Capítulo 11- Quando você estiver pronta
Dois dias tinham se passado desde que Anne foi parar no hospital. A dor tinha sumido completamente e era como se nunca tivesse existido, o que não deixava de ser um alívio.
Tinha se preocupado com a possibilidade de ter algo mais grave acontecendo com ela, mas felizmente os exames não atestaram nada alarmante.
O que realmente a surpreendeu foi a dedicação de Gilbert em cuidar dela. Ele fora fiel ao que dissera a ela quando voltaram para casa, e para falar a verdade, Anne não tinha levado tão à sério, pois pensara que Gilbert lhe dissera aquilo apenas para acalmá-la.
O caso era que ele lhe mostrara que era um homem de palavra, e Anne encontrara poucos assim na vida. A maioria não se importaria tanto com seu bem-estar, principalmente porque era quase uma estranha com quem ele morava a algumas semanas.
Anne pouco sabia sobre Gilbert, e as coisas sobre as quais conversavam eram sobre o cotidiano. O que não lhe dava grandes dicas em como ele era na intimidade de fato.
Mas como tinha um lado bastante observador, ela percebera que o fotógrafo era organizado, metódico e extremamente perfeccionista. Até quando preparava uma refeição, Gilbert colocava em ordem tudo o que iria precisar, como se tivesse cada coisa planejada dentro de sua cabeça.
Os legumes eram cortados em tamanhos incrivelmente iguais, e Anne se perguntava como ele conseguia essa proeza. A cozinha estava impecavelmente limpa e ela nunca encontrava nada fora do lugar pela casa toda.
Morar com alguém assim era fácil e confortável, pois nunca teria que entrar em uma discussão com Gilbert por toalhas molhadas em cima da cama ou sofá, ou sapatos fora do lugar. Se não soubesse que ele estava no quarto ao lado, pensaria que aquela casa nem habitada era, tamanha organização e limpeza em todos os cômodos.
Em outro homem tais detalhes até pareceriam cansativos e desinteressantes, mas em Gilbert, o tornavam excessivamente atraente, a ponto de fazê-la querer saber mais sobre aquele rapaz que passara os últimos dois dias religiosamente a seu lado, cuidando para que ela tomasse os remédios nos horários certos, se alimentasse adequadamente e fizesse o repouso absoluto que o médico recomendara.
Ele até deixara de surfar para que Anne não ficasse sozinha em casa, e passara seu tempo lendo no quarto com ela ou assistindo os filmes que escolhiam juntos.
Não se lembrava de Mike ter perdido uma tarde no seu clube favorito para lhe fazer companhia caso ela estivesse doente, ou ter lhe preparado uma refeição do jeito que ela gostava apenas para vê-la sorrir.
O máximo que seu ex-noivo fizera era lhe enviar flores no aniversário ou levá-la para jantar fora uma vez ou outra, pois pensava que assim estaria compensando suas faltas com ela.
Observando as atitudes de Gilbert naqueles dois dias, Anne entendeu que ele era a meta de namorado e marido de qualquer mulher, porque deixava claro que se importava e que tudo o que fazia era sincero, sem segundas intenções.
Era disso que ela tinha medo, da facilidade que era deixar Gilbert entrar na sua vida, de se aprofundar em sua alma até ganhar seu coração.
Ele era tudo que Mike não era, além de ser lindo de morrer. Era sedutor de um jeito que a fazia engolir em seco toda vez que a olhava como se ela fosse a oitava maravilha do mundo.
Entretanto, a insegurança dela era mais por não confiar em si mesma para se envolver com alguém que poderia quebrar seu coração mais ainda do que já havia sido quebrado. Não queria passar por tudo de novo, pois não suportaria. E apesar de Gilbert parecer ser um homem incrível, quem lhe garantiria que no futuro não se revelaria alguém tão babaca quanto Mike fora com ela?
Quando se via todas as perspectivas de um futuro feliz ao lado de seu parceiro ruírem de uma vez na sua frente como acontecera com ela, era difícil encontrar o caminho de volta para a pessoa segura que tinha sido.
Anne fizera uma faxina interna nos últimos meses, jogando fora cada uma de suas ilusões criadas ao longo daquele relacionamento falido. Porém, ainda não conseguira recuperar seu total equilíbrio e sua esperança de ser feliz outra vez.
A ruivinha terminou o café da manhã que Gilbert tinha preparado para ela e levou a xícara suja para a pia, onde começou a lavá-la. Era a primeira vez naqueles dois dias que o tomava ali na cozinha. Todas as refeições que fizera nos últimos dias foram realizadas no quarto. Gilbert se encarregou de mantê-la confortável e alimentada, além de entretê-la com seu bom humor.
Após deixar tudo organizado na cozinha, Anne se sentou na varanda da casa a fim de observar o dia que tinha amanhecido gloriosamente iluminado.
O Havaí era um lugar encantado. Não havia uma parte da ilha que não fosse agradável aos olhos. Ela tinha sido afortunada de ter se decidido vir até ali ao invés de ter viajado para a França, que era outro lugar que queria muito conhecer. Talvez em suas próximas férias pudesse convencer suas amigas a irem com ela, se pudesse fazê-las perdoá-la por ter sumido em um momento tão crítico.
-Você parece estar se sentindo bem hoje.- Anne ouviu a voz de Gilbert vinda da porta, interrompendo seus pensamentos.
Quando se virou para responder, ela ficou sem saber o que dizer por um momento, pois a visão de Gilbert Blythe com os cabelos molhados e sem camisa ainda era uma algo que a deixava quase sem fôlego.
Ele fora nadar naquela manhã e lhe avisara por meio de um bilhete breve. Gilbert não precisava lhe dar satisfação de onde tinha ido, mas ela achava muito fofo que ele o tivesse feito. Isso realmente a fazia entender que ele se importava com ela, e por mais que dissesse que não devia levar aquilo tão à sério, não conseguia evitar de sentir um calor agradável no seu peito.
-Anne, tudo bem?- Gilbert perguntou, preocupado com a expressão estranha no rosto dela.
-Está sim.- ela respondeu, se sentindo envergonhada por não conseguir esconder como ele a afetava fisicamente. - Você se divertiu?- ela perguntou para disfarçar seu rosto subitamente corado.
-Sim, a água estava muito boa. Estava sentindo falta desse contato com o mar.- ele disse sorrindo.
-Sinto muito. Acho que acabei te afastando do que mais gosta de fazer.- Anne disse, se lembrando que fora por causa dela que Gilbert não sairá de casa naqueles dois dias.
-Não sinta. A escolha foi minha, você não me pediu nada. Eu gostei de te fazer companhia e cuidar de você. - Gilbert disse, se aproximando dela devagar, fazendo Anne ficar tensa.
Deus! Quando pararia de sentir aquele frio no estômago toda vez que Gilbert estava por perto? Não devia permitir que ele mexesse tanto com ela, mas não controlava seu coração e nem seus sentimentos.
-Obrigada, mas creio que está liberado desse compromisso agora que estou bem de novo.- ela respondeu, prendendo a respiração quando ele parou a três passos dela.
-Estou feliz que esteja bem de novo, mas isso não quer dizer que vou deixar de cuidar de você - Gilbert respondeu, a observando com atenção.
Linda era uma palavra muito pequena para descrever quão bela Anne era. Ela tinha uma suavidade comovedora e ao mesmo tempo, uma força admirável que o fazia não querer deixar de olhá-la.
Aqueles dois dias ao lado dela, o fizeram conhecer alguns detalhes da personalidade de Anne que não notara antes. Ela gostava do silêncio como forma de profunda concentração, mas não percebia que seus olhos falavam mais do que ela podia imaginar.
Eles eram como um portal para a alma dela, de onde ele podia enxergar suas peculiaridades mais profundas.
Naquele instante ela estava confusa e envergonhada e tentava esconder as mãos no bolso do pijama. Se ele se aprofundasse mais, descobriria o motivo daquela súbita timidez, mas não queria ser tão invasivo assim e nem tinha o direito de ser.
Estudar o comportamento das pessoas na faculdade fora uma das suas matérias preferidas e uma das que mais se destacou, por isso, não era difícil entender certas reações ou emoções de seus amigos, familiares ou modelos, o que também o fizera se destacar em sua profissão.
-Está querendo dizer que vai me seguir por aí?- Anne disse em tom de brincadeira.
-Se for preciso. - ele respondeu, continuando a encará-la, detalhe que não aliviou o aperto no estômago de Anne.
-Eu não sou sua responsabilidade, Gilbert. Estou sozinha no Havaí, mas eu vim para cá justamente porque queria privacidade. Eu estou muito agradecida por tudo o que fez por mim esses dois dias, mas pretendo cuidar de mim mesma daqui para frente.- Anne explicou, tirando as mãos do bolso e as transferindo para a gola da blusa, com a qual começaram a brincar distraidamente.
-Eu não disse que você era minha responsabilidade, e quanto a sua privacidade, não pretendo invadi-la se não é o que deseja. Porém, cuidar de você é o que vou fazer toda vez que você precisar, pelo menos pelo tempo que ficarmos aqui, pois quando me importo com alguém é assim que ajo. E me importo muito com você. - Gilbert respondeu, deixando Anne calada mais uma vez. Ela não queria pensar no que significavam aquelas palavras ou quais eram as reais intenções do rapaz. Ele deixara claro que a levaria para cama se ela quisesse, e apesar de não tocar mais no assunto, Anne desconfiava que bastaria um sinal dela para que tudo acontecesse entre eles.
Mas era isso o que ela queria? Uma noite de sexo sem compromisso e sem sentimentos profundos envolvidos? Seria capaz de ficar com Gilbert e depois ir embora, esquecendo tudo o que vivera naquela ilha? Olhando para o rapaz ali na sua frente, ela descobriu o quanto seria fácil se apaixonar por alguém como ele, por isso, era melhor não dar chance nenhuma para aquilo acontecer, pois precisava se curar primeiro para depois pensar em entregar de novo seu coração.
-Obrigada por seu cuidado comigo, mas agora estou bem, então não precisa se preocupar mais.- Anne disse, fingindo uma tranquilidade que não existia dentro dela de fato.
-Por que está nervosa? - Gilbert perguntou de repente, se aproximando mais um pouco.
-Não é nada. Estou bem.- ela respondeu, tentando camuflar seus sentimentos para que ele não notasse.
-Não, não está. - Gilbert disse, colocando as mãos sobre os ombros dela.- Seus músculos estão tensos e a linha do seu pescoço está rígida. Precisamos melhorar isso. Vire-se de costas.- ele pediu.
-O que está pensando em fazer?- Anne perguntou desconfiada.
-Vou fazer uma massagem nos seus ombros.
-Não precisa.- Anne disse, já se sentindo alarmada com tanta proximidade, rezando para ele não perceber o quanto a deixava inquieta. Ainda se lembrava dos beijos que trocaram e entendeu que com Gilbert, ela não precisava de muito incentivo para se sentir estimulada. E era aí que estava o perigo de se deixar enredar no feitiço daqueles olhos.
-Para de ser teimosa, Anne. Quero apenas ajudar.- o rapaz disse, começando uma leve pressão nos ombros dela. - Tenta relaxar e juro que estara bem em poucos minutos.- ele prometeu, apertando um pouco mais os músculos em seus pontos mais tensos.
Anne mordeu o lábio inferior com força, pois caso contrário gemeria alto vergonhosamente, o que lhe causaria um constrangimento público.
Que droga de carência física era aquela que a fazia derreter nas mãos de um homem que era praticamente um desconhecido? Nunca fora muito passional com Mike, embora o sexo com ele tivesse sido bom, nunca chegara ao céu como algumas de suas amigas descreviam suas experiências com o namorado.
Talvez a maneira como Gilbert vinha cuidando dela, tivesse influência em sua libido. Ainda não se conhecia o suficiente nessa parte para entender completamente seus impulsos, pois antes de Mike nunca tinha tido uma experiência sexual completa com ninguém. Ele lhe ensinara o que sabia nessa área, por isso, era uma liberdade nova se permitir entender como se sentia com alguém nessa intimidade que não fosse seu ex-noivo. Era uma pena que não se sentisse segura para tentar isso mais a fundo, porque não viajara até o Havaí para se jogar em um caso amoroso passageiro.
-Está se sentindo melhor?- Gilbert perguntou, terminando a massagem em frustrante quinze minutos, pois Anne desejava que ele continuasse. As mãos dele eram mágicas, tinham aliviado a tensão de seus ombros e desciam devagar por suas costas lhe causando uma deliciosa letargia.
Ela se virou devagar, temendo não resistir aquele rosto, que a encarava com uma curiosa expectativa. Não ia cair na armadilha daquele sorriso, e muito menos dos seus pensamentos pecaminosos naquele instante, que a faziam se perguntar o que mais ele sabia fazer com aquelas mãos.
-Estou sim.- ela respondeu, observando o rapaz se ajoelhar na sua frente e dizer:
-E seu tornozelo? Não parece mais inchado.- ele pegou o pé dela com delicadeza e o examinou com cuidado, enquanto Anne prendia a respiração ao sentir o toque dele direto na sua pele.
Não pensara que aquela parte de seu corpo fosse tão sensível. Quem imaginaria que seus pés eram um lugar que poderiam lhe causar inúmeras sensações? Realmente precisava se conhecer melhor, porque tinha a sensação de que em todos os anos de sua vida, principalmente nos últimos seis, ela vivera para agradar alguém que nunca fora ela mesma.
-Não está doendo mais quando ando. Então, acho que os dois dias forçados de repouso ajudaram na recuperação dele também. - ela respondeu, quase suspirando aliviada quando Gilbert soltou seu tornozelo, pois estava difícil esconder suas reações dele.
-Isso é ótimo. O que vai fazer hoje?- Gilbert perguntou, se sentando ao lado dela na varanda.
-Acho que vou fazer uma caminhada. Ficar esses dois dias sem exercício nenhum me deixou ansiosa. Preciso gastar energia.- Anne respondeu, cruzando os braços na frente do corpo.
-Vai sozinha?- Gilbert perguntou, olhando-a com curiosidade.
-Sim, por que?
-Acha que é prudente? E se sua dor de cabeça voltar?- ele perguntou novamente, dessa vez a encarando com preocupação.
-Estou tomando a medicação que o médico do hospital me indicou. Me sinto ótima. - Anne respondeu, impressionada pela maneira como Gilbert estava olhando para ela. Não era possível que tivesse passado a importar para ele tanto assim de uma hora para outra.
-Mas e se sentir mal e não tiver ninguém para te ajudar?
-Pare de se preocupar, Gilbert. Eu vim para essa ilha sozinha, se lembra? Tenho que estar preparada para qualquer eventualidade.- Anne explicou, abraçando o próprio corpo como se quisesse se proteger daquele rapaz que podia fazê-la se sentir de mil maneiras diferentes.
-Mas não está mais sozinha. Eu estou aqui com você. - Gilbert afirmou, deixando-a surpresa.
-Acho que está levando a sério demais seu papel de cuidar de mim. Está tudo bem. Posso assumir esse papel de agora em diante. Sou uma garota adulta. Por isso, não se preocupe. - Anne disse com um sorriso, se levantando de onde estava e indo para o próprio quarto, deixando Gilbert pensativo.
O rapaz não sabia explicar porque se preocupava tanto com Anne. Não se conheciam de fato e como ela mesma tinha dito, era adulta e não precisava da supervisão de ninguém. Contudo cuidar dela naqueles dois dias o fizera perceber, que ela precisava de alguém que se importasse com ela, e Gilbert decidira que daria toda a atenção que ela necessitasse.
Quem o conhecia, sabia que ele era assim, zeloso, cuidadoso e amigo, mas seus sentimentos por Anne iam além disso. Ela sofrera, assim como ele, em seu último relacionamento e parecia carregar dentro de si sequelas desse amor.
Ela não fora valorizada por seu parceiro, da mesma forma que Samantha não levara em conta os sentimentos dele. Estavam por assim dizer, no mesmo barco, então, porque não oferecer seu consolo a ela, enquanto encontrava o seu próprio naqueles lindos olhos azuis?
Ele a ouviu sair quando estava em seu quarto se arrumando, pois se Anne queria caminhar, Gilbert não deixaria que ela o fizesse sozinha.
Deste modo, ele esperou que ela tomasse uma certa distância, para acompanhá-la de longe,e assim permaneceu por quase um quilômetro, até Anne perceber que não estava mais sozinha, olhando para trás e parando surpresa ao ver Gilbert se aproximar.
- Você está mesmo decidido a ser meu anjo da guarda, não é?- Anne disse, sem acreditar que ele a seguira.
-Eu te disse que me preocupo com você, e como vê, eu não menti.- o rapaz sorriu e Anne tentou não perceber o quanto aquele sorriso mexia com ela.
-É só uma caminhada, Gilbert. - Anne falou, balançando a cabeça.
-Mesmo assim. Quis me certificar de que você ficaria bem.
-Tudo bem.- Anne disse desistindo de discutir. Ele não desistiria de segui-la, assim, continuar protestando não resolveria nada.
Eles andaram lado a lado por um tempo, até que pararam em um lugar específico, onde os raios de sol brilhavam sobre as águas do mar de forma impressionante.
-Como esse lugar é lindo.- Anne disse suspirando.
-É sim. Não é minha primeira vez em um lugar como este, mas sempre que tenho a oportunidade de estar próximo de algo tão incrível assim, eu percebo como estar vivo é realmente um presente.
-Você fala como se sentisse realmente isso em cada palavra.- Anne comentou, sorrindo para o rapaz que retribuiu dizendo:
-É o que sinto realmente todos os dias em que acordo e vejo pela minha janela, o mundo brilhando lá fora.- o entusiasmo dele era tão contagiante que fez Anne dizer:
-Desde o acidente, eu tenho me sentido assim também. Não tinha percebido o quanto a vida é preciosa até quase perdê-la.
-Foi muito ruim a sua recuperação?
-Foi sim. Sentia tantas dores que pensei que nunca iriam terminar, mas depois de um mês já me sentia melhor e o que sobrou daquela época foram as enxaquecas. Mas meu médico me disse que com o tempo, elas irão desaparecer também. - Anne explicou. Não gostava de falar daquele assunto, mas com Gilbert não se importava. Ele lhe passava uma confiança e compreensão que a emocionava e estava grata por isso.
-Seu noivo na época não lhe deu nenhum apoio?- Gilbert perguntou, atirando uma pedrinha na água.
-Ele sequer me procurou. Mas tive apoio de minha família e de minhas amigas, o que realmente foi muito importante.
-Você nunca mais teve notícias dele?- Gilbert tornou a perguntar, pois tinha muita curiosidade sobre esse lado da vida de Anne. O rapaz e ela compartilhavam um coração quebrado e isso os aproximava de uma forma incrível.
-Só quando devolvi o anel de noivado, mas mal nos falamos, porque não havia realmente nada a dizer.- Anne conclui, sentindo pela primeira vez que o rancor que a arrastara para longe de tudo quase não existia mais. Era como se o tivesse drenado através dos dias que tinha vivido nos últimos meses, até aquele instante ao lado de Gilbert.
-Eu também terminei um relacionamento certo. Na verdade, foi ela quem me deixou por outro. - Gilbert confessou, fazendo Anne encará-lo e murmurar:
-Sinto muito.
-Tudo bem. Acho que não era para dar certo. Fiquei magoado na época, mas entendi que foi melhor assim. Viver com alguém que não te ama não faz bem a nenhum dos dois.- Gilbert concluiu.
-Acho que tem razão. Sempre me perguntei se não fui a responsável por ter dado errado. Mas, não sei o que poderia ter feito de diferente para que as coisas tivessem funcionado entre Mike e eu.
-Você não fez nada errado. Tem que acreditar nisso.- Gilbert disse, dando um passo e segurando na mão de Anne. - Foi ele que perdeu pelo que fez. Você é linda, Anne, inteligente e engraçada. É uma ótima companhia e uma mulher admirável.
-Obrigada. - ela disse, corando por tantos elogios.- Nunca me enxerguei assim, por isso, é bom ser vista pela perspectiva de outra pessoa.- Anne disse, observando como sua mão se encaixava tão bem na de Gilbert.
-Queria que me deixasse te fotografar. Quem sabe também conseguisse perceber todas as suas qualidades que acabei de pontuar.- Gilbert sugeriu, pois adoraria mostrar aquela garota como ela brilhava diante de seus olhos.
-Não acho que algumas fotografias mudariam alguma coisa. Sou o que sou. Tenho que me conformar com isso.- Anne disse com um suspiro profundo.
-Está enganada. É só me permitir fazer as fotos e te provarei o que estou falando.- Gilbert disse com um sorriso persuasivo que fez Anne sentir um calor súbito. Havia tanta coisa ali que era impossível dizer o que era real e o que era fruto de sua imaginação. Para acabar com aquela sensação inquietante, ela disse:
-Ainda não estou convencida, mas obrigada por se oferecer a fazer isso por mim. Me acompanha nos quilômetros que faltam?
-Claro. Vamos lá. - ele respondeu com animação. E pelos minutos seguintes continuaram sua caminhada, e o que Anne não percebeu foi que Gilbert não largou sua mão nenhuma vez.
Como em todas as noites nos últimos dois dias, Gilbert preparava o jantar enquanto Anne se encarregava da salada quando a campainha tocou, fazendo com que ambos franzissem o cenho, pois não estavam esperando nenhuma visita.
-Deixe que eu atendo.- Anne disse quando seus olhos se encontraram com os de Gilbert e em seguida, ela caminhou até a porta e quando a abriu, encontrou James do lado de fora com um buquê de flores em uma mão e uma caixa de bombom na outra.
-James. Que surpresa. - Anne disse, olhando para o rapaz sem entender o motivo de sua visita.
-Boa noite, Anne. Eu soube por Gilbert esta manhã que esteve doente, então, decidi te fazer uma visita. Desculpe se estiver sendo inconveniente. - o rapaz disse com um sorriso simpático.
-Não, de forma nenhuma. Obrigada pela gentileza. - Anne disse quando o rapaz lhe entregou os presentes que trouxera para ela.- Entre, por favor.
-Obrigado. - James disse, passando pela porta, assim que Anne permitiu que ele entrasse.
-Como você está?- James perguntou, se sentando no sofá junto com a Anne.
-Estou bem. Foi apenas uma enxaqueca, mas já passou.
-Que bom saber. E seu tornozelo?- James perguntou, apontando para o local onde Anne tinha machucado.
-Melhorou bastante. Não dói mais.- Anne falou, cruzando as pernas.
-Gilbert está muito chateado comigo novamente pelo que aconteceu. Me disse essa manhã, que você era minha responsabilidade na água e não cuidei de você como devia mais uma vez.- James contou e Anne não se surpreendeu. Pela maneira como ele vinha se comportando com ela, podia imaginar o sermão que James tivera que ouvir.
-Gilbert é um bom amigo.- ela disse simplesmente, no que James discordou:
-Tenho a impressão que é mais que isso. Ele age como se sentisse bem mais que amizade por você.
-Está enganado. Ele apenas cuidou de mim em um momento difícil. Não passa disso.- Anne disse com o coração disparado ao pensar que as palavras de James poderiam ter um fundo de verdade. Mas logo convenceu a si mesma que aquilo era bobagem, e que não devia iludir a si mesma com tais pensamentos.
O rapaz ficou por ali exatamente por quase uma hora. Gilbert não apareceu na sala durante aquele tempo, mas isso não o impediu de espiar a visita que Anne estava recebendo. Obviamente, não gostou de ver James por ali, assim como não gostou da maneira como Anne confortável com o rapaz em alguns momentos, e fazia algum comentário espirituoso quando ele dizia alguma coisa engraçada. Pareciam estar na mesma sintonia, o que o incomodava imensamente.
Aqueles dois dias com ela haviam despertado sentimentos nele que não queria analisar naquele instante, pois não queria admitir que Anne começava a ocupar parte de seus pensamentos e coração.
Sem que Anne e James vissem, Gilbert deu a volta na casa e chegou até a varanda, se deixando envolver pela paisagem do lado de fora, que tinha adquirido um encanto especial ao anoitecer.
Quando James foi embora, Anne caminhou até a cozinha, mas não encontrou Gilbert. Intuitivamente, ela foi até a varanda e o encontrou lá, sentado no escuro e olhando fixamente para o nada.
-O que foi, Gilbert? Parece aborrecido. - Anne perguntou, colocando uma mão sobre o ombro do rapaz.
-Não é nada.- ele respondeu e depois acrescentou:- Você parecia estar em excelente companhia.
-Está com ciúmes, Blythe?- Anne perguntou em tom de brincadeira.
-E se eu estiver?- ele disse, segurando a mão dela, fazendo Anne estremecer.
-Eu estava brincando. - ela disse, respirando mais rápido ao sentir o dedo indicador dele traçar círculos na palma de sua mão, fazendo-a perceber o quanto o seu corpo era sensível ao toque de Gilbert.
-Mas eu não. - ele respondeu, encarando-a de um jeito que fez milhares de arrepios tomarem conta de sua pele.
-Gilbert, eu não sei o que dizer. - ela quase gaguejou.
-Não precisa dizer nada. Eu sei que é maluco tudo isso, mas eu não consigo mais fingir que você não me afeta.- ele confessou, se levantando e ficando de frente para Anne.
-Acho que você está confundindo as coisas.
-Não estou. Eu sei o que sinto, e não posso mais esconder de mim mesmo que você mexe comigo demais. E sei que sente essa atração entre nós. - Gilbert disse, estendendo a mão e acariciando as bochechas dela, deixando Anne enfeitiçada pelo brilho dos olhos dele naquele momento.
-Não estou à procura de um relacionamento.- Anne conseguiu dizer, mas por dentro ela tremia, sentindo a intensidade do momento mexer com todas as suas terminações nervosas.
-Eu também não. Mas seria um idiota se ignorasse o que está acontecendo entre nós. - o rapaz confessou mais uma vez.
-Isso é perigoso. - Anne o alertou, embora desejasse que ele estivesse mais perto.
-Eu sei, mas confesso que flertar com o perigo me atrai muito mais.
Ele a puxou para seus braços, e Anne se deixou ir, sem forças para resistir o magnetismo daquele homem que a deixava de pernas bambas.
Os lábios dele capturaram o dela de um jeito tão rápido, que Anne não teve tempo de esboçar nenhuma reação. Ela apenas suspirou e permitiu que a boca dele lhe causasse todas as sensações que sentira da primeira vez.
Ela entreabriu os lábios, deixando que a língua dele vencesse a barreira da sua, e iniciasse assim um dança sensual que a deixou completamente mole e pronta a dar a ele o que Gilbert quisesse.
Seus braços voluntariamente se prenderam ao redor do pescoço dele, enquanto seu corpo procurava por mais contato se colando ao dele.
Anne estava zonza, embriagada pelo momento e por aquele homem que era intenso em todas as suas ações.
Ele correu as mãos pelas costas dela sobre a camiseta de algodão, fazendo uma leve pressão sobre elas para encaixar seu corpo e o de Anne de forma perfeita.
Ela sentiu suas forças indo embora quando Gilbert mordiscou de leve seu lábio inferior e voltou a beijá-la como antes até que ambos não pudessem mais respirar.
Eles ficaram abraçados até que Gilbert disse:
-Eu sei que está com medo, pois eu também estou. Mas seria total desperdício se deixássemos esse sentimento especial entre nós sem ser explorado. Só me avise quando estiver pronta, porque também estarei pronto para você. - ele deixou um beijo na testa de Anne e depois continuou:- Agora vamos jantar, pois estou morrendo de fome.
Anne não disse nada, pois ainda estava envolvida pelo momento entre os dois, e assim foi com ele até a cozinha, pensando na magia que Gilbert Blythe conseguia criar com apenas um beijo.
Não sabia como seria o dia de amanhã, mas naquela noite queria apenas aproveitar a companhia daquele homem que sabia como ninguém fazer seu coração bater mais forte por ele, especialmente.
Olá, pessoal. Mais um capítulo postado. Me digam se estão gostando da fic, pois é muito importante para mim saber a opinião de vocês. Beijos e obrigada por lerem.
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