Chapter Thirty
Deserto da Patagônia, Argentina, Ano de 2018.
Camila's Point Of View.
"Só me responda. Os aliens acreditam na gente?" Perguntei rindo e Lauren revirou os olhos.
"Eu não sou nenhuma Alien, Camila." Falou fazendo um adorável bico e cruzando os braços sob o peito.
"Amor, deixe de ser boba. É claro que não é. Estou brincando." Falei me aproximando dela e tocando meus lábios nos seus. Ela não me afastou. Voltou seus olhos para mim ainda com o bico.
"Um beijo não vai fazer eu te perdoar." Falou e lhe dei outro beijo. E outro. Outro.
"E vários?" Perguntei distribuindo beijos por seu rosto.
"Ainda não sei. Precisa continuar me beijando para eu avaliar." Falou e sorri, tocando meus lábios nos seus. Eu simplesmente não enjoava disso nunca. Senti sua língua tocar a minha e envolvi minhas mãos em sua cintura. Seu perfume tão conhecido por mim preenchendo meus pulmões e seu toque tão delicado em minha nuca me causando arrepios.
"Mãos para o alto e fiquem aonde estão." A voz de Troy se fez presente no lugar. Dei um pulo de susto e Lauren fez o mesmo, olhando para a porta.
"Idiota. Nos assustou." Falei e sua risada ecoou por todo o recinto. Troy havia se tornado um grande amigo e depois que começou a namorar com Ally, sua proximidade apenas aumentou.
"Procurem um quarto, isso é nojento." Ele falou se escorando na porta de meu trailer.
"Estamos no meio do deserto. O trailer é tudo o que temos e não estávamos fazendo nada demais, apenas nos beijávamos." Lauren explicou.
"Da última vez Ally e eu pegamos vocês duas no flagra e Deus, não quero me lembrar da cena nojenta de vocês duas nuas tendo sexo." Falou fazendo uma careta.
"Se eu me lembro bem, a mão dela estava dentro da sua cueca e vocês estavam quase no mesmo caminho que nós." Me defendi.
"Pensei que não estariam aqui aquele horário." Falou um tanto sem graça.
"Bem, nós também pensamos." Lauren falou.
"Em todo o caso..." Falei mudando de assunto. "Já que decidiu comprar o trailer, estamos cogitando o Texas para as novas pesquisas." Informei.
"Só vou comprar por Ally, ela ama esse mundo das estrelas." Falou e sorri. Realmente ela amava. Charles entrou no lugar completamente bêbado. Todos reviramos os olhos com o cheiro.
"Se te pegarem alcoolizado você será demitido, Charles." Troy alertou.
"Essa aberração já deve estar morta e mesmo assim, depois de meses continuam nos deixando nesse maldito meio do nada." Falou irritado.
"Eu gosto daqui, é calmo." Troy falou.
"Você fala isso porque tem a vadiazinha loira pra comer." Estreitei os olhos irritada por seu comentário.
"Dê o fora daqui." Esbravejei. "O governo paga para você ficar de vigia lá fora, não aqui."
"Ele só está bêbado, Camila. Não lhe dê importância." Troy falou com a voz serena.
Charles era seu primo e ele cuidara do rapaz desde novo, mas Charles se tornou tudo o que Troy abominava, porém o rapaz sustentava um carinho pelo primo mesmo assim. Ambos saíram do trailer e Lauren e eu caminhamos até a porta. O céu estava repleto de nuvens cinzas carregadas, dando indícios que a qualquer momento choveria, além do vento incrivelmente gelado.
"Ele me irrita." Anunciei.
"Olá queridas, como estão?" A voz do pai de Lauren surgiu na tela de meu celular e me praguejei mentalmente por ter me esquecido de lhe avisar que hoje não estávamos de folga.
"Seu celular não estava descarregado?" Troy perguntou e engoli em seco.
"Que barulho foi esse? Falem comigo, não temos muito tempo antes da NASA me identificar aqui." Lauren arregalou os olhos e Charles sacou a arma, apontando para mim e para Lauren.
"As suspeitas do chefe estavam certas. É ela, não é?" Troy perguntou sacando a arma também. "Saiam as duas daí de dentro agora. Sem gracinhas." Mas que droga.
Saímos com as mãos para cima. Meu coração acelerado e a raiva de mim mesma me consumindo.
"Troy, acalme-se." Falei, vendo Charles caminhar para nossas costas, se certificando de que não fugiriamos. O olhei ligeiramente e ele tinha a arma apontada para nós, igualmente a Troy.
"Todo esse tempo nesse inferno de deserto e era uma mulher? Uma vadia estava em baixo de meu nariz todo esse tempo e não pude ver?" Charles gritou.
"Troy, por favor. Por favor, não a entregue." Supliquei em um sussurro. "Você a conhece há meses, sabe que ela seria incapaz de ferir alguém." Minha voz trêmula entregava o quão assustava eu estava.
"Vocês mentiram pra mim todo esse tempo." Troy falou indignado. "Ally sabe?" O olhei e engoli em seco. "RESPONDA! ELA SABE?" Eu era péssima em mentir mas deveria tentar, Ally não merecia ser acusada como inimiga do estado.
"Não. Apenas Lauren e eu." Tentei passar o máximo de segurança possível.
"MENTIRA." Charles gritou. "Atira nela Troy, eles nem saberão. Atira e acabe com essa aberração." Vi Troy engolir em seco e engatilhar a arma. Meus olhos se arregalaram e comecei a chorar. "Atire de uma vez, atire ou eu vou atirar. Ela destruiu nossa carreira nos fazendo ficar aqui meses."
"Façam o que quiser comigo mas não machuquem a Camila, por favor." Lauren falou e a olhei. Seus olhos fechados em rendição e aceitação.
"Por favor Troy. Eu a amo. Você a conhece e sabe que ela é o ser humano mais doce dessa Terra. Por favor, por favor." Supliquei e senti meu corpo tremer. Os olhos de Troy demonstravam pura confusão, raiva e medo.
Isso não poderia estar acontecendo. Droga, droga. Era questão de menos de dois meses para que eu vendesse o trailer e sumisse dali com Lauren. Ally conseguiu fazer documentos falsos para Lauren e estávamos a dois passos do paraíso.
A chuva grossa começou a cair sobre nós e um trovão, acompanhado de um raio no céu fez Lauren soltar um gritinho abafado. Seus olhos eram puro pânico. Lauren aparentemente tinha mais medo dos trovões do que de duas armas apontadas para si. Em um ato impensado me aproximei dela e a abracei.
"Se afaste, Camila. Preciso fazer o meu trabalho." Troy gritou e eu neguei com a cabeça, sentindo a respiração de Lauren contra meu pescoço. A chuva surpreendentemente gelada nos encharcando enquanto Lauren tremia de frio e de medo.
"Faça o que tiver que fazer. Eu não me afastarei dela." Falei em meio ao choro. Meus braços a envolviam mais e as gotas de chuva agora faziam minha pele arder ao entrarem em contato, de tão grossa que estava a chuva. As mãos de Troy tremiam e eu não sabia dizer se era por frio ou nervoso.
"E se a levarmos para o..."
"Atire na desgraçada ou eu farei, Troy. Deixa de ser covarde. ATIRA." Charles estava fora de si, seus olhos emanavam puro ódio.
"Saia, Camila. Não quero te machucar. Saia." Troy gritou e fechei meus olhos.
"Por favor, Troy. Não atire." Supliquei.
"ATIRA." Charles gritou. Senti uma mão em meu cabelo me puxar e me afastar de Lauren. Assim que olhei senti um tapa ardido no rosto. "Vadia, desgraçada, não fique no nosso caminho." Escutei o choro de Lauren ao ouvir mais um estrondoso trovão. Ela jamais pegou chuva onde havia trovoadas em todos esses meses. Eu me certificava de que isso não acontecesse.
"Eu te amo, Camz." Ela sussurrou e a vi fechar os olhos. As mãos do sujo do Charles me impedindo de chegar até ela, meu coração martelando contra meu peito em puro pânico e medo.
"Okay. Eu faço isso, seu merdinha." Charles falou apontando a arma para a cabeça de Lauren e entrei em desespero.
"Eu faço, eu faço." Troy falou. Ele chorava e eu sabia que isso doeria nele.
"Por favor, Troy." Implorei com a voz falhada. A forte chuva fazendo ser difícil os olhos permanecerem abertos.
"Cale a boca, vadia." Charles falou me acertando outro tapa. Passei a língua no meu lábio inferior e senti o gosto de sangue.
"Eu sinto muito. Eu sinto muito mesmo." Troy falou em meio ao seu choro. "Diga a Ally que eu realmente sinto muito." Foi sua última frase antes de disparar. Em milésimos de segundos meu coração parou ao ver o corpo cair bruscamente no chão.
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