Capítulo 12
Quem me olhasse agora, pensaria que eu comi a coisa verde.
Eu não fiquei gigante, nem musculoso, nem furioso, mas definitivamente eu fiquei verde.
— Eu quero morrer — reclamei novamente devido as ondulações do maldito navio.
— Will, eu juro que faço o que você quiser, mas por favor, não me deixe aqui sofrendo — reclamou Silver.
Eu o havia invocado ao acordar, ficando um longo tempo parado enquanto tentava trocar o máximo possível de nossas forças, eu havia conseguido bater meu recorde e o invoquei com 35% de harmonia, e isso só me custou um enjoo (que eu acidentalmente enviei para Silver enquanto pensava nas minhas características).
— Por que você me invocou pra começo de conversa?
— Me disseram que existem muitos monstros marinhos no mar do Norte que separa Aderen e Laxus, eles pediram que estivéssemos prontos para lutar.
— Eu odeio você — quando eu o olhei eu não consegui evitar de rir, ele estava deitado de barriga para cima e com olhos fechados, a expressão no seu rosto era de um aspecto doente.
Claro que abrir os olhos só serviu para me fazer notar as linhas que balançavam de um jeito estranho. Isso me deu mais vontade de vomitar, eu corri para o saco de lixo presente no quarto e deixei tudo sair, queria dizer que me senti aliviado, mas seria mentira.
A porta se abriu e a gargalhada começou atrás de mim, Dean se encostava na porta ao meu lado e balançava a cabeça enquanto colocava as mãos na testa.
— O portador da harmonia perfeita, nocauteado por um enjoo marítimo — ele observou Silver — E parece que Silver Death também está sofrendo.
— Por favor, Dean, me mate — Silver reclamou e Dean riu ainda mais alto.
— Eu me lembro da minha primeira viagem, fiquei igual a vocês — ele riu — Venha para o convés, sentir o vento, alivia um pouco dessa sensação.
Silver e eu nos levantamos e caminhamos para o convés, ele estava certo, ao sentir a brisa no rosto, eu me senti muito aliviado.
— Obrigado, comandante — eu disse a ele.
— Não precisa de comandante, Will, somos amigos, não somos? — ele sorria — Tudo bem, eu quase decepei seu braço, mas foi tudo para o seu bem.
— Claro, quase perder o braço com certeza fez muito bem pra mim. — eu comentei sorrindo — Por mais que sejamos colegas e talvez amigos, estamos em missão, você é meu comandante.
— Gosto do seu jeito de pensar.
Eu fechei os olhos aproveitando a brisa e deixando o enjoo passar por completo com isso.
— Qual a desculpa para um dos comandantes e muitos sargentos dos Dragon Hunters estarem em uma missão para pegar um traidor? - eu perguntei.
— Bom, — ele fez uma pausa e então cutucou as minhas costas me fazendo olhar pra ele — você.
Inicialmente eu pensei que ele estava falando sobre o verdadeiro objetivo da missão, pensei que ele não tinha entendido minha pergunta, acho que ele percebeu o meu pensamento.
— Seu tigre branco, nossa desculpa é que você foi escalado para rastrear o alvo, por terem o mesmo animal como dom, mas onde um Dragon Hunter vai, outro vai. Além de que a maioria dos nossos guerreiros são soldados do exército. Nem devem reparar em nós.
— Não seria mais fácil disfarçar nosso grupo com uniformes do exército?
— Seria, resolveria todos os problemas — ele respondeu, mas então ficou olhando para o horizonte.
Eu fiquei esperando que ele completasse, mas depois de um tempo ele me olhou de novo.
— O que?
— Por que não fazemos isso? — perguntei.
— Não fazemos o que?
— Nos disfarçarmos de soldados.
— Porque seria chato — ele disse como se fosse óbvio.
- E porque isso é ruim?
— Porque somos Dragon Hunters, nossas vidas não podem ser chatas.
— Concordo, eu não virei Dragon Hunter para sentar e jogar baralho, mas eu não entendi a necessidade de tudo ser difícil.
— Tudo precisa ser difícil, para você não se acostumar a ter facilidade — ele respondeu — Você se acostuma a esquivar de batalhas com vikings, isso faz você se esquecer como desviar da cauda de um dragão.
— Então, fazemos tudo do jeito difícil, para que o difícil se torne fácil?
— Exatamente.
— Então por que não chegamos explodindo tudo?
— Calma, garoto, também não precisa ser tããão difícil — ele me olhou assustado.
— Então... — eu balancei a cabeça e desisti — Quer saber? Vamos fingir que eu entendi alguma coisa.
— É simples, você faz tudo do jeito difícil, não do jeito burro — ele explicou balançando as mãos — Assim é o jeito mais fácil de fazer o instinto mover o corpo no lugar do cérebro.
— Não estou mais entendendo nada, o que instinto tem a ver com a dificuldade?
— Will, quando seus instintos se ativam, você obedece eles sem pensar? Ou tem que pensar pra obedecer eles?
— Penso pra obedecer, isso faz harmonia.
— E o que seus instintos lhe dizem agora?
Ao som da voz do comandante eu imediatamente senti a necessidade de recuar, porém nada no local fazia isso necessário, dito isso eu segui minha inteligência e permaneci parado.
— Escolha errada — Dean fez um saque muito rápido de sua espada e moveu a lâmina na minha direção.
Eu saltei mas acabei sentindo um corte superficial na perna direita.
— Merda... — eu caí segurando a área cortada e invocando gelo para estancar o sangramento — Por que fez isso?
— Pra te explicar o erro em pensar pra obedecer. Se não houver nenhum risco no seu campo de visão você precisa pensar, imagine que você está lutando contra um dragão, sabe que a cauda dele está atrás de você, de repente sente o instinto de recuar. Nada no seu campo de visão te dá motivos pra se aproximar da cauda, então você pensa se deve ou não fazer, e enquanto você pensa, a cauda desce sobre seu corpo e te esmaga.
— Então deixar que os instintos movam o corpo é uma estratégia para sacrificar harmonia em troca da sobrevivência?
— Na verdade, se você seguir sem pensar, seguir sem nem perceber que está obedecendo aos seus instintos, você consegue mais harmonia do que pensando em fazer.
— Harmonia natural é mais fácil de aumentar do que a manipulada — eu me lembrei de uma das primeiras lições — nunca entendi a lógica disso, mas agora... faz bastante sentido.
— Então, o que acha de treinar a resposta do seu instinto enquanto estamos aqui?
Com isso nós começamos uma luta longa, mas sem graves ferimentos. Com o decorrer do embate eu comecei a entender como Dean esquivava de ataques sem nem vê-los, eu me concentrei e tentei reduzir o tempo entre sentir o puxão e agir, quando a lua já estava iluminando o céu escuro, eu já enfrentava com mais facilidade o meu comandante.
— O jantar está servido, venham comer — disse o cozinheiro do navio.
Eu desferi um último golpe junto com meu comandante, as espadas das nossas mãos direitas se chocando na altura do peito e as esquerdas se chocando na altura da cintura. Dean as empurrou umas contra as outras. Senti o puxão para saltar para trás e assim o fiz, mesmo assim demorei muito e o chute de Dean ainda me atingiu de raspão, sem força suficiente para me derrubar.
Eu sorri e guardei as espadas, era a primeira vez que o chute do comandante não me levava ao chão, pode não ser um grande avanço, mas eu estava melhor.
Nós jantamos e então todos foram dormir, exceto os marinheiros noturnos.
Eu tive um sonho curto e estranho. Inicialmente eu não sentia meu corpo, ele ia aparecendo como se estivesse se construindo aos poucos, eu sentia frio, quando eu consegui abrir os olhos eu vi a neve, ela cobria tudo, inclusive meus pés, as árvores também tinham flores brancas e eu me perguntei como sobreviviam a temperaturas tão baixas, eu ouvi um som atrás de mim e comecei a me virar.
Mas então eu ouvi a voz de Leon gritando meu nome e despertei do meu sono.
— Até que enfim, pensei que você era um tigre não um bicho preguiça — ele me puxou da cama, eu não usava calças e nem camisa — Estão atacando o navio, precisamos de você agora, se veste e sobe, eu vou acordar todo mundo.
— Eu acordo eles enquanto me visto, você vai lá pra cima — eu disse enquanto despertava completo e pegava as primeiras roupas que apareceram na minha frente.
Leon saiu correndo e eu corri para o quarto ao meu lado, entrei e comecei a balançar de gritar pelo da ocupante — que por acaso era a Ray — ela acordou e me olhou, ficando vermelha.
— Eu vou julgar que tem um motivo diferente do que eu estou pensando, que devo confessar não é nenhum pouco mais ou menos olhando desse jeito, pra semi-nu no meu quarto.
— Meu motivo é piratas atacando o navio eu estou acordando todos enquanto me visto — eu comecei a vestir minha calça enquanto a ouvia e me explicava, então eu saí, mas parei na porta do quarto — espera, você que eu era mais ou menos, agora diz que estava pensando em um motivo que não era "mais ou menos olhando desse jeito" você por acaso pensou que eu queria...
Ela me empurrou da frente da porta e correu para as escadas sem o final da pergunta, eu acordei o restante da tripulação e então subi para o convés, ainda nas escadas um homem saltou para cima de mim, ele tinha uma espada grande e curvada, usava um pano azul estampando uma caveira e camisa listrada branca e azul, eu bloqueei seu golpe e chutei uma das pernas o fazendo descer a escada rolando, ouvi sons de ossos se quebrando e abandonei o homem terminando a subida e vendo o grande navio ao lado do nosso,
— Hey Will! — disse Ray do outro navio — Pega uma das cordas e se balance para cá.
Parecia una ideia muito ruim, mas por quê não? Eu corri e saltei agarrando uma das cordas e me balançando até o navio atacante, enquanto me balançava eu percebi contra que grupo nós lutavamos.
— Ótimo, sendo atacados por piratas - eu cai no convés girando e invocando Silver pra me fortalecer, me levantei olhando para três homens que derrubei no tempo de dar 3 passos. Mais homens iam surgindo, a força de Silver era aproximadamente 15% do nosso potencial máximo.
— Will, você já dormiu hoje?
— Isso é hora, Silver Death? — eu reclamei enquanto cortava mais um soldado e chutava um segundo que vinha pelas minhas costas.
— Pelo jeito não, você saberia porquê estou perguntando se tivesse dormido.
— Seu tom de voz é sério, alguma coisa aconteceu?
— Se concentre na luta, você vai saber quando dormir.
Não entendi bem como eu podia descobrir algo enquanto dormia, mas resolvi escutar meu parceiro e voltei a me concentrar nos piratas a minha volta. Incluindo Ray e Will apenas 5 conseguiram invadir o navio pirata, e 2 deles estavam mortos.
— Por que caralhos me chamou pra cá, Ray? — eu gritei enquanto me afastava de alguns piratas e cortava as cordas que prendiam os barris de cerveja, os fazendo girar para cima dos perseguidores.
— Pra tomarmos o timão, se virarmos o navio e o mandarmos para aquelas pedras, você pode congelar tudo e só precisamos ir para o mar e voltar para o nosso navio.
O plano fazia sentido, e por coincidência eu tinha corrido para as escadas que ligavam o convés a zona do timão, eu subi para a zona em que o timão controlava o navio, matei o pirata que segurava e então girei o timão para afasta-lo do navio Aderense, congelei o objeto o máximo que pude e então gritei.
— Missão completa! — eu gritei enquanto via os navios se afastando, corri e chamei Silver, o tigre começou a correr pelo ar, o congelando e criando uma ponte de gelo até o navio de Aderen, eu comecei a seguir meu parceiro e Ray veio atrás de mim, os piratas que tentaram nos seguir foram derrubados por um falcão.
Saltamos de volta para o nosso navio e caímos no meio de outra luta.
Essa estava sendo mais fácil considerando que agora eram os piratas que estavam em desvantagem.
Eu cortei alguns e finalmente me vi encarando um pirata que se destacava.
Ele tinha 1,90 de altura e uma grande barba, não tinha perna-de-pau nem tapa-olho mas usava um chapéu com o mesmo símbolo da bandeira pirata.
— Com licença — eu desferi um golpe que foi bloqueado — Você é o capitão?
Ele cuspiu na minha cara.
— Quer saber, não importa mais — eu desferi um segundo golpe, o pirata saltou esquivando do ataque.
Eu investi novamente contra o capitão, o homem percebeu o movimento e tentou um golpe vertical vindo de cima.
Com uma das minhas lâminas eu bloqueei o ataque inimigo e desferi um golpe lateral com a outra, o pirata se mostrou muito melhor que seus companheiros ao mover sua grande espada com agilidade para bloquear o segundo ataque.
Eu continuei atacando, o pirata continuava bloqueando e esquivando dos golpes com maestria, mas ele ia recuando a cada golpe, eu o aproximei da parede até que ele encostou sem ter para onde fugir.
— A luta acaba aqui.
O pirata me atacou, eu consegui esquivar, o pirata então observou a parede encontrando uma porta, a abrindo e entrando.
Eu o segui desviando novos golpes que ele desferia, a sala que entramos era pequena e quadrada, com pouco espaço para ataques longos das minhas espadas, eu precisei mudar meu estilo de luta para ataques concentrados.
O capitão pareceu gostar disso, agora com meus golpes vindo de apenas uma direção ele tinha mais facilidade para esquivar e contra-atacar.
Eu soltei uma das espadas, mudei meu estilo para ataques em corte novamente, e com a mão livre eu disparava adagas de gelo contra o capitão, o homem aos poucos ia se cansando e as adagas atravessavam a carne e ficavam alojadas em múltiplas regiões de seu corpo.
Em um certo momento eu me afastei e arremessei uma última adaga, atingindo o peito esquerdo, o coração.
O capitão pirata gritou novamente, e então se apoiou na mesa, sua mão ficou diretamente sobre uma carta com o selo do rei.
O homem olhou para uma vela ao seu lado e estapeou o objeto o derrubando sobre vários papéis que se inflamaram de imediato.
A carta do rei era um desses papéis. Eu disparei um vento gelado sobre o documento, mas já era tarde, uma parte da carta já estava queimada. O pirata talvez não soubesse o que ele fez, mas nossa missão estava muito comprometida.
Assim que eu joguei o corpo do capitão para fora do escritório os piratas se renderam, Dean, Ray e Leon se aproximavam de mim.
— Muito bom, Will — disse Leon.
— Nem tanto — eu mostrei o documento, o selo do rei estava queimado, junto com uma parte da mensagem.
— Isso é?
— Sim — chutei o corpo do capitão - o desgraçado tentou começar um incêndio no navio e por azar acertou a carta. O que fazemos? Comandantes?
Ray e Dean se entre-olharam, a decisão era clara.
- Vamos voltar, pegar uma segunda carta e então continuamos a missão.
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