Viagem e fraquezas
"Por mais que sejamos muito fortes aparentemente, não podemos nos esquecer que uma hora ou outra, iremos acabar demonstrando que também temos as nossas fraquezas". — Isabelle González.
Na manhã seguinte...
Já me encontrava acordada por conta que o medo tinha se apoderado de mim por completo durante a noite toda, enquanto o "bonitão" que me trouxe para esta casa velha e abandonada, se encontrava dormindo até agora. Só pensar que ele me deixou sozinha com as minhas paranóias e com fortes dores na região abdominal que acabei sentindo quando a adrenalina dissipou-se de vez.
Digamos que o meu ódio pelos homens cresceu gradualmente de ontem pra hoje e ainda diziam que pessoas de épocas antigas, eram educados ao ponto de ajudar até uma velhinha a atravessar numa rua movimentada.
Aham sei, duvido muito disso... Pois, tenho provas vivas de que eles são tudo menos educados para agirem a este ponto de vista no tanto equivocada, enfim...
Eu como médica, comecei a tentar respirar fundo na intenção de me acalmar já que sei que muitas vezes as dores que sentimos estão mais interligados no psicológico do que da parte física. Então, aproveitei que "O Belo Adormecido" não estava atento a nada ao seu redor, me levantei para ir em um canto que ficava quase dois metros de distância do mesmo.
Já que estava com a intenção de tentar amenizar as minhas fortes dores e como faria isso, iria me despir e fazer a palpação abdominal em mim mesma. Isso não é muito difícil de se fazer, só preciso ficar mais atenta e distinguir em qual parte está sendo mais dolorosa mesmo. E é claro, se caso for realmente preciso.
Após ter tirado o vestido verde que estava sobre o meu corpo, busquei tentar ser mais flexível possível para conseguir deslaçar o meu espartilho já que a minha intuição diz que ele está sendo a causa das minhas dores. Bom, pelo menos espero que esteja certa nisso. Por que se for algo mais complexo do que um simples desconforto por conta de uma peça que compõe as vestimentas da época? Juro que irei chorar muito, já que até agora não conheço muito sobre as medicações deste tempo.
Poucos minutos se passaram e já estava finalizando a retirada do espartilho que tinha sido convencida a usá-la após muitas discussões vinda de Elizabeth que me fez usar, porque segundo ela estaria com uma aparência mais elegante para demais pessoas do Reino. E ela conseguiu isso há exatamente três dias, quem me ajudou a colocar foi a Verona que ficou rindo o tempo todo por conta do meu desespero.
Agora voltando na parte que interessa, consegui tirar o bendito ou melhor dizendo, o esmagador de abdômen feminino. Finalmente pude respirar e as fortes dores foram dissipando gradualmente. E nem pude aproveitar este momento de grande alívio, pois, quando dei uma breve olhada no meu "grande" salvador, ele começou a se mexer como se tivesse querendo acordar.
Com isso, meu coração começou a bater freneticamente e em um movimento involuntário, subi rapidamente o meu vestido que estava jogado sobre as minhas pernas. Até que ele voltasse na posição de antes que era na altura de meus ombros, já que a peça era aberto entre eles.
Depois, olhei novamente para o homem que tinha a barba preta e com algumas falhas ou como dizem por aí: barba mal feita. Só para ver se acordou ou não, principalmente que se for a primeira opção, que não tenha visto algo inapropriado.
Por sorte, ele estava acordado, porém, de costas para mim e muito ocupado limpando a tua espada com um pano que estava mais sujo que este chão nojento. Mas vamos deixar que ele ache que com isso, irá eliminar toda sujeira ou sangue de seus inimigos com este pedaço de tecido.
Apenas levantei e dei alguns passos em direção do mesmo que permanecia distraído com a sua arma arcaica. Quando faltava um passo, o cutuquei de uma forma bem delicada por mais que estava com vontade de colocar as minhas mãos sobre o teu pescoço e apertá-lo com toda a força do mundo.
Com o meu simples toque, o Lorde Isaac se virou rapidamente e já segurou a tua espada o girando até parar poucos centímetros do lado direito do meu pescoço. Bom, parece que quem corre risco de morrer aqui sou eu e não ele. Mas que falta de sorte a minha, ninguém mandou tocá-lo enquanto estava distraído com uma arma afiada que com certeza pode partir uma cabeça ao meio.
Segundos depois, ele se recompõe do susto que tinha levado por minha culpa. E me encara de uma forma que queria me bater que nem uma criança levada, para aprender a ser mais prudente com os teus atos:
— Na próxima, tenta ser menos ingênua e preste mais atenção em cada atitude ou movimento que fizeres perto de um homem que sempre tem uma espada consigo. Agora vamos, antes que o lobo ou outro animal feroz acabe nos encontrando por conta que a nossa guarda está muito baixa. — Disse, enquanto o guardava sobre a tua bainha que ficava preso em volta de sua calça.
— Tudo bem, não farei mais nenhuma atitude precipitada ou ingênua. — O respondi de uma forma clara, porém, não sincera. Já que queria retrucá-lo para que pudesse entender de que não sou nenhum pouco disso que tinha acabado de mencionar.
Ele não disse mais nada, simplesmente andou em direção a porta que após muito esforço, conseguiu tirar o armário que estava sobre ela, o abriu e o fechou logo em seguida. E me olhou com os olhos arregalados como se estivesse ficado com medo seja lá o que tinha visto:
— O lobo estás dormindo ao lado de uma árvore que ficaste poucos passos desta porta. Teremos que pensar em como sair deste lugar sem que aquele animal acorde e nos ataque de uma forma irracional... — Dizia, mas acabou sendo interrompido por mim.
— Como??? Não somos páreos para esta coisa, como faremos para despistá-lo se caso ele acabe acordando mesmo assim??? — Pronunciei cada palavra bem lentamente e mais baixa possível, para que só ele pudesse me escutar.
— Ah, podemos subir nas árvores ou pular para dentro de um rio. Minha cara amiga, podemos fazer tantas coisas e irei te ensinar a arte do improviso. — Disse, mas rapidamente começou a coçar a tua barba.
— Ah, é? E tu acha que sou boa nessa arte!? — O respondi no tanto indignada.
— Não sei, mas terá que aprenderes neste exato momento. — Falou, já puxando o meu braço enquanto abria a porta mais uma vez.
— Isso é uma loucura. — Dizia pausadamente.
Ele não disse mais nada, apenas ficou encarando a fera que permanecia preso em seu sono já que deve ter passado a noite acordado que nem eu. Andamos com passos lentos e largos na intenção de termos mais chances de chegar até a estrada ou seja lá onde que este homem está me levando meio que a força, já que estava morrendo de medo.
Caminhamos por mais alguns instantes e quando estávamos a quase quinhentos metros da casa, o Lorde ouviu um movimento no tanto barulhento vindo na nossa direção contrária. E sem pensar ou por impulso, saímos correndo como se nossas vidas dependessem disso e literalmente estavam.
Pois, temíamos que fosse aquele animal cinzento que tem dentes e unhas super afiadas, loucas para rasgar as nossas carnes.
Quase uma hora se passou...
E já tínhamos parado de correr por conta que nem ele e muito menos eu, estávamos conseguindo dar mais algum passo por conta do esforço físico e também por conta que estávamos várias horas sem se alimentar. Bom, não sei se já está na hora de almoçar ou não, só sei que o meu estômago está louquinho para receber alguma coisa para preencher o teu "vazio".
E para compensar, hoje o sol resolveu fazer graça com seu raios fortes que poderia fritar um ovo até mesmo nesta estrada que agora não está tão lamacenta assim. Já prevejo um de nós, desmaiando por causa destes dois fatores e apesar já sabendo que seria eu, já que não sou nada resistente.
Até que, parei de andar quando me toquei que esqueci duas coisas importantíssimas que acabei os deixando lá naquela maldita casa abandonada:
— Ah, fala sério!? Como que pude esquecer logo destas coisas??? — Disse e bati na minha testa com uma certa força como repreensão pela minha burrice.
— O que estás dizendo, mulher? — Perguntou quando olhou para trás e podia ver a confusão em teus olhos.
— As minhas malas, o que mais poderia ser!? — O respondi rispidamente.
— O que tinhas de tão precioso nelas? — Lançou mais uma pergunta, só que no tanto indiferente desta vez.
— Ah, fala sério! Lá tem todos os vestidos que ganhei do Rei Carl e tinha uma roupa que tem um valor muito sentimental para mim. — Disse, me referindo às que estava usando quando parei sem nenhuma explicação neste século.
— Me poupe, Isabelle! Poderás conseguir outras quando chegarmos em um certo lugar... — Dizia, mas simplesmente fez uma pausa como se estivesse pensando em como terminá-la.
— Com licença! Minhas roupas, sem opinião de pessoas que não entendem do assunto. Espere aí, que lugar que você quer tanto me levar mas não tem coragem de nem citar o nome? — O perguntei assim que percebi que não tinha terminado a tua fala.
— Prefiro que descubras por conta própria. — Me respondeu, ignorando totalmente as primeiras palavras que tinha dito.
Mais um mistério que provavelmente não irei solucionar. Bom, pelo menos este espero que eu consiga descobrir antes que o lobo nos achem. E sim, ainda estou com este bicho na cabeça...
Mas como adoro fazer um drama desnecessário, resolvi questioná-lo sobre uma outra coisa:
— Por quê o senhor resolveu dormir de uma forma tranquila como se não estivesse ligando nenhum pouco, sobre ter um lobo louco para nos devorar lá naquela casa velha? E ainda por cima, me deixou sozinha acordada durante a noite toda por conta que estava morrendo de medo daquele bicho? — O lancei as duas perguntas numa única vez.
— Por nada, só estavas cansado e precisava dormir um pouco. E aquele lobo meio que tinha se tornado a minha única companhia naquela floresta, ele que fazia-me crer que tinham vários animais ótimos para serem caçados. Pois, se há lobo solitário ou uma alcatéia completa numa floresta? Então, podes ter certeza que terás muitos animais que fazem parte de suas dietas. — Me respondeu um pouco pensativo.
— Vamos ver se entendi bem... Resumindo, o lobo meio que estava sendo o seu ajudante na sua estada naquela floresta esquisita? — O perguntei enquanto o olhava incrédula.
— Exatamente! Como gosto de caçar sozinho, achei mais prudente seguir esta teoria já que muitas pessoas nos quais acabei conhecendo ao longo da minha vida, sempre disseram-me que és o mais confiável. — Me respondeu, enquanto olhava para o céu com uma certa dificuldade por conta da intensidade dos raios solares.
— Pensando bem, até que faz sentido mesmo. Por que está olhando para o céu, seu estranho? — O lancei mais uma pergunta no tanto sincera demais.
— Nada, só estavas esperando um outro companheiro meu surgir dos céus.. — Disse e depois soltou um leve suspiro no final.
— Você não tem muitos amigos normais, né!? — Falei e depois dei alguns passos para trás, porque agora obtive a certeza que este homem é totalmente esquisito mais do que aquela floresta que estávamos antes.
— Só o suficiente para saber que não devo confiar em outros que muitas vezes podem levar-te a morte. — Ditou estas palavras que deu para perceber claramente o quão eram dolorosas para o mesmo.
Com isso, acabei entendendo exatamente no que ele queria me dizer e sim, lembrei da história da família dele e de Elizabeth. Principalmente, em como aquela amizade de anos acabou-se numa forma tão trágica e que os fazem crêem que se odiarem seria uma forma de honrarem os seus entes queridos.
Assim que me recompus, apenas o assenti como uma forma de respeitá-lo já que tinha o compreendido perfeitamente. Então, ele se virou na direção no qual estávamos andando antes do meu pequeno surto acontecer e começou a caminhar novamente, resolvi seguí-lo sem questionar mais nada desde então.
Quatro horas se passaram...
Nem estávamos no meio do caminho e já estava pedindo arrego ou melhor dizendo, quase levantando uma bandeira branca imaginária de que estava me rendendo por completa pelo cansaço e pelas minhas bolhas que estavam ao ponto de estourarem nos meus pés. Então, simplesmente parei de andar como uma forma de protestar e que o Lorde Isaac perceber-se de que não sou nenhuma maratonista para aguentar andar por tanto tempo assim.
Não demorou mais que dois minutos até que aquele homem que era um pouco mais alto do que eu, parasse de andar e virou rapidamente para a minha direção:
— Por que parou de andar, senhorita... Perdão, força do hábito. Isabelle andes, não temos tempo. — Disse e pude notar a confusão no teu olhar.
— Não sei se o senhor pôde notar!? Mas estamos andando há mais tempo do que qualquer outra coisa no mundo e outro detalhe no tanto muito importante para mim. Não comemos exatamente nada desde que saímos daquela casa e ainda me pergunto o por quê ainda não desmaiei no meio do caminho? — Cuspi todas estas palavras para o mesmo e como a minha boca é muito grande, acabei sentindo a minha pressão caindo gradualmente e isso, me fez debruçar no meio da estrada.
E por fim, acabei cedendo a fraqueza do meu corpo e desmaiei em poucos segundos. Depois disso, não me lembro de mais nada no que aconteceu.
Algum tempo depois, acabei despertando com uma certa dificuldade e não estava conseguindo focar a minha visão para saber de onde estava. Já que tinha certeza que aquela estrada não era nada macia e limpa no que estou deitada neste exato momento.
Resolvi bater levemente o meu rosto como uma forma de despertar de vez e quem sabe, a minha visão possa se focar logo em seguida. Então, elevei as minhas duas mãos até ao meu rosto e dei alguns bem lentamente.
Como eu tinha dito, no final acabei despertando como se alguém tivesse jogado um balde de água fria em mim. Ok, sei que foi um péssimo exemplo mas não estou conseguindo pensar numa melhor agora.
Então, comecei a encarar em cada canto daquele lugar que claramente se tratava de um quarto que, por mais simples que aparentava ser, era muito aconchegante. Até que fui consumida por várias perguntas sobre como que fui parar ali e no que tinha acontecido comigo?
Meio que senti um déjà-vu pois, quem sempre diz estas coisas são os meus pacientes e nunca tinha dito isso antes eu mesma. Mas acabei sendo forçada a sair no meio de mais um devaneio meu, quando ouço a porta amadeirada se mexer, como se alguém estivesse tentando empurrá-la.
Após um certo esforço da pessoa do outro lado, conseguiu abrí-la e começou a andar na direção da cama no qual me encontrava deitada ainda. Já que sabia que não seria muito recomendável em tentar sair dela no momento.
Esta pessoa que era um jovem ou poderia dizer, um adolescente, que era dono de cabelos castanhos claros e lisos que batiam na altura de suas orelhas. Que também era dono de olhos que eram do mesmo tom e que estava usando vestes que aparentemente foram remendadas várias vezes, que trazia consigo uma espécie de bandeja de madeira que continha uma tigela e colher do mesmo material.
Com isso, imediatamente abri um sorriso como uma forma de agradecê-lo por está salvando a minha vida e tirando o meu estômago da miséria. Ele quando percebeu isso, diminuiu um pouco os passos e pude perceber que as tuas bochechas ficaram ruborizadas.
Mas assim que se aproximou de mim, posicionou a bandeja sobre mim e se virou na direção de sair imediatamente do quarto. Mal tive tempo de abrir a boca para agradecê-lo e ele já tinha sumido no campo da minha visão.
Confesso que achei a sua personalidade tímida tão fofa que me fez lembrar do meu sobrinho mais velho, Jean, que mesmo estando no primeiro ano do ensino médio. Ele ficava vermelho por qualquer comentário tanto positivo e negativo ou se simplesmente, alguém sorrisse para o mesmo.
Só Deus sabe o quanto que estou morrendo de saudades da minha família e o quão eles são tão importantes na minha vida. Fico me perguntando, se eles ainda estão me procurando ou acabaram desistindo, já que estou há mais de seis meses aqui.
Quer dizer, meio que já perdi as contas aqui e já tinha aceitado o meu destino que seria morrer neste século. Resolvi espantar toda esta tristeza mútua, pois, agora preciso me alimentar porque não posso deixar que isso me pare agora.
Então, peguei a minha primeira colherada numa espécie de sopa que deve ter sido feita de legumes e dei uma leve mordida em um pedaço de pão que parece ter sido feita ontem. Mas que estava tão gostosa como se tivesse sido feita agora mesmo, realmente estava me deliciando e agradecendo aos céus por esta dádiva de ainda está viva apesar dos apesares.
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