Capítulo 18: O Machado Dourado
Como se viessem dos céus, mais daqueles homenzinhos surgiram para que pegássemos as suas urnas mágicas. Mesmo sendo velozes como sempre, pude contar quantos havia: quatro. Cada um carregava, em seu grande saco, quatro ou cinco vasos do poder. Conseguimos colher todos os objetos mágicos que eles portavam. Assim, fizemos uma divisão de maneira que ficasse justo para nós todos.
Quando os anõezinhos foram embora, apareceram mais integrantes da tropa de Death Adder. Eram dois soldados comuns e um grandalhão da marreta. Derrotamos fácil os dois mais fracos e quanto ao altão, ele não era forte ou muito rápido, mas bem resistente. Conseguimos neutralizá-lo após certo tempo, o que nos cansou um pouco, afinal estávamos vindo de sucessivas batalhas desde que pousamos com aquela grande águia.
De repente, dois esqueletos com um escudo e uma espada cada, correram até onde estávamos. Entretanto, antes que se iniciasse uma nova luta, um cara alto com um grande machado na mão, vestindo uma armadura que cobria parcialmente seu corpo (deixando-o seminu) e com um capacete contendo um par de chifres na cabeça, saiu daquela enorme porta, que deveria ser a entrada do castelo.
— É ele... — disse Tyris Flare paralisada.
— É ele! — falou Ax Battler com uma entonação raivosa na voz.
— Finalmente o encontramos! — Agora foi a vez de Gilius Thunderhead tomar a palavra.
Pela maneira que meus companheiros de aventura falavam, pude concluir que aquele rapaz alto só poderia ser o próprio Death Adder! Ele nem se deu ao luxo de fazer qualquer apresentação ou ironia, já partiu direto para o ataque.
— Eu vou enfrentá-lo! — disparou a princesa já indo pra cima do grande vilão.
O bárbaro foi no auxílio dela, seja por companheirismo, seja por amor mesmo. Logo, Gilius e eu ficamos cuidando dos dois puros-ossos.
Os dois mortos-vivos não foram difíceis de derrotar, apesar da brutalidade e agilidade características. Contudo, Ax e Tyris estavam tendo certa dificuldade para lidar com Adder. Quando um tentava atacá-lo, o grandalão repelia com o machado que estava usando como arma; se o casal se afastava, o outro soltava um poder das mãos, que se assemelhava a um corisco de eletricidade faiscando pelo chão em nossa direção, o que nos obrigava a saltar sobre aquilo, para que não nos feríssemos ou até mesmo morrêssemos...
Tive uma ideia: lancei as minhas quatro urnas ao ar e, mais uma vez, um furacão perseguiu e feriu o nosso inimigo, embora não o tivesse aniquilado.
— Gilius! — gritei para o meu amigo, fazendo um sinal.
Ele entendeu o que eu quis dizer e também jogou as urnas que tinha. Mais uma rajada de trovões varreu aquele lugar, ferindo o lorde das trevas ainda mais, porém, ainda sem derrotá-lo.
O bárbaro e a princesa, que estavam muito ofegantes, viram o que fizemos. Rapidamente, Ax arremessou seus objetos mágicos e um terremoto fez Death Adder se desequilibrar. Antes que ele fosse ao chão, Tyris já tinha lançado suas urnas e, novamente, apareceram aqueles fantasmas de fogo que atacaram o vilão. Ele então foi ao chão, dando um gemido e depois um grito ensurdecedor. Expirou e fechou os olhos...
Morto.
Estranhei aquele tipo de duelo com uma pessoa tão temida como Death Adder terminar daquela maneira. Eu disse:
— Já? Assim... tão fácil?
Os três guerreiros me encararam com uma expressão confusa nos rostos. Eis que as correntes que estavam prendendo o rei e a princesa de Southwood desceram repentinamente com eles junto. Antes que a família real chegasse ao solo, aquilo que estava os prendendo se rompeu, resultando numa pequena queda dos dois, aparentemente sem ter lhes causado dano. A princesa em questão logo se recompôs, levantou-se e foi em socorro do pai, que ainda estava ao chão.
Aqui pude analisá-los melhor. Era perceptível o quão bela era a princesa, com os seus cabelos longos e castanhos e seu belo vestido vermelho, contendo detalhes em dourado. Já o rei, mesmo aparentando mais idade, exibia um quê de jovialidade, apesar da falta de cabelo... No entanto, suas roupas majestosas, dignas de um regente, davam-lhe um ar de imponência, mesmo que ele se encontrasse naquela situação crítica.
— Meu muito obrigada pelo resgate! — a princesa de Southwood começou falando. — Agradeço a vocês e a vossa coragem por ter nos livrado de Death Adder e dos seus planos hediondos.
Assentimos retribuindo as palavras gentis dela.
— Mas — ela prosseguiu —, tenho a sensação de que Adder estava recebendo ordens... Vi outro homem, de mesmo porte físico, cruzando esta grande porta — Apontou com a cabeça — há pouco tempo atrás. Vocês poderiam investigar isso e, se necessário, batalhar pelo reino de Southwood?
— Sim, senhorita! — disse Tyris já indo na direção da porta.
— Espera aí, Tyris! Estamos sem magia... Usamos as urnas para derrotarmos Death Adder — Ax retrucou.
— Não temos escolha, Ax! Temos que ir! — eu disse.
Ele fez uma cara pensativa, porém começou a andar em direção daquela porta. Nós o imitamos, abrimos a porta e entramos no palácio.
Lá dentro, o cenário destoava de tudo aquilo que se imagina de um castelo luxuoso. O local estava escuro e havia buracos enormes que davam para sabe-se lá onde, tínhamos que ficar atentos. Um dos buracos era incontornável, saltamos sobre ele (me orgulhei disso, porque não travei como foi naquela vez em que Tyris Flare me ajudou). À medida em que penetrávamos mais no interior daquela construção sombria, mais esqueletos e mais daqueles inimigos que pareciam sombras começaram a nos atacar. Nem precisamos duelar, já que eles vinham correndo e prontos para dar alguma coisa como uma voadora – apenas desviávamos e aquelas coisas caíam naqueles abismos rumo ao desconhecido.
Chegamos numa parte em que, milagrosamente, uma meia dúzia daqueles anõezinhos guardiões das urnas mágicas apareceu, nos dando mais uma oportunidade de readquirirmos nossos poderes. Dessa vez, eles tinham uma grande quantidade daqueles vasinhos. Nem sei quantos ao certo cada um de nós conseguiu obter, mas ficamos mais tranquilos por não estarmos mais sem controlar as forças da natureza que poderiam ser cruciais contra aquele novo inimigo.
Assim que terminamos de colher as urnas, nos deparamos com umas estátuas que tinham a forma de alguns inimigos que já tínhamos enfrentado. Surpreendentemente, alguns daqueles homens-pedras se movimentaram prontos para nos atacar. Entretanto, eles também não eram inteligentes, já que desviamos dos seus chutes aéreos, o que fez com que caíssem em um enorme buraco.
Antes de prosseguirmos, apareceram mais dois daqueles homens altos e de armadura.
— Essa não! — exclamei desesperada.
Não ousamos atacá-los. Fomos andando de ré até que paramos, porque logo atrás estava um dos buracões. Gilius iria lançar algumas urnas, porém o impedi. Então, tive mais uma ideia louca que resultou num ato mais louco ainda. Corri na direção daqueles dois homens e, antes que eles pudessem me ferir com a espada ou com o escudo, cravei a minha lança no chão, saltando e usando o objeto como impulso (algo parecido com o que aqueles atletas de salto com vara fazem). Passei, assim, por cima dos inimigos. Eles se viraram para mim e isso foi a deixa para que os meus três aliados os atacassem por trás, deixando-os atordoados. Só deu tempo de efetuarmos um golpe aéreo e empurrarmos aqueles dois grandalhões de armadura para o abismo.
— Muito engenhoso seu plano, jovem Helena! — falou Gilius me elogiando.
— Foi na verdade... desesperado... — respondi.
Todos rimos com um pouquinho de nervosismo e continuamos a andar. Alcançamos um lugar que parecia ser a sala do trono. Ali, se encontrava, sentado, um homem alto, vestido de maneira semelhante a Death Adder e com um capacete que cobria parcialmente seu rosto, de modo que dava para olhar sua boca, seu nariz e seus olhos. Estranhamente, sua pele era de um tom esverdeado... Ele estava com o braço esquerdo sustentando a cabeça e com o direito segurando um machado de cor dourada e que brilhava muito.
— Será que aquilo é o lendário Machado Dourado? — perguntei.
Não obtive resposta dos meus camaradas.
— Ora ora! — Aquele cara começou a falar. — Então conseguiram derrotar Adder? Impressionante! Ah! Se estiverem curiosos para saberem quem eu sou, me chamo Death Bringer, sou... irmão mais velho de Death Adder!
Ficamos chocados com aquela revelação.
— Então não era seu irmão mais novo que estava por trás de todo esse caos? — indagou Tyris, perplexa.
— Parcialmente, princesa de Firewood — Ele deu uma ênfase com requintes de ironia —, mas eu preferia agir às escondidas...
— Antes que iniciemos a nossa batalha, eu queria saber o real motivo por trás de tanta destruição e sofrimento a pessoas inocentes... — ela continuou.
O vilão deu um sorriso que me pareceu malicioso e respondeu:
— Muito perspicaz, princesa, é claro que existe toda aquela história dos gigantes no início e que você deve saber bem, mas há algo além disso e esse algo é... você, princesa!
— O que? — Tyris perguntou confusa e chocada ao mesmo tempo.
— O motivo de eu ter atacado seus pais, os monarcas de Firewood, foi porque eu queria você. Na verdade, quero nesse exato momento! — ele concluiu passando a língua em seus lábios, gesto que me causou extrema repulsa.
"—Tyris? Tão bela com um cara horroroso como esse? Não! Fora que ela está tão bem com o Ax..." — pensei perturbada.
Por falar no bárbaro, ele estava com uma expressão furiosa. Antes que pudesse fazer alguma coisa, a voz grave de Bringer ressoou mais uma vez:
— Matarei todos vocês... Exceto, claro, você, minha amada Tyris Flare! Depois de conquistar a tudo e a todos, você será a minha rainha!
Ax fervia de raiva, enquanto Tyris e eu estávamos cada vez mais enojadas com aquilo. Gilius também parecia desconfortável com o que ouvimos há poucos minutos atrás. O vilão, por fim, se levantou do trono pronto para duelar. Para "ajudar", dois esqueletos também eram nossos algozes.
Death Bringer levantou o que julguei ser o Machado Dourado. Trovões vieram varrendo aquele lugar, parecia até o poder de Gilius! Conseguimos desviar daquilo, mas ele levantou a arma de novo e, agora, o solo começou a tremer, nos derrubando – aquilo era definitivamente a força que Ax controlava... Nem tivemos tempo para levantar, pois o vilão invocou os mesmos fantasmas de fogo de Tyris, que começaram a nos perseguir. Engenhosamente, a princesa e o bárbaro chegaram perto daqueles dois esqueletos, empurrando-os para aquelas chamas, que os consumiram. Furioso, Bringer lançou um furacão (agora era meu elemento), que quase levou tudo o que encontrava devido à sua força. Fincamos nossas armas no chão para que não fôssemos pegos por aquilo, que era tão forte a ponto dos nossos corpos ficarem suspensos no ar. Mesmo assim, resistimos.
— Chega! Acabou a brincadeira, Death Bringer! — esbravejou Ax.
Mal ele terminou de falar e Gilius lançou todas as urnas que tinha ao ar, o que gerou uma série de trovões que foram apenas na direção de Bringer, eletrocutando-o. Ele caiu paralisado.
— Vencemos? — perguntei com hesitação.
Em um rompante, o vilão se ergueu. Foi a vez de Ax jogar seus objetos mágicos e um terremoto de maior intensidade (comparado aos que ele já tinha invocado antes) provocar tanta destruição, que partes do piso daquela sala voaram e foram de encontro a Death Bringer, ferindo-o.
Ele não caiu, logo Tyris arremessou seus vasinhos e, ficamos muito espantados com o resultado daquilo: houve um apagão, tudo ficou escuro mesmo e, repentinamente, um enorme dragão surgiu naquela sala, cuspindo fogo contra o vilão e danificando parte de seu capacete.
Nem perdi tempo também, lancei minhas urnas e o que veio foi igualmente espantoso – um enorme furacão surgiu de baixo de onde estava Bringer, jogando-o para uma altura de não sei quantos metros e fazendo com que ele largasse o Machado Dourado, que foi arremessado para longe.
Ele voltou ao chão. Depois de ficar alguns segundos gemendo de dor, se levantou com uma expressão de fúria e partiu para cima de nós. Entoamos um grito e corremos em sua direção. Iniciou-se um duelo corpo a corpo. Bringer tinha força e resistência física incríveis, ainda que desarmado – mesmo usando as nossas armas de combate, a batalha tornava-se demasiado intensa! O grandalhão conseguia desferir murros, chutes, etc., o que foi nos causando alguns danos, mas nada que parasse um bárbaro ciumento e furioso, uma princesa que deveria estar se sentindo desrespeitada, um velhinho com sede de vingança e uma garota que queria voltar para o seu lar, mas que acima de tudo, estava ali para ajudar os seus amigos.
Recebi um golpe forte no meu rosto. Voei e minhas costas bateram em algo duro que se encontrava no chão. Quando me levantei, percebi que caí em cima do Machado Dourado!
Todavia, percebi que o objeto não brilhava como quando Death Bringer o estava manuseando. Nem tive tempo para raciocinar. Peguei aquilo, levantei para o alto, mas não se invocou nenhum elemento da natureza. O vilão então me viu e, como eu estava com a arma lendária, correu na minha direção. Assustei-me com aquele grandalhão vindo e fiquei paralisada. Ele chegou perto de mim e logo tomou o machado das minhas mãos, me derrubando. Caí de bunda e vi que Bringer estava com a arma prestes a me dar um golpe mortal!
Dei um grito e fechei os meus olhos, colocando os meus braços à frente do meu corpo, numa tentativa inútil de me defender...
Esperei alguns instantes. Nesse ínterim, ouvi um grito partido das gargantas dos meus três aliados. Segundos depois, outro berro tinha sido ecoado naquele local – era o próprio Death Bringer. Alguma coisa grande caiu. Abri meus olhos e vi Ax, Tyris e Gilius com as suas armas fincadas no corpo do nosso algoz. O Machado Dourado se encontrava, novamente, estirado no chão.
De repente, o nosso inimigo fez um movimento brusco, tentando se desvencilhar dos objetos enfiados em si. Desesperada, consegui pegar de novo a arma lendária e, num movimento rápido, cravei-a no peito do nosso inimigo.
Ele deu um berro alto e caiu de costas. Deitado, espirrou muito sangue pela boca, ofegou horrivelmente e deu um suspiro, que foi o seu último...
O corpo de Death Bringer ficou alguns instantes imóvel. Contudo, começaram a sair dele luzes fortes. Em seguida, o cadáver dele não estava mais lá.
— Creio que isso foi efeito de você ter usado o Machado Dourado, jovem Helena — declarou Gilius se aproximando de mim. — Só mesmo um instrumento lendário para derrotar um inimigo tão poderoso quanto Death Bringer.
— Helena! Helena! — gritaram Ax e Tyris
— Você conseguiu! É uma guerreira formidável e corajosa, mesmo não sendo desse mundo — disse o bárbaro com um sorriso.
A princesa guerreira também sorriu para mim, concordando com o que Ax tinha dito. Os dois se abraçaram como aqueles casais de namorados fazem normalmente.
— Ah que isso pessoal! Vocês também me salvaram quando Bringer estava prestes a me matar com o Machado Dourado... — respondi sem graça.
— Mesmo assim, o que o derrotou foi o golpe que você deu, mas sobretudo a sua coragem e esperteza! — falou a princesa com um ar carregado de nobreza.
Sorri e assenti. No entanto, o nosso momento de alegria e de leveza durou pouco.
Mais uma vez, aconteceu aquilo...
Tudo foi ficando escuro, ao passo que os meus três colegas começaram a sumir aos poucos. Compreendi que aquele era o momento de mais um adeus... Nem preciso dizer que, de novo, eu estava triste por conta de mais uma despedida, porém me conformei com aquilo, que não ocorria comigo pela primeira vez...
— Acho... que é o momento de mais uma partida minha... — afirmei já emocionada.
— Jovem Helena, você já sabe que está num mundo diferente... — falou Gilius.
— Sim! O mundo dos jogos... Suspeitei desde o momento que conheci Ax Battler. Conforme fui conhecendo o restante do grupo e, por tudo que passamos, só confirmei o que já sabia antes... — respondi quase chorosa e de cabeça baixa.
— Pois bem — ele continuou. — Mas se isso lhe consola, saiba que você não passará por mais jogo nenhum, ou seja, você voltará para a casa!
Levantei a cabeça, pasma com a informação que acabei de receber. Só tive tempo de ser abraçada coletivamente por meus três companheiros de batalha.
— Adeus, oh nobre guerreira Helena! Jamais te esqueceremos! — eles exclamaram em uníssono.
Acenei com a mão, já entre lágrimas e sem conseguir proferir uma palavra sequer. E então, eles desapareceram e tudo de repente ficou claro. Eu não tinha caído como das outras vezes. Dei alguns passos, mas uma mão me tocou no ombro.
— Aaaaaaaah! — gritei, me virando para ver quem tinha me cutucado.
Atrás de mim, estava um homem idoso, de cabelos brancos e longa barba, vestido com um manto também branco. Ele me era muito familiar... Até que, num relance, lembrei que aquela figura não me era estranha – era aquele outro senhorzinho que estava com o senhor Manoel no sonho que eu tive! Além disso, assim como no sonho, ele era parecidíssimo com o seu Manu, se não fosse pela barbona. Boquiaberta e apontando o dedo para aquele velhinho, eu disse:
— Senhor Manoel, é você?
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Notas do autor: O que vai acontecer com a nossa Helena? Quem é esse senhor?
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