Descobrindo o passado
"Revelar o passado costuma ser bastante dolorosa, principalmente se for algo que o tenha destruído na época". — Isabelle González.
Isabelle
Na manhã seguinte...
Após dias tendo aulas de etiquetas com a Duquesa Elizabeth, finalmente posso dizer que estou realmente aprendendo sobre este negócio de me portar formalmente diante à sociedade. E espero que algum dia consiga demonstrar tudo que tenho aprendido para ao Rei Carl, que foi a pessoa que iniciou com esta história de que teria que ter aulas deste tipo de coisa.
Apesar que antes tinha me sentido muito ofendida, mas hoje acho que entendo que tenha feito tudo isso para o meu próprio bem já que sabe que as pessoas de sua época julgam um ao outro pelo simples erro que cometer sem ao menos perceber. E sei que no meu tempo, as coisas não mudaram muito e talvez estejam mil vezes piores do que nesta época que acabei parando sem nenhuma explicação científica.
Agora estou aqui tendo mais um dia de aula com a Elizabeth e estava como sempre perdida no meio dos meus pensamentos, até que sinto alguém me cutucar insistentemente:
— Isabelle, Isabelle! Estou falando com a senhorita e necessito que responda-me, por favor. — Disse com um tom de preocupação e ainda continuava a me cutucar.
Assim que parei de encarar o nada e voltei a olhar diretamente para a Duquesa Elizabeth, respiro fundo:
— Me desculpe, é que hoje acordei um pouco distante. O que estava me dizendo mesmo? — Perguntei toda sem graça.
— Estavas dizendo que agora irei explicaste sobre como fazer um bordado neste pedaço de tecido que estás em volta desta peça aqui. És só pegar esta agulha e este novelo de lã, uni-los através deste pequeno buraco que tens na agulha e depois só passar neste tecido bem devagar sem pressa, até formar uma pequena flor que nem esta que fiz há algum tempo. — Disse com um certo orgulho de si.
Com isso, ela me demonstrou passo a passo de como fazer a pequena flor naquele tecido e fiquei a observando, prestando a atenção ao máximo que podia, mesmo achando que a minha mente não estava achando isso nada de interessante. Mas fiz o possível para que eu consiga aprender mesmo que o meu subconsciente esteja dizendo outra coisa, que seria perguntar sobre algo que foi deixado no ar no dia que nos conhecemos.
Estou me referindo sobre o real motivo da família Lancaster e a família daquele Lorde que me tirou a força daquela taverna e me trouxe de volta para a praça no qual a Duquesa tinha me deixado. Fiquei pensando se eles tiveram algum caso no passado e que terminaram de uma forma que os machucaram ao ponto de se odiarem atualmente.
Será que ele a traiu? Ou será que foi ela que o traiu? Quando começou este romance entre eles? Ou talvez seja algo nada a ver com relacionamento amoroso e talvez seja algo familiar mesmo? Eram tantas perguntas passando na minha mente que acabou me fazendo não prestar mais atenção em nada no que a Duquesa estava me explicando e tenho certeza de que ela percebeu isso ou ainda irá perceber e ficará irritada comigo.
Mas não podia evitar, a minha curiosidade parecia aumentar a cada pergunta que estava surgindo na minha mente e teve um momento que pensei de que iria enlouquecer de vez. Então, não tive uma outra alternativa a não ser de tirar estas dúvidas logo antes que surte por causa disso, a encarei por alguns instantes, respirei fundo para dá tempo de pensar em como começar esta conversa:
— Duquesa, sei que está animada em me ensinar a fazer um bordado e tudo mais. Só que gostaria de que me respondesse algumas coisas e se não quiser responder por motivos pessoais, farei o possível em respeitar a tua decisão. — Falei enquanto criava coragem para fazer as tais perguntas.
— Você e tuas perguntas, Isabelle! — Disse enquanto soltava um suspiro e deu uma leve olhada ao redor da biblioteca que meio que tinha se tornado a minha "sala de aula".
— Não tenho culpa se a minha curiosidade costuma falar mais alto do que qualquer outra coisa na minha vida... — Falei enquanto soltava uma risada sem graça.
— Pois bem, o que queres perguntar-me? — Perguntou assim que voltou a olhar para mim.
— Bom, lembra naquele dia que nos conhecemos e que acabei conhecendo um outro nobre no qual não me recordo o nome? — Perguntei ainda enrolando para fazer a tão esperada pergunta.
— Lembro-me muito bem e onde a senhorita queres chegar sobre este assunto? — Fez outra pergunta e podia sentir a tua paciência infinita se diminuindo a cada segundo.
— O que quero chegar é que, gostaria de saber a história por trás da tua família e daquele nobre que os fizeram se odiarem tanto até nos dias de hoje? Lembra-se que tinha me prometido que iria contar tudo para mim um dia e... — Falei mas acabei sendo interrompida pela mesma.
— E parece que este dia chegou, afinal. Quer que eu comece por ondes? — Me perguntou e podia ver o nervosismo no teu olhar e na voz.
— Desde o início, por favor! — A respondi e me posicionei para ficar mais próxima da Duquesa, deixando as coisas sob o chão ao meu lado.
— Esta história se iniciou há quase dez anos e já era viúva a mais de dois anos, meus pais e os do Lorde Isaac sempre foram amigos desde a juventude de ambos. Até apareceram pessoas dizendo que eram destino para que um casassem com o outro e a amizade seria eterna entre estes casais. Para encurtar um pouco, já que és muito longa e acho que não teremos tanto tempo para contar sobre todos os detalhes que aconteceu um pouco antes do nascimento de Melanie, a caçula da família e que infelizmente não conseguiu conhecer os nossos pais. — Disse mas acabou sendo interrompida por mim desta vez.
— Não, por favor conte tudo para mim e não esqueça de nenhum detalhe sequer. — Falei já me arrependendo por parecer um pouco invasiva demais.
— Se és isso que queres, então assim serás! A minha mãe estava esperando a minha irmãzinha e faltavam algumas luas para o nascimento dela. Estávamos numa guerra sangrenta entre os Reinos, meu pai e o amigo dele, Samuel York, estavam lutando lado a lado há mais de cinco meses. E és claro que estávamos em vantagens, quer dizer, era o que achávamos na época até que recebemos uma carta que... — Disse e acabou sendo interrompida mais uma vez por mim que não conseguia controlar a tamanha ansiedade para saber o final desta história.
— E o que lhe dizia nesta carta? — Perguntei com os meus olhos vidrados para a mesma.
— Se continuares a interromper-me, pararei de contar e ficarás sem saber no que aconteceu depois. — Disse já respirando forte e isso me confirmava que já estava perdendo um pouco da paciência que ainda lhe restara.
— Me desculpe pela minha impaciência e grosseria, Duquesa! — Falei morrendo de vergonha.
— Bom, onde que parei mesmo!? Ah, lembrei-me agora... Nesta carta dizia que: "Duquesa Danielle Lancaster, tenho a infelicidade de comunicá-la que o vosso marido e Duque da Inglaterra, Rafael Lancaster, acabou sendo vítima de uma flecha vinda diretamente do inimigo do nosso Reino, com isso, acabou perdendo o sopro da vida. Mas ele não fores o único que se foi, mas também o teu amigo, Lorde Samuel York, que tentou socorrê-lo o máximo que podia. E para a nossa tristeza, quando o mesmo baixou a guarda para ajudar o Duque, acabou sendo atingido pela espada por trás e acabou caindo em cima do teu marido. Prometo que lhe trareis o corpo do teu falecido marido o quanto antes, mesmo que no caminho acabe sendo morto também". — Ela parece que ditou cada palavra que continha naquela carta e podia perceber a cada dor que ela sentia através das tuas lágrimas que escorriam no teu rosto até mancharem o seu vestido branco perolado.
— Meus pêsames, Duquesa! Sei que deve ter doído quando a tua mãe leu esta carta para vocês na época. — Falei e não pensei nem duas vezes em ir dá um abraço que sei que ela estava suplicando entre as tuas lágrimas.
Ela acabou permitindo este abraço já que não tinha mais forças para negar ou qualquer outra coisa no momento. Foi um daqueles mais longos que já dei para alguém, mas foi uma forma de acabar suprindo toda a dor que ela estava sentindo ao relembrar do teu passado tão doloroso e tão presente na tua vida.
Ficamos neste abraço que mais parecia ser infinito por conta que estava começando a sentir dores na coluna por ficar na mesma posição a tanto tempo que já perdi até a noção dos minutos que devem ter passado. E também dos meus braços que parecem não desistir de me fazer lembrar de que estavam doendo demais, sei que não poderia desfazer deste abraço a não ser que a Duquesa queira, então permaneci na mesma posição.
Alguns instantes depois...
Já tínhamos desfeito o abraço, cheguei até pensar em perguntar mais uma coisa para entender melhor esta história toda, mas resolvi esperar que ela acalmar-se até parar de chorar, porque acho que devo ter tocado algo que antes era proibido para a mesma.
Não demorou muito até que percebesse que ela estava começando a dar indícios de que estaria melhor e antes que pudesse dizer alguma coisa, Elizabeth fez um sinal para que não dissesse nada:
— Bom, acho que todas as lágrimas que podia derramar hoje se acabaram por agora. Onde que tinha parado mesmo? — Perguntou enquanto limpava o teu rosto que estava manchado com a maquiagem misturado com as tuas lágrimas.
— Você tinha dito cada palavra que tinha naquela carta que a tua mãe tinha recebido. — Falei enquanto a encarava e tentava não chorar mais do que ela estava antes.
— Ah, então continuando... Depois que a minha mãe tinha lido esta carta, ela começou a sentir fortes dores na tua barriga e na hora ela soube que a Melanie estava querendo conhecer o mundo agora. Então rapidamente, as criadas a levaram para o teu quarto e depois correram de volta para lá trazendo consigo uma bacia com água quente, alguns panos e uma faca. Após a minha irmã nascer, a minha mãe não parava de sangrar e as criadas não sabiam no que fazer naquele momento. Uma delas resolveram trazer-me até o quarto de minha mãe, pois, sabia que seria a última vez que a veria em vida... — Prosseguiu, mas acabou fazendo uma pequena pausa para se recompor.
Ficou olhando ao redor da biblioteca como se estivesse buscando forças para terminar de me contar tudo por mais que fosse dolorosa para ela, só que não conseguia pensar na hipótese de não contar tudo para mim:
— Após a morte de minha mãe, acho que uns cinco ou sete dias depois dos sepultamentos de meus pais. Eu como fiquei responsável pela família desde então, recebi uma carta da viúva do Lorde Samuel York e nesta carta dizia que era tudo culpa do meu pai de ter causado a morte de seu marido. Que se o Lorde não tivesse tentado salvá-lo, estaria aqui hoje vivo com a tua família e que só tinha baixado a guarda por conta do meu pai. Por isso, que hoje nos odiamos já que com eles não tem conversa já que tentei explicá-los que ninguém teve culpa nas mortes de ambos. Só que eles insistem nesta história de culpar o meu querido pai... Bom, esta és toda a história! — Disse soltando um suspiro no final.
Fiquei um tempo paralisada e tentando assimilar sobre tudo o que tinha acabado de ouvir da Duquesa, só não consegui entender muito bem o por quê a mãe daquele Lorde, que me tirou a força da taverna os culpou por algo que era inevitável dentro de uma guerra sangrenta. Mas busquei compreender os motivos desta senhora, provavelmente achou que culpando alguém iria amenizar a dor que estava sentindo pela perda de seu marido.
Respirei fundo e agora estou tentando procurar palavras certas para dizer para a mesma, nem que fosse apenas uma frase simples mas que fosse reconfortante mesmo assim:
— Uau, nunca pensei que por trás desta inimizade fosse tão trágica e tensa como esta. Mas posso lhe dizer por agora é quê, não importa no que eles acham ou deixam de achar e sim, o que você sabe o que realmente aconteceu e que o seu pai não teve culpa de algo sendo que não estava mais ali no momento que aquele Lorde foi atingido por uma espada vindo da parte inimiga daquela guerra. Espero que um dia, eles parem com isso e que vocês mesmo que não voltem a ter aquela amizade entre as famílias, que pelo menos se respeitem acima de tudo. — Falei tudo que estava vindo de dentro do meu coração, então foi algo mais sincero que já tinha dito em toda a minha vida.
— Isabelle, você és muito especial na minha vida e a tua amizade estás se tornando muito forte, sei que podereis lhe contar para tudo. Acho que a aula acabou por agora, já que não tenho mais forças para continuar lhe ensinando e amanhã prometo que iremos continuar de onde paramos, tudo bem? — Disse com um sorriso de lado.
— Tudo bem e sinto muito se toquei na tua ferida que estava fechada há muito tempo. —Falei enquanto sorria com os olhos fechados.
— Não se preocupes, acho que precisavas contar para alguém que não fosse do mesmo sangue que eu. Já que os únicos que sabiam eram os meus irmãos e o meu primo, Rei Carl. Agora vou ver se tenho coisas para serem resolvidas ou não, foi bom conversar contigo e até o jantar. — Disse enquanto se levantava da cadeira e começou a andar em direção a porta da biblioteca.
Assim que se retirou do local, resolvi pegar algum livro para ler já que faziam séculos que não lia nada e estava precisando me distrair um pouco também. Acabei pegando um que era da capa vermelha com alguns detalhes dourados, nem li o título, pois, só pela capa já tinha chamado a minha atenção. E comecei a lê-lo freneticamente, pois, a história era muito boa e conseguiu me prender numa forma inexplicavelmente.
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