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Parecia estranho para Cibele, se sentar em uma bela mesa de jantar e olhar para o prato, cheio de carne, verduras, legumes e outros ingredientes, enquanto Rhysand começava a explicar sobre tudo.
ㅡ Tamlin não foi o único membro de sua família poupado naquela noite, na Corte Primaveril. ㅡ Cassian foi o único que pareceu surpreso na mesa, olhos arregalados enquanto olhava entre Rhysand e Cibele.
Sim, Rhysand nunca havia contado quem ela era de verdade. Eles sabiam que uma feérica da Corte Primaveril o salvou na guerra, mas Rhysand nunca confessou que ela era irmã de Tamlin.
Amren não se incomodou perante o fato, como Cibele presumiu que fosse seu estado normal de ser, enquanto Morrigan, na frente de Cibele, e Azriel, à sua esquerda, ambos ouviram educadamente enquanto comiam, embora a garota pudesse sentir a agitação da energia logo abaixo de suas peles.
Eles eram bons em esconder seus sentimentos.
E Cibele, depois de cinquenta anos como uma fera, era muito boa em observar outros. E descobrir tudo que precisava e queria saber.
ㅡ Eu conheci Cibele alguns meses antes daquele dia, ela salvou minha vida na guerra. Nunca poderei me esquecer da forma que ela me empurrou e levou o golpe da lança em meu lugar, sem nem ao menos me conhecer. ㅡ Cibele ficou desconfortável ao sentir todos os olhos nela, Cassian parecia o mais surpreso deles, como se ele não entendesse o que a teria levado a fazer aquilo por Rhys. ㅡ Eu a trouxe para Velaris, onde ela foi cuidada por Madja.
ㅡ Velaris? ㅡ Mor perguntou.
ㅡ Eu não tinha outro lugar para a levar, além disso, ela havia salvado minha vida, merecia um voto de confiança. ㅡ Rhysand explicou. ㅡ Nós conversamos e eu a mostrei a cidade depois de ela prometer nunca falar sobre ela, e ela nunca falou, mesmo quando ela me odiava. ㅡ Rhysand completou e Cibele o encarou tristemente.
Outra pausa.
Rhysand olhou para ela. Pedindo permissão. Cibele suspirou e deu um aceno de cabeça.
ㅡ Eu a entreguei um papel encantado para que pudéssemos conversar e ela me avisou um dia que seu pai planejava algo. Eu fui até minha mãe e minha irmã o mais rápido que pude, mas não foi o suficiente. ㅡ o tom de Rhysand se tornou mais sombrio enquanto ele continuava. ㅡ Eu e meu pai retalhamos. Mas muita coisa deveria ter acontecido de forma diferente naquela noite.
Rhysand segurou a mão de Cibele por um instante, por debaixo da mesa, quando a viu estremecer.
Cibele apertou a mão dele de volta, precisando do conforto que só Rhysand era capaz de dar a ela.
ㅡ Eu pensei que nunca mais a veria, até que nove meses depois, ela me pediu para encontrá-la. Ela devolveu as asas de minha mãe e irmã. ㅡ um olhar emocionado cruzou o semblante de Mor. ㅡ Eu não a vi depois disso, até o baile de máscaras. Naquela noite, Cibele havia seguido os membros da Corte da Primavera Sob a Montanha. Ela suspeitava dos motivos de Amarantha e pretendia ficar de olho em problemas, tirar seu irmão ou mesmo Lucien das festividades. ㅡ ele soltou um suspiro, a dor passando por seu rosto enquanto se lembrava da noite que tudo deu errado para Cibele. ㅡ Cibele defendeu Tamlin, e Amarantha a puniu por isso. ㅡ Rhysand estremeceu. ㅡ Tamlin implorou a Amarantha que a poupasse.
Ele fez uma longa pausa dessa vez.
Era doloroso para Cibele pensar naquilo, Tamlin, o último resquício do seu outrora amado irmão, de joelhos na frente de todos, na frente de Amarantha.
Cibele se lembrou do sorriso de Amarantha, quando seu irmão se ajoelhou de boa vontade.
Lembrou de sentir esperança, esperança em ter seu irmão de volta, o antigo Tamlin, aquele que a amava e cuidava dela.
Sua esperança foi varrida, como folhas secas ao vento, quando Tamlin sugeriu que Amarantha a mantivesse sob seus cuidados, alguns minutos depois.
Cibele se lembrou do medo que sentiu, e a forma como seus olhos se encontraram com os de Rhysand.
Ela, presa naquela forma primitiva, e ele, preso em sua máscara de indiferença.
E então tudo voltou para Cibele, a dor da traição de seu irmão, a dor de ser mantida presa, ser torturada-
ㅡ Eu estava presa Sob a Montanha desde então. ㅡ o silêncio se fez presente após Cibele falar pela primeira vez.
A confissão que havia sido feita...
Um silêncio pesado caiu sobre a sala.
ㅡ E Tamlin? ㅡ Morrigan perguntou quebrando o silêncio.
A dor da traição voltou duas vezes mais forte.
A lembrança dele saindo e a deixando lá. Lucien também, como se ela não significasse absolutamente nada.
ㅡ O que tem ele? ㅡ a resposta imediata de Cibele foi mordaz, quase um rosnado, embora ela não tivesse pretendido que soasse assim.
Ela piscou, os olhos fixos no prato por um momento. As garras estavam cavando suas palmas da mão agora que ela soltou a mão de Rhysand.
Cibele suspirou, se contendo, respiranso. E sua besta interior se retraiu á sua vontade.
Quando ela levantou o olhar, foi Morrigan cujos olhos ela encarou primeiro, diretamente.
Seus olhos estavam tristes. Cheios de pena.
Cibele sentiu dificuldade para respirar, um rosnado ficando preso em sua garganta.
Ela descobriu que odiava a sensação de sentirem pena dela.
Odiava mais que tudo.
Ela empurrou seu prato suavemente, intocado.
ㅡ Eu gostaria de ser dispensada, por favor. ㅡ as palavras saíram emboladas, hesitantes, e ela não olhou para ninguém em particular ao se levantar da mesa.
Rhysand fez menção de se levantar, para a escoltar até um local seguro, longe do olhar curioso de seus amigos, mas Morrigan o deteve com uma mão.
ㅡ Rhysand pediu para prepararem um quarto para você aqui, Cibele. Eu te levo lá. ㅡ ela disse.
Rhysand se desvencilhou da mão de Mor, e se levantou mesmo assim, colocando as mãos nos ombros de Cibele.
Cibele abriu as portas de sua mente para ele.
ㅡ Mor será boa com você. Mas apenas diga a palavra, e eu irei acompanhar você, Filhote. ㅡ Rhys sussurrou em sua mente.
Cibele suspirou insegura.
Ela não queria ficar perto de Mor, com seu brilho ofuscante, alegria e a maneira como ela recorria ao toque físico.
Mas ela não poderia tirar Rhysand de seus amigos tão rápido, não agora que eles haviam acabado de o ter de volta depois de cinquenta anos longe dele.
ㅡ Eu ficarei bem, prometo. ㅡ ela deixou Rhysand saber em sua mente, fingindo que aquilo não era uma grande mentira.
Rhysand assentiu e a beijou na testa.
Cibele se aproximou de Mor, a loira levantou um braço macio para envolver os ombros dela, e Cibele se afastou.
O braço de Mor se abaixou.
Cibele se virou para sair da sala de jantar, seguindo um pouco afastada de Mor, sem encontrar os olhos prateados e questionadores de Amren a encarando, ou até mesmo a carranca de Cassian.
Ela sentiu olhos em suas costas durante todo o caminho até a escada, mas ela não se virou.
Quando Morrigan abriu a porta, duas figuras sombrias e jovens já estavam lá dentro. Elas pareciam estar terminando de arrumar o quarto.
Os espectros se apresentaram: Cerridwen e Nuala, eram seus nomes, Cibele já havia as visto. Sob a Montanha.
Elas saíram logo após Cibele garantir que não precisaria de ajuda, mas garantiram que estariam sempre a disposição.
Morrigan deixou a mão cair antes de tentar apertar o ombro de Cibele, e quando Cibele se virou para olhar para Mor, ela estava sorrindo levemente.
ㅡ Bem, suponho que você queira ficar sozinha agora. Vou deixar você descansar. Se precisar de mim, apenas grite. ㅡ ela piscou, então se virou e saiu sem dizer outra palavra, a porta se fechando suavemente atrás dela.
Cibele se virou, observando o quarto.
A única palavra que ela conseguia pensar era "aberto".
O quarto era enorme e tinha uma grande varanda.
Era tudo tão aberto e arejado, o vento noturno adentrando pela sacada, pelas janelas.
Ela não estava enjaulada, não estava Sob a Montanha.
Parecia muito um sonho.
E se fosse, ela não queria acordar nunca.
Cibele trabalhou com rapidez e silêncio.
Ela se banhou rapidamente, lavando os cabelos loiros com um óleo que cheirava a rosas.
Ela se surpreendeu por não ter se esquecido como era fazer isso.
Antes que ela percebesse, estava em um vestido de dormir feito de seda, solto, em tons de roxo quase preto, com as costas abertas e mangas compridas e esvoaçantes que passavam das pontas dos seus dedos.
Seu cabelo estava solto. Molhado.
Cibele se desligou de si mesma por um momento, enquanto penteava seu longo cabelo loiro, loiro igual ao de Tamlin, seu irmão traidor.
A exaustão, o alívio, a confusão e o medo se acumulando dentro dela, afetando sua consciência.
ㅡ Eu não acho que eles sabem o que fazer comigo. ㅡ Cibele sussurrou, sua voz estava mais cansada do que ela pensava.
ㅡ Eles não te conhecem ainda, só isso. ㅡ aquele ser sombrio aprisionado em sua mente e agora livre, respondeu.
Cibele suspirou, depois de tanto tempo ela deveria começar a se referir aquele ser, por um outro nome, ele não era apenas um ser sombrio, não por completo, havia uma parte racional até mesmo em algo sombrio como aquilo.
ㅡ Você acha que vou pertencer a este lugar algum dia?
O ser sombrio pareceu perceber a apreensão, e a vulnerabilidade na voz de Cibele. Ele ronronou.
ㅡ Disseram que Velaris é a cidade dos sonhadores. ㅡ ele começou. ㅡ E nunca, em toda a minha longa existência, conheci alguém que sonhasse tanto quanto você, Cibele.
No momento em que aquele ser sombrio dentro dela, voltou a adormecer, Cibele se jogou na cama, deixando sua coluna relaxar e derreter nos lençóis e colchão macio.
Ela olhou para o teto alto por um momento, antes de seu olhar vagar para a varanda enorme.
Além da Casa do Vento, Velaris ainda não tinha dormido, as luzes cintilantes ocupando muito espaço naquele céu amplo e ilimitado.
Ela não conseguia desviar seus olhos do brilho distante das estrelas, brilhando e piscando como fiapos na noite.
O cheiro de rosas no ar quase a embalou para dormir por conta própria, mas a mente de Cibele a manteve acordada, meticulosamente alerta.
Seus instintos muito acordados.
Cibele se pôs a pensar enquanto olhava para suas mãos.
Ela estava na forma feérica novamente. E parecia tão estranho.
Ter mãos, não patas. Unhas no lugar de garras mortais.
As garras que ela usou para rasgar Amarantha.
Cibele suspirou.
Seus poderes sempre confundiram e assustaram Tamlin.
E ela nunca havia recebido nenhum treinamento formal de ninguém.
Seus poderes brotaram e cresceram por conta própria, sem qualquer ajuda para acendê-los ou mantê-los contidos.
Tamlin estava com muito medo de buscar ajuda externa, obcecado em manter o poder da irmã escondido de qualquer pessoa e de todos, ele havia a dito tantas coisas horríveis quando soube sobre as asas que ela devolveu para Rhysand.
Ele nunca havia explicado seu processo de pensamento para ela. E ela nunca tinha pedido a ele.
Tudo o que ele fez foi esconder, esconder e esconder, e a trancar, é claro. Dizendo que aquilo era para sua proteção.
Lucien era a única pessoa que sabia de seus poderes além de Tamlin.
Sem qualquer ajuda, então, os poderes de Cibele não foram contidos.
E então, ela correu selvagem.
Houve um ano, em que ela se cansou da repressão de Tamlin, de definhar trancada naquela mansão, e escapou da mansão no meio da noite, ela soltou sua forma primitiva e correu para a floresta.
Ela não foi vista durante todo o verão, vivendo entre outros animais, avançando em campos abertos, nadando em rios, dormindo em tocas e cavernas.
Foi o mais próximo da liberdade que Cibele pôde vivenciar.
Lucien a encontrou assim que o verão começou a se voltar para o outono.
E ela se lembrava de implorar, implorar para que ele não a levasse de volta, implorar para ele fingisse que não havia a visto.
Ela o ameaçou de todas as formas.
Ameaçou nunca mais falar com ele, ameaçou morrer de fome, até ameaçou se transformar e arrancar sua garganta.
Mas havia uma razão para Tamlin ter enviado Lucien para a encontrar.
Ela nunca poderia ter dito não a ele, no final.
Lucien, seu Lucien, com quem ela cresceu, Lucien que a roubava doces, que viria passar um tempo com ela na sala de música quando estivesse escuro o suficiente para que os servos não andassem mais por lá.
Lucien, que viria até ela quando Tamlin ficasse muito agressivo, muito estressado, muito volátil, e a levaria para fora da mansão.
Eles ficavam deitados em um vale escondido na floresta por horas, conversando sobre tudo e qualquer coisa, rindo para o céu, como se nada importasse.
Ou dormindo juntos naquela cabana de caça, onde ela tinha uma pequena ilusão de lar.
Lucien, seu amigo por muitas provações.
Lucien, seu primeiro amor.
Lucien, o covarde que obedeceu a cada comando de seu irmão.
Discutia com ele, claro, mas sempre fazia reverência.
Lucien, que conseguiu a levar de volta para a Corte Primaveril, de volta para Tamlin, de volta para ser aprisionada, com nada mais do que um por favor proferido .
Lucien, Lucien, Lucien. Onde você está agora?
Ela se perguntou.
Ele provavelmente estava na Corte Primaveril, ao lado do irmão de Cibele e Feyre Archeron, sem dúvida.
Cibele vagamente ponderou se ele estava feliz, menos despreocupado, ou se os eventos Sob a Montanha, o que ele a viu fazer, iriam assombrá-lo tanto quanto eles a assombravam.
Cibele gostaria de ter o amado da forma que ele a amou, mais cedo, talvez assim, ela teria tido mais tempo de felicidade.
Lucien.
Não mais, seu Lucien.
Cibele suspirou.
ㅡ Durma Bele. Eu cuidarei de tudo, ficaremos bem. Eu prometo.
Um sussurro de Rhysand em sua mente tumultuada.
Cibele olhou para o teto alto, respirou fundo e desejou que seu corpo teimoso dormisse.
Por mais que tentasse, Cibele não adormeceu naquela noite.
I. Oie pessoas. O que acharam do capítulo? Gostaram?
II. Próximo capítulo teremos uma interação do Cassian com a Cibele. Estou ansiosa demais pra isso.
III. Por hoje é só, mas nós nos vemos em breve.
Byee ♡.
15.10.2023
Duda.
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