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O primeiro conflito foi decidir como eles iriam descer da Casa do Vento.
Cibele se negou a descer com Azriel e principalmente com Cassian.
Não importava o que Mor tivesse dito.
Cibele ainda não confiava totalmente neles, na verdade, ela não confiava em ninguém além de Rhysand, então voar nos braços de um dos ilyrianos não era uma opção.
Principalmente porque o mero pensamento do mínimo contato físico, era desesperador para ela.
Então, Cibele desceu os degraus, todos eles.
E apesar do cansaço que ela sentiu, principalmente porque ela não andava grandes distâncias em duas pernas há anos, ela sabia que foi melhor assim.
O dia estava bonito. O sol brilhava acima.
Porém, foi estranho para Cibele caminhar pelas ruas de Velaris.
Tudo havia mudado dês da última vez que ela havia estado lá. Entretanto, a essência do lugar continuava a mesma.
Velaris continuava mágica. Um lugar de sonhos.
Isso só trouxe uma dor horrível para Cibele.
O lugar continuava o mesmo, mas ela não era mais a mesma.
E ela provavelmente nunca seria.
Morrigan não esperava que Cibele preenche-se as lacunas de silêncio enquanto o grupo fazia o tour. Azriel e Cassian faziam isso por ela.
ㅡ Você e Rhys são bem próximos.
ㅡ Mor comentou enquanto o grupo passava por uma floricultura, Cibele sentiu um par de olhos a encarando, mas ela não se virou para encontrar o olhar curioso de Cassian.
ㅡ Ele é tudo que eu tenho. ㅡ Cibele tentou responder o mais gentil que pôde, mas não foi muito bem.
Ela sabia que muitos pensariam que ela e Rhys tinham algo, mas eles eram como irmãos agora, não havia nada de romântico na relação deles.
E ela não se importava com o que pensavam, Rhys e ela sabiam a verdade. Isso era o suficiente.
ㅡ Eu não quero ofender. ㅡ Mor disse envergonhada. ㅡ É só que, Rhys costumava falar de você antes de Sob a Montanha, pequenas coisas, e ele parecia sentir muito a sua falta.
ㅡ Não me ofendi. ㅡ Cibele deu de ombros. ㅡ Mas, eu não quero falar sobre o passado.
ㅡ Claro. ㅡ Mor disse e voltou a falar sobre a cidade, sorrindo para a outra garota a cada minuto.
Cibele tentou sorrir de volta, mas ela não conseguiu.
Seus sentidos totalmente em alerta, suas garras e presas coçando para sair.
Era demais.
Todas aquelas pessoas. Todos aqueles olhares.
Cibele teria relaxado mais naquele passeio, talvez, se não tivesse sentido dois olhos castanhos em suas costas o tempo todo.
Não era como se Cassian se esforçasse para ser intimidador e um tanto estranho.
Mas, durante todo o pequeno passeio por Velaris, ele se arrastou um pouco mais atrás de Azriel, Mor e Cibele, como algum tipo de predador.
Cibele não estava acostumada a receber tantas olhadas assim, e, embora ele não tenha dito nada, Cibele acreditava que ele ainda estava pensando na interação deles naquela manhã.
Na forma que ele não confiava nela.
Cibele não tinha certeza do que ele poderia estar pensando, olhando para ela daquele jeito o tempo todo, novamente, ela não tinha certeza absoluta do que aqueles olhares significavam, quando ela olhava para ele de vez em quando.
Seus olhos castanhos brilhavam com algum tipo de emoção cada vez que encontravam os esverdeados dela.
E ainda assim, ele ficou um pouco quieto, falando apenas com Mor e Azriel, o que não parecia ser comum para ele.
Nas histórias de Rhysand, Cassian era aquele que não podia calar a boca.
Mas lá estava ele, tão quieto.
Cibele também se manteve quieta.
Principalmente ao passar perto do lago, que agora não estava congelado, o lago que ela havia aprendido a patinar com a ajuda de Rhysand.
Um pequeno sorriso coloriu a face de Cibele, a memória do dia que parecia um sonho distante.
Ela se perguntou se um dia voltaria a ser verdadeiramente feliz.
Se é que algum dia ela havia sido feliz.
Depois de passarem por todas as "partes mais importantes", como Morrigan havia chamado, o sol já estava rastejando no horizonte.
Mor disse que tinha planos de ir a um clube, Rita's.
Ela convidou Cibele, dizendo que era o melhor lugar para dançar, beber e se misturar em toda Velaris.
Pensando na última vez em quê esteve em um espaço fechado com tantas pessoas ao redor, Cibele recusou educadamente.
Ela nunca poderia ir para um lugar assim. Não mais. Ela era volátil demais agora. Perigosa demais.
Quando eles olharam para Cassian, esperando que ele os seguisse, ele deixou escapar uma recusa.
ㅡ Não podemos deixá-la se perder no caminho de volta, podemos? ㅡ os outros dois deram de ombros, virando na direção do clube e partindo, mas Cibele ficou parada por um momento.
Olhando para ele, quando ele se virou para olhar para trás, fingindo passos casuais enquanto se aproximava.
Calculando. Especulando.
Examinando, mas o quê?
Cibele não sabia.
ㅡ Por que você me olha como se eu fosse fugir a qualquer instante? ㅡ a pergunta soou mais fraca, menos confiante e mordaz do que Cibele pretendia.
Em vez de Cassian aproveitar a oportunidade para falar, assim que os outros saíram do alcance da voz, ele deu de ombros.
Aproximou-se dela quando começaram a andar, antes de parecer lembrar de algo, e colocar alguma distância entre os dois.
Bom.
A distância era boa para Cibele, não sufocava ou oprimia.
Eles andaram alguns passos antes dele responder, deboche em suas palavras:
ㅡ Talvez, eu esteja olhando pra você assim, porque parece que você vai fugir a qualquer momento.
Cibele queria zombar, mas não tinha certeza de que ele estava errado.
Durante todo o dia, mesmo enquanto desejava que seu cérebro fosse levado por Morrigan e seu lindo sorriso, Velaris e suas belas ruas e cidadãos alegres, Cibele não conseguiu.
Parte dela, a parte que ela sempre tentou bloquear estava em alerta máximo.
Especulando. Pensando e planejando rotas de fuga.
Cibele não conseguia se acalmar, não conseguia relaxar, e por algum motivo, Cassian podia ver isso.
Ver o animal selvagem, rosnando de dentro de sua gaiola. De dentro de sua cela.
Não. Não há mais gaiolas, ou celas.
Não aquelas que Cibele pode ver, de qualquer maneira.
ㅡ Por que você se importaria comigo fugindo? ㅡ é a pergunta de Cibele, em vez de tentar se desviar da acusação.
Porque Cibele não poderia negar a acusação.
Claro, Cassian e Rhysand eram próximos, eram família, o que significa que Cassian se importava minimamente com ela por associação, mas Cibele não ousaria dizer que seu pequeno encontro naquela manhã, observando o sol juntos, os tornou amigos.
Ela esperava que Cassian percebesse isso também.
E parecia que sim.
Tão indiferente quanto poderia ter sido, ele deu de ombros novamente, os olhos ainda voltados para a frente,
A Casa do Vento ainda distante, no horizonte.
ㅡ Você é amiga de Rhysand, e ele tem muito poucos desses ... poucos amigos verdadeiros, pelo menos. ㅡ ele fez uma longa pausa. ㅡ Eu odiaria vê-lo perder outro amigo.
Como ele perdeu Tamlin, é claro.
Cibele não queria pensar em Tamlin, ela queria agir como se ele não existisse, como se a Corte da Primavera, Lucien, seu povo, não existissem.
Aquela Corte foi o começo e o fim de tudo, o antigo mundo inteiro de Cibele.
ㅡ Que razão eu teria para ir embora? Rhysand pode ter poucos amigos, mas eu tenho ainda menos do que ele, algo que tenho certeza que você já sabe. ㅡ Cibele murmurou.
Mesmo que parte dela pensasse muito nisso.
Pensasse em ir embora.
Ela não poderia pertencer em lugar algum. Não mais. Ela era inútil agora. Um problema.
E ela não queria ser um fardo para Rhys. Porque Rhys não merecia isso.
Cassian olhou para ela, quase envergonhado por um momento, mas voltou a se concentrar na estrada à frente.
ㅡ Rhysand pode ter me dito isso, sim, mas você ama as pessoas que deixou para trás na Corte da Primavera, não é? O seu povo? Você poderia voltar para eles, contar as informações que reuniu sobre Velaris depois de morar aqui, e nunca mais olhar para trás.
ㅡ Cassian disse.
Algo no sangue de Cibele gelou com seu tom, não acusando ela, não diretamente pelo menos. Mas totalmente suspeito em relação à ela.
Cibele parou no meio da estrada, as ruas lotadas se separando ao seu redor enquanto as pessoas continuavam a andar.
Quase como se eles fossem repelidos pela presença dela.
Percebendo isso, Cassian se virou de onde estava, alguns passos à frente.
O controle de Cibele estava próximo de se romper, seu coração acelerado. Suas garras cutucando a ponta de seus dedos.
A besta espreitando por sua pele.
ㅡ Sugira que eu traía a confiança de Rhys, e faça algo tão baixo, tão miserável assim, de novo, e arrancarei seus malditos olhos.
Cibele não sabia de onde veio sua raiva, as dúvidas de Cassian não eram inteiramente infundadas, mas aquilo havia sido do nada.
Cibele pensou na conversa que aconteceu de madrugada e de repente se sentiu nauseada.
Claro, ela não era nada além de um animal enjaulado quando ele a viu assim, e decidiu cutucar e cutucar para aprender algo.
E funcionou.
Cassian parou completamente então, congelado no chão. Seus olhos ficaram ilegíveis, parecendo completamente inacessíveis.
Então, lentamente ele disse:
ㅡ Fazendo ameaças a um dos amigos mais próximos de Rhysand, é?
Estava quieto, ainda na defensiva. Ainda calculando.
Cibele pegou o ilyriano desprevenido.
Em resposta, Cibele mexeu a cabeça, quase como um lobo faria, um sorriso desagradável, perverso e enlouquecido, tomando conta do seu rosto enquanto a besta que ela era se envaidecia.
ㅡ Não. Estou fazendo promessas ao amigo de Rhysand.
Ele engoliu em seco, os olhos procurando os dela, e os olhos dela o observaram engolir com interesse.
Não, não os olhos dela.
Os olhos da besta da Corte Primaveril.
Cassian percebeu a mudança e mudou seu peso de um pé para o outro, como se não tivesse certeza do que fazer com isso.
O que fazer com ela, com o lado que ele ainda não tinha visto.
Com a fera, cujo a fúria assassina podia o despedaçar rapidamente se quisesse.
A fera que matou Amarantha.
Mas Cibele controlou a besta. Porque pessoas inocentes estavam naquelas ruas. E eles não mereciam sofrer a fúria dela por causa de Cassian.
Um rosnado se formou na garganta dela, mas ela se conteve.
Cassian abriu a boca novamente, mas Cibele começou a andar, o ombro roçando o braço do ilyriano ao passar, com tanta força que o desequilibrou.
ㅡ Não se preocupe, eu sei o caminho de volta. ㅡ com outro olhar por cima do ombro, ela foi, caminhando rapidamente de volta para a Casa do Vento.
Ela não precisava de uma escolta, ou um amigo para assistir ao nascer do sol.
Ela não precisava de ninguém.
Cibele fungou.
Ela poderia se cuidar muito bem sozinha.
Ela sentiu um uivo ecoar dentro de sua cabeça e ela acelerou o ritmo.
Cibele não acordou do pesadelo gritando, se debatendo, ou chorando.
Ela não estava soluçando, ofegando ou vomitando ao lado da cama.
Não estava com medo ou fora de controle.
Ela acordou sentindo nada além de pura derrota.
Seu pesadelo a transportou para anos antes, para uma memória. Para o dia onde ela matou por Amarantha pela primeira vez.
Aquele feérico foi a primeira de inúmeras vítimas a cair nas presas, nas garras de Cibele, desde que ela esteve Sob a Montanha.
Cibele se lembrava de acordar coberta de sangue, sangue que não era dela, se sentindo suja, nojenta, indigna.
Mas ela estava alimentada.
Então ela foi obrigada a fazer de novo. E de novo. E de novo.
Sempre que Amarantha se cansava de alguém ou queria um pouco de diversão.
Cibele fez isso porque não estava sendo alimentada de outra forma. Fez isso para sobreviver, pelo menos, foi o que Rhysand sempre a garantiu.
Ainda assim, nenhuma quantidade de garantias de Rhysand, ou estômagos minimamente cheios, poderia sufocar o vazio absoluto no peito de Cibele.
Um vazio que ainda estava lá. Um vazio que a consumia.
Um vazio que nunca iria embora.
Ela se lembra de ter visto Lucien depois de matar aquele primeiro feérico, ela olheu para ele e desviou o olhar imediatamente depois de ver o que aquele olhar continha.
Decepção, tristeza.
Ele olhou para ela como se nunca tivesse a visto antes, e teria sido crível, se não fosse pelo fato de que ele foi o primeiro a vê-la transformada.
Não teria doído tanto.
Ele não olhou para ela depois disso, muito menos Tamlin, não que Cibele quisesse ele por perto depois do que ele fez.
Lucien.
Lucien, que a deixava praticar flerte com ele e a fazia corar da cabeça aos pés, rindo como uma garotinha, quando ele frequentemente retribuía o flerte.
Lucien, que a segurava quando ela chorava em algumas noites, quando a opressão de Tamlin se tornava excessiva para ela.
Lucien...
Não sobrou nem um pouco dele, seu primeiro amigo, seu primeiro amor, quando ele olhou para ela depois daquele dia.
E não havia sobrado muito de Cibele também.
I. Oie pessoas. O que acharam do capítulo? Gostaram?
II. Acho que agora vocês entenderam porque eu disse que a Cibele e o Cassian não vão se dar bem no começo.
III. Mas não se preocupem, o ódio dela contra ele não irá durar muito.
IV. Próximo capítulo, teremos o ponto de vista do Cassian, e estou ansiosa pra postar.
V. Por hoje é só, mas nós nos vemos em breve.
Byee ♡.
27.10.2023
Duda.
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