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Capítulo 20

Selene


— Eu... - começo, mas as palavras se perdem em minha garganta. — Eu não sei. - eu vejo o reflexo do meu próprio medo nos olhos dela, e isso me assusta ainda mais.
— O que quer que ele tenha feito... - Lyra respondeu baixinho. — Precisamos descobrir como reverter isso. - um silêncio tenso paira entre nós, às gotas de chuva escorrem pelos meus cabelos, pingando no chão de terra encharcado. Meus dedos ainda formigam com a energia que tentei reprimir, mas a ideia de que isso possa me controlar, que eu possa perder o controle novamente, é aterrorizante.
— Precisamos descobrir o que ele quer. - Lyra assente lentamente, embora o medo ainda esteja claro em seu rosto.

Com um aceno, começamos a nos mover de volta para a tenda. Mas em algum lugar dentro de mim, aquela energia ainda espreita, e eu não posso deixar de me perguntar, quanto tempo eu tenho antes dela consumir tudo o que sou?

Enquanto caminhamos de volta para a tenda, cada passo meu parece mais pesado que o anterior. A chuva continua a cair, lavando a terra e borrando as fronteiras entre o que é real e o que é imaginação.

Quando finalmente entramos na tenda, o ambiente abafado nos envolve, trazendo uma sensação estranha de segurança. Mas sei que essa segurança é temporária, frágil como o tecido que nos separa da noite fria e sombria lá fora. Lyra acende uma lamparina, a chama trêmula iluminando parcialmente a nossa visão. Sinto o cansaço acumulado, mas minha mente não me permite descansar.

— Mas você conseguiu lutar contra isso, certo? Conseguiu retomar o controle?
— Por pouco. - admito. — Mas, Lyra e se isso acontecer de novo? E se da próxima vez eu não conseguir resistir? - ela se ajoelha ao meu lado, colocando uma mão firme no meu ombro.
— Não vamos deixar que isso aconteça. - por um momento, a chama da lamparina parece queimar mais intensamente, iluminando a tenda com uma luz cálida. As palavras dela trazem algum conforto, mas a verdade é que a incerteza ainda me assombra e mais do que tudo, aquela escuridão, aquele poder, não parece algo que possa ser facilmente controlado ou destruído.

De repente, um som vindo de fora da tenda interrompe meus pensamentos, é um som baixo, quase imperceptível, mas suficiente para que ambas fiquemos alertas. Com a mão na empunhadura da espada, dou um passo à frente, espiando através da abertura da tenda. A chuva ainda cai incessantemente, mas entre as gotas, percebo uma figura se movendo nas sombras. Meu coração acelera, e meu primeiro pensamento é que Vladimir voltou.

— Quem está aí? - minha voz firme corta o silêncio da noite, apesar da minha ansiedade. A figura se aproxima lentamente, revelando-se à luz fraca da lamparina.
— Jack. - a palavra escapa dos meus lábios como um sussurro, carregada de alívio e confusão. Lanço meus braços o puxando para dentro Jack me abraça pela cintura e sinto Lyra se juntar a nós.

Uma sombra importante bloqueia a entrada da tenda com a sua presença autoritária.
— O que está acontecendo aqui?- a voz do General Thalor ressoa, cortando o ar como uma lâmina afiada. Ele se aproxima, os olhos observando cada detalhe da cena, sua armadura reflete a luz fraca da lamparina, destacando sua figura de poder.
Jack, se endireita instantaneamente, seu corpo respondendo instintivamente à presença do general. Eu me endireito também, com o meu coração batendo acelerado com a súbita tensão no ar.

— General Thalor. - começo, tentando manter a compostura. — Jack acaba de chegar...
— Eu não perguntei a você, Selene. - Daimian interrompe, seus olhos estreitando-se enquanto se fixam em Jack. Há uma severidade em sua voz que não permite questionamento.

Jack hesita por um momento, claramente desconfortável com a situação. Ele limpa a garganta antes de responder, sua voz soando baixa e contida.
— General, eu... precisei voltar. Houve um ataque... uma pequena emboscada. - vejo a culpa nos olhos do meu amigo, culpa e tristeza.

— E por que não retornou com o resto das tropas? - Thalor pergunta, cada palavra carregada de uma exigência silenciosa por respostas claras. Jack engole em seco, hesitando.
— Eu... me separei deles, senhor. Havia algo que precisava verificar antes de voltar. Algo que eu julguei importante.
— E que coisa seria essa, que você julgou mais importante do que o seu dever com os seus irmãos? - sua voz é fria, mas não há grito, apenas a calma letal de um homem acostumado a liderar.

— Muito bem. - ele diz, finalmente, Daimian assente, embora seu tom deixe claro que a conversa está longe de terminar. — Então, vocês me acompanhem. Precisamos determinar exatamente o que está acontecendo aqui. - ele se vira, indicando que devemos segui-lo para fora da tenda.
— Vamos. - a voz de Thalor corta o ar novamente, impaciente. — E vocês não me deixem esperando. - nós três trocamos olhares, cientes de que não há outra opção a não ser seguir o general. Jack parece hesitante, mas Lyra me dá um leve aceno, indicando que devemos obedecer.

Ao sair da tenda, a chuva ainda cai, mais pesada do que antes, criando uma cortina de água que distorce as luzes ao nosso redor. Thalor segue à frente, cada passo seu afundando na lama, mas ele não parece se importar. O caminho que ele toma nos leva para fora do acampamento, onde as tendas dão lugar às construções de pedra, entramos por assim dizer nos aposentos de Daimian.

— Quero uma explicação completa. - ele anunciou, sem se virar para nos encarar. — Agora. - Jack respira fundo, lançando um olhar para mim e Lyra antes de começar.
— Durante a emboscada... algo aconteceu. Algo que eu não consegui explicar na hora. Uma força... uma energia que nunca vi antes, parecia... errado. - Thalor para abruptamente e se vira, encarando Jack.

— Que tipo de energia?
— Uma presença que não parecia natural. - Jack responde com a voz firme.

Thalor estreita os olhos, como se estivesse tentando ver além das palavras de Jack. Por um momento, o silêncio reina, quebrado apenas pelo som da chuva.
— Essa energia... - Daimian começa, com a voz calma apesar de tudo. — Ela veio dos homens dos De Noir?

— Não tenho certeza, senhor. Só sei que algo estava errado, e que essa energia parecia querer me guiar... ela me guiou até as minhas amigas. - meu estomago se revira com a fala de Jack.
— Selene e Lyra, há algo que vocês queiram me contar? - ele pergunta, sua voz sem qualquer traço de paciência. Eu tremo, sentindo a energia dentro de mim novamente, como se estivesse respondendo ao chamado do general. Tento desesperadamente manter o controle.
— Eu... - tento falar, mas antes que eu possa dizer mais alguma coisa, a presença de Thalor parece crescer, tornando-se quase sufocante. Acho que estou enlouquecendo.
— Se vocês estiver escondendo algo, agora é a hora de dizer. - Thalor adverte.

Porém somos interrompendo por um dos batedores do acampamento, sua expressão de preocupação é evidente.
— General Thalor, uma movimentação foi detectada na fronteira com Austianfer. - ele anuncia rapidamente. Thalor fica em silêncio por um momento, como se estivesse pesando suas opções. Ele então me lança um último olhar, claramente insatisfeito com as respostas que obteve.
— Isso ainda não acabou. - ele afirma, virando-se bruscamente para o batedor. Ele começa a se afastar, mas para por um breve segundo, sem se virar para nós.
— E mantenham-se fora de problemas. - ele ordena antes de desaparecer na noite.

Eu solto um suspiro que nem sabia que estava prendendo, o medo ainda pulsando em minhas veias. Jack, Lyra e eu ficamos em silêncio por um longo momento. Até que Lyra quebra o silêncio.

— Precisamos ser mais cautelosos. Se Thalor souber o que está acontecendo... - ela não termina a frase, mas o significado é claro.
— Eu sei. - respondo, tentando controlar o tremor na minha voz. — Precisamos encontrar um jeito de controlar isso... antes que seja tarde demais.
— Do que vocês duas estão falando? - Jack pergunta.
— Ela tem poderes. - anuncia Lyra.
— Não, não é isso... bom, eu não sei ao certo.



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