Capítulo 17
Selene
Eu estou sozinha no vasto campo de lírio, cercada pela serenidade das flores brancas, o céu está se fechando e as nuvens pesadas se acumulavam, prometendo uma grande tempestade, eu respiro fundo sentindo a brisa úmida que precedia a chuva, cada passo que dou é uma dança entre os lírios, meus pensamentos estão longe, em um lugar inserto, o flanco foi atacado e ainda não temos notícias, não sei se Jack está bem, Thalor anunciou a vitória, sobre os homens de Lucian De Noir, muitas pessoas tiraram o dia de hoje para rezar nas ruínas do antigo templo de Krasnygrad, eu optei por isolamento. Amanhã eu irei para fronteira entre Austianfer e Aldraskar, o general Thalor acredita que será o próximo ponto de grande ataque.
Às primeiras gotas de chuva começam a cair, tocando minha minha pele fria, elas trazem uma memória há muito esquecida, ergui meu rosto para o céu, permitindo que a chuva levasse minhas preocupações. Mesmo que por um único momento, a memória do meu pai se faz presente.
"Estou correndo pelo campo de lírio, rindo e escuto as risadas do meu pai, estamos brincando e eu sei que ele consegue me pegar, mas ele não faz isso, sua voz me chama fazendo um pedido para que eu tomasse cuidado, eu escorreguei e bati meu joelho, lembro de ter chorando bastante naquele dia."
O som da chuva crescendo ao meu redor trazia uma paz inquietante, foi então que sua figura imponente emergiu no meio da chuva, como um espectro diante de mim. Seu manto negro parecia absorver a luz ao seu redor, tornando-o uma sombra viva, sinto meu coração acelerar, ele se aproximou, cada passo seu parecia ressoar na terra molhada. Vladimir sorriu, um sorriso, ele pode me matar. Eu queria fugir, mas meus pés estavam enraizados no chão, como se os lírios ao meu redor estivessem me prendendo. Enquanto a tempestade rugia ao nosso redor, Vladimir estendeu sua mão para cima e a chuva já não caia mais em mim ou nele.
— Ouvi seu choro. Você foi uma criança teimosa. - disse ele, sua voz reverberando através da chuva fria e cortante. O pavor me invadiu, trazendo uma sensação de fragilidade, ele estava na minha mente, ele me vê e ouve, não tenho barreiras psíquicas contra ele.
— O que você quer?. - minha voz sai trêmula
Ele deu um passo mais perto, seus olhos escuros fixos nos meus, às sombras ao redor dele se estendendo em minha direção, ameaçando me envolver, eu quero gritar, correr, mas estou paralisada pelo medo.
— Você tem medo de mim, não tem? - ele provocou, dando mais um passo em minha direção, a realidade parecia desvanecer-se, deixando apenas nós dois e às sombras que nos envolviam. Ele inclinou a cabeça levemente e sorriu de canto.
— Por que está fazendo isso? - consegui murmurar, lutando contra o medo que ameaçava me consumir, Vladimir se aproximou ainda mais, seus olhos nunca deixando os meus.
— Lute, Selene. - ele sussurrou, suas palavras ecoando na minha mente. — Mostre-me o que você é.
Às sombras ao seu redor começaram a envolver meu corpo, um frio gélido se espalhando por mim, senti como se estivesse sendo puxada para um abismo sem fim.
— Você não vai me controlar. - declarei, minha voz ganhando força à medida que seus sombras me envolviam.
— O que você é, Selene? - ele se aproximou ainda mais e tudo que eu vejo é Vladimir e suas sombras, e então eu sinto o toque da sua mão em braço esquerdo, seu toque era quente como o fogo, e a sensação se espalhou pelo meu corpo, tornando cada fibra do meu ser rígida e vulnerável.
— O que você é, Selene? - ele repetiu, seu sussurro era uma corrente de poder e força bruta. Fechei os olhos, tentando encontrar alguma força interior, às sombras dele eram opressoras, sufocantes, mas havia algo dentro de mim que se recusava a ser domado, sinto um arrepio quando sua mão desce para o meu pulso, ele aperta meu pulso até que que eu sinta dor, olho para ele em angústia e depois olho para o meu pulso, tento me soltar, porém Vladimir tem mais força, a mão de Vladimir em mim parecia queimar minha pele, meu corpo treme e eu grito em pura agonia, sinto meu sangue ferver, minha mente é invadida por lembranças que eu não sabia que tinha.
Vejo o rosto da minha mãe, vejo o mar e um homem se despedir de mim, vejo dor e morte. A morte da minha mãe, vejo o fogo consumir ela viva.
Em meio às lágrimas uma luz ofusca minha visão, uma luz fraca que se intensificou, Vladimir recuou ligeiramente, os olhos arregalados de surpresa, às sombras ao redor dele vacilaram, hesitando diante da luz que surgiu entre nós. A luz continuava a crescer até que ela se tornasse chamas vivas, rompendo às trevas que nos envolviam. Eu podia sentir dentro de mim, pulsando com uma intensidade voraz. Vladimir sorri como se estivesse se divertindo.
— Você é mais é mais do que você imagina. - ele fala.
Uma luz intensa explodiu de dentro de mim, rompendo as correntes de sombras de Vladimir, ele foi arremessado para trás, caindo de joelhos na terra molhada, Vladimir ergueu o olhar para mim, uma mistura de raiva e luxúria, a chuva voltou a cair, batendo contra minha pele e sinto o calor interior me envolver.
—Isso não é possível. - ele sussurrou, sua voz carregada de incredulidade, uma força esmagadora que eu desconhecia estava dentro de mim. chamas circulava meus braços, o pânico me dominou. O que eu sou?
Vladimir se levantou, sua expressão agora uma mistura de frustração e respeito, ele deu um passo para trás, às sombras ao meu redor recuando junto com ele. A tempestade diminuiu, mas a tensão entre nós permaneceu, pesada e palpável, suas palavras ecoaram na minha mente, "Você é mais do que imagina". A chuva ainda caindo suavemente ao meu redor, meu corpo tremia, não mais de medo, mas de uma nova energia que pulsava dentro de mim. Olhei para minhas mãos, ainda envoltas em um brilho fraco.
— Não há fogo que o fogo de sangue não consuma, Selene. Você não pertence a eles.
— E por que isso importa para você? - retruquei, tentando manter minha voz estável. Ele sorriu, um sorriso cheio malícia.
— Você não é como eles. Você não é de Armenfer.
Antes que eu pudesse responder, ele levantou a mão e as sombras ao seu redor se intensificaram, se lançando sobre mim como uma maré negra, sou atingida por uma pressão esmagadora em minha mente, uma força invisível que me empurrava para a escuridão.
—Durma, Selene. - ele sussurrou, sua voz ecoando nos recessos da minha mente. A última coisa que vi foi o sorriso enigmático de Vladimir antes que a escuridão me envolvesse completamente, senti meu corpo ceder, minha visão se turvando enquanto o mundo desvanecia ao meu redor. Sinto que eu posso desaparecer.
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