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Na segunda vez que Cibele viu Velaris, ela não tinha certeza se iria se encaixar alí.
Mas Rhysand, apesar de sua inquietação durante todo o período, desde deixar a montanha, até passar pelos bairros da cidade, garantiu-a que seria um lar onde ela poderia recomeçar. Um lar em quê ela poderia prosperar.
Onde ela poderia finalmente encontrar sua liberdade.
Cibele não sabia se isso era verdade.
Mas, qualquer lugar era melhor do que Sob a Montanha.
E qualquer alternativa, era melhor do que voltar para a Corte da Primavera.
Nada havia sobrado para Cibele naquela Corte, nada.
Talvez, só dor e sofrimento.
E aprisionamento.
Não que Tamlin fosse a aceitar de volta. Não depois do que ele a viu fazer.
Cibele não sabia por que estava tão hesitante em viver naquela cidade.
Uma vez, ela havia adorado aquele lugar, havia sonhado em fazer dele seu.
E apesar de já ter visitado a cidade antes, e a visto, principalmente pelos olhos de Rhys, pelas imagens que ele a mostrava todas as noites para ter certeza de que ela conseguiria dormir.
Para que ela acordasse pela manhã sem se questionar por que continuava respirando, por que continuava viva.
Mas era diferente estar alí, pessoalmente, depois de tantos anos, tudo parecia tão diferente, principalmente a própria Cibele.
Talvez ela estivesse com medo porque Rhysand parecia nervoso enquanto os dois se aproximavam da sede, que mais tarde Cibele se lembraria se tratar da Casa do Vento, o lugar onde Rhys disse que gostaria de a mostrar um piano certa vez, parecia que foi a uma vida atrás que ele lhe disse aquilo.
E talvez fosse, no dia que ele lhe disse aquilo, havia uma esperança no ar, uma magia entre os dois, algo que não estava mais lá.
Algo que nunca mais estaria.
Porque ela não era mais aquela Cibele. E talvez, Rhysand não fosse mais aquele Rhys.
Talvez a causa do estresse de Rhysand, fosse porque ele não ia em Velaris há 50 anos, e a cidade parecia tão nova para ele, como parecia para Cibele.
Talvez ele estivesse nervoso, porque as coisas teriam mudado.
Talvez estivesse nervoso por ter mudado, em seu tempo Sob a Montanha.
E talvez ,Cibele estivesse com medo de não ser capaz de viver ali. De mudar. De não ser capaz de superar.
Não ser capaz de esquecer Sob a Montanha.
Cibele não tinha sido capaz de ver os lugares onde ela havia ido uma vez, tantos anos atrás, seu estômago estava enjoado, seus olhos correndo pela cidade, olhando, mas sem ver de fato.
Seus instintos estavam coçando sob sua pele, em um corpo que ela já não sentia que era dela.
Ela passou tanto tempo em sua forma mais primitiva, que estar de volta a forma feérica era estranho, era como se a besta que ela era desejasse voltar ao controle.
Era sufocante.
É Cibele finalmente sentia uma pequena fração do poder que havia perdido em seu tempo Sob a Montanha, bombeando em suas veias.
Não como antes, mas ainda assim, uma pequena parcela de seu antigo poder, que ela pensou estar perdido para sempre depois de todas aquelas torturas utilizando freixo.
Cibele sentiu suas garras cutucarem seus dedos com a mera lembrança do terror vivido, mas ela suspirou, contendo-se.
Rhysand se ofereceu para os levar até a porta, reduzindo o tempo que levaria para subir os mil degraus.
Cibele olhou para ele por um momento, lentamente se lembrando de estar em uma posição semelhante há tantos anos antes, Rhysand pareceu se lembrar também, porque sorriu tristemente.
Cibele se virou para olhar o céu amplo e sem limites, ela não queria pensar no passado, em como as coisas entre ela e Rhys desmororam, apenas para serem reconstruídas no momento de maior adversidade, tantas vezes ela tentou o odiar, e tantas vezes ela falhou nisso.
As pessoas olhavam para cima, e Cibele ficou surpresa ao notar a falta de um olhar boquiaberto.
Eles olharam para Rhys, e Cibele podia sentir o alívio e a alegria vindo deles, mas não havia surpresa, eles sempre souberam que Rhysand voltaria, eles tinham a certeza de que ele voltaria para o lar.
Lar.
Essa era uma palavra estranha para Cibele.
Muito estranha.
Ela havia tido uma casa um dia, mas nunca teve um lar.
A sua eu ingênua de tantos anos atrás, imaginou que talvez, um dia, poderia fazer de Velaris seu lar.
Era um sonho bobo, um que nunca se realizou no passado, já que sua mãe havia sido assassinada pelo pai do feérico que a segurava nos braços naquele instante.
Cibele não queria pensar na mãe, apesar da lembrança da mãe ser uma das poucas coisas que a mantiveram sã Sob a Montanha, a evitara de cruzar uma linha há anos, quando ela poupou a irmã de Kallias.
A lembrança do sorriso e do amor de sua mãe era reconfortante, mesmo nos piores momentos.
Enquanto voavam, Cibele deixou os acontecimentos recentes virem a mente.
Feyre Archeron havia os libertado, havia superado todos os desafios terríveis de Amarantha.
Surpreendeu aquela vadia horrível contra todas as possibilidades.
Ultrapassou ela. Os libertou. Ela morreu por eles, uma humana. Agora, feita feérica.
E ela havia voltado para a Corte da Primavera com Tamlin. Ela havia feito seu trabalho, um trabalho que ninguém realmente havia pedido a ela. Mas que todos eram gratos.
E agora, veio o depois.
Um depois que Cibele nunca achou que realmente viria, e muitas vezes desejou que não vinhe-se, não para ela.
Ela não tinha ideia do que fazer com a chance de vida que a foi dada.
Não tinha ideia se queria viver depois de tudo, depois de conhecer um horror como aquele, de cometer horrores como os que ela cometeu, o que sobraria dela para oferecer ao mundo?
Embora Rhys voa-se em silêncio, ela percebeu que ele precisava a dizer algo, mas sabia que ambos gostariam de não falar.
Bom, ela não gostaria de falar.
Era estranho, usar sua voz depois de cinquenta anos sem fazer isso.
E Cibele odiava a sensação.
A hesitação que se seguia sempre que ela abria a boca, porque ela parecia uma criança voltando a aprender a falar.
Ela sentiu garras negras arranharem levemente as portas que ele mesmo a ensinou a trancar.
Paredes altas e imponentes de pedra envelhecida, musgo e trepadeiras de flores subindo até o topo. Cheiro de rosas, calor do sol sentido até mesmo através da pedra.
O trabalho de uma filha da Primavera, algo que ela não pensava ser mais.
Algo que ela nunca pensou ter sido.
Ela deixou uma daquelas portas se abrir. Larga o suficiente para deixá-lo entrar. Através dela, ele sussurrou, a voz rouca, cansada, cheia de sentimentos conflituosos.
ㅡ Você só precisa pensar em comer e depois em dormir. Eu cuidarei de todo o resto. Se não quiser falar com ninguém, ignore-os e suba as escadas à esquerda. Ninguém vai reclamar, ninguém vai julgar.
Cibele fez um ruído de afirmação, ela não achava que tinha forças para falar, e também não queria, e então, com um piscar, a porta em sua mente se fechou, trancando com o som de um clique.
Não demorou muito até que finalmente os dois alcançaram as portas da Casa do Vento.
Rhysand a colocou no chão com cuidado, como se teme-se que ela pudesse se quebrar.
Cibele queria rir dele, tudo já estava quebrado, não havia nada nela que não fosse danificado, nada nela que não estivesse quebrado.
Rhysand passou a andar na frente mas ele sempre se virava para a olhar,
provavelmente para se certificar de que ela não desaparecesse ou fugisse.
Ele parecia tão exausto. Tão quebrado, assim como ela.
Ele a deu um sorriso, porém, e foi então que ela percebeu que o cansaço dele vinha do alívio. Ele estava finalmente em casa, depois de suportar Sob a Montanha, suportar Amarantha, por 50 anos.
Eles estavam livres. Prythian estava livre.
Mas Cibele não sabia ao certo. Afinal, o que era a liberdade?
Liberdade.
Não, Cibele nunca havia sido livre, nem mesmo por um dia.
Ela não conhecia a liberdade, e talvez nunca pudesse conhecer.
Porque Sob a Montanha havia quebrado ela. E ela sentia que não tinha concerto.
ㅡ Você está pronta, Bele? ㅡ Rhysand perguntou.
Não. Ela não estava.
Porém, ela balançou a cabeça de qualquer maneira, e ele sorriu novamente. Alívio. Exaustão. Uma grande e brilhante tristeza persistindo por baixo.
Aquele era Rhys, tão parecido e ao mesmo tempo, tão diferente dela.
Ele abriu a porta e então houve uma confusão de cabelos loiros, gritos e choro, e Rhysand foi jogado ao chão.
Por instinto, Cibele se afastou da comoção, enquanto uma bela feérica arrastava a figura de Rhysand pelo chão antes de puxá-lo para outro abraço apertado.
Aquela deveria ser a prima, Rhysand havia a dito sobre ela a muitos anos atrás, enquanto eles almoçavam.
Atrás dos dois, outras três figuras estavam um pouco mais distantes.
Dois fae altos com grandes asas negras e uma mulher pequena, com cabelos negros como a meia-noite emoldurando seu rosto e uma aura estranha, invisível e perturbadora ao seu redor.
Assim como Cibele os viu, ela sabia eles haviam a visto.
E, no entanto, ela foi ignorada enquanto todos eles se revezavam dando seus afetos, abraçando e chorando, a mulher de cabelos negros dando um soco no braço de Rhys e murmurando algo que Cibele não conseguiu entender.
Cibele sentiu uma pontada de inveja a envolver, mesmo que se odiasse por isso.
Sentiu inveja, porque ela não poderia ter isso.
Ninguém estava esperando ansiosamente por ela.
Ninguém esperou por ela nesses cinquenta anos.
Tamlin a deixou. Lucien a deixou.
Cibele não tinha ninguém esperando por ela.
Ela não tinha ninguém que se importasse com seu retorno.
Ninguém além de Rhys.
Cibele fez menção em subir às escadas, ela precisava se afastar, aquela comoção toda a estava sufocando. Como uma mão em seu pescoço cortando seu fluxo de oxigênio.
Entretanto, quando ela se preparava para subir as escadas a esquerda, Rhysand sorriu, verdadeiramente daquela vez, como ela não o via fazer há muito tempo. E Cibele não pôde ir, não pôde dar mais nem um passo. Vê-lo verdadeiramente feliz encheu o coração dela de puro alívio, Rhysand era tudo que ela tinha agora, seu amigo, seu irmão, seu tudo.
E ele estava sorrindo.
Sorrindo de verdade.
E aquilo era a coisa mais linda que ela havia visto, depois daqueles cinquenta anos.
Depois que todos tiveram a chance de abraçar e falar sobre o retorno de Rhysand, a loira se virou Cibele, aparentemente surpresa por a encontrar ali, no canto, ela se virou para Rhysand, questionamento em seus olhos castanho-mel.
O resto se virou para ela em conjunto, os olhos focalizando em sua pequena forma derrotada. Seus olhos se moveram em sincronia do topo da cabeça, até a ponta dos pés de Cibele.
ㅡ Esta é Cibele. Da Corte da Primavera. ㅡ a tensão incerta no ar era quase palpável quando Rhysand se voltou para seus amigos. Ele sorriu de forma tranquilizadora para ela.
ㅡ Ela foi a garota que salvou minha vida na guerra. Ela é minha amiga, a única que eu tinha Sob a Montanha.
Ela agradeceu pela versão simplificada da extensão das relações entre os dois.
Cibele levantou o olhar apenas ligeiramente, nervosa por olhar para qualquer um deles em particular.
Ela brevemente fez contato visual com um dos dois ilyrianos, o mais alto e forte, e também o que estava mais a frente, com sifões vermelhos brilhando com seu poder.
Um sentimento desconhecido passou por ela quando os olhos castanhos do desconhecido encontraram os dela.
Ele ofegou baixinho e desviou o olhar rapidamente.
Cibele fez o mesmo.
E antes que ela pudesse tentar dizer algo, a mesma mulher que abraçou Rhys, a prima dele, deu um passo para frente, como se fosse a abraçar, o movimento repentino dos braços dela, fez Cibele dar alguns passos para o lado, para perto de Rhys, se afastando enquanto lutava contra a vontade de rosnar para a loira.
A loira não pareceu ficar brava com as ações dela, ela apenas sorriu.
ㅡ Estou feliz por conhecer você, Cibele. ㅡ a voz de Mor era suave nos ouvidos de Cibele e a garota não conseguia falar. Não conseguia responder.
Ou respirar.
Cibele olhou para Rhysand, olhos implorando. 'Tire-me daqui.'
Os outros na sala a deram um momento, provavelmente surpresos com sua reação repentina.
ㅡ Tudo bem, Mor, tenho certeza que Cibele também está feliz em te conhecer, podemos deixar os abraços para outra hora.ㅡ Rhys disse e Cibele assentiu para a loira.
Depois se virou para olhar os outros, seu olhar novamente parando no ilyriano com aqueles sifões vermelhos, um sorriso em seu rosto, olhos castanhos profundos olhando para ela com um misto de emoções, o cabelo caindo um pouco acima dos ombros.
Aquele sentimento desconhecido voltou, entretanto, Cibele o afundou dentro de seu ser, não sabendo do que se tratava.
Cibele sabia que era pequena em estatura comparada a alguns feéricos, mas ela se sentia absolutamente minúscula na presença do ilyriano com sifões vermelhos, especialmente com aquelas enormes asas projetando uma sombra atrás dele.
O sorriso dele se tornou mais contido, e apesar de seu tamanho, Cibele não sentiu medo dele.
ㅡ É um prazer conhecê-la. ㅡ o ilyriano disse, sua voz trazendo um arrepio em Cibele.
O outro ilyriano sem nome, cujos sifões eram azuis, assentiu em forma de cumprimento.
ㅡ Cibele, este é Cassian. ㅡ Rhysand apresentou o grande ilyriano.
Cassian.
O nome dele dançou na mente de Cibele.
Cassian assentiu para ela.
ㅡ E o insuportavelmente anti-social no canto, é Azriel. ㅡ o outro ilyriano, voltou-se para Cibele, acenando com a cabeça novamente, Cibele retribuiu o gesto.
Os olhos dela se voltaram para as duas mulheres, agora paradas a alguns metros de distância. A loira sorriu, ousada e brilhante.
Uma dor fantasma passou por Cibele, ela se lembrava de ser assim em algum momento de sua vida. Ousada. Brilhante. Uma filha da natureza.
Mas seu brilho tinha se apagado a muito tempo.
Não havia restado nada brilhante nela.
ㅡ A loira como você sabe é Mor e-
A fae mais baixa se aproximou sozinha, cortando a fala de Rhysand, uma expressão quase entediada assumindo seu rosto de duende.
ㅡ Meu nome é Amren. E você, ㅡ ela deu uma olhada curiosa para Cibele, tentando encontrar algo em seus olhos. Cibele piscou, hipnotizada pela forma como o cinza em seus olhos girava, como olhar para a névoa através de um vidro. Amren deu um pequeno sorriso. ㅡ Você não é uma Grã-feérica comum, é?
Ela prendeu a respiração.
E olhou para Rhysand. 'Tire-me daqui. Agora.'
Ele a deu um aceno tranquilizador, antes de se virar para os outros, que pareciam confusos com a observação de Amren.
ㅡ Que tal irmos para a mesa de jantar? Estou faminto.
Cibele não disse uma palavra, ela apenas se aproximou mais de Rhysand, sua mão buscando a dele. Buscando conforto.
Ela não sabia se aguentaria passar por aquele jantar.
I. Oie pessoas. O que acharam do capítulo? Gostaram?
II. Finalmente nossa dupla está fora de Sob a Montanha e finalmente tivemos o encontro da Cibele com o Círculo Íntimo.
III. Não, a Cibele não notou a parceria, e ela não vai notar por um bom tempo.
IV. A Cibele passou 50 anos vivendo como uma "fera selvagem", sendo torturada e humilhada, coisas básicas como falar, agir como fae ou até mesmo ter contato físico com alguém, será difícil para ela. Ela nesse ponto é quase como uma criança. Reaprendendo tudo. Então, paciência.
V. Diferente do que possam pensar, Mor e Cibele nunca serão melhores amigas. Não por causa de rivalidade e etc, afinal eu sou super contra rivalidade feminina. Elas não vão ser muito próximas porque a Mor é bastante parecida com a Cibele antes de tudo dar errado, e isso afeta a Bele. Além disso, a Cibele sempre vê mais que a maioria. Ela sempre é mais observadora, principalmente depois de cinquenta anos sendo um ser selvagem. Ela vai notar certas atitudes da Mor que não irão agradar ela. Portanto, elas não serão muito próximas. Mas Feyre e Cibele serão besties. Assim como Cibele e Elain mais no futuro.
VI. Sei que muitos podem ficar incomodados por eu focar e desenvolver muito a relação da Cibele com o Rhysand. Mas é necessário. Cibele e Rhysand passaram pelo inferno juntos. Foram tudo um para o outro. A amizade deles é um dos pontos principais dessa fanfic. E não é só porque a fanfic é do Cassian que o mundo da Cibele vai girar em torno dele.
VII. Cibele e Cassian são dois personagens defeituosos e quebrados, que juntos vão ver que ainda existem coisas como o amor romântico, no mundo quebrado que eles vivem. Eles vão se completar e trazerem o melhor um no outro. Mas pra isso, eles têm que estar em paz com eles mesmos. Porque amor não cura trauma. Ele apenas ajuda a pessoa a se curar.
VIII. Amanhã eu devo postar mais um capítulo. Mas, por hoje é só.
Byee ♡.
14.10.2023
Duda.
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