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𓏲 . THE BOY WHO LOVED . .៹♡
CAPÍTULO SETENTA E SEIS
─── DIAS FINAIS E NÉVOA CEGA
EXAUSTO, MAS ENCANTADO com o trabalho noturno dele e de Harry, Charlie voltou para a Torre da Grifinória para encontrar uma Hermione adormecida, enrolada em sua poltrona favorita perto do fogo, esperando por ele na sala comunal. Caminhando silenciosamente para não perturbar de repente seu sono tranquilo, ele se agachou na frente dela.
— Hermione... — ele sussurrou, acariciando sua bochecha gentilmente com a junta de seu dedo indicador. Ela se mexeu, mas não acordou. Com uma risada leve, Charlie deu um beijo leve em seus lábios, que se formou em um sorriso quando ele se afastou.
— Ei. — ele disse enquanto os olhos dela se abriam, acordada com a sensação que dançava em seus lábios.
— Mmm... — ela respirou, ainda meio adormecida. — Que horas são?
— Um pouco depois da meia-noite, eu acho... O que você está fazendo aqui?
— Eu queria esperar pelo Harry, mas devo ter cochilado. — ela disse, agora gozando também. — Ele já voltou? O Felix Felicis funcionou?
— Sim, ele pegou a memória. — Charlie respondeu com um sorriso. — Mas eu vou te contar amanhã, sim? Você parece arrasada.
Hermione fez beicinho, mas permitiu que ele a puxasse pela mão. Assim que ficaram juntos, ela deitou a cabeça confortavelmente no ombro dele, as mãos envolvendo instintivamente o pescoço dele.
Ela se aninhou na curva do pescoço dele, perguntando sonolenta: — Não podemos simplesmente dormir aqui esta noite?
Charlie suspirou, sua respiração agitando os indomáveis cabelos de bebê no topo de sua cabeça. Ele desejava nada mais do que aceitar a oferta de Hermione, mas sabia que passar uma segunda noite na sala comunal iria causar um aborrecimento com McGonagall se eles fossem pegos.
Tendo lido sua mente sem esforço novamente, Hermione respondeu a pergunta para si mesma. — Eu sei... Eu sei, não podemos, mas valeu a pena tentar.
Ela se afastou, e o olhar que deu a Charlie quase fez seu coração derreter, a adrenalina da noite abrindo caminho para um desejo doloroso de estar com ela. E assim, ele a beijou novamente. Preguiçosamente e com amor, colocando o máximo de emoção possível. Hermione, embora sonolenta, retribuiu na mesma medida; lento e macio.
Eventualmente, eles se separaram, e Hermione o pegou silenciosamente pela mão e caminhou em direção à entrada dos dormitórios antes de deixá-lo ir com um sorriso sonolento.
— Boa noite, baby. — ela murmurou, com um beijo final e suave. Charlie se despediu rapidamente em resposta e a observou subir a escada, sorrindo ao fazê-lo.
A manhã seguinte chegou rapidamente. Como Charlie havia prometido, ele e Harry contaram a Hermione - e Ron - tudo o que havia acontecido durante a aula de Feitiços da manhã seguinte, tendo primeiro lançado o feitiço Muffliato naqueles mais próximos. Ambos ficaram satisfatoriamente impressionados com a maneira como Harry extraiu a memória de Slughorn e Ron ficou maravilhado quando Charlie contou a eles sobre as Horcruxes de Voldemort e a promessa de Dumbledore de levar Harry ou Charlie junto, caso encontrasse outro.
— Uau. — disse Ron, quando Charlie finalmente terminou sua lembrança da noite anterior; Hermione ficou ligeiramente rosa quando ele mencionou o que Dumbledore disse sobre o amor ser a arma mais poderosa, embora seu namorado soubesse que os pensamentos dela coincidiam com os dele.
Ron estava acenando sua varinha muito vagamente na direção do teto sem prestar a menor atenção ao que estava fazendo. — Uau. Um de vocês vai realmente ir com Dumbledore... E tentar destruir... Uau.
— Pare com isso, Rony, você está fazendo nevar. — disse Hermione pacientemente, agarrando seu pulso e redirecionando sua varinha para longe do teto de onde, com certeza, grandes flocos brancos começaram a cair.
— Ah, sim. — Ron murmurou, olhando para seus ombros com uma vaga surpresa. — Desculpe... Parece que todos nós temos uma caspa horrível agora...
Ele tirou um pouco da neve falsa do ombro de Hermione. Charlie lançou um olhar sobre a mesa. Ron devolveu seu olhar desdenhoso e virou a cabeça, continuando a dar o ombro frio ao garoto de olhos castanhos. Hermione, que viu essa interação se desenrolar, agarrou a mão de Charlie debaixo da mesa, silenciosamente dizendo para ele não fazer uma cena. Como sempre, ele suspirou e mordeu a língua.
— Harry... — chamou Hermione, querendo desesperadamente mudar de assunto. — Eu quase esqueci de te contar, Elaina e Nott terminaram noite passada.
Harry pensou que havia um olhar bastante astuto em seus olhos quando ela lhe disse isso, mas ela não poderia saber que suas entranhas estavam de repente dançando a conga. Mantendo o rosto o mais imóvel e a voz o mais indiferente possível, ele perguntou: — Como assim?
— Oh, bem, eles têm sido bastante difíceis por anos... Ela disse que Nott está agindo de forma estranha desde que descobriu que você estava ensinando Poções para ela, como se houvesse algo mais acontecendo... Então eu imagino a separação deles foi o melhor.
Charlie inclinou a cabeça para trás em direção ao Slytherin estacionado atrás deles, e como esperado, Elaina e Theo estavam sentados em lados opostos, sem falar um com o outro.
— Acho que aquela poção da sorte funcionou de várias maneiras, hein? — Charlie riu, estendendo a mão para bagunçar o cabelo de Harry como um irmão mais velho faria.
Harry deu de ombros, sussurrando um pouco alto demais. — Oi! Cale a boca!
— Flitwick. — Ron murmurou em tom de advertência. O pequenino mestre de Feitiços estava se aproximando deles, e Hermione era a única que conseguira transformar vinagre em vinho; seu frasco de vidro estava cheio de um líquido carmesim profundo, enquanto o conteúdo de Charlie, Harry e Ron ainda era marrom escuro.
— Agora, agora, meninos. — guinchou o professor Flitwick em tom de reprovação. — Um pouco menos de conversa, um pouco mais de ação... Deixe-me ver você tentar...
Juntos, eles levantaram suas varinhas, concentrando-se com toda a força, e apontaram para seus frascos. Charlie ficou com um tom fraco de roxo; O vinagre de Harry virou gelo. O frasco de Ron explodiu.
— Sim... Para o dever de casa. — disse o Professor Flitwick, ressurgindo de debaixo da mesa e tirando cacos de vidro do chapéu. — Mais prática.
Os quatro tiveram um de seus raros períodos livres após Feitiços e voltaram juntos para a sala comunal. Com o braço em volta da cintura de Hermione, Charlie liderou o caminho através do buraco do retrato para a ensolarada sala comunal, e apenas vagamente registrou o pequeno grupo de alunos do sétimo ano agrupados ali, até que Hermione gritou: — Katie! Você voltou! você está bem?
Charlie ficou olhando: era de fato Katie Bell, parecendo completamente saudável e cercada por seus amigos jubilosos.
— Estou muito bem! — ela sorriu feliz. — Eles me deixaram sair do St. Mungus na segunda-feira, passei alguns dias em casa com mamãe e papai e depois voltei aqui esta manhã. Leanne estava me contando sobre McLaggen e a última partida, Harry...
— Sim... — Harry resmungou, ainda chateado com a coisa toda. — Bem, agora que você está de volta e Charlie está em forma, teremos uma chance decente de derrotar Ravenclaw, o que significa que ainda podemos estar na disputa pela Copa. Escute, Katie...
Ele teve que fazer a pergunta a ela imediatamente; sua curiosidade até tirou Elaina temporariamente de seu cérebro. Ele baixou a voz quando os amigos de Katie começaram a juntar suas coisas; aparentemente eles estavam atrasados para a Transfiguração.
— Aquele colar... Você consegue se lembrar quem deu a você agora?
— Não. — disse Katie, balançando a cabeça com pesar. — Todo mundo está me perguntando, mas eu não tenho a menor ideia. A última coisa que me lembro é de entrar no banheiro feminino no Três Vassouras.
Hermione ouviu atentamente. — Você definitivamente foi ao banheiro, então?
— Bem, eu sei que empurrei a porta. — explicou Katie, encolhendo os ombros. — Então suponho que quem quer que tenha me Imperius estava bem atrás dela. Depois disso, minha memória está em branco até cerca de duas semanas atrás em St. Mungo's. Ouça, eu é melhor ir, eu não duvidaria de McGonagall para me dar falas, mesmo que seja meu primeiro dia de volta...
Ela pegou sua bolsa e livros e correu atrás de seus amigos, deixando Charlie, Harry, Ron e Hermione sentados em uma mesa perto da janela e refletindo sobre o que ela havia dito a eles.
— Então deve ter sido uma garota ou uma mulher que deu o colar a Katie. — Hermione disse a eles. — Para estar no banheiro feminino.
— Ou alguém que parecia uma menina ou uma mulher. — sugeriu Charlie, perplexo. — Não se esqueça, havia um caldeirão cheio de Poção Polissuco em Hogwarts. Sabemos que parte dela foi roubada...
— Escute, acho que vou tomar outro gole de Felix. — disse Harry, pensando em um suspeito. — E tentar a Sala Precisa.
— Isso seria um completo desperdício de poção. — repreendeu Hermione categoricamente, colocando de lado a cópia do Spellman's Syllabary que ela havia acabado de tirar de sua bolsa. — A sorte só pode te levar até certo ponto, Harry. A situação com Slughorn era diferente; você sempre teve a habilidade de persuadi-lo, você só precisava ajustar um pouco as circunstâncias. Sorte não é suficiente para você passar por um poderoso encantamento, embora. Não desperdice o resto dessa poção! Você vai precisar de toda a sorte que puder se Dumbledore te levar junto com ele... — ela baixou a voz para um sussurro baixo, olhando ao redor.
— Não poderíamos fazer mais? — Ron perguntou a Harry, ignorando a recusa de Hermione. — Seria ótimo ter um estoque dele... Dê uma olhada no livro...
Harry puxou sua cópia de Preparação de Poções Avançada de seu bolso e procurou Felix Felicis.
— Caramba, é muito complicado. — disse ele, dando uma olhada na lista de ingredientes. — E demora seis meses... Tem que deixar estufar...
Ron zombou. — Típico.
Harry estava prestes a guardar o livro novamente quando notou o canto de uma página dobrada; virando-se para ele, ele viu o feitiço Sectumsempra, com a legenda 'Para inimigos', que ele havia marcado algumas semanas antes. Ele ainda não havia descoberto o que fazia, principalmente porque não queria testá-lo perto de Hermione, mas estava pensando em experimentá-lo em McLaggen na próxima vez que aparecesse atrás dele desprevenido.
— O que é, Harry? Você encontrou alguma coisa? — perguntou Charlie, que notou imediatamente as sobrancelhas franzidas de seu melhor amigo enquanto ele olhava para a página.
— Não. — negou Harry, fechando o livro com um estalo. — Não é nada, não se preocupe.
E com isso, a conversa terminou tão rápido quanto começou.
★
A única pessoa que não ficou particularmente satisfeita em ver Katie Bell de volta à escola foi Dean Thomas, porque ele não seria mais necessário para ocupar o lugar dela como artilheiro. Ele levou o golpe estoicamente o suficiente quando Charlie disse a ele, apenas grunhindo e encolhendo os ombros, mas Charlie teve a nítida sensação enquanto se afastava de que Dean e Seamus estavam resmungando amotinadamente nas suas costas.
A quinzena seguinte viu os melhores treinos de Quadribol que Charlie e Harry haviam conhecido como capitães. A equipe deles ficou tão feliz por se livrar de McLaggen, tão feliz por finalmente ter Katie de volta, que eles estavam voando extremamente bem. Ginny era a alma do time, apesar de seu namorado não estar mais em campo. Suas imitações de Ron ansiosamente balançando para cima e para baixo na frente dos postes do gol enquanto a Goles disparava em sua direção, ou de Harry berrando ordens em McLaggen antes de ser nocauteado, mantinham todos eles muito divertidos.
Os dias amenos deslizaram suavemente por maio, e o jogo final de Quadribol se aproximava; Ron queria conversar sobre táticas com Harry o tempo todo, então o 'Escolhido' pouco pensava sobre um potencial romance com a agora solteira Elaina Dumont.
Ron não era o único a esse respeito; o interesse no jogo Gryffindor-Ravenclaw estava extremamente alto em toda a escola, pois a partida decidiria o campeonato, que ainda estava em aberto. Se a Grifinória vencesse a Corvinal por uma margem de trezentos pontos (uma tarefa difícil, e ainda assim Charlie nunca tinha visto seu time voar melhor), então eles ganhariam o campeonato. Se ganhassem por menos de trezentos pontos, ficariam em segundo lugar, atrás da Corvinal; se perdessem por cem pontos, ficariam em terceiro atrás de Lufa-Lufa e, se perdessem por mais de cem, ficariam em quarto lugar e ninguém, pensou Charlie, jamais deixaria ele ou Harry esquecerem que foram eles que havia capitaneado a Grifinória em sua primeira derrota na parte inferior da tabela em dois séculos.
A preparação para esta partida crucial teve todas as características usuais: membros de casas rivais tentando intimidar times adversários nos corredores; cantos desagradáveis sobre jogadores individuais sendo ensaiados em voz alta enquanto passavam; os próprios membros da equipe se vangloriando desfrutando de toda a atenção ou então correndo para os banheiros entre as aulas para vomitar.
Em meio a todas as suas preocupações, os quatro principais não haviam esquecido sua outra ambição: descobrir o que Malfoy estava fazendo na Sala Precisa. Harry ainda estava verificando o Mapa do Maroto e, como não conseguiu localizar Malfoy nele, deduziu que Malfoy ainda passava muito tempo dentro da sala. Embora Charlie estivesse perdendo a esperança de que eles conseguiriam entrar na Sala Precisa, ele tentava sempre que estava nas proximidades, mas não importava como ele reformulasse seu pedido, a parede permanecia firmemente sem porta.
Alguns dias antes da partida contra a Corvinal, Charlie e Harry se viram descendo para jantar sozinhos da sala comunal, Ron tendo corrido para um banheiro próximo para vomitar mais uma vez, e Hermione tendo saído correndo para ver o Professor Vector sobre um erro. ela pensou que poderia ter feito em seu último ensaio de Aritmancia.
Mais um hábito do que qualquer coisa, eles fizeram o desvio habitual ao longo do corredor do sétimo andar, Harry verificando o Mapa do Maroto enquanto avançava. Por um momento, ele não conseguiu encontrar Malfoy em lugar nenhum e presumiu que ele realmente deveria estar dentro da Sala Precisa novamente, mas então ele apontou para o minúsculo ponto rotulado de Malfoy parado em um banheiro masculino no andar de baixo, acompanhado, não por Crabbe ou Goyle. , mas por Moaning Myrtle.
— Isso é estranho. — Charlie murmurou, com as sobrancelhas franzidas. — Do que você acha que se trata?
Harry não disse nada. Ele só parou de olhar para esse casal improvável quando se deparou com uma armadura. O estrondo o tirou de seu devaneio; saindo correndo da cena para evitar que Filch aparecesse, os dois jovens grifinórios desceram correndo a escada de mármore e seguiram pelo corredor abaixo. Parando do lado de fora do banheiro, Charlie pressionou o ouvido contra a porta. Ele não conseguia ouvir nada. Ele empurrou a porta muito silenciosamente e Harry o seguiu para dentro; eles se esconderam atrás de uma das paredes da baia, olhando cautelosamente pela esquina.
Draco Malfoy estava parado de costas para a porta, suas mãos segurando cada lado da pia, sua cabeça loira abaixada.
— Não. — murmurou a voz de Moaning Myrtle de um dos cubículos. — Não... Me diga o que há de errado... Eu posso te ajudar...
— Ninguém pode me ajudar. — disse Malfoy, todo o seu corpo tremia. — Eu não posso fazer isso... Eu não posso... Não vai funcionar... E a menos que eu faça logo... Ele diz que vai me matar...
E Charlie percebeu, com um choque tão grande que pareceu prendê-lo no lugar, que Malfoy estava chorando - realmente chorando - lágrimas escorrendo por seu rosto pálido na bacia suja.
— Eu sabia... Voldemort deu uma tarefa a ele. — cuspiu Harry, em um murmúrio baixo que só Charlie podia ouvir. Ele enfiou a mão no bolso do roupão e puxou sua varinha. — Vamos, temos que fazer algo antes...
— Não, espere. — Charlie repreendeu, puxando a mão de Harry de volta para baixo, sua varinha junto com ela. — Não podemos simplesmente atacá-lo sem motivo. Como diabos isso vai resolver alguma coisa?
Harry zombou. — Bem, então, o que você sugere que façamos? Não podemos simplesmente deixá-lo escapar!
— Ele ainda não fez nada, não vê? Ele está com medo, Harry, e você só vai piorar as coisas! — Charlie sussurrou, seu tom firme e indiscutível. — Só me dê um segundo para falar com ele.
Os olhos de Harry se arregalaram. — Você enlouqueceu? É do Malfoy que estamos falando aqui!
— Exatamente. — disse Charlie de uma vez, mantendo sua voz baixa para não alertar o Sonserino chateado. — E quando você já viu Malfoy agir assim antes? Você não entende, Harry, mas eu entendo. Pode ser totalmente solitário ser um Comensal da Morte, acredite em mim... Malfoy precisa de nossa ajuda.
— Tudo bem. — murmurou Harry, balançando a cabeça. — Vá em frente e fale com ele, mas me ajude Merlin, se ele fizer um movimento errado...
— Sim, sim, eu tenho isso.
Charlie deu um passo para trás da parede da baia, obtendo uma visão melhor da cena. Malfoy estava histérico. Ele engasgou e engoliu em seco e então, com um grande estremecimento, olhou para o espelho rachado e viu Charlie olhando para ele por cima do ombro.
Malfoy se virou, sacando sua varinha, tremendo no local.
— Não! Não! Pare com isso! — gritou Moaning Myrtle, sua voz ecoando alto ao redor da sala de azulejos. — Para, para!
— Murta, saia daqui!
Com isso, os olhos do fantasma se encheram de lágrimas repentinas.
— Ninguém nunca tem tempo para a Murta Que Geme, feia, miserável e deprimida! — ela murmurou, tateando em suas vestes em busca de um lenço, antes de voltar para o banheiro imediatamente, deixando um silêncio retumbante atrás dela.
Com essa crise anunciada, Charlie voltou atrás; Malfoy ainda segurava a varinha no ar.
— Relaxe. — Charlie ergueu as mãos em uma falsa rendição, mostrando que não tinha intenção de entrar em um duelo. — Eu não vou te machucar.
Os olhos de Malfoy, antes enrugados de raiva, estavam arregalados de horror e medo, e Charlie achou que sabia o porquê: ele estava bloqueando a única saída, o único meio de escapar do espaço fechado do questionamento.
— O que ele está obrigando você a fazer, Malfoy? — Charlie continuou, dando alguns passos mais perto. — Você pode me dizer... Pode deixar nossas diferenças de lado, eu posso imaginar como você está se sentindo.
— E-eu não quero sua ajuda! — estalou Malfoy, embora ele estivesse tremendo. — Você não entende? Isso é tudo culpa sua! Eu fui escolhido p-por sua causa! Porque v-você o desobedeceu! Isso é tudo por sua causa!
Charlie deu outro passo, com as mãos no ar. — Para que exatamente você foi 'escolhido'?
Mas Malfoy apenas ficou boquiaberto, percebendo que ele havia falado demais. Charlie soltou um suspiro pesado. Parecia que ele ia ser o único a falar. Ele decidiu tentar ser direto.
— Você amaldiçoou Katie, não foi? — ele corrigiu, lembrando-se da conversa de Harry com McGonagall. — Ou você pediu a alguém para fazer isso por você?
Era uma pergunta, mas não foi dita como se fosse uma. Ainda assim, pela maneira como as pernas de Malfoy cederam e como novas lágrimas escorriam por seu rosto, Charlie sabia que ele estava certo até certo ponto.
— Ele... Ele pediu para você machucar alguém? — ele insistiu ansiosamente, tentando entender a situação. — Se for esse o caso, então talvez a Ordem possa ajudar...
Malfoy apenas riu sarcasticamente, como se não houvesse nada em que ele acreditasse menos do que o que Charlie estava dizendo a ele. Era compreensível. Ele ergueu a varinha mais alto, alinhando-a com o nariz de Charlie, como se tentasse parecer mais intimidador.
— Pela última vez... — Malfoy zombou, embora houvesse lágrimas predominantes manchando seu rosto. — Você não pode me ajudar! Ninguém pode me ajudar...
— Isso não é verdade. — Charlie disse a ele, seus dedos estendidos, avançando para desarmar o garoto no limite. — Se você apenas me dissesse...
— Não! — Draco gritou, seus olhos em pânico. — Apenas saia! Saia agora!
Charlie balançou a cabeça. — Eu não posso fazer isso, não até você me dizer o que está errado.
O banheiro ficou em silêncio, nenhum dos meninos ousou falar. Eles apenas ficaram parados, olhando um para o outro, os olhos brilhando com raiva e desafio, peitos arfando com as respirações profundas que tinham que fazer depois de gritar. Charlie parou de avançar, mas Malfoy não fez nenhum movimento para ir embora; ele ficou onde estava.
Malfoy suspirou e, em um ato completamente diferente do normal, ele se sentou no chão do banheiro e segurou a cabeça nas mãos, sua varinha finalmente caindo no chão. Charlie olhou para ele, surpreso e com um peso no coração, quase incapaz de reconhecê-lo.
Depois de anos de brigas sem parar, era como se a marca no braço de cada menino fornecesse uma compreensão inexplícita sobre o que o outro poderia estar sentindo. Era estranho, Charlie pensou, porque esse garoto quebrado sentado no chão do banheiro não parecia o Draco Malfoy que ele conhecia. Além disso, havia um medo profundamente enraizado nos olhos de Malfoy que Charlie achou muito familiar, quase como se fossem dois lados da mesma moeda.
Charlie respirou fundo e, após um momento de hesitação, ajoelhou-se diante de Malfoy e ficou em silêncio, sabendo que o outro garoto precisava de um tempo para conversar, isto é, se algum dia decidisse fazê-lo.
— Ele vai me m-matar-. — soluçou Draco por fim, levantando a cabeça. — Eu não posso fazer isso... Eu simplesmente não posso... Eu nunca quis m-machucar ninguém...
— E você não precisa. — disse Charlie, de repente desesperado para tirar o menino daquela vida. — Meu avô pode protegê-lo, mas você vai ter que contar a ele o que aconteceu...
Com isso, os soluços de Malfoy ficaram mais altos por algum motivo desconhecido, apenas para ele parar e se encolher, agarrando desesperadamente seu antebraço esquerdo.
Charlie inclinou a cabeça, perguntando suavemente. — Você está bem?
Ele balançou a cabeça, as lágrimas equilibrando-se na borda de suas pálpebras. — Sinto muito, Hawthorne... Mas eu tenho que fazer isso...
— Malfoy, o que você...
Mas Draco simplesmente continuou repetindo a mesma coisa, sem parar, como se estivesse confessando um pecado. — E-Ele vai me matar se eu não... Me desculpe... Me desculpe...
Antes que Charlie pudesse dizer outra palavra, Draco levantou-se do chão abruptamente, pegando sua varinha ansiosamente em um único movimento. Charlie nunca pensou que veria Draco Malfoy tão triste e vulnerável; a visão, tão diferente do habitual, fez o coração de Charlie doer e apertar da maneira mais culpada.
Sem pensar, Charlie se levantou e seguiu atrás do sonserino que escapava. Ele envolveu o pulso esquerdo de Malfoy com a mão, tomando cuidado para evitar a todo custo a importuna Marca Negra, e virou o garoto loiro.
— Pelo amor de Merlin, estou tentando te ajudar!
Com um estremecimento de pânico, Malfoy agarrou sua varinha firmemente em sua outra mão e instintivamente a alojou sob o queixo de Charlie, provocando-o. Ele não disse nada por um momento, pois não tinha certeza do que dizer, e apenas estreitou os olhos cinzentos e puxou o pulso das mãos de Charlie.
E assim, houve uma mudança repentina em Draco Malfoy, algo semelhante a rendição. Charlie testemunhou isso acontecer na velocidade da luz, mas ele parecia incapaz de fazer qualquer coisa em resposta. Os olhos de Malfoy ficaram mais escuros do que nunca, sem emoção e distantes, como se ele tivesse perdido a vontade de lutar.
Até sua voz se aprofundou, não deixando um único traço de medo para trás, mascarando sua luta interna com uma única respiração:
— Você fez isso comigo, Hawthorne. — ele sibilou, agarrando desesperadamente sua varinha, os nós dos dedos ficando brancos. — Isso é o que você merece por desafiá-lo... CRUC...
Mas ele era muito lento e todo o resto, em comparação, acontecia ridiculamente rápido.
Houve um grande estrondo e Harry apareceu, agitando sua varinha freneticamente, berrando. — SECTUMSEMPRA!
Charlie assistiu em câmera lenta, com os olhos arregalados, enquanto o feitiço o errava por poucos centímetros. À direita dele, o sangue jorrou do rosto e do peito de Malfoy como se ele tivesse sido cortado por uma espada invisível. Ele cambaleou para trás e caiu no chão de concreto com um grande baque, sua varinha caindo de sua mão direita flácida.
— H-Harry... — Charlie engasgou, e os dois meninos compartilharam um olhar de pânico imediato. — O que você acabou de fazer?
— E-eu não sei... Eu não...
Cambaleando, Charlie mergulhou na direção de Malfoy, cujo rosto agora estava brilhando escarlate, suas mãos brancas arranhando seu peito ensopado de sangue.
Harry pairou por perto, com as mãos tremendo. — Não... Eu não...
Charlie não conseguia processar o que seu melhor amigo estava dizendo, sua mente estava muito preocupada; ele caiu de joelhos ao lado de Malfoy, que tremia incontrolavelmente em uma poça de seu próprio sangue.
— Oh meu Deus. — ele murmurou, aplicando pressão nas feridas abertas de Malfoy. — Acorde, acorde!
Murta que geme, que subiu do cano de esgoto mais próximo, soltou um grito ensurdecedor:
— ASSASSINATO! ASSASSINATO NO BANHEIRO! ASSASSINATO!
Com as mãos cobertas de sangue, Charlie desapareceu quando a porta se abriu atrás dele; Snape irrompeu na sala, com o rosto lívido. Empurrando Harry rudemente para o lado, ele se ajoelhou sobre Malfoy, sacou sua varinha e a traçou sobre as profundas feridas que a maldição de Harry havia feito, murmurando um encantamento que soava quase como uma canção.
— Repita depois de mim, Hawthorne, rapidamente! — Snape ordenou, e em estado de choque, Charlie puxou sua varinha. Juntos, eles começaram a costurar as feridas de Malfoy.
— Vulnera Sanenteur.
O fluxo de sangue pareceu diminuir; Snape limpou o resíduo do rosto de Malfoy e repetiu o feitiço. Agora, as feridas pareciam estar cicatrizando.
Charlie estava tremendo, horrorizado com o que havia acontecido, mal percebendo que ele também estava encharcado de sangue. Moaning Myrtle ainda estava soluçando e lamentando em cima. Quando Snape executou seu contra-feitiço pela terceira vez, ele e Charlie levantaram Malfoy pela metade e o colocaram em pé.
— Ele precisa ir para a ala hospitalar. Pode haver uma certa quantidade de cicatrizes, mas se ele tomar Dittany imediatamente, podemos evitar até mesmo isso... Venha...
Com um aceno de cabeça, Charlie apoiou Malfoy no banheiro. Snape, que seguia rapidamente atrás, virou-se na porta para dizer com uma voz de fria fúria, — E você, Potter... Espere aqui por mim.
Tremendo levemente, Charlie lançou a Harry um olhar assustado antes de sair do banheiro. O corpo flácido de Malfoy estava caído contra seu corpo e Snape o seguia rapidamente, seus passos pesados e raivosos.
Em poucos minutos, os três irromperam pelas portas da ala hospitalar, alertando imediatamente a enfermeira-chefe.
— Madame Pomfrey! — chamou Charlie, sua voz quebrando-a tão levemente. — Rápido! Algo aconteceu!
A gentil mulher veio apressada de seu escritório.
— Sr. Hawthorne? O que é... Oh, céus, — ela engasgou, seus olhos arregalados quando ela deu um passo para trás e agarrou seu peito. — Aqui, leve-o para a cama vazia, por favor...
Ela apontou para uma cama de hospital próxima que estava desocupada. Charlie fez o que lhe foi dito; ele deitou Malfoy de costas e deu um passo cambaleante para longe de seu corpo, deixando Madame Pomfrey inspecionar seus ferimentos.
— O que aconteceu, Severus? — ela perguntou, notando os cortes peculiares nas roupas ensanguentadas do menino. — Nunca vi algo assim antes...
— Acredite em mim, eu pretendo descobrir. — zombou Snape, olhando por cima de seu nariz adunco para Charlie, furioso. — Até lá, no entanto, devo pedir que você faça da recuperação do Sr. Malfoy sua principal prioridade, Poppy. O bem-estar dele é de vital importância para algumas... Pessoas.
Charlie se encolheu, sentindo-se muito mal com as imagens recorrentes piscando em sua cabeça. Suas mãos estavam manchadas com o sangue seco de Malfoy e ele estremeceu com a gravidade da situação. Sons fracos aproximaram-se dele e Charlie ficou um pouco tenso.
— Dê uma boa olhada, Hawthorne. — Snape virou-se para o frágil garoto, que não conseguia tirar os olhos do corpo inconsciente de Malfoy. — Dê uma boa olhada no que você e Potter fizeram.
— Foi um acidente. — murmurou Charlie, com a voz um tanto trêmula. — Nós nunca quisemos isso...
— Eu não me importo em saber quais eram suas intenções. — rosnou Snape, antes que Charlie pudesse terminar. — A verdade permanece como é vista, e a negação não leva à justificação.
Charlie limpou a garganta, ainda se recusando a olhar nos olhos de Snape. — Eu não sei mais o que dizer, professor.
— Típico. — disse Snape, balançando a cabeça em insatisfação. — Você nunca se considera responsável, não é?
Charlie se debateu, sem palavras.
— Este não foi minha cul...
— Economize seu fôlego, Hawthorne. — rosnou Snape, silenciando o menino de uma vez, com a mão erguida no ar. — Verdade seja dita, seu lamentável pedido de desculpas não me preocupa tanto quanto o uso de magia negra por Potter - você não saberia onde ele adquiriu esse feitiço, não é? Como Madame Pomfrey afirmou, os efeitos foram bastante... Peculiar.
— Provavelmente de um livro da biblioteca. — Charlie deu de ombros, inventando loucamente. — Ao contrário do que você acredita, Harry e eu não conspiramos em todos os aspectos de nossas vidas...
Ele lançou um rápido olhar de soslaio para seu professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, cujo rosto não mostrava nenhuma reação.
— Eu duvido muito disso. — disse Snape, seu tom baixo e suspeito. — Mas não importa... Eu vou descobrir eventualmente, você vê. Até então, eu sugiro que você se afaste. Mesmo em seu estado de inconsciência, eu imagino que Draco não aprecie seu olhar demorado.
Não ocorreu a Charlie nem por um segundo discordar. Não adiantava discutir. Ele deu ao corpo ensanguentado de Malfoy um último olhar de pânico, tremendo com a lembrança dolorosa, e então cambaleou para trás, correndo para fora da ala hospitalar. Uma vez no corredor, ele começou a correr em direção à Torre da Grifinória. A maioria das pessoas estava indo para o outro lado; eles olharam boquiabertos para ele, encharcados de sangue, mas ele não respondeu a nenhuma das perguntas feitas a ele enquanto passava correndo.
Ele se sentiu atordoado; era como se um amado animal de estimação tivesse se tornado subitamente selvagem. O que Harry estava pensando para usar tal feitiço do livro do Príncipe? Snape com certeza repreenderia Harry por seu uso de magia negra, mas o que aconteceria com o livro de Poções grafitado? Seria confiscado ou destruído? Mais importante, quem era Harry Potter sem a orientação do Príncipe Mestiço?
A mente de Charlie correu loucamente com as possibilidades, tentando desesperadamente remover a imagem do cadáver ensanguentado de Malfoy de sua memória. Ele nunca foi jantar no Salão Principal; ele não tinha apetite algum. Deixando de lado suas diferenças com Draco Malfoy, Charlie não queria imaginar a morte do sonserino de cabelos loiros, especialmente se fosse parcialmente culpa dele.
Por fim, Charlie voltou para a sala comunal. Ele murmurou a senha rapidamente e atravessou o buraco do retrato, antes que a Mulher Gorda tivesse a oportunidade de bombardeá-lo com perguntas. A notícia já havia se espalhado ridiculamente rápido: aparentemente, a Murta que Geme decidiu aparecer em todos os banheiros do castelo para contar a história; Malfoy já havia sido visitado na ala hospitalar por Pansy Parkinson, que não perdeu tempo em difamar Harry por toda parte, e Snape contou à equipe precisamente o que havia acontecido.
Como esperado, Harry, Hermione e Ron estavam esperando o retorno de seu amigo; eles estavam conversando ansiosamente ao redor do fogo quando Charlie entrou na sala. Ao som de seus passos, a cabeça de Hermione se ergueu, e Charlie instantaneamente percebeu que ela estava a par de todos os detalhes horríveis. Ela se levantou imediatamente e correu em direção ao namorado aflito sem pensar duas vezes, colidindo com o torso dele com um baque e envolvendo os braços em volta do pescoço dele.
— Você... — ela choramingou na curva do pescoço dele, quase inaudível até mesmo para Charlie, já que ela parecia não se importar com a aparência sangrenta dele. — Eu estava morrendo de preocupação... Onde você esteve?
Levou um momento, mas Charlie passou os braços em volta da cintura dela, retribuindo, segurando-a com força contra seu corpo.
— Desculpe. — ele murmurou, ligeiramente ausente de seus próprios pensamentos. — Eu queria ter certeza que Malfoy estava bem.
— E ele é? — perguntou Harry, nervoso, enquanto se levantava de seu lugar no sofá da sala comunal. — Eu realmente sinto muito, sabe? Eu não teria usado um feitiço como esse se soubesse, nem mesmo em Malfoy...
— Eu sei. — Charlie o cortou, e saiu do abraço de Hermione. Ele deu a Harry um aceno tranquilizador. — E está tudo bem, Malfoy vai ficar bem; Madame Pomfrey estava limpando ele quando eu saí.
— Puta merda. — disse Ron, boquiaberto, balançando a cabeça desdenhosamente, enquanto se sentava em frente ao fogo. — Por que você acha que o príncipe iria copiar um feitiço como esse em primeiro lugar?
— Não sei. — Harry encolheu os ombros, empurrando os óculos para trás na ponte de seu nariz. — Mas até que eu faça, eu escondi o livro na Sala Precisa - espero que até então, Snape vai parar de respirar no meu pescoço a cada maldito por sua vez. Ainda assim, não podemos realmente culpar o Príncipe, podemos?
— Harry. — Hermione repreendeu, virando-se para encará-lo enquanto ainda se aconchegava ao lado de Charlie. — Eu honestamente não sei como você pode defender aquele livro quando...
— Quer parar de falar sobre o livro! — estalou Harry, tornando a conversa hostil. — O príncipe apenas copiou! Não é como se ele estivesse aconselhando alguém a usá-lo! Pelo que sabemos, ele estava anotando algo que foi usado contra ele!
Hermione zombou. — Eu não acredito nisso! Você está realmente defendendo...
— Não estou defendendo o que fiz! — interveio Harry rapidamente. — Mas sem o Príncipe, eu nunca teria ganhado o Felix Felicis, nem saberia como salvar Charlie do veneno...
— E você certamente não teria uma reputação de brilhantismo em Poções que você não merece. — disse Hermione maldosamente, e Charlie estremeceu com a tensão recém-descoberta.
— Ah, dá um tempo, Hermione! — gemeu Rony, e finalmente se levantou, jogando as mãos para o alto. — Ao que parece, Malfoy estava tentando usar uma Maldição Imperdoável em Charlie! Você deveria estar feliz que Harry fez alguma coisa ou então seu maldito namorado estaria no hospital!
— Claro que estou feliz que Charlie não foi amaldiçoado! — retaliou Hermione, claramente magoada. — Mas você não pode me dizer que o feitiço Sectumsempra é bom, Rony, veja o que aconteceu! A maldição da tortura é uma coisa, mas esse feitiço do Príncipe deixou Malfoy sangrando! E para piorar, se Harry errou, mesmo por alguns centímetros, ele poderia ter acertado a pessoa errada!
Apesar de saber que Harry e Ron estavam errados, Charlie de repente se sentiu inacreditavelmente em conflito. Ele sabia que Hermione estava tentando cuidar dele, de todos eles, e hoje em dia, ela parecia ser a única que tentava enfrentar Harry sobre qualquer coisa - isso justificava seus sentimentos de desprezo atual?
Ron parecia pensar assim, pois seu rosto se contorceu em descrença. — Por que não estou surpreso que isso é tudo com o que você se importa? Pelo amor de Merlin, Hermione, você tem alguma ideia de como parece louca?
— Cuidado, Weasley. — alertou Charlie, mas seus protestos passaram despercebidos.
— Bem, se você apenas ouvisse corretamente, você realmente perceberia que eu sou a única que faz sentido lógico. — Hermione retrucou, a mágoa evidente em seu rosto. — Eu fiz um ponto muito válido, eu diria.
— Sim, certo. — Ron rosnou, levantando-se e ficando do lado de Harry. — Tudo o que você tem feito ultimamente é se preocupar com seu precioso namorado Comensal da Morte...
SMACK!
Ron estava cambaleando e, por um momento, ele estava vendo estrelas. Hermione deu um passo à frente e deu um tapa nele com tanta força que sua cabeça virou para o lado. A sala comunal estava mortalmente silenciosa.
Charlie e Harry olharam boquiabertos: Hermione e Ron, que estavam se dando bem recentemente, agora estavam em um impasse acalorado, olhando em direções opostas. Charlie, embora soubesse que deveria ter intervindo para desescalar a situação, estava congelado no lugar. Ele não pôde evitar. Seus lábios ameaçaram se curvar em um sorriso orgulhoso; Hermione nunca falhava em surpreendê-lo.
— Você não entende, não é? — ela perguntou trêmula, seu rosto vermelho de raiva e mágoa. — Alguém poderia ter morrido! Então, pare de agir como se eu estivesse exagerando nessa coisa toda! Isso não tem nada a ver com meu relacionamento com Charlie. Trata-se de perceber que nossas ações têm consequências. Se Snape não tivesse interveio quando o fez, o que você acha que teria acontecido? Harry poderia ter matado alguém, é isso!
Harry abaixou a cabeça, culpado. — Hermio...
— Você sabe que estou certa, e quanto mais rápido você perceber isso, melhor. — ela retrucou, silenciando qualquer protesto, antes de se virar para o namorado. — Agora, vamos lá, vamos te limpar.
E com isso, ela agarrou a mão de Charlie e o arrastou escada acima que levava aos dormitórios femininos, a porta se fechando atrás deles.
★
Havia insultos da Sonserina a serem suportados no dia seguinte, para não mencionar muita raiva dos colegas grifinórios, que estavam muito infelizes por seu Harry ter sido banido da última partida da temporada - Harry recebeu detenção todos os sábados pelo resto do período. Como punição. Agora, todos esperavam que Charlie levasse o time à vitória.
A miséria de Charlie foi agravada pelo fato de que Hermione agora estava ignorando Harry e Ron resolutamente, com ainda mais sucesso do que nunca, deixando Charlie como um intermediário no que parecia ser uma disputa sem fim. Ao fazer isso, ele costumava passar o café da manhã e o almoço aconchegado na biblioteca, distanciando-se involuntariamente de seus amigos para garantir que sua namorada pelo menos comesse alguma coisa durante o dia.
O resto da semana seguiu o mesmo padrão. Hermione evitando Harry e Ron, e Charlie lançando olhares estranhos para os três no meio de suas aulas.
Na noite de sexta-feira antes da partida, Charlie e Harry reuniram sua equipe para o último treino da temporada. Eles claramente foram afetados pela perda de um de seus capitães e perderam a energia com a qual voavam nas semanas anteriores, embora Ginny fosse mais do que capaz no apanhador.
Charlie tentou dar a eles um último discurso para aumentar o moral, mas todos estavam bastante subjugados enquanto voltavam para o castelo. Charlie, Ron e Harry subiram o caminho juntos. Felizmente, nenhum deles ousou abordar a óbvia tensão que pairava entre eles.
— Ei, Luna. — cumprimentou Charlie, com um suspiro de alívio, enquanto eles entravam no Hall de Entrada.
— Oh, oi, Charlie. — respondeu Luna Lovegood sonhadoramente. — Olá, Harry... Ron. — ela abriu um sorriso para os dois.
Harry acenou. — Ei, Luna.
— O que você tem aí dessa vez, Luna? — perguntou Rony. Charlie olhou para os braços de Luna. Com certeza, ela estava carregando alguns óculos de aparência estranha que pareciam uma versão maior dos Spectrespecs de seu pai.
— Oh, estes são Enorgoggles. — sorriu Luna. — Para a partida de amanhã.
Ela disse a última parte como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, apesar do fato de que Harry, Ron e Charlie tinham expressões vazias em seus rostos.
— Certo. — disse Ron lentamente, olhando a invenção com cautela. — E o que eles fazem, exatamente?
— Eles fazem as coisas parecerem maiores do que são. — disse Luna brilhantemente. — Para que eu possa ver o jogo.
— Como binóculos? — perguntou Harry.
— Bem... Sim e não. Binóculos podem deixar você cego, sabe. A luz fica presa no vidro e não tem para onde ir a não ser seus olhos, esses...— Luna ergueu os óculos coloridos parecidos com óculos de proteção. — Não faça isso.
— Certo. — disse Ron, fazendo bem em esconder sua diversão. — Err... Acho que você vai apoiar a Corvinal?
— Não, não realmente. Eu prefiro Grifinória.
— Ah. — Ron disse surpreso. — Sério? Bem, isso é err... Não deixe os outros ouvirem você dizer isso. — ele terminou com uma risada.
— Oh, não se preocupe. Acho que eles já sabem. Eu estava cantando 'Weasley É Nosso Rei' no jantar. Eles ficaram muito bravos... — Luna parou, como se seus colegas de casa estivessem com raiva do fato. ela estava elogiando abertamente o comportamento estranho do goleiro adversário.
— Bem... — Ron gaguejou. — Err... Obrigado.
Charlie estava sorrindo, embora Harry não tivesse certeza se era pelo que Luna havia dito ou pela reação do ruivo.
— Bem, boa sorte amanhã! — disse Luna, olhando entre os três. — Vou ficar de olho....— ela ergueu os Enorgoggles novamente. — Em vocês. Boa noite, rapazes.
E com um aceno agradável e um sorriso brilhante, Luna se dirigiu para a escada. Harry, Ron e Charlie a observaram partir.
— Maluca. — murmurou Ron, enquanto eles entravam no Salão Principal. Com certeza, os Corvinais pareciam amotinados e lançaram a Ron ainda mais olhares horríveis do que seria o caso de qualquer maneira. No mínimo, isso pareceu melhorar ainda mais o humor de Ron. Ele estufou o peito e se jogou na frente de Charlie, que já havia escaneado o Hall e visto que Hermione não estava lá, com Harry deslizando ao lado deles.
— Tenho que amar Luna. — Ron disse com uma risada, como se estivesse pensando em voz alta.
— Ooh, então talvez não seja Loony Lovegood afinal. — Charlie murmurou baixinho, deixando escapar uma risada alegre. — Que tal Adorável Lovegood...
Ron ficou vermelho escuro, pego, e o assunto Luna foi evitado pelo resto do jantar.
Depois, quando eles estavam voltando para a Torre da Grifinória, o coração de Charlie disparou quando ele viu Hermione passando pelo buraco do retrato, mas quando ele conseguiu se espremer por uma pequena multidão e entrar na sala, ela já havia alcançado as escadas e nem olhou para trás quando ele chamou o nome dela, presumivelmente não muito entusiasmada com sua companhia conjunta.
Sem vontade de ficar acordado por mais tempo, Charlie seguiu seu exemplo.
Na manhã seguinte, a massa de estudantes saindo para o sol, todos eles usando rosetas e chapéus e brandindo bandeiras e cachecóis, fez Charlie sentir o familiar rubor de nervosismo na boca do estômago. No entanto, ele marchou pelo caminho de pedra em espiral, ouvindo os rugidos distantes da multidão ficarem mais altos conforme ele se aproximava.
O céu era de um lindo azul celeste pontilhado com a estranha nuvem fofa branca. Uma leve brisa sussurrou no ar. Harry já havia descido para as masmorras para sua detenção com o professor Snape, desejando boa sorte ao amigo antes de partir e, embora o sentimento existisse, Charlie não se sentia mais seguro do que antes.
Quando ele chegou ao campo, a multidão explodiu em aplausos, mas Charlie manteve a cabeça baixa, tentando desesperadamente se concentrar. O restante da equipe já estava se preparando e se aquecendo. Ron estava andando ansiosamente em torno da porta do vestiário próximo.
Charlie soltou um suspiro pesado, colocando sua vassoura no ombro. Ele estava vestindo sua camisa de capitão e, embora ainda não a tivesse sentido pessoalmente, havia um ar de confiança nele. As cores vermelhas e douradas brilhantes realmente se destacaram no tecido fresco. Ele passou a mão exasperado pelo cabelo, alisando as mechas soltas para trás, enquanto examinava as arquibancadas de azul e vermelho, procurando sem pensar por um cabelinho volumoso.
E para sua maior alegria, uma voz soou no ar. — Charlie! — e ele se virou, seus nervos diminuindo imediatamente com a visão.
Hermione estava andando pelo caminho de pedra atrás dele, e sua aparição deixou Charlie sem palavras. Para sua surpresa, ela estava usando uma de suas velhas camisas de Quadribol do ano seguinte. Seu cabelo estava solto sobre os ombros e o nome, 'HAWTHORNE', estava salpicado nas costas em letras maiúsculas, emoldurando o número de sua camisa. Quando ela o pegou olhando, Hermione deu um passo para trás com os braços estendidos como se para perguntar o que ele achava disso.
— Você parece... — Charlie se viu sem palavras tentando terminar aquela frase, mas Hermione olhou para ele hesitantemente e ergueu as sobrancelhas em questão.
— Sim? — ela perguntou esperançosa.
— Bonita como sempre.
Hermione deu a ele um olhar ardente e então pulou em seus braços, sorrindo de uma orelha à outra. Ela passou as mãos pelo corpo dele, e os batimentos cardíacos ansiosos de Charlie diminuíram ao seu toque. Hermione arrastou as pontas dos dedos do número três no centro de seu abdômen, para o logotipo da Grifinória bordado em seu peitoral esquerdo, então para o grande 'C' de 'Capitão' estampado à direita. Ela nunca foi fã de esportes, muito menos de Quadribol, no entanto, havia algo sedutor nisso - talvez fosse o fato de seu namorado ser o capitão?
— Nervoso? — perguntou Hermione, tomando o rosto dele em suas mãos. — Qualquer coisa que eu possa fazer para ajudar?
Charlie riu. — Sim, acho que tive uma ideia...
Ele passou os braços em volta da cintura dela e a puxou para mais perto. Hermione olhou para ele intrigada, observando como a ansiedade em seus olhos se transformou em uma ousadia repentina. Charlie inclinou a cabeça e a beijou ferozmente. Ela não pôde deixar de se derreter nele, enquanto ele usava os dentes para mordiscar seu lábio inferior e forçar sua boca a abrir. Ela se agarrou a seus braços enquanto ele aprofundava o beijo.
Depois de um tempo, Charlie se afastou e Hermione lentamente abriu os olhos, vendo estrelas enquanto o fazia.
— Você não tem ideia do quanto eu precisava disso. — ele murmurou em seu ouvido, evidentemente relaxando em seu abraço.
— Sim, eu sei. — Hermione corrigiu, beijando-o levemente na bochecha. — E eu não me importo.
— Bom. — Charlie se inclinou para trás, sorrindo, contorcendo seus lábios. — Porque eu preciso de mais um.
Hermione balançou a cabeça provocando. — A partida está prestes a começar.
— Vamos, querida, um beijo para dar sorte?
— Mas você vai se atrasar...
Charlie a silenciou capturando seus lábios mais uma vez, beijando-a apaixonadamente na boca. Hermione se contorceu de brincadeira por um momento, então finalmente cedeu. Ele sorriu maliciosamente para ela quando eles se separaram.
— Ok, só mais um, eu prometo...
— CHARLIE! VOCÊ VAI PARAR DE BEIJAR SUA NAMORADA E TRAZER SUA BUNDA VERMELHA E DOURADA AQUI? A PARTIDA VAI COMEÇAR!
O casal estremeceu ao ouvir a voz de Ginny e imediatamente se separaram. Hermione fingiu tirar a poeira e endireitar o uniforme de Quadribol de Charlie para esconder seu estado nervoso.
— Puta merda. — Charlie murmurou, balançando a cabeça com a interrupção. Ele encontrou o olhar divertido de Hermione, forçando um sorriso. — Te vejo depois, ok?
Mas Charlie foi pego de surpresa quando, ao invés de uma resposta, Hermione agarrou suas vestes novamente e o beijou, fervorosa e rapidamente.
— Eu te amo... Boa sorte! — ela exclamou e saiu correndo para encontrar seu lugar ao lado de Elaina Dumont na arquibancada. Atordoado, Charlie cambaleou em direção ao vestiário da Grifinória, onde seus companheiros irritados, mas sorridentes, esperavam.
— Já se satisfez, Charlie? — Jimmy Peakes perguntou, piscando.
Ritchie Coote riu. — Ou melhor, Hermione teve o suficiente?
Peakes e Cootes gritaram e socaram. Esses dois eram reencarnações literais de seus predecessores, trazendo um alívio cômico muito necessário, apesar de suas perspectivas sombrias.
— Chega disso. — descartou Charlie instantaneamente, embora ele estivesse corando febrilmente. — Vamos apenas chegar lá e ganhar essa maldita coisa, ok?
— Sim, capitão. — respondeu a equipe, todos tentando adotar uma expressão séria e confiante. Juntos, eles entraram no campo e, enquanto Charlie montava em sua vassoura, ele estava mais determinado do que nunca, graças ao conforto de Hermione antes do jogo.
A brisa fresca da manhã envolveu o Time de Quadribol da Grifinória enquanto mantos escarlates passavam pelo estádio em rápida sucessão. O time da Grifinória voou perfeitamente na Formação de Ataque Hawkshead enquanto passavam a goles um para o outro secretamente. Ron voou perto do final da trave em um Double Eight Loop para preparar sua defesa.
Charlie reverteu para Dean, que rapidamente entregou a goles para Katie Bell. Katie voou rapidamente para a área de pontuação para tentar um gol. Ela desviou para a esquerda antes de se abaixar para a direita e mirou no aro mais baixo. Quando a goles alcançou o objetivo, Grant Page, o goleiro da Corvinal, moveu-se para a goles com a ponta da cauda de sua vassoura, perdendo apenas alguns centímetros; a goles passou pelo aro dourado com facilidade.
— ESSE É UM PARA GRIFINÓRIA! DEZ-ZERO!
E com um excelente começo, o time da Grifinória estava um passo mais perto da Copa Inter-House de Quadribol.
★
Enquanto isso, Harry Potter estava constantemente olhando para o grande relógio na parede do escritório de Snape. Parecia estar se movendo com a metade da velocidade de um relógio normal; talvez Snape o tivesse enfeitiçado para ir mais devagar? Ele não poderia estar aqui por apenas meia hora... Uma hora... Uma hora e meia...
O estômago de Harry começou a roncar quando o relógio marcava meia-noite e meia. Snape, que não havia falado nada desde que definira a tarefa para Harry, finalmente ergueu os olhos à uma e dez.
— Eu acho que vai servir. — disse ele friamente. — Marque o lugar que você alcançou. Você continuará às dez horas no próximo sábado.
— Sim, senhor.
Harry enfiou um cartão dobrado na caixa ao acaso e saiu correndo pela porta antes que Snape pudesse mudar de ideia, correndo de volta pelos degraus de pedra, apurando os ouvidos para ouvir um som do campo, mas tudo estava quieto... Acabou, então...
Ele hesitou do lado de fora do salão lotado, então subiu correndo a escada de mármore; quer a Grifinória tivesse vencido ou perdido, o time geralmente comemorava ou lamentava em sua própria sala comunal.
— Quid agis? — ele disse timidamente para a Mulher Gorda, imaginando o que encontraria lá dentro.
Sua expressão era ilegível quando ela respondeu: — Você verá.
E ela se virou para a frente.
Um rugido de comemoração irrompeu do buraco atrás dela. Harry ficou boquiaberto quando as pessoas começaram a gritar ao vê-lo; várias mãos o puxaram para dentro da sala.
— Nós ganhamos! — gritou Charlie, aparecendo e brandindo a Taça de prata para Harry. — Nós vencemos! Quatrocentos e cinquenta a cento e quarenta! Nós vencemos!
A sala comunal era um mar de vermelho, salpicado de amarelo, azul e verde; todos estavam experimentando um momento compartilhado de euforia absoluta, sorrisos estampados no rosto de cada pessoa visível à vista. Harry foi puxado para o meio da multidão por Charlie, que o guiou até o grupo principal de amigos.
Harry olhou adiante. Elaina Dumont se envolveu deliciosamente nas comemorações, tomando doses de Firewhiskey por perto. Quando ela se virou e viu Harry, no entanto, Elaina imediatamente empurrou a multidão e jogou os braços em volta dele, tentando parabenizá-lo pelo barulho.
E sem pensar, sem planejar, sem se preocupar com o fato de que cinquenta pessoas estavam assistindo, Harry a beijou.
Depois de vários longos momentos - ou pode ter sido meia hora - ou possivelmente vários dias ensolarados - eles se separaram. A sala estava muito silenciosa. Então várias pessoas assobiaram e houve uma explosão de risadas nervosas. Harry olhou por cima da cabeça de Elaina para ver Theodore Nott segurando um copo quebrado na mão. Hermione estava radiante, Ron estava batendo palmas, mas os olhos de Harry buscavam Charlie. Por fim, ele o encontrou, ainda segurando a Taça e com uma expressão que parecia ter imenso orgulho pela habilidade de seu irmão em se arriscar.
— Bem, já estava na hora! — ele aplaudiu, recebendo uma cutucada de Hermione por estragar o momento. — Bom para você, Harry!
A criatura em seu peito rugindo em triunfo, Harry sorriu para Elaina e gesticulou silenciosamente para fora do buraco do retrato. Parecia indicada uma longa caminhada pelo terreno, durante a qual - se tivessem tempo - poderiam discutir a partida.
★
O fato de Harry Potter estar oficialmente saindo com Elaina Dumont parecia interessar a um grande número de pessoas, a maioria garotas, mas Harry se viu novo e alegremente imune a fofocas nas semanas seguintes. Afinal, foi uma mudança muito boa ser falado por causa de algo que o estava deixando mais feliz do que ele conseguia se lembrar por muito tempo, e não porque ele havia se envolvido em cenas horríveis de magia negra.
— Você acha que as pessoas têm coisas melhores para fofocar. — disse Elaina, enquanto ela e os quatro principais se sentavam à mesa da Grifinória no Salão Principal; ela estava encostada no ombro de Harry e lendo o Profeta Diário. — Três ataques de dementadores em uma semana, e tudo o que fazem é me perguntar se é verdade que você tem um hipogrifo tatuado no peito.
Charlie, Ron e Hermione caíram na gargalhada. Harry os ignorou, balançando a cabeça.
— E o que você tem dito?
— Eu tenho dito a todos que na verdade é um rabo-córneo húngaro. — sorriu Elaina, virando uma página do jornal à toa. — Muito mais macho.
— Obrigado. — disse Harry, sorrindo. Ele acenou com a cabeça na direção de Charlie e Ron. — E aqueles dois?
— Bem, Ron tem um Pygmy Puff, mas eu não disse a eles onde estava. — disse Elaina, piscando. Ron fez uma careta do outro lado da mesa. Ela mudou seu olhar. — E Charlie tem um testrálio, você sabe, porque ele é taciturno e misterioso. — ela brincou em um tom agudo, o que era uma impressão estranhamente precisa de Romilda Vane.
— Cuidado. — Charlie fez uma careta, olhando em volta cansado como se esperasse que Romilda saltasse ao som de seu nome. — Só porque vocês dois estão juntos agora, não significa que temos que aceitar ser sua última piada.
— Ah, mas isso não é divertido. — Elaina fez beicinho de brincadeira, aninhando-se ao lado de Harry. — De qualquer forma, não seja tão idiota - você mesmo disse que preferia que eu estivesse com Harry do que com Theo.
— Bem, obviamente, porque Nott é um idiota completo. — Charlie deu de ombros. — E eu não tenho nenhum problema, como eu disse, contanto que vocês dois não comecem a se agarrar em público...
— Diz você, seu hipócrita imundo! — Elaina engasgou, enrolando o jornal e dando um tapa na cabeça dele. — Você não me ouve reclamando quando você e Hermione brigam como um par de coelhos com tesão!
— Não é minha culpa que Hermione não consegue manter as mãos para si mesma. — defendeu Charlie, rindo, o que lhe valeu uma forte cotovelada nas costelas de sua namorada.
— Sim, certo... Você está em cima de mim! — ela repreendeu, e Charlie, sorrindo maliciosamente, inclinou-se para colocar um beijo gentil em sua bochecha. Hermione balançou a cabeça, derretendo-se com o toque dele, e começou a rir incontrolavelmente.
Ron gemeu e empurrou seu prato de café da manhã para longe de si, murmurando. — E assim, eu perdi meu apetite.
Mas a tolerância de Ron não seria muito testada à medida que se aproximavam de junho, pois o tempo dos quatro juntos estava se tornando cada vez mais restrito.
Harry estava achando suas detenções de sábado com o professor Snape particularmente cansativas porque elas diminuíam o tempo já limitado que ele poderia passar com Elaina. Além disso, Hermione insistia em provar que o Príncipe Mestiço poderia ser uma mulher, pedindo a ajuda de Charlie na biblioteca todos os dias após as aulas. Enquanto isso, Ron estava aparentemente se distanciando, ao perceber que continuava sendo o único membro do grupo que não pertencia a um relacionamento sério.
— Eu estive pensando. — disse Hermione, espiando o livro em suas mãos, enquanto ela e Charlie examinavam as estantes da biblioteca durante seu período livre em uma tarde aleatória. — Talvez possamos dar um passeio esta noite.
Charlie ergueu as sobrancelhas.
— E quanto ao toque de recolher?
— Bem. — Hermione sussurrou, um leve rubor subindo por suas bochechas. — Ninguém ousa questionar uma monitora...
— Você está se tornando uma infratora de regras, não é, Granger?
— Eu prefiro dizer que estou dobrando-os. — Hermione respondeu, com um brilho travesso em seus olhos.
Charlie riu, mas, mesmo assim, encontrou-se na sala comunal algumas horas depois, esperando nas sombras a chegada de sua namorada. A escuridão havia caído e Charlie fez questão de lançar o feitiço Muffliato pelo dormitório antes de se levantar, garantindo que ninguém soubesse que ele havia saído.
— Ei. — veio uma voz da escada. Charlie engoliu em seco. Hermione estava ao pé da escada, vestindo uma camisola de seda prateada sobre os ombros com um par de chinelos combinando; imediatamente, Charlie sentiu o calor subindo por todo o seu corpo.
— Ei. — ele mansamente administrou em resposta.
Mordendo o lábio e sorrindo sensualmente com a reação dele, Hermione deslizou e pegou a mão dele.
— Vamos. — ela sussurrou, e ele não precisou ouvir duas vezes. Eles passaram pela sala dos retratos e entraram no corredor. Sem dizer nada, ela estendeu a mão e colocou a mão sobre os olhos dele, cegando-o para o ambiente. Sua respiração engatou, mais em uma reação instintiva do que qualquer outra coisa.
— Hermione?
— Apenas confie em mim... Mantenha seus olhos fechados. — ela disse, colocando um leve beijo em seus lábios, e qualquer resistência ou trepidação que ele havia derretido quando ela pegou sua mão e o conduziu. Ele fez o que lhe foi dito, embora, mesmo que tivesse aberto os olhos, o fato de Hermione ainda não ter removido a mão os teria tornado inúteis de qualquer maneira.
Não muito tempo depois, eles pararam. Charlie ouviu a abertura de uma porta, e então os ruídos do castelo foram silenciados quando a porta se fechou atrás deles com um clique suave da fechadura. Ele sentiu Hermione se afastar dele, desembaraçando suas mãos entrelaçadas e tirando a outra de seu rosto.
— Fique aí. — Hermione instruiu, e Charlie ficou parado, olhos fechados. Alguns momentos depois, o barulho de água corrente chamou sua atenção, mas antes que ele tivesse tempo de reagir, os lábios de Hermione estavam nos dele novamente.
— Preparar? — ela sussurrou contra ele. Charlie assentiu, sentindo arrepios em sua pele, e lentamente abriu os olhos.
Eles estavam de volta ao banheiro do monitor mais uma vez. A enorme banheira já estava quase cheia e o vapor estava saindo. Hermione ficou lá, a camisola ainda caída sobre os ombros, mas sua expressão era uma que Charlie tinha certeza que teria gravado em sua mente até o dia de sua morte. Era tímido, mas ardente, e seus olhos retratavam tanto amor e desejo que ele desejou poder mergulhar e saborear seu abraço para sempre.
Lentamente, Hermione começou a se desfazer de sua camisola e, com uma mistura de pura alegria e espanto, Charlie percebeu que ela não estava usando mais nada por baixo. Com toda a força, ele manteve contato visual até que - depois do que pareceu uma eternidade - ela finalmente deixou cair o vestido a seus pés.
E então ele a acolheu.
Cada centímetro de seu corpo delicioso. Seu cabelo caía solto sobre os ombros, contornando seu lindo e esbelto pescoço, e ela era tão proporcional, imaculada e perfeita.
— Eu... — ele começou, mas ela o cortou com outro beijo - mais feroz desta vez - e então ele se perdeu em uma felicidade vertiginosa.
Quando os braços de Charlie envolveram sua cintura nua, ele sorriu em sua boca. — Você vê? Eu disse que você não poderia manter suas mãos para si mesma.
Hermione deu um beijo ao longo de sua mandíbula, rindo levemente. — Você não é melhor do que eu.
— Certo, você está. — sorriu Charlie, e ele se inclinou para trás para capturar seus lábios. — Somos tão ruins quanto o outro... Não que eu esteja reclamando.
E todos os seus pensamentos desapareceram de lá. Seus lábios se uniram, o amor irradiando sem esforço no ar. Cada fibra nervosa do corpo de Charlie estava a mil - acesa, como uma chama - queimando-o enquanto ele aprofundava o beijo. Hermione respondeu da maneira mais deliciosa, selando seu destino romantizado pelo que parecia ser a centésima vez.
Era seguro dizer que, embora o tempo parecesse limitado e escasso, Charlie e Hermione conseguiam aproveitar ao máximo cada momento que passavam juntos.
★
Em uma tarde calma de junho, Harry, Charlie, Hermione e Ron estavam descansando na sala comunal, trabalhando em silêncio. Charlie estava sentado ao lado de uma janela, tentando terminar sua redação de Poções quando foi interrompido pela aparição de Jimmy Peakes ao seu lado, que estava segurando um pergaminho.
— Obrigado, Jimmy... Ei, é do meu avô! — Charlie anunciou animadamente, desenrolando o pergaminho e examinando-o. — Diz que ele quer me ver em seu escritório o mais rápido possível.
A atenção de seus outros três amigos foi atraída imediatamente; Harry, Hermione e Ron olharam entre Charlie e o pedaço de papel em sua mão.
— Caramba. — Ron sussurrou, olhos arregalados. — Você não acha... Ele não encontrou...
— Melhor ir ver, não é? — disse Charlie, levantando-se de um salto. Ele acenou adeus para Ron e Harry, e deu um beijo nos lábios de Hermione, antes de sair correndo da sala comunal.
Charlie correu pelo sétimo andar o mais rápido que pôde, passando por ninguém além de Pirraça, que disparou na direção oposta, gargalhando alto enquanto se esquivava do feitiço defensivo de Charlie. Assim que Pirraça desapareceu, fez-se silêncio nos corredores; faltando apenas quinze minutos para o toque de recolher, a maioria das pessoas já havia retornado para suas salas comunais.
Mas, de repente, Charlie ouviu um grito e um estrondo. Ele parou de andar, ouvindo.
— Como... Ousa... Você... Aaaaargh!
O barulho vinha de um corredor próximo; Charlie correu em direção a ela, sua varinha em punho, e viu a professora Trelawney esparramada no chão, a cabeça coberta por um de seus muitos xales, várias garrafas de xerez ao lado dela, uma delas quebrada.
— Professora...
Charlie se apressou e ajudou a professora Trelawney a se levantar. Algumas de suas contas brilhantes se enredaram em seus óculos. Ela soluçou alto, deu um tapinha no cabelo e se apoiou no braço de Charlie.
— O que aconteceu, professora?
— Você pode muito bem perguntar! — ela disse estridentemente. — Eu estava passeando, refletindo sobre certos presságios sombrios que por acaso vislumbrei...
Mas Charlie não estava prestando muita atenção. Ele acabara de notar onde eles estavam: ali, à direita, estava a tapeçaria de trolls dançantes e, à esquerda, aquele trecho suavemente impenetrável da parede de pedra que escondia...
— Professora, você estava tentando entrar na Sala Precisa?
— Presságios que me foram concedidos - o quê? — ela parecia repentinamente esquiva.
— A Sala Precisa. — repetiu Charlie, apontando para a parede. — Você estava tentando entrar lá?
— Eu não sabia que os alunos sabiam sobre...
— Nem todos o fazem. — Charlie deu de ombros, enfiando as mãos nos bolsos. — Mas o que aconteceu? Você gritou... Parecia que você estava machucada...
— Eu... Bem. — disse a professora Trelawney, cobrindo-se com os xales defensivamente e olhando para ele com seus olhos imensamente ampliados. — Eu queria, uh, depositar certos - hum - itens pessoais na Sala... — então, ela murmurou algo sobre 'acusações desagradáveis'.
— Certo. — Charlie assentiu, olhando para as garrafas de xerez. — Mas você não poderia entrar e escondê-los? — ele achou isso muito estranho; a Sala havia se aberto para Harry, afinal, quando ele quis esconder o livro do Príncipe Mestiço.
— Oh, eu entrei bem. — disse a professora Trelawney, olhando para a parede. — Mas já havia alguém lá dentro.
— Alguém? Quem? — Charlie exigiu, seus ouvidos se animando com a intriga. — Quem estava lá?
— Quem? Eu não tenho ideia. — disse a professora Trelawney, parecendo um pouco surpresa com a urgência na voz de Charlie. — Entrei na Sala e ouvi uma voz, o que nunca tinha acontecido antes em todos os meus anos de esconderijo - de usar a Sala, quero dizer.
— Uma voz? Dizendo o quê?
— Eu não sei se ele estava dizendo alguma coisa. — a professora Trelawney deu de ombros. — Foi... Uma gritaria.
— Gritos?
— Alegremente. — disse ela, balançando a cabeça.
Charlie a encarou.
— Era homem ou mulher?
— Eu arriscaria um palpite de homem. — disse a professora Trelawney, tentando pegar suas garrafas de xerez. Ela se abaixou, pegou-os e jogou-os sem cerimônia em um grande vaso azul e branco em um nicho próximo.
— E parecia feliz?
— Muito feliz. — afirmou a Professora Trelawney fungando.
— Como se estivesse comemorando?
— Definitivamente.
— E então?
— E então eu gritei: 'Quem está aí?'
— Você não poderia ter descoberto quem era sem perguntar? — Charlie perguntou a ela, um pouco frustrado.
— O Olho Interior. — disse a professora Trelawney com dignidade, endireitando seus xales e muitos fios de contas brilhantes. — Foi fixado em assuntos bem fora dos reinos mundanos de vozes convulsas.
— Certo. — disse Charlie apressadamente; ele tinha ouvido falar sobre o Olho Interior da Professora Trelawney muitas vezes antes.
— E a voz disse quem estava lá?
— Não, não. — ela negou. — Tudo ficou escuro como breu e a próxima coisa que eu sabia era que estava sendo arremessado para fora da Sala!
— E você não viu isso chegando? — disse Charlie, incapaz de se conter.
— Não, eu não, como eu disse, foi...
Ela parou e olhou para ele com desconfiança.
— Acho melhor você contar ao Professor Dumbledore. — disse Charlie, resistindo a uma risada. — Ele deve saber que Malfoy está comemorando - quero dizer, que alguém te expulsou da Sala.
Para sua surpresa, a professora Trelawney se empertigou com essa sugestão, parecendo altiva.
— O diretor deu a entender que preferia menos visitas minhas. — ela disse friamente. — Eu não sou de pressionar minha companhia para aqueles que não a valorizam. Se Dumbledore decidir ignorar os avisos que as cartas mostram...
Sua mão ossuda se fechou de repente ao redor do pulso de Charlie.
— De novo e de novo, não importa como eu os disponha...
E ela puxou um cartão dramaticamente debaixo de seus xales.
— A torre atingida por um raio. — ela sussurrou, olhando profundamente nos olhos de Charlie. — Calamidade. Desastre. Aproximando-se o tempo todo...
— Certo. — disse Charlie novamente. — Bem... Eu ainda acho que você deveria contar a Dumbledore sobre essa voz e tudo escurecer e ser jogado para fora da Sala...
— Você acha? — A professora Trelawney pareceu considerar o assunto por um momento, mas Charlie percebeu que ela gostou da ideia de recontar sua pequena aventura. Mas, para sua surpresa, ela balançou a cabeça. — Não, não... Eu não devo! Eu já o avisei... Dumbledore se recusa a ouvir. Ele parece me achar quase cômica. Sim, cômica!
Sua voz se elevou histericamente e Charlie sentiu um cheiro forte de xerez, embora as garrafas tivessem acabado.
— É absurdo! — Trelawney continuou, em tom gutural, enquanto parecia se recompor e começar a caminhar pelo corredor. — Ele vai ver... Vocês todos vão ver...
E assim, ela dobrou uma esquina próxima e desapareceu. Intrigado com a saída sinistra do Professor de Adivinhação, Charlie balançou a cabeça antes de continuar seu caminho. Ele dobrou a esquina para o corredor de Dumbledore, onde a gárgula solitária estava de sentinela. Charlie gritou a senha para a estátua e subiu correndo a escada em espiral três degraus de cada vez. Ele não bateu na porta de Dumbledore (seu avô sabia que ele vinha) e já se jogou no quarto.
Fawkes, a Fênix, olhou em volta, seus olhos negros brilhando com o ouro refletido do pôr do sol além da janela. Dumbledore estava parado na janela olhando para o terreno, uma longa capa preta de viagem em seus braços.
— Bem, Charles, eu prometi que um de vocês poderia vir comigo.
Por um momento ou dois, Charlie não entendeu; a conversa com Trelawney havia tirado todo o resto de sua cabeça e seu cérebro parecia estar se movendo muito lentamente.
— Ir com você?
— Só se você quiser, é claro.
— Se eu...
E então Charlie lembrou por que ele estava ansioso para ir ao escritório de Dumbledore em primeiro lugar.
— Você encontrou um? Você encontrou um Horcrux?
— Eu acredito que sim.
A confusão lutou contra o choque. Por vários momentos, Charlie não conseguiu falar.
— É natural ter medo.
— Eu não estou assustado! — negou Charlie imediatamente, e era perfeitamente verdade; medo era uma emoção que ele não estava sentindo. — Que Horcrux é? Onde está?
— Não tenho certeza do que é - embora ache que podemos descartar a cobra - mas acredito que esteja escondida em uma caverna na costa a muitos quilômetros daqui, uma caverna que venho tentando localizar há muito tempo: a caverna em que Tom Riddle uma vez aterrorizou duas crianças de seu orfanato em sua viagem anual; você se lembra?
— Sim. — Charlie assentiu, lembrando-se da primeira memória que lhe foi mostrada. — Como é protegido?
— Não sei, tenho suspeitas que podem estar totalmente erradas. — Dumbledore hesitou, então disse. — Charles, eu prometi a você que você ou Harry poderiam vir comigo, e eu mantenho essa promessa, mas seria muito errado da minha parte não avisá-lo de que isso seria extremamente perigoso.
— Eu vou ficar bem. — assegurou Charlie, quase antes de Dumbledore terminar de falar. Depois de tudo o que ele teve que suportar no último ano, seu desejo de fazer algo desesperado e arriscado aumentou dez vezes nos últimos minutos. Isso pareceu transparecer no rosto de Charlie, pois Dumbledore se afastou da janela e olhou mais atentamente para o neto, uma leve ruga entre as sobrancelhas prateadas.
— O que aconteceu com você?
Charlie franziu as sobrancelhas. — O que você quer dizer?
— Parece que algo mais está atormentando sua mente. — disse Dumbledore, olhando para o neto por cima dos óculos de meio-dia. — Algo te chateou?
— Estou bem. — Charlie mentiu prontamente.
— Charles, deixando de lado sua habilidade em Oclumente, a intuição de um avô nunca está errada...
— Não é nada. — disse Charlie, muito rapidamente, e Fawkes deu um guincho baixinho atrás deles. — Isso pode esperar até que encontremos a Horocrux.
A expressão de Dumbledore não mudou, mas Charlie achou que seu rosto empalideceu sob a coloração sangrenta lançada pelo sol poente espiando pelas janelas. Por um longo momento, Dumbledore não disse nada.
Por fim, ele suspirou. — Não, eu não acho que pode... Você vê, há uma discussão que estamos evitando desde o início do semestre, meu rapaz, e acho que seria melhor se limpamos o ar.
— Honestamente, não foi nada. — Charlie deu de ombros, evitando o olhar importuno de Dumbledore. — Eu só estava distraído com algo que a professora Trelawney disse no corredor...
Os olhos de Dumbledore se estreitaram. — E o que ela disse?
— Só que alguém estava na Sala Precisa. — explicou Charlie, respirando fundo. Hesitante, ele acrescentou, — E eu tenho motivos para acreditar que é Draco Malfoy.
— O Sr. Malfoy foi liberado recentemente dos cuidados de Madame Pomfrey, Charles. — disse Dumbledore, em um tom que soava como se esse fato fosse descartar toda a conversa.
— Sim, estou bem ciente, mas isso é porque Snape foi inflexível...
— Professor Snape. — corrigiu Dumbledore, consertando o erro inocente de seu neto mais uma vez.
— Certo... De qualquer forma, Malfoy foi solto porque o Professor Snape... — Charlie começou, enfatizando a palavra para agradar seu avô. — Foi inflexível que sua recuperação se tornou de extrema importância, e por quê? Porque ele precisava que Malfoy terminasse o que ele começou em a Sala Precisa, e foi exatamente isso que aconteceu. A professora Trelawney o ouviu comemorando...
— A professora Trelawney ouve e vê muitas coisas, Charles. — disse Dumbledore calmamente. — E então, o que quer que você pense que aconteceu, você não precisa se preocupar. Devo insistir que você...
Respirando pesadamente, Charlie se afastou de Dumbledore, que ainda não havia movido um músculo, e andou de um lado para o outro no escritório, esfregando os nós dos dedos nas mãos e exercitando todo o seu controle para impedir-se de derrubar as coisas.
— Isso eu o quê? — ele retrucou, sentindo-se bastante irritado. — Que eu deveria simplesmente esquecer isso porque 'não é de grande importância'? Certo, é exatamente isso que você me disse inúmeras vezes, mas devo implorar que você veja a razão! Estou dizendo a verdade; Professor Snape...
— Charles. — interveio Dumbledore, levantando a mão para exigir silêncio. — Por favor, ouça-me com atenção.
Era tão difícil parar seu ritmo implacável quanto conter os gritos. Charlie pausou, mordendo o lábio, e olhou para o rosto enrugado de Dumbledore.
— Professor Snape cometeu incontáveis erros, assim como muitos homens fizeram antes dele...
— E o quê? Ele merece ser perdoado, não é? Porque, se bem me lembro, não me lembro de ter ouvido sequer um 'sinto muito'...
— Por favor, deixe-me terminar. — Dumbledore esperou até que Charlie assentiu brevemente, então continuou. — Agora, enquanto o Professor Snape cometeu muitos erros, foi às minhas próprias custas que eu dei a ele uma segunda chance. — Dumbledore não falou por um momento; ele parecia estar tentando se decidir sobre alguma coisa. Finalmente ele disse. — Como eu já disse antes, eu confio em Severus Snape completamente.
Charlie respirou profundamente por alguns momentos em um esforço para se firmar. Não funcionou.
— Bem, eu não! — ele disse, mais alto do que nunca. — Ele está tramando algo com Malfoy agora mesmo, bem debaixo do seu nariz, e você ainda...
— Nós discutimos isso, Charles. — dispensou Dumbledore, e agora ele soava severo novamente. — Eu disse a você meus pontos de vista.
— Você está saindo da escola esta noite e aposto que você nem considerou que Snape e Malfoy podem decidir...
— Basta. — exigiu Dumbledore, e embora ele dissesse isso com bastante calma, Charlie ficou em silêncio imediatamente; ele sabia que finalmente cruzara alguma linha invisível. — Você acha que alguma vez deixei a escola desprotegida durante minhas ausências este ano? Não. Hoje à noite, quando eu sair, haverá novamente proteção adicional. alunos sério, Charles... Você, de todas as pessoas, deveria saber melhor.
— Eu não sugeri nada. — murmurou Charlie, um pouco envergonhado, mas Dumbledore o interrompeu.
— Eu não desejo discutir mais este assunto.
— Você nunca faz isso. — resmungou Charlie, cuja voz agora tremia com o esforço de mantê-la firme. — Snape não pode fazer mal aos seus olhos, pode? Eu avisei, mas você nunca escuta! Você disse que queria discutir o que está me incomodando? Bem, aqui está: Malfoy conseguiu consertar algo na Sala de Exigência, e se você pudesse apenas tirar a cabeça da sua bunda por cinco segundos, você perceberia...
— Cuidado com a boca, Charles, eu me recuso a tolerar tal desrespeito. — ordenou Dumbledore, estreitando os olhos em desapontamento. — Isso não é o que eu queria discutir com você e, francamente, estou chocado com o seu comportamento. Sua antipatia pelo Professor Snape atingiu um novo nível, e é hora de você perceber que está desviando...
Charlie zombou. — Desviando?
— Sim, desviando. — assentiu Dumbledore, sua expressão calma, quase distante. — Quer você admita ou não, essa raiva recém-descoberta fervendo dentro de você não tem nada a ver com Severus Snape. Na realidade, vem de algo mais profundo... Algo mais horrível... Algo que você ainda não confiou. eu sobre...
— Oh, eu sei onde isso vai dar. — Charlie gemeu, tremendo de raiva. — Pela última vez, isso não tem nada a ver com o que aconteceu durante o verão!
Ele sentiu a raiva ardente crescer dentro dele, ardendo com a retaliação desejada, enchendo-o com a inclinação de ferir Dumbledore por suas acusações importunas e preocupação reiterada.
— Mas tem... Isso, seu comportamento recente, tem tudo a ver com o último verão, na verdade. — disse Dumbledore, cruzando as mãos sobre o torso. — E eu sei que este assunto tem atrapalhado você por muitos meses, mas estou aqui, diante de você, para que saiba que você não precisa mais enfrentar seus demônios sozinho. Deixe-me ajudá-lo. Confie em mim, assim como Eu esperava que você o fizesse o tempo todo.
Charlie engoliu sua réplica, com medo de levar as coisas longe demais, de arruinar sua chance de acompanhar Dumbledore em sua caçada pela Horocrux.
— Não há nada a dizer.
— Muito bem... — suspirou Dumbledore, e ele se virou para olhar pela janela em chamas; o sol era agora um clarão vermelho-rubi ao longo do horizonte. — Então você não me deixa escolha a não ser forçá-lo a sair de você - por favor, meu caro, arregace sua manga esquerda para mim.
Charlie empacou, engolindo as palavras. — Me desculpe?
— Sua manga esquerda da camisa. — reiterou Dumbledore, virando-se com um olhar de determinação. — Eu gostaria que você a levantasse passando pelo seu cotovelo.
— E por que eu faria isso exatamente?
— Você sabe por que, Charles, então devo insistir para que você abandone a farsa. Agora... A manga, por favor...
— Como você...
Charlie hesitou por um momento; seus lábios se apertaram e sua expressão ficou fria como gelo. Inclinando-se para a frente para agarrar a borda da mesa à sua frente, ele olhou para baixo e respirou fundo, tentando controlar seu temperamento e pensar. Depois de alguns momentos de silêncio e choque, Charlie mais uma vez olhou para Dumbledore, observando a expressão de espera no rosto do velho bruxo.
— V-você sabia, depois de todo esse t-tempo, não é? — ele perguntou, raiva incandescente entrando em seu corpo enquanto ele puxava para trás a manga de sua camisa, revelando a tinta em branco queimada em seu antebraço. Dumbledore não respondeu, optando por olhar para a marca um pouco mais. A paciência do menino se esgotou. Charlie bateu com as mãos na mesa do diretor, fazendo com que seu avô se encolhesse levemente. — RESPONDA-ME!
— Sim, sim. — murmurou Dumbledore, sua voz cheia de emoção enquanto Charlie ria amargamente, afastando-se da mesa de seu avô.
— Então, você quer me dizer que me deixou sofrer... POR MESES?! — Charlie rugiu, e ele agarrou o delicado instrumento de prata da mesa de pernas pontiagudas ao lado dele e o jogou do outro lado da sala; quebrou em cem pedaços minúsculos contra a parede. Várias das fotos soltaram gritos de raiva e susto, e o retrato de Armando Dippet disse: — Sério!
— EU NÃO LIGO! — Charlie gritou com eles, pegando um lunascópio e jogando-o na lareira. — JÁ TIVE O BASTANTE, JÁ OUVI O BASTANTE! VOCÊ SE RETROCEDE E ME DEIXA SOFRER!
— Nunca foi minha intenção...
— FODA-SE SUAS INTENÇÕES DE MERDA! — berrou Charlie, e ele agarrou a mesa em que o instrumento de prata estava e atirou-o também. Ele se quebrou no chão e as pernas rolaram em direções diferentes enquanto Charlie se levantava, com o peito arfando.
Ele tinha certeza de que todos os retratos ao redor da sala estavam em pânico, se apegando a cada palavra que ele cuspia em seu avô, mas a raiva de Charlie tomou conta completamente e tudo o mais não parecia importar. Parecia a ele que Dumbledore o estava lembrando da quantidade de dano que havia sido feito, e embora seu avô estivesse olhando diretamente para ele, sua expressão era gentil ao invés de acusatória; Charlie ainda não suportava olhar em seus olhos.
— Sinto muito, Charles, eu realmente sinto. — disse Dumbledore finalmente, desesperado para falar sobre o novo descontentamento de seu neto. Ele não vacilou ou fez um único movimento para impedir Charlie de demolir seu escritório. — Sim, eu tinha minhas suspeitas, mas só procurei conselhos adicionais quando soube que a verdade era incapaz de cair em seus lábios. Eu queria ajudar...
— Mas você não fez isso. — disse Charlie fervendo, seus olhos estreitados com ódio puro e absoluto. — Você fez tudo para me ajudar! Você poderia ter parado! Tudo o que você tinha que fazer era lutar para me proteger, como você me prometeu que faria, mas você não fez... E agora estou preso com isso - PARA O RESTO DA MINHA VIDA! — ele acrescentou, levantando a voz enquanto brandia a Marca Negra ao redor da sala mais uma vez, ganhando um turbilhão de suspiros e murmúrios dos retratos.
Dumbledore limpou a garganta, lutando com o que dizer. — Eu nunca quis que as coisas fossem tão longe, Charles, por favor, acredite em mim. Eu acreditava que você estava melhor...
— MELHOR? — Charlie repetiu, incapaz de se controlar por mais tempo. — OLHE PARA MIM! VOCÊ ACHA QUE EU QUERIA ISSO? VOCÊ ESTÁ BRINCANDO? EU PREFERIA TER MORRIDO!
— Não diga isso, por favor: — implorou Dumbledore, contornando a mesa na tentativa de confortar seu neto, mas Charlie recuou imediatamente. — Eu sei que te aborreci, e sempre carregarei esse arrependimento comigo pelo resto da minha vida, mas Snape me garantiu que você estaria seguro...
Charlie soltou uma risada leve e triste.
— Claro que foi Snape: — ele murmurou baixinho. — É sempre o maldito Snape... E ele não tinha a menor idéia... Ele não sabia... Nem você!
— O que eu não sei? — perguntou Dumbledore calmamente.
Foi demais. Charlie se virou, tremendo com uma abundância de emoções avassaladoras.
— Como você pode fazer isto comigo?
— Charles, eu pensei que estava fazendo o que era melhor...
— VOCÊ NÃO SABE DE NADA! — Charlie rugiu, andando pelo chão. — VOCÊ NÃO SABE COMO EU ME SINTO! VOCÊ NÃO SABE O QUE TIVE QUE AGUENTAR! VOCÊ - PARADO AÍ - VOCÊ...
Mas as palavras já não bastavam, quebrar as coisas não adiantava mais. Charlie queria correr, queria continuar correndo e nunca mais olhar para trás, queria estar em algum lugar onde não pudesse ver os olhos azuis claros olhando para ele, nem aquele rosto velho odiosamente calmo. Ele deu meia-volta e correu para a porta, agarrou a maçaneta e puxou-a.
Mas a porta não abria.
Charlie voltou-se para Dumbledore.
— Deixe-me sair.
Ele estava tremendo da cabeça aos pés.
— Eu não posso fazer isso. — disse Dumbledore simplesmente.
Por alguns segundos, eles se encararam.
— Deixe-me sair. — Charlie exigiu novamente.
— Não. — Dumbledore repetiu.
— Se você não... Se você me mantiver aqui... Se você não me deixar...
— Por favor, continue destruindo minhas posses. — Dumbledore deu de ombros, acenando com a mão como se dissesse a seu neto para continuar. — Eu ouso dizer que tenho muitos.
Ele contornou sua mesa e sentou-se atrás dela, observando Charlie bem de perto.
— Deixe-me sair. — Charlie disse novamente, em uma voz que era fria e quase tão calma quanto a de Dumbledore.
— Não até que eu tenha falado. — disse Dumbledore, acenando para o menino para a poltrona desocupada. — Por favor sente-se.
— Você... Você acha que eu quero... Você acha que eu dou a... NÃO ME IMPORTO COM O QUE VOCÊ TEM A DIZER! — Charlie berrou, sacudindo os porta-retratos próximos com a projeção de sua voz. — Eu não quero ouvir nada do que você tem a dizer!
— Você vai. — suspirou Dumbledore firmemente. — Porque você não está tão zangado comigo quanto deveria estar. Se você vai me atacar, como eu sei que você está perto de fazer, eu gostaria de ter merecido isso.
— O que você está falando?
— É minha culpa que você seja um Comensal da Morte. — sussurrou Dumbledore, vergonhosamente, embora claro como o dia. — Olhando para trás agora, eu deveria ter ouvido meu instinto. Eu deveria ter forçado a mão de seu pai e implorado para que você ficasse sob meus cuidados durante o verão. Se eu tivesse, talvez você não tivesse sido internado. a posição de acreditar que você não tinha outra escolha a não ser aceitar a Marca Negra. Se eu tivesse sido aberto com você, Charles, como deveria ter sido, você saberia há muito tempo que seu pai sempre teve a intenção de que você se tornasse um dos seguidores de Voldemort, e juntos poderíamos ter evitado a possibilidade. Peço desculpas pelo resultado ser diferente do que qualquer um de nós, suponho, esperava. A culpa por sua situação é minha, e somente minha.
Charlie ainda estava parado com a mão na maçaneta, mas não percebeu. Ele estava olhando para Dumbledore, mal respirando, ouvindo, mas mal entendendo o que estava ouvindo.
— Por favor, sente-se. — disse Dumbledore. Não foi uma ordem, foi um pedido.
Charlie hesitou, então caminhou lentamente pela sala agora cheia de engrenagens de prata e fragmentos de madeira, e sentou-se em frente à mesa de Dumbledore.
— Por muito tempo. — continuou Dumbledore, sem perder tempo. — Eu acreditei que poderia impedir que a Marca Negra fosse concedida a você, mas fui tolo em pensar assim. Veja, aquela marca purulenta em seu braço foi a única maneira de garantir sua segurança. Sem isso, seu pai teria encontrado outra maneira de controlá-lo, algo muito mais sinistro, assim como ele sempre pretendeu. Pelo menos, como um seguidor leal do Lorde das Trevas, eu poderia confiar Severus para prometo mantê-lo a salvo dos horrores de seu pai... O que é algo que eu não poderia mais fazer sozinho, como já lhe disse uma vez antes.
— Nada jamais seria pior do que isso. — rebateu Charlie, olhando para a marca em seu braço e rangendo os dentes. — Você não entende o que fez, não é? Você me arruinou!
— Eu agi estritamente por amor o máximo que pude, acredite em mim. — implorou Dumbledore, empurrando seus óculos para baixo da ponte de seu nariz. — Mas durante a guerra, Charles, devemos fazer sacrifícios...
— Isso... — gritou Charlie, empurrando o braço tatuado na linha dos olhos de seu avô e se levantando mais uma vez. — Não foi minha escolha! Você não tem o direito de tomar essas decisões por mim! Esta deveria ser a minha vida, mas de alguma forma, esse tempo todo, você me criou como um porco para o abate!
— Isso não é verdade, meu garoto, por favor...
— Não, eu já tive o suficiente. — disse Charlie, e ele balançou a cabeça, seu temperamento desgastado. — Eu não posso mais ouvir você falando bobagens. Cansei... Não consigo nem olhar para você.
Charlie caminhou de volta para a porta, sua paciência se esgotando. De repente, ele sentiu algo dentro dele estalar e a sala começou a girar; ele agarrou sua cabeça. Era demais. A escuridão havia se instalado, mas Charlie não havia notado. Ele estava muito entorpecido.
Dormente com dor torturante.
Ele descobriu que seu ódio, raiva por Dumbledore havia diminuído um pouco, apenas para ser substituído por um sentimento avassalador de traição e tristeza incontrolável. De repente, tudo o que ele queria fazer era correr, isso é tudo que ele sempre quis fazer. Para correr, para escapar do entorpecimento, para escapar de tudo, ele só tinha que correr.
Mas ele permaneceu imóvel, suas pernas balançando sob seu peso. Charlie foi puxado para baixo na manga, cobrindo a imagem provocadora, enquanto se aproximava da porta muito familiar, colocando a mão na maçaneta novamente.
— Charles, por favor, não vá embora assim...
E para grande surpresa de Dumbledore, Charlie inclinou a cabeça para trás, murmurando: — Você gostaria de saber o que mais dói em tudo isso?
Olhos azuis escuros encontraram um castanho triste e uma parede se despedaçou. Dumbledore podia ver tudo com um único olhar; a dor, a perda, o pesar, o ódio, a vergonha... A exaustão. Eles se encararam por um momento, nenhum deles se atrevendo a dizer uma única palavra.
Finalmente, Charlie respirou fundo, incapaz de se conter por mais tempo, enquanto as lágrimas começaram a escorrer por seu rosto. Pela primeira vez em seis anos, ele sentiu como se pudesse chorar. Charlie foi autorizado a ser simplesmente Charlie, um garoto de dezesseis anos que viu demais e não teve a oportunidade de ser protegido do mundo cruel. Ele não precisava ser Charlie Hawthorne, Comensal da Morte reprimido sem ninguém a quem recorrer. Ele não precisava dizer que estava bem e fingir que estava tudo bem, pelo bem de todos.
Era demais, e Charlie achava que não conseguiria voltar atrás. Ele não disse nada disso, porém, porque não precisava. Dumbledore sabia... Ele sempre soube. Ele viu como a dor preenchia cada grama do ser de seu neto, e o matou saber que ele havia forçado Charlie ao limite.
Ainda assim, ele não disse nada. Ele ficou ali, sem palavras, enquanto os gritos de socorro de Charlie ricocheteavam nas paredes, criando um som tão vívido e assombroso que nenhum deles iria esquecer.
— D-Durante meses, eu senti como se estivesse sozinho. — Charlie conseguiu dizer em meio aos soluços, sentindo seu antebraço latejar de dor. — Eu não tinha ideia de quem eu poderia pedir ajuda! Mas... Você sabia o tempo todo! Você sabia que eu estava lutando! Você sabia que eu estava sofrendo! Então, onde você estava? Eu precisava do meu avô... . EU PRECISAVA DE VOCÊ! MAS VOCÊ NUNCA VEIO!
Charlie caiu de joelhos, choramingando e apertando o antebraço contra o peito. Dumbledore deu a volta em sua mesa rapidamente, agindo por instinto para ir confortar o menino que chorava no chão. Assim que alcançou Charlie, no entanto, o menino se afastou do alcance de Dumbledore, entrando em pânico com a proximidade em que se encontravam.
— NÃO ME TOQUE! — ele gritou, afastando as mãos de Dumbledore. — N-Não me toque, porra... Eu te odeio por isso... Eu te odeio...
E com isso, o rosto de Dumbledore caiu significativamente, enquanto ele observava seu neto se levantar, lutando para manter o equilíbrio. O peito de Charlie arfou e ele lançou um último olhar para seu avô antes de abrir a porta e sair do escritório do diretor.
Albus Dumbledore suspirou pesadamente, sentindo-se muito velho de repente. O poder que Charlie havia irradiado naquela breve explosão foi um ataque avassalador a seus escudos mentais e ele sentiu como se tivesse levado uma surra da cabeça aos pés.
E sabe o que era pior?
Essa pode muito bem ter sido a última conversa que Charlie Hawthorne e Albus Dumbledore terão novamente.
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