Capítulo 12
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1945
Violet não saberia dizer se era dia ou noite, se era inverno ou verão ou há quanto tempo estava lá. Os riscos feitos por suas unhas na parede agora pareciam desconexos demais para ela entender a própria contagem de tempo. Na maioria das vezes sentia que sua mente estava longe demais para ser alcançada, sabia que tinha perdido a cabeça. Seus próprios pensamentos pareciam fragmentados demais e soavam até estranhos para ela mesma. A loucura é algo difícil demais para ser explicado.
Havia alguns momentos em que ela retomava a consciência e percebia que a situação era alarmante, quando se dava conta era muito pior. Percebia que não conseguia mais raciocinar, muitas vezes esquecia o próprio nome. Após intermináveis sessões de tortura sua mente fragmentada não seguia mais uma linha comum, na verdade parecia ir e voltar em círculos desgovernados até frear bruscamente e a sã consciência lhe atingia como um soco tão forte que a fazia chorar.
Temia que já estivesse há tanto tempo á que acabou envelhecendo e por isso sua mente não funcionava da mesma forma. Percebia que estava se esquecendo de como um dia foi a vida fora daquele lugar, seu passado, sua família. Era como se sua essência escorregasse aos poucos entre os seus dedos e Violet tentava desesperadamente não se deixar escapar. Todas as noites ela deitava na estreita cama, se encolhia até abraçar os próprios joelhos e repetia para nunca se esquecer:
— Eu sou Violet Stark, da divisão científica do exército americano. Estamos em guerra contra os nazistas. Eu ajudei meu tio no Projeto Supersoldado, minha missão era acompanhar o Capitão e avaliar os resultados a longo prazo do soro. Fui capturada, todo dia fazem testes e tentam me fazer falar. Mas eu não vou falar e não vou me esquecer.
Mas conforme o tempo passava, Violet passou a se encontrar tentando preencher lacunas que ela sabia que não estavam lá antes.
— Eu sou Violet Stark, da divisão científica do exército americano. Estamos em guerra contra os nazistas. Minha missão era... Fui capturada, todo dia fazem testes e tentam me fazer falar.
Ela apertava os braços ao redor do próprio corpo e torcia para que no dia seguinte ela não se esquecesse de quem era. Mais uma vez a acordavam, arrastavam para a sala do Dr. Zola e ela ficava lá horas, dias, meses até esquecer quanto tempo havia passado. E então a jogavam de volta no quarto e trancavam a porta.
— Eu sou Violet Stark... Fui capturada, todo dia fazem testes e tentam me fazer falar. Mas eu não pertenço a esse lugar.
Houve dias em que ela molhou o travesseiro ao chorar quando tentou lembrar o seu nome e não conseguiu. Também podia ouvir o homem ao lado do seu quarto gritar ou esmurrar a parede repetidamente. Violet achava que conhecia ele, mas não tinha certeza. Às vezes quando ela se recusava a sair do quarto, a ameaçavam dizendo que machucariam o homem do quarto ao lado. Aquilo doía, mas ela já não sabia bem o porquê.
— Eu não pertenço a esse lugar.
Era a única coisa que ela tinha certeza. O resto se foi como as cinzas do acampamento que ficou para trás.
Primeiro eles a torturaram. Cortaram seu cabelo, arrancaram suas unhas, queimaram sua pele. Lentamente, fariam de tudo para conseguir respostas. Queriam o Capitão América, sua localização, seu ponto fraco, suas estratégias. Mas não importava a tortura, Violet nunca seria uma traidora. Pelo menos não enquanto estivesse consciente, e isso o Dr. Zola logo percebeu.
Mas eles não tinham pressa em conseguir alguma informação dela, na verdade ela era uma peça rara e importante para os planos da Hydra. Além de possuir o conhecimento que precisavam, Violet poderia servir como uma inestimável moeda de troca. Não precisavam descobrir muitos pontos fracos do Capitão América, eles tinham um deles em suas mãos.
Violet Stark era um achado que a Hydra estava disposta a abraçar com todos os seus braços.
— Já não tem mais uma aparência agradável, Miss Stark. — Zola disse entrando na sala.
Violet já estava amarrada na cadeira ao lado da mesa com instrumentos médicos. O olhar dela estava desfocado, antes ela sempre rebatia os argumentos, mas naquele momento ela nem pareceu ouvir.
— Isso é bom, não queremos você com a mesma aparência de antes. — Continuou Zola examinando as seringas na mesa. — Hoje é o seu renascimento, queremos que você tenha um recomeço. Nova aparência, novo nome....
— Eu tenho um nome. — Sussurrou Violet.
Ele se virou lentamente para ela.
— O quê disse?
— Eu tenho um nome. — Ela disse mais alto, a voz soou rouca.
Zola a observou por um tempo. Violet endireitou as costas, fechou os punhos e a respiração se tornou irregular. Ela ainda tentava, não cedia. Sua persistência realmente parecia atrasar os planos, aquilo piorou o mau humor dele. Os EUA haviam acabado de vencer a guerra e sua mais estimada cobaia não dava o braço a torcer.
— Qual o seu nome? — Ele perguntou em um tom desafiador.
Violet ergueu a cabeça, o olhou nos olhos e abriu a boca.... Mas nada saiu. Ela sabia que tinha um nome, mas não conseguia dizer qual era. Zola esperou pacientemente, os segundos passaram e Violet movia os lábios sem conseguir emitir um som.
Ela se deu conta de que já não sabia mais. Lágrimas silenciosas escorriam pelo rosto dela.
— Não se preocupe. Vou te dar um novo nome. — Ele sorriu, ela poderia resistir, mas essa era uma luta que ele iria ganhar. — Acho que está descobrindo que podemos não ter vencido a guerra agora, mas ainda não acabamos.
Ele se virou para a mesa examinando o material, o silêncio perdurou na sala até Violet começar a rir subitamente.
Zola a encarou, definitivamente ela estava fora de si.
Violet, ainda com o rosto molhado pelas últimas lágrimas, abriu um sorriso e continuou a rir.
— Você disse que perdeu a guerra?! — Ela sorriu. — A guerra acabou?
Zola observou enquanto ela tinha um último lampejo de consciência.
— Nós ganhamos. — Ela continuou a dizer. — É claro que ganhamos. Você está acabado.
A boca de Zola tremeu, sua vontade era de acertar a seringa no pescoço dela, mas se controlou. No fim das contas, Violet poderia lhe lançar um último insulto e nada iria mudar. Como ele costumava se dizer: haviam perdido uma vez, mas ainda havia outras coisas a se ganhar.
— O que acha que vai acontecer? Que virão atrás de você, irão te resgatar e você irá voltar para casa e comemorar a grande vitória? — Zola se aproximou lentamente e inclinou a cabeça para que seus olhos ficassem na altura de Violet. — Ninguém vai vir por você. O Capitão América está morto.
Ela respirou fundo, os olhos cheios de lágrimas e as mãos fechadas em punhos. Zola soube nos olhos dela que aquilo doeu mais do que qualquer tortura e condicionamento comportamental que haviam feito com ela. Doía e ela não sabia o porquê, já havia esquecido. O nome Capitão América já não lhe trazia algo à memória consciente, mas ainda abalava a emocional.
— Nós seres humanos somos uma máquina da natureza tão engenhosa e curiosa, não acha? — Zola se voltou para a mesa e colocou as luvas brancas. — A mente pode ser nossa salvação, mas também nossa condenação. Sei que deve estar sofrendo, mas tudo isso é para um propósito maior. Estamos salvando o mundo. O Capitão América pode ter parado essa guerra, deu a própria vida para isso. Mas não pode nos parar, estamos crescendo.
Na parede da sala havia um vidro que permitia que pessoas do lado de fora observassem o que ocorria lá dentro. A porta da sala se abriu e um grupo de quatro assistentes entrou, dois de cada lado de Violet. A luz do outro lado do vidro acendeu e Violet pode ver um grupo de homens com fardas e jalecos brancos, todos tinham uma insígnia em seus uniformes. O símbolo era uma caveira com vários tentáculos dentro de um círculo.
— Você não vai se lembrar disso, mas é uma grande honra. — Zola continuou. Violet ainda encarava as pessoas que observava do lado de fora. — Vai experimentar sua própria pesquisa e isso vai revolucionar a genética. Suas alterações no soro do super soldado foram maravilhosas, é claro que eu apliquei meus próprios ajustes. Se tudo correr bem, podemos criar um exército.
Então Zola se virou para o vidro e olhou para os homens do lado de fora. Começou a apresentação em alemão.
— Hoje apresento a vocês o resultado do Projeto Darksouls. O primeiro indivíduo da pesquisa é Violet Elise Stark. Começamos o procedimento de condicionamento comportamental e controle mental há quase três anos, felizmente com ótimos resultados. Agora começaremos as alterações físicas que permitiram ampliar a capacidade de combate do indivíduo. Se obtivermos sucesso nesta segunda fase do projeto, prosseguiremos com o mesmo protocolo para as demais cobaias. — Zola se virou para os dois enfermeiros do lado da mesa. — Iniciar a aplicação do soro.
Cada um dos dois recolheram uma seringa da mesa, ela tinha um fluído violeta que entrava em contraste com a luz. Violet encarou a substância sabendo que aquilo seria sua morte, desejava ao menos recordar o próprio nome antes de morrer. Mas nada lhe parecia familiar.
Um dos enfermeiros inseriu a seringa na veia do braço direito dela e deixou a substância invadir o sangue de Violet. Ela sentiu o líquido queimar, subir pelo seu braço e se espalhar. Em seguido o segundo assistente injetou a outra substância no braço esquerdo. A sensação de calor aumentou e ia se espalhando pelos braços, a pele formigava, os músculos se contraiam cada vez mais. Era como fogo, as chamas invisíveis aumentavam a dor e o desconforto. Violet mordeu os lábios tentando suportar, tentando se lembrar.
— Iniciar condicionamento e controle mental. — Solicitou Zola.
Violet fechou os olhos, o corpo se contorceu violentamente. Dois assistentes seguraram o corpo dela, a cadeira longa de metal sacudiu. Havia gritos na sala e ela percebeu que eram seus gritos, suas voz distorcida ecoou enquanto seu corpo queimava. Um terceiro assistente parou na sua frente, Violet não conseguia distinguir o rosto, sua visão estava turva e o mundo girava.
— Saudade. — Declarou o assistente. Violet sentiu seu peito arfar e sua voz cessou, mas o corpo continuava a tremer. Sentia saudade mais do que dor, saudade do que já havia sido, saudade do mundo lá fora, saudade de lembrar.
— Conhecimento.
Violet torceu as pernas, a cadeira sacudiu enquanto o soro mudava seu metabolismo.
— Vinte e um.
Ela desejou que acabasse logo. Mas se ao menos pudesse se lembrar. Havia rostos sem nomes na sua mente, despedidas nunca dadas, vitórias não comemoradas, a vida que foi roubada dela.
— Morte.
Ela conseguia se sentir indo, o que restara estava se distanciando. A própria vontade de persistir já a fazia perguntar "por quê?". Persistir pelo quê? Ela nem mesmo tinha um nome.
— Fogo.
A pessoa que ela havia sido tinha ido embora há muito tempo atrás em meio às chamas de um acampamento. Miss Stark já não existia mais.
— Nove.
O vazio que ela era, sem nome, sem história. Pronta para ser abraçada pelos braços da Hydra, guiada pelas nove cabeças. Não pensava mais por si, estava pronta para servir.
— Sono.
Sentiu seu corpo paralisar, a queimação ia cessando. Sua consciência de identidade estava adormecida para dar lugar à arma que ela seria.
— Darksoul.
O passado estava nas sombras. O último suspiro dela como Violet Stark foi dado.
— Zero.
Estava renascendo.
— Combate.
Seu único objetivo era o combate.
O tremor cessou, o corpo relaxou.
Um dos assistentes checou os sinais vitais na tela. Sem batimento cardíaco.
— Está morta. — Declarou ele a Zola.
O Dr. Zola olhou no relógio de pulso e calmamente se virou para a equipe que observava.
— Apresento a vocês o mais novo modelo de agente das operações da Hydra. — Ele declarou.
Os batimentos cardíacos voltaram, o monitor emitiu um bipe lento e baixo para indicar que ainda havia sinal de vida.
— Apresento a vocês: Ghost. — Ele se aproximou dela e a tocou no ombro. — Bom dia, agente.
Ela abriu os olhos, as íris violeta se destacaram na sala.
— Pronta para servir. — Ela respondeu.
Zola exibiu um meio sorriso para a equipe.
— Heil Hydra! Heil Hydra! — Os assistentes disseram.
— Heil Hydra. — Concordou o restante da equipe.
Ela se levantou.
— Heil Hydra. — Disse Ghost, não mais Violet.
Atualmente
Ainda não tinha amanhecido quando Violet acordou. E dessa vez ela se lembrava do sonho, o que pareceu muito mais assustador do que as outras lembranças que havia recuperado. Ela se sentou na cama e encarou a própria mão, estava gelada. Alguém havia a ensinado a como esquentar as mãos, juntou as duas e levou até os lábios soprando seu hálito quente entre as palmas. O hálito de outra pessoa já havia feito aquilo, de certa forma ela sabia que não era uma lembrança de Stevie. Mas ele sempre estava lá nos momentos mais sombrios.
Ela se levantou, calçou os chinelos e pegou um robe pendurado na parede e saiu do quarto. Não iria conseguir voltar a dormir depois de ter revivido uma lembrança como aquela, depois de algo assim todas as memórias ruins poderiam vir como uma enxurrada de pesadelos. Violet tinha em sua mente os flashs de estar amarrada tendo sua mente desfeita, poderia ver sua mão segurando armas, atirando, tirando vidas, sendo o inimigo. A ideia de ter que enfrentar aquele seu lado a aterrorizava.
Ghost.
Isso a assombrava e ela precisava de algo conhecido para manter seus pés no chão. Por isso bateu na porta de Steve. Ele atendeu logo depois da batida. Ele a olhou com surpresa, Violet também estava surpresa ao encontrá-lo acordado e com a calça do uniforme. O colete e a máscara estavam sobre a cama.
— Você está bem? — Steve perguntou e abriu mais a porta dando passagem para ela.
— Eu lembrei de algo e estou com uma sensação estranha. — Ela disse entrando. Foi quando viu a mala de Steve sobre a cama, aberta como se ele estivesse organizando suas coisas dentro dela. — Você está saindo ou chegando?
— Saindo. — Ele respondeu tirando o colete da cama e o colocando sobre a camisa branca. — Que sensação estranha?
— A sensação de que não sei de tudo. Desde que encontramos Crossbones, desde que Natasha disse que eu era...
— Não se prenda a isso, Violet. — Stevie ajeitou o colete, os cabelos loiros desalinhados pela pressa. Ele se aproximou de Violet e afagou os braços dela. — Pode não estar pronta pra algumas coisas...
— Stevie. — Ela interrompeu com a voz doce, porém firme. — Eu decido quando estou pronta. E quero saber, preciso saber.
— Eu sei. — Ele suspirou, franzindo a testa. — Mas eu quero protegê-la...
Violet se aproximou ainda mais e tocou o rosto de Steve.
— Proteção não é controle, Stevie. — Sussurrou. — Essa escolha eu preciso fazer.
Ele fechou os olhos por um segundo e balançou a cabeça.
— Eu preciso ir agora, Violet. Estou indo para Lagos com Sam, Natasha e Wanda. Crossbones vai estar lá e eu não posso perdê-lo dessa vez. — Ele disse com a voz baixa. Tocou a mão dela que estava em seu rosto e gentilmente a tirou. — Me desculpe. Acho melhor que espere na Torre, vamos estar em meio a muitos civis e precisamos diminuir os riscos.
Vi entendeu que precisavam diminuir os riscos, porque ela era uma ameaça.
Assassina.
Ghost.
Violet estava pronta para encarar esse seu lado, mas Steve não parecia pronto.
Ela se perguntou se ele não estava na verdade tentando proteger a si mesmo. Porque talvez Violet ser o que era agora fosse demais para ele. Steve sempre o certo em busca da justiça seria capaz de olhar para seu lado obscuro?
Ele se virou para pegar a máscara em cima da cama e Violet viu que dentro da mala aberta estava o relógio de bolso aberto com a imagem de Peggy Carter.
Steve pegou a mala e a fechou, beijou a testa de Violet se despedindo e saiu pelo quarto.
Ela ficou ali, refletindo sobre o fato de que só ela poderia enfrentar a si mesma. Aquilo lhe pareceu tão solitário. Sentiu vontade de pedir que alguém a ajudasse a enfrentar as lembranças ruins naquela noite.
Fique comigo. Fique e leve embora os pesadelos. Fique e eu me sentirei melhor.
Ninguém havia ficado.
***
Pela manhã Violet já havia escrito tudo o que lembrava em um bloco. Poderia ter usado o computador, mas segurar a caneta e fazer algo sua própria caligrafia era muito mais confortável e ajudava no processo de lembrar-se suas pesquisas e anotações antigas. Sabia que havia sito torturada por anos, que ela mesma estava criando um ovo soro com Howard e que a Hydra usou seus estudos para fazer dela uma arma. E o nome que sempre iria a assombrar era Ghost, uma ironia sádica no mínimo.
— Miss Stark. — Disse Friday às 8h da manhã.
— Sim. — Respondeu Violet rascunhando um desenho no fim da página, era um rapaz de cabelos escuros e olhos claros. Ela achava que era Bucky, mas não tinha muita certeza.
— O Senhor Stark solicitou que você o acompanhe hoje em um evento de projeto e pesquisa. Happy estará aqui para buscá-la às 9h. — Disse Friday. — Recomendo que use um estilo social casual. O Senhor Stark achou melhor lembra-la das roupas que estão usando atualmente, saia longa de cintura alta com ondas fixadas com laquê são consideradas fora de moda hoje em dia....
Violet suspirou não acreditando que Tony tivesse feito aquilo. Friday como o bom sistema programado que era, mostrou à Violet look sugeridos pela Vogue.
— Para um estilo que esbanje dinheiro recomendamos que você se inspire em Kim Kardashian, Miley Cyrus... — Continuou Friday. Violet se levantou ignorando completamente as imagens.
Violet nem mesmo se lembrava de já ter ouvido falar naquelas pessoas e achava que seu senso vintage não era nada alarmante. Tony estava sendo chato.
Tony estava dando uma oportunidade a ela de sair e mesmo relutante em admitir, ela estava grata por isso. Resolveu não provocar Tony e se vestiu de maneira simples, calça social de cintura alta, camisa e salto alto. Mas não deixou de colocar laquê no cabelo, ela estava disposta a trazer aquela moda de volta. Entrou no carro no horário marcado.
— Bom dia, Miss Stark. — Disse Happy encarando seu penteado. — Está muito bonita hoje.
— Obrigada, Happy.
Ele a levou até o centro da cidade explicando que o evento aconteceria em um prédio executivo que tinha convênio com as principais universidades. Happy estacionou e abriu a porta do carro para ela quando chegaram.
— Já estão a esperando lá dentro. — Disse Happy. Tenha um bom dia, Senhorita Stark.
Violet desceu do carro e entrou no prédio. No hall de entrada havia enormes banners de programas de pesquisas e bolsas. Um dos banners possuía o logotipo Stark e ela sentiu em seu íntimo um orgulho de tudo que havia sido construído, o império que Howard havia começado. Se dirigiu até uma das recepcionistas, mas antes que pudesse se apresentar, uma mulher se aproximou.
— Senhorita Stark. — Disse a mulher. Violet se virou e notou que ela usava um fone, um crachá de identificação das Indústrias Stark. — Eu sou a nova assistente do Senhor Stark, ele te aguarda no auditório. Posso leva-la até lá.
Violet agradeceu e seguiu a mulher.
A assistente entrou pela porta dos fundos do auditório, Tony estava no palco e a cortina do local estava fechada. Havia um barulho do outro lado, burburinho de conversas paralelas enquanto esperavam o início da palestra. Bem, Violet deduziu que fosse uma palestra, como Howard fazia antes vendendo sua história de superação e dando visibilidade para suas patentes.
Ela e a assistente caminharam até Tony.
— Senhor Stark, Violet está aqui. Você entra em cinco minutos. — Ela disse antes de sair.
Tony se virou para Violet e observou as roupas que ela havia escolhido.
— Confesso que tive muito medo que você aparecesse de óculos colorido e calça boca de sino.
— Tony, isso é dos anos 70. E eu não acho que eu já tenha usado algo assim. — Ela se aproximou de Tony e ajeitou o colarinho amassado da camisa dele, um gesto que costumava fazer com Howard.
— Eu sei bem que você usaria qualquer coisa cafona do século passado dando a desculpa de que é vintage. -Ele continuou com os comentários sarcásticos e Violet riu, porque ninguém entendia melhor o humor de um Stark do que um outro Stark.
— Você detesta meu gosto fashion, já entendi.
— Sim, mas não te chamei aqui devido a seu gosto fashion ou seja lá o que for isso que você veste. — Ele tirou um aparelho do bolso, era pequeno e semelhante a um fone bluetooth, e o colocou na orelha. A ponta do aparelho ficava fixada em sua têmpora. — A Stark vai abrir portas para estudos e pesquisas no âmbito universitário e empreendedor para os jovens selecionados nesse projeto.
— Inovação é essencial para investimento tecnológico. — Violet concordou.
— Sim, eu gostaria que visse esse projeto. Talvez possamos nos ajudar caso você consiga recuperar algumas memórias e se um dia puder me auxiliar na parte de investimento e pesquisa...
— É um convite oficial para trabalhar com você. — Violet observou enquanto Tony ajeitava o paletó que não precisava ser ajeitado.
— É uma oportunidade a longo prazo. Não quero que sinta que estou jogando algo sobre você, ainda mais com todos os problemas relacionados a amnésia. — Tony limpou o garganta. — Não acho que ficar trancada naquele lugar e sendo monitorada vá ajudar muita coisa. E você não precisa ter ajuda só do Steve.
Eles se olharam por um breve instante sem saber muito bem como se expressar, a verdade era que nenhum dos dois tinha um bom histórico de relações familiares para saber como agir no momento.
— Olha não sou bom com isso. — Tony gesticulou para os dois. — Essa coisa de família. Mas o que eu quero dizer é que... Nós Starks devemos permanecer juntos.
Violet sentiu-se tão grata que os olhos ficaram úmidos e ela precisou piscar várias vezes e desviar o olhar por um instante e assim evitar que alguma lágrima escapasse.
— Obrigada, Tony.
Ele apertou o ombro delas de maneira gentil.
— Pense a respeito e se sentir que for bom pra você, fale comigo. — Ele disse.
— Senhor Stark, tudo pronto! Vamos começar. — A assistente de Tony disse ao se aproximar e gesticulou para que Violet a seguisse para ficar fora do palco.
Vi saiu com a assistente e se posicionou na lateral do palco enquanto Tony caminhava para o centro. As cortinas se abriram lentamente e uma salva de palmas ecoou pelo auditório.
Tony acionou o dispositivo em sua cabeça e o palco foi transformado. O espaço antes vazio começou a ser preenchido por um piano, um sofá, cortinas no fundo. Uma sala foi construída visualmente e Violet ficou intrigada com a proporção de realidade, estava adentrando em um lugar novo. Levou um tempo para perceber que havia uma mulher de meia idade no piano, ela tinha os olhos fechados e ao seu redor havia uma decoração de natal com miniatura do papai Noel e doces.
Um homem entrou na cena arrumando a gravata e Violet o reconheceu de imediato, mesmo com as rugas e os cabelos já brancos.
— Tio Howard. — Ela sussurrou fazendo esforço para não piscar e perder a miragem que estava vendo.
Howard parecia tão real que a parte irracional de Violet quase a fez se mover na direção dele. Howard parou de frente para o sofá e acordou um rapaz que estava nele.
O rapaz era Tony, porém mais novo e pela expressão facial tinha um humor mais ácido também.
— Dizem que o comportamento irônico é um sinal de que um dia será um grande homem. — Howard disse para o filho.
Violet percebeu que a mulher no piano era Mary, mãe de Tony. Ela se levantou e caminhou até o filho.
— Por favor, diga alguma coisa. Sabe que é a última vez que vai nos ver. — Ela disse ao beijar o rosto do filho.
— Eu te amo, mãe. — Disse o Tony mais novo. — Eu sei que fez o seu melhor, pai.
Mary e Howard saíram da sala.
Tony, o verdadeiro, caminho pela sala e tocou a vela que estava sobre o piano. Todo o cenário holográfico se desfez e o palco ficou tão vazio como estava antes, de certa forma isso mostrava à Violet que todos tinham lembranças que os assombravam. Tony revivia a última vez que viu os pais e usou a lembrança para dizer o que deveria ter dito.
— Sequestro do hipocampo para tratar traumas em memórias. — Tony comentou enquanto o holograma sumia. — Um investimento incerto pra uma terapia com custo bilionário. Claro que não muda o fato de que meus pais pegaram o avião naquela noite, chegaram ao seu destino e morreram em um acidente de carro. Não muda o fato de que eu nunca cheguei a dizer aquelas palavras e nem que eu não me despedi.
Violet compreendia o quanto aquilo era difícil e pela segunda vez no dia, Tony fez com que seus olhos enchessem de lágrimas.
— Mas com esse novo projeto, temos a possibilidade de tratar os traumas através de lembranças. Transformar um tiro no escuro em um acerto no alvo. — Claro que Tony ia transformar o discurso em algo inovador e esperançoso. — Pensando nisso, a Stark Industries está fornecendo uma bolsa integral para cada universitário aqui presente. Através do Programa MKTI, vocês terão a oportunidade de acertar novos alvos.
A plateia de estudantes e investidores se levantou e aplaudiu.
Um representante da empresa se dirigiu até o centro do palco para dar continuidade à apresentação e Tony se retirou indo em direção aos bastidores. Tirou o dispositivo da orelha e o colocou de volta no bolso e olhou para Violet como se esperasse um comentário dela.
— Foi impressionante, Tony. — Ela disse em voz baixa. — Por um momento parecia tão real, céus!
— Bem, isso é um começo. Se continuarmos investindo poderemos descobrir mais. — Tony comentou colocando as mãos nos bolsos da calça. — Poderíamos usá-lo para lhe ajudar também e ainda há outros projetos para vermos...
— Senhor Stark, me desculpe. — A assistente disse que se aproximar. — Esqueci de tirar o nome de Pepper Potts do programa....
— Senhor Stark! Eu estava pensando se o financiamento é válido só para estudantes ou se funcionários também poderiam trabalhar nisso... — Interrompeu um homem com o crachá da Stark. Ao redor outros funcionários começaram a olhar como se planejassem se aproximar, como se aquela fosse o momento perfeito para encher Tony de perguntas.
— Com licença, onde fica o banheiro? — Tony perguntou para a assistente enquanto tocou o braço de Violet indicando que ela deveria lhe acompanhar. Os dois começaram a caminhar deixando assistente e funcionário para trás.
Tony e Violet saíram em direção a uma porta e passaram por ela. Havia uma placa indicando que os banheiros ficavam no corredor à direita. Tony seguiu pela esquerda na direção dos elevadores e Violet o acompanhou.
— Tio Howard estaria orgulhoso de você, Tony. — Ela disse quando pararam para esperar o elevador. — Sabe, já que você começou com toda essa conversa sobre família... — Violet começou a usar seu tom sarcástico, o que fez Tony suspirar. — Eu gostaria de saber quem é Pepper, talvez conhecê-la....
— Não vamos alar disso, Violet. Não quero que fique pensando que podemos conversar sobre essas coisas, não quero saber sobre você e o Picolé. — Tony respondeu negando com a cabeça.
— Nem eu sei sobre mim e Steve. — Violet murmurou lembrando de ter visto ele colocar o relógio com a foto de Peggy na mala antes de partir.
Tony franziu a testa e abriu a boca como se fosse fazer uma pergunta, mas parou quando uma senhora se aproximou e parou ao lado dele de frente para a porta do elevador.
— Vai descer? — Ele perguntou apertando o botão para chamar o elevador.
— Eu estou onde eu quero estar. — Ela respondeu colocando a mão na bolsa para tirar algo de lá. Algo na postura dela fez Violet se precipitar e segurar a mão dela antes que ela tirasse o objeto da bolsa.
— Está tudo bem, Violet. Ela não é uma ameaça. — Afirmou Tony. Violet tirou a mão.
— Desculpe, senhora. São vícios do trabalho. — Violet respondeu um pouco constrangida, não pode evitar um reflexo.
— Eu trabalho com Recursos Humanos. — Respondeu a mulher, era mais baixa que Violet e olhava atentamente para Tony. — É chato, mas esse emprego era o bastante para que eu conseguisse criar bem o meu filho.
Ela tirou a mão d abolsa e estava segurando uma foto, colocou ela contra o peito de Tony numa fúria contido. Violet viu o rancor nos olhos dela.
— Esse era o meu filho, Charlie Spencer. — Tony pegou a foto e olhou o rosto do rapaz. — E você o matou.
Houve um silêncio tenso onde Tony olhava da foto para a mãe e Violet tentava entender o contexto de toda a situação.
— Você o restante dos Vingadores em Sokóvia. Um prédio caiu no meu filho enquanto a cidade se desfazia. Vocês acham que estão nos mantendo seguros? Há pessoas que se machucam também, Senhor Stark.
Algo mudou nos olhos de Tony, algo denso e triste.
— Quem vai vingar o meu filho? — A mulher olhou para Violet por um instante. — Ele está morto. — Ela voltou o olhar para Tony. — E eu culpo você, culpo os Vingadores.
Dito isto, a mulher saiu pelo corredor.
Violet queria ter dito algo, mas "sinto muito" era vazio e nada poderia diminuir a dor daquela mulher. Nada poderia tirar a culpa que pesou sobre as feições de Tony naquele momento. O elevador parou no andar e os dois entraram em silêncio.
***
Tony não havia conseguido emitir uma única palavra desde que encontrara a mulher que lhe acusou de matar-lhe o filho. Depois do ocorrido, Violet não tentou fazer com que ele continuasse o assunto e Tony estava extremamente grato por isso. Havia muita coisa em sua cabeça que ele precisa organizar.
Em um primeiro momento pensou na situação de maneira racional, ele sabia que o que ele e os Vingadores faziam era com o objetivo de um bem maior. Afinal, eles evitaram uma invasão alienígena. Mas pela primeira vez, Tony começava a ver os efeitos colaterais com clareza. Quantos morriam toda vez que os Vingadores interviam?
— Não dá pra salvar todo mundo, dá? -Ele se questionou em voz alta enquanto servia-se de um copo de suco natural, mas na verdade queria muito uma dose de conhaque. Olhou para a foto de Charlie Spencer que deixou sobre a sua mesa e se recusou a procurar algo sobre o garoto naquele primeiro momento, Tony precisava antes organizar seus pensamentos.
Sempre tivera certeza de que suas ações como um Vingador, como o Homem de Ferro, eram para proteger e lutar por outras pessoas. Nunca machucá-las.
Tony ligou a televisão de seu escritório e passou para o canal de notícias. Bebeu um gole do suco amargo de laranja e encarou as imagens do noticiário que mostrava uma explosão em um prédio da cidade de Lagos na Nigéria. Ele se inclinou sobre a mesa ao ver que Steve, Sam e Wanda estavam nas proximidades da explosão. As imagens mostravam que a explosão atingiu o prédio, Wanda não conseguiu controlá-la.
Tony tentou compreender a situação, com certeza Wanda não queria ferir os outros. Mas ele só conseguia olhar para as pessoas que estavam sendo resgatadas, as pessoas que eles deveriam estar protegendo.
Ele engoliu em seco e deixou o copo sobre a mesa enquanto encarava a foto do garoto morto em Sokóvia.
— Friday. — Ele ativou o sistema com o comando de voz. — Preciso de todas as informações sobre Charlie Spencer morto em Sokóvia.
— Senhor Stark, o Secretário de Defesa deixou um recado para o Senhor hoje.
— Me conecte com o Secretário de Defesa Ross. — Tony complementou, precisava fazer algo a respeito.
***
Haviam sido dias difíceis em Lagos. Nãoconseguiram as coisas exatamente como queria e Steve já estava começando aquestionar sua posição como capitão da equipe. A explosão que atingiu cidadãosrepetia em sua mente diversas vezes e ele sabia que a culpa era sua, mas Wandaachava que a responsabilidade deveria ser toda dela. Apesar de todo o ocorrido, ele só conseguiu se lembrar de Crossbones falando de Bucky e isso aumentava o sentimento de urgência que ele tinha para encontrar mais informações, para encontrar Bucky.
Steve imaginava se seria possível encontrar o amigo e ajuda-lo no que fosse necessário, saber o que aconteceu nas últimas décadas quando estavam separados. Como havia acontecido com Violet, ela estava perto agora e ao mesmo tempo distante. Era comum que ele pensasse com frequência nela e que os pensamentos fossem carregados de carinho, mas nunca antes os pensamentos eram acompanhados de desejo. Eles eram amigos desde sempre e todas suas lembranças estavam ligadas à ela, mas era muito difícil quando sua ideia de primeiro amor estava sempre ligada à Peggy Carter.
Ele sabia que tinha um sério problema com desapego, não exatamente de pessoas, mas sim da época em que viveu. O jovem Steve que sonhava em ter um casamento, filhos e viver para a família havia morrido congelado vários anos atrás. O Steve de agora parecia estar sempre buscando reviver o que fora um dia, usando Violet para isso. Ela era sua âncora e quando ele sentia que estava se afundado na loucura deste mundo atual, a presença dela sempre o fazia sentir que tinha algo familiar no qual ele ainda podia se abrigar.
O beijo dela havia mexido com ele de uma maneira muito rara e singular, havia sido perfeito. Então por que ela ainda carregava a foto de Peggy consigo?
Steve saiu do elevador e entrou na sala de estar do complexo, era de madrugada e depois do que aconteceu em Lagos ele geralmente voltaria para o próprio apartamento velho no Brooklyn. Porém, era um daqueles momentos em que ele queria ver algo familiar.
Havia só uma luminária branca no canto da sala próxima ao sofá onde Violet estava sentada. Uma melodia baixa ecoava pelo recinto e Steve percebeu que era a vitrola do lado da luminária. A música era lenta e a voz era de Vera Lynn. Ele se aproximou e deixou a mala que carregava no chão, tirou o boné e a jaqueta os deixando no sofá. Violet ergueu os olhos para ele e abriu um meio sorriso, como se perguntasse como ele estava.
Ele estava cansado demais para falar sobre o que havia acontecido em Lagos e mais cansado ainda para retomar o conflito de seus pensamentos. Ele então só tirou as botas e caminhou de meias até Violet. Ela se levantou e o abraçou.
Steve respirou fundo enquanto a sensação de familiaridade levava embora o caos em sua mente. Ele a apertou em seus braços.
— Fico feliz que esteja bem. — Ela murmurou se afastando do abraço e voltando a se sentar no sofá. -Bem na medida do possível, quero dizer.
Steve se sentou ao lado dela e suspirou, virou o rosto para observá-la.
— Por que você não está dormindo?
— Eu sabia que você ia chegar hoje. — Ela respondeu com outro sussurro.
Ele se inclinou na direção dela para ver melhor com a luminária criando reflexos no rosto dela.
— Não, Violet. Por que não está dormindo nos últimos dias? — Steve passou o polegar pelas olheiras dela.
Ela encolheu as pernas as colocando em cima do sofá, levou alguns instantes em silêncio e ele esperou pacientemente até que ela conseguisse falar.
— Eu tenho sonhado noites inteiras de lembranças. — Ela respondeu depois de um tempo com as mãos entrelaçadas sobre os joelhos. — Cada um dia um pesadelo novo. Eu seu o que aconteceu, ou pelo menos a maior parte do que aconteceu.
Steve nada disse, deixou que ela tivesse seu tempo para expressar tudo que havia na mente dela. Violet mexeu os dedos da mão com um suspiro e então se virou para olhá-lo no rosto, a luz só alcançava parte de suas feições e Steve não a conseguia ler por completo porque não conhecia enxergar a parte de Violet que estava nas sombras.
— Eu tenho lembrado das vezes em que puxei o gatilho, das vezes em que empunhei uma faca. — Ela disse com a voz sempre um tom baixo e vacilante. — Eu lembro de ter sido o inimigo. Você deveria ter me matado, Steve. Naquele dia em que me encontrou.
Rogers se mexeu desconfortável com a declaração, a testa franzida com um suspiro frustrado porque não conseguia nem formular palavras.
— Eu não faria isso, Violet.
Ele não faria e ponto.
Mais um momento de silêncio. Steve pensou se deveria segurar as mãos dela, mas não estava certo se era disso que precisavam no momento.
— Quando você pretendia me contar que eu fui uma assassina?
— Quando estivesse pronta. É muita coisa para assimilar, Violet.
— Sim e eu sei que quer me proteger, Steve. — Ela respondeu e tocou o braço dele, os olhares se encontraram na pouca luz. — Mas eu acho que você estava acima de tudo protegendo a si mesmo de ter que lidar comigo assim.
Ele tocou a mão dela que estava em seu braço.
— Assim? Assim como? — Ele apertou a mão dela. — Por que você fala como se tivesse mudado?
— Porque eu mudei, Steve! — Ela exclamou, sem aumentar o tom de voz. — Eu não sou mais a garota de décadas atrás, eu mal me lembro dela! E eu vejo em seus olhos Steve, eu vejo toda essa expectativa que você tem quando me vê e eu não acho que seja porque está apaixonado. Você olha pra mim como se eu carregasse tudo o que você perdeu, como se eu fosse uma lembrança nostálgica voltando à vida e você não consegue enxergar o que eu fui nos últimos anos e o que isso faz de mim agora.
Steve sentiu o coração afundar ainda mais, ele segurou as mãos de Violet e olhou atentamente para os dedos dela em seu braço, os tirou de lá e os entrelaçou com os seus.
— Você é a minha casa, Violet. — Steve sussurrou afagando a mão dela. — O meu lar.
— E você é o meu. Somos familiares no meio de tanta coisa desconhecida. — Violet concordou, mas desviou os olhos do rosto dele. — Mas eu não sou o seu amor, sou?
Steve manteve a mão dela firmemente com a sua, pensou no beijo que compartilharam no Brooklyn. Pensou na Violet que morava perto dele e o sempre o cumprimentava e elogiava mesmo quando ele era apenas um garoto abaixo do peso e com a saúde frágil. Pensou na Violet companheira de batalhas no exército, pensou na última vez que a viu quando o acampamento pegava fogo. Imaginou os anos de controle e tortura da Hydra, imaginou Ghost e não mais Violet.
— Eu amo você....
— Mas não desse jeito. — Ela complementou o que ele ainda não conseguia dizer no momento. — Porque a foto que você carrega ainda é a de Peggy Carter. E eu ainda sou só um fantasma.
Os dois ficaram em silêncio e mesmo que estivesse escuro demais para ver os detalhes, Steve sabia que ela tinha lágrimas nos olhos. Ele também tinha.
— Eu sinto muito, Vi. — Steve disse, era a única coisa que poderia dizer. Pela primeira vez entendia que havia colocado nela as expectativas de um passado que nunca iria voltar.
Ela beijou a mão dele, Steve sentiu o corpo aquecer. Porém ainda não conseguia decifrar se era apenas afeto ou se também havia desejo e sentiu-se muito errado por isso. Ela o amava desde o começo, antes de todo mundo. Ela o amou quando ele era apenas um garoto perdido do Brooklyn. O beijo havia sido tudo, mas porque ele não tinha certeza se poderia ser certo?
— Eu também sinto, Stevie. — Ela se levantou e silenciosamente saiu da sala. O disco continuou a tocar.
You'll never know just how much I miss you
You'll never know just how much I care
Steve ouviu a canção com todos os sentimentos dentro de si fazendo-o pensar que ele e Violet eram como linhas paralelas: sempre próximos, mas nunca se encontrando.
If there is some other way to prove that I love you
I swear I don't know how
You'll never know if you don't know now
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Notas da autora: E aí galera, tudo supimpa?! Os acontecimentos deste capítulo são bastante reveladores. Por mais que já tínhamos uma certa ideia do que ocorreu com a pp, podemos ver com mais clareza os sentimentos e como foi a vivência dela. Terminei este capítulo sem que o capítulo 9 tenha entrado no site e estou muito ansiosa pela atualização. Estou comendo kibe e ouvindo kpop (recomendo) pra lidar com o tiro que tem sido Stevie e a pp. Mas preciso agradecer a você que está lendo essa fic, por favor, deixe seu comentário. Não há nada que me deixa mais feliz em saber o que você leitor está sentindo.
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