanto esperava que Anne fizesse o que ela acabara de dizer.
-Então, o que pediu?- Marilla perguntou, assim que Anne abriu os olhos.
-Marilla, é segredo. Se ela contar, não se realiza - Matthew respondeu, ralhando com a irmã.
-Desculpa, querida. Só fiquei curiosa.- a boa mulher falou sem graça.
-Não foi nada. - Anne respondeu, olhando para a tia com carinho. Poderia até contar a ela o que pedira, porque provavelmente era óbvio qual era seu maior desejo naqueles dias, mas não contou, simplesmente para manter a tradição daquele momento.
-Espero que volte a ser feliz, Anne. Esse é o meu desejo para você nesse dia especial. - Matthew acrescentou, enquanto Marilla balançava a cabeça, concordando com o irmão.
-É o que espero também. - Anne disse, sorrindo de leve, mas seu coração estava pesado como chumbo.
Assim, o dia do aniversário de Anne, passou como um dia comum. Ela fez os exercícios de fisioterapia, Diana, Josie e Ruby vieram lhe fazer uma visita e quando a tarde estava quase no fim, ela percebeu que Gilbert não tinha ligado e isso a incomodou enormemente, assim como a perturbou perceber que estava sentindo a falta dele.
Não queria que isso acontecesse, porque podia bem imaginar como ia terminar, ela dependente emocionalmente dele, enquanto o rapaz ocupava sua vida com alguma modelo de corpo perfeito.
Às seis da tarde, Marilla entrou com um enorme buquê de flores e Anne se apressou em ler o bilhete, imaginando que fosse de Gilbert e que dizia:
Feliz aniversário, meu amor. Espero que aproveite seu dia e saiba que não vejo a hora de te fazer minha esposa.
Do seu Mike.
Irritada, Anne picou o bilhete em pedacinhos, enquanto dizia para Marilla cheia de raiva:
-Pode levar essas flores daqui. Jogue fora, dê para alguém, eu não me importo. Só não quero sentir o perfume delas no meu quarto.
Sem questionar sobre os motivos que a levaram a agir daquela maneira, Marilla saiu com o buquê, a deixando bufando de raiva e pensando na cara de pau do seu ex-noivo, que achava que a ganharia de volta daquela maneira.
Às sete da noite, Gilbert apareceu na casa dos Cuthberts, com uma caixa nas mãos e um sorriso tão lindo que Anne suspirou baixinho, para que ele não percebesse o quanto era capaz de afetá-la com algo tão simples.
-Este presente é pelo seu aniversário. Espero que goste. - o rapaz disse, se sentando aos pés da cama dela.
-Obrigada. Como soube que hoje é meu aniversário? - Anne perguntou, segurando o presente nas mãos.
-Josie me contou e também me disse que não quer comemorar, por que?- ele perguntou, olhando-a intensamente.
-Acho que não preciso responder, não é?- ela disse de cabeça baixa e com suas bochechas queimando.
-Anne, posso imaginar como está sendo para você ter que lidar com toda essa situação, mas sabe o que eu acho? Que se não quer celebrar os anos de vida que tem nessa terra, então, por que não comemorar o recomeço dela?
-O que quer dizer?- Anne perguntou, dando toda a atenção ao que Gilbert acabara de dizer.
-Que você deveria encarar o acidente como o final de um ciclo e sua recuperação como o início de uma nova vida. O que acha? Gostaria de fazer isso comigo?
-Acho que sim.- Anne disse, olhando para aquele rapaz, que parecia sempre trazer luz para onde ela somente enxergava escuridão.
-Certo. Abra o presente primeiro.- ele pediu, Anne obedeceu, e logo percebeu que eram dois presentes.
Ela abriu um e viu que era uma caixa de chocolates ao leite. Sorrindo, a ruivinha encarou Gilbert e disse:
-São meus favoritos.
-É mesmo? Que bom que acertei no seu gosto.- Gilbert respondeu, cumprimentando a si mesmo interiormente por ter se lembrado desse detalhe de seus sonhos.
Em seguida, Anne encontrou dentro do segundo pacote um maiô azul marinho e olhou interrogativamente para o rapaz que lhe respondeu:
-Esse segundo presente é para você comemorar seu recomeço comigo, pois vou te levar em um lugar especial. Pode colocá-lo? Não sabia seu tamanho exato, mas a vendedora me ajudou bastante.
-Que lugar é esse? - Anne perguntou desconfiada.
-Já disse. É um lugar especial para comemorarmos seu recomeço e de certa forma, o meu também.- ele disse sorrindo e era difícil para ela dizer não, quando Gilbert a olhava daquele jeito carinhoso.
-Tudo bem. Você me ajuda?- ela pediu e assentando, Gilbert a levou até o banheiro.
Sem grandes dificuldades, Anne colocou o maiô, percebendo que o rapaz tinha acertado no tamanho e por cima dele, ela vestiu o mesmo vestido que estivera usando antes.
-Estou pronta.- a ruivinha disse para o rapaz que a esperava do outro lado da porta.
-Então, já podemos ir.- Gilbert disse, a pegando no colo.
-Podemos levar o chocolate?- Anne perguntou, com um sorriso maroto.
-Claro. - Gilbert respondeu, caminhando com ela até a cama e pegando a caixa de chocolates para que ela pudesse segurá-la, adotando ver aquele rosto de garotinha que sabia seduzi-lo sem mesmo saber que podia fazê-lo.
Quando passaram pela sala, Marilla e Matthew os olharam surpresos e Gilbert explicou:
-Vamos sair para celebrar o início de uma vida nova.
-Fazem muito bem. - Matthew respondeu, feliz por sua garotinha ter encontrado alguém que sabia cuidar dela com tanto carinho.
-Você comprou um carro?- Anne perguntou ao olhar para o Porsche preto estacionado em frente da casa se seus tios.
-Sim. O outro ficou inutilizado no acidente. Gostou dele?- Gilbert perguntou, a ajudando a colocar o cinto de segurança.
-Sim. É muito bonito.- Anne respondeu, sentindo uma sensação boa quando a brisa do vento tocou seus cabelos.
Gilbert sintonizou uma estação de rádio e uma música bastante popular começou a tocar, fazendo com que Anne cantalorasse baixinho a letra, pois era uma de suas favoritas.
Quando Gilbert parou o carro, Anne sabia onde estavam e com um sorriso imenso, ela falou:
-Devia ter me dito que viríamos à praia. Não sei como, mas você sempre me prepara as melhores surpresas.
-Bom, eu gosto muito da praia e imaginei que você gostasse também. - Gilbert comentou, se lembrando como ela adorava aquela conexão com a natureza quando estavam no Havaí.
-Eu amo a praia, pena que não posso nadar.- Anne disse tristonha.
-Quem te falou isso?- Gilbert perguntou, tirando a roupa que estava vestindo e ficando apenas de roupas íntimas, deixando Anne impressionada com a beleza muscular dele.- Tire seu vestido, vou te levar para a água.
Ela o fez um pouco hesitante, mas o sorriso de Gilbert e maneira como ele a olhava a encorajando, a fez ganhar um pouco mais de confiança, permitindo que o rapaz a pegasse no colo e a carregasse até a água.
Quando atingiram um ponto onde o mar era um pouco mais denso, cobrindo seus corpos, ele a colocou em pé, segurando firme em sua cintura e disse:
-A água está uma delícia.
-Está sim. - Anne concordou, sentindo o calor do corpo do rapaz em suas mãos, o que a deixou bastante perturbada por sentir seu corpo um pouco mais quente que o normal.
Assim, o rapaz a ajudou a nadar um pouco, guiando-a com seus movimentos, levando em conta a falta de mobilidade das pernas dela. Quando percebeu que ela estava cansada, ele a carregou de volta a areia, onde sentaram juntos lado a lado.
-Nunca tinha percebido como esse lugar é bonito à noite.- Anne disse, observando o reflexo da lua na água, assim como todas as estrelas que estavam ao redor dela.
-É sim. - Gilbert respondeu, quase em um murmúrio, fazendo Anne se virar para ele e perceber o olhar do rapaz preso em seu rosto.
Gilbert levantou a mão, tocou os lábios dela e disse:
-Queria tanto beijar você.
-Eu também quero que me beije.- Anne respondeu, sem se importar com o alarme de perigo soando em sua cabeça, pois naquele momento e naquele lugar tão lindo, tudo o que desejava era aquele homem para si.
Assim, quando seus lábios se encontraram, ela sentiu milhares de sensações explodindo dentro dela, como se já tivesse sentido tudo aquilo antes, e deste modo, a ruivinha se entregou aquele beijo, pois era exatamente o que seu coração desejava.
Quando foram obrigados a se separar, Gilbert a beijou na testa, nas bochechas, mordiscou seu queixo e por último, esfregou a ponta do nariz no dela, fazendo Anne dizer, se lembrando de algo que não sabia de onde vinha:
-Você está me namorando?
-Estou sim.- Gilbert respondeu, sentindo uma emoção enorme encher seu peito, ao perceber que ela tinha se lembrado de algo mais do que acontecera no Havaí.
-Então, acho que pode fazer isso um pouco mais.- a ruivinha argumentou, tomando a iniciativa de beijá-lo dessa vez, enquanto Gilbert pensava que podia ficar assim com ela pela vida inteira.
Olá, pessoal. Capítulo postado. Espero que gostem e me deixem suas opiniões. Beijos e obrigada.
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