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Capítulo 7

  Vladimir De Noir

Passado

  O frio cortante da manhã envolvia o castelo De Noir enquanto eu me esgueirava pelos corredores escuros, as sombras sussurravam com vozes melancólicas, eu sabia que hoje seria o último dia dela.
  Minha mãe, estava doente há semanas, eu a via definhar lentamente, seu vigor e poder se esvaindo como areia entre os dedos. Ela sempre foi a figura mais imponente em minha vida, uma mulher de força inabalável e sabedoria infinita. Hoje, porém, ao entrar no quarto dela, senti o peso da morte pairando no ar. O quatro dela estava mergulhado em um silêncio opressivo, interrompido apenas pelos sussurros dos criados e pelo som frágil da respiração dela.

  Elwing jazia na grande cama de dossel, pálida como a neve que caía do lado de fora, suas mãos, outrora firmes e cheias de vida, agora estavam frágeis e quase transparentes, seus cabelos longos e pretos estavam opacos e frágeis, era o semblante da morte. Ao seu lado meu pai, estava de pé, a expressão severa e distante como se a morte de sua esposa fosse apenas um detalhe insignificante na sua existência.

  Eu me aproximei lentamente com o meu coração batendo de maneira irregular, cada passo que eu dava parecia que eu precisava fazer um esforço monumental. Quando finalmente alcancei a beira da cama, ela abriu os olhos. Seus olhos, que antes brilhavam cheios de bondade, estavam agora enevoados, mas ainda carregavam uma chama de esperança.
— Vlad... - sua voz era um mero sussurro trêmulo. — Meu lindo Vlad... aproxime-se. - ajoelhei-me ao lado dela, segurando sua mão fria entre às minhas, o toque era gelado e distante, um contraste doloroso com a força que ela sempre emanou. As lágrimas ameaçavam cair, mas eu as contive. Não podia mostrar fraqueza. Não diante dela.
— Mãe, não fale. Guarde suas forças. - minha voz soou mais firme do que eu me sentia por dentro. - ela sorriu levemente, um gesto que parecia exigir todas às suas forças.
— Você é forte, Vladimir. Sempre soube disso. - Seus olhos penetraram nos meus, como se quisesse transmitir tudo o que não poderia mais dizer. — Cuide de Rosallind. Proteja nossa família. E... não deixe que o poder te consuma. - ao ouvir isso, olhei para Rosallind que ainda é uma criança chorando em um canto do quarto. Meu pai, indiferente, recusou a pegá-la no colo, eu me levantei e caminhei até ela, pegando-a em meus braços. Seu choro cessou momentaneamente enquanto ela se aconchegava em mim, buscando o calor e a segurança que nosso pai se recusava a oferecer.
— Meu amor, cuide da sua irmã. - a voz de Elwing estava fraca mas carregada de amor. — Ela vai precisar de você mais do que nunca.
  Eu a segurei com força, sentindo o peso da responsabilidade se acumular sobre meus ombros jovens, minha mãe apertou minha mão uma última vez antes de seu corpo relaxar, a respiração se tornando cada vez mais fraca até cessar completamente. O silêncio que se seguiu foi absoluto, como se o próprio tempo tivesse parado.
 
Enquanto meu pai se afastava, sem sequer dar uma olhada para trás, e eu fiquei ajoelhado ao lado dela, a mão ainda segurando a dela, enquanto o peso da perda se abatia sobre mim. Naquele momento algo dentro de mim mudou para sempre. Elwing foi mais do que uma mãe; foi minha mentora, minha guia e agora, eu estava sozinho.

Enquanto me levantava com os olhos ardendo de lágrimas que eu recusava deixar cair, prometi a mim mesmo que honraria a memória dela, protegeria Rosallind e levaria nossa família ao auge do poder. Com Rosallind ainda aninhada em meus braços, eu fiz a promessa silenciosa que garantiria que minha irmã nunca sentisse a mesma dor e indiferença que me marcara nesse dia.

  Os dias que se seguiram foram envoltos em uma névoa de luto. Meu pai seguia imerso em seus próprios interesses e ambições, pouco se importava com a perda de sua esposa. Ele ordenou que tudo seguisse como se nada tivesse mudado, uma ordem que apenas aumentou o ressentimento fervendo dentro de mim.
 
Rosallind ainda uma criança, não compreendia a profundidade das coisas. Ela se aconchegava em meus braços com uma confiança cega, seu pequeno rosto inocente alheio ao turbilhão de emoções que eu sentia. Eu a alimentava, cuidava dela e sussurrava promessas de proteção e amor que minha mãe não estava mais ali para cumprir. E no fundo do meu coração, uma chama de ódio queimava contra meu pai, ele que deveria ser nosso pilar, mostrou-se uma sombra fria e distante, eu me comprometi nunca ser como ele. Eu governaria com força, sim, mas também com a sabedoria e a compaixão que minha mãe tanto valorizava.
 

Um mês mais tarde

   Às risadas de Rosallind ecoavam pelos corredores escuros, eu a perseguia, determinado a pegar minha irmãzinha travessa. Ela era rápida para a idade dela. Enquanto corríamos, uma sensação estranha tomou conta de mim, às sombras ao nosso redor pareciam responder à minha excitação, movendo-se e esticando-se como se tivessem vida própria.
— Você não vai me pegar, Vlad! - Rosallind gritava, rindo enquanto olhava para trás.

Sem pensar muito, estendi às mãos canalizando a energia que sentia crescer dentro de mim. As sombras se lançaram para frente, mais rápidas do que eu esperava, envolvendo Rosallind. O sorriso em meu rosto desapareceu instantaneamente quando ouvi seu grito de dor.
— Não! - gritei, tentando controlar as sombras, mas era tarde demais. Às trevas apertaram Rosallind com força e marcas negras começaram a aparecer em seus braços e pernas. Corri para ela, meu coração batendo descompassado.
Rosallind. - ajoelhei-me ao lado dela tentando afastar às sombras com as mãos. Elas resistiam, alimentadas pelo medo e pela confusão. Com um esforço desesperado, finalmente consegui dispersá-las. Rosallind estava no chão, respirando com dificuldade, os olhos marejados de lágrimas. Eu a segurei em meus braços, me sentindo culpado e impotente, balancei-a suavemente seu corpinho tentando chamar sua atenção.
— Vlad... doeu... - ela sussurrou soluçando.
— Eu sinto muito, Rosallind. Eu sinto muito... - repeti com a voz tensa. Foi nesse momento que nosso pai, entrou na sala acompanhando por seu conselheiro. Ele olhou para a cena com uma expressão fria e desaprovadora.
— O que está acontecendo aqui? - sua voz era dura.
— Foi um acidente, eu... machuquei ela.
— Um acidente? - ele interrompeu com a voz cheia de desprezo. — Você precisa aprender a controlar esses poderes. E Rosallind, pare de chorar. Isso é indigno de uma De Noir. - olhei para Rosallind, que agora tentava secar às lágrimas, lutando para se recompor. Enquanto eu segurava Rosallind, observei o Lucian De Noir se afastar indo para ala oeste e nos ignorando completamente, outra vez.
— Vou levá-la para o seu quarto. Perdão Rosa.


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