Criando confiança do Rei Carl
"Obter confiança nunca foi uma tarefa tão difícil como está sendo agora. Mesmo assim, se torna um desafio que me faz ter mais vontade de alcançá-lo." — Isabelle González.
Algumas semanas se passaram...
Não sabia a quanto tempo exatamente que estava neste calabouço nojento, só presumia que estava aqui a mais de duas semanas. Pois, conseguia marcar na minha mente quantos dias estava presa, até que acabei perdendo a conta e, com isso, acabei deixando de lado.
Já que acabei aceitando de que irei apodrecer neste lugar, quando pensei de que iria passar mais um dia presa. Ouço passos se aproximando na direção da minha porta e então levantei rapidamente. Já que tinha me recuperado por completo das torturas que tinha sofrido naquele dia.
Os passos pararam, para dar entrada ao barulho da chave, assim que abriram a porta e pediram para que me afastasse. Colocaram uma espécie de algemas que aparentavam em estar enferrujadas, e me puxaram pelo braço em direção às escadas.
Depois disso, descemos os degraus, apesar que caía em algumas vezes por conta de não me deixarem descer sozinha. E sim, me seguravam pelo braço com toda a força do mundo, como se tivessem medo de que conseguisse fugir deles.
Assim que terminamos de descer, passamos pelo corredor até parar em frente àqueles portões enormes e com isso, os guardas reais que estavam os protegendo, abriram para nós e então, entramos rapidamente. Me empurraram até parar em frente ao trono no qual o Rei Carl se encontrava sentado e assim que o olhei, percebi que ele continuava com o mesmo olhar de quem não estava com paciência pra nada.
Ele se levantou de seu trono, desceu os dois degraus e ficou parado na minha frente analisando da cabeça aos pés, como se estivesse procurando alguma coisa para me criticar ou algo do tipo. E ficou assim por alguns minutos, até que resolveu parar e voltar a sentar em seu trono real:
— Conselheiro Peter, qual és desta forasteira? E a quanto tempo que ela estava presa naquele calabouço? — Perguntou enquanto me fitava.
— Se chama Isabelle González e estava há dois meses, Vossa Majestade. — Disse fazendo ao máximo para não encará-lo.
— Isabelle? Gostei deste nome. Enfim, após estas últimas semanas, refleti muito sobre a minha decisão de tê-la colocado em um calabouço e te fazer sofrer tudo aquilo com os dois guardas reais. E percebi o quão cruel e irresponsável fui ao tomar uma decisão precipitada, realmente devia ter dado aos ouvidos a Duquesa Elizabeth. Então, após analisar muito sobre esta questão, pensei em te dar apenas uma chance para provar de que és digna da minha confiança... — Disse e logo em seguida foi interrompido por mim.
— Pode dizer o que quiser, que farei o possível para mostrá-lo de que sou uma pessoa confiável, senhor. — Falei enquanto fazia o possível para não encará-lo.
— Não me interrompe, mulher insolente! Continuando... Gostaria que me mostrasse alguma coisa que saiba fazer e que poucos conseguem. Será que irás conseguir me impressionar? — Perguntou enquanto passava a mão sob à sua barba.
— Me desculpe por ter te interrompido, mas posso sim e espero que realmente isso te surpreenda. Se não me engano, aqui vocês os chamam de curandeiros, estou certa disso? — Perguntei na esperança de que fosse isso mesmo.
— Sim, apesar que muitos pensam que isso és uma bruxaria e muitas pessoas que se diziam curandeiros, acabavam indo para a fogueira. — Disse soltando um suspiro forte.
— Entendo! Mas juro por tudo que é mais sagrado, de que não sou algum tipo de bruxa. Sou apenas uma pessoa que gosta de ajudar a melhorar a saúde de alguém. — Falei e o Rei aparentava estar bem atento nas minhas palavras.
— Então a única forma de me provar de que não és nenhuma bruxa, você terá que me curar e tem duas semanas para fazer isso. Sim, estou com uma enfermidade que nem os Magos mais poderosos conseguiram descobrir e muito menos, acharem uma poção para me curar. Então, aceitas? — Disse me lançando um desafio que aparentava ser quase impossível de vencer.
— Sim e espero conseguir vencer este desafio que a Vossa Majestade acabou de fazer. — Falei um pouco receosa, pois, temia de não conseguir isso a tempo.
Com isso, o Rei ordenou para que chamasse alguma criada e assim que apareceu uma, mandou para que me levasse até algum quarto de hóspedes e pegar algum vestido limpo. Mas antes disso, que tomasse um banho já que estava há muito tempo sem tomar, ou seja, estava completamente imunda.
Então, os guardas reais que pareciam que não queriam desgrudar de mim, se afastaram assim que tiraram as minhas algemas, enquanto a criada se aproximava de mim. E depois disso, ela me pediu para que a seguisse e então, comecei a andar poucos passos atrás da mesma.
Assim que saímos da sala do trono, ficamos andando por um tempo até parar em frente às escadas. Estas eram diferentes, parece que foram tiradas de algum conto de fadas, pois, os degraus são brancos e com um tapete vermelho que descia degrau por degrau. O corrimão era dourado e cheio de detalhes que o deixava gracioso, mas não exageradamente.
Enfim, enquanto estávamos subindo comecei a prestar a atenção na criada que estava me guiando até ao quarto de hóspedes. Ela era bem diferente da Verona, tinha cabelos pretos e levemente ondulados, que batia mais ou menos na altura de seus ombros. Ela era dona de olhos castanhos claros e sua boca não era muito fina, achei um pouco estranho por não está usando aquelas roupas típicas de criadas e não estava usando nem aquelas toucas ou chapéus que até agora não sei o nome certo disso.
E sim, estava usando uma roupa mais cheia de detalhes, eram uma mistura de azul claro com dourado. Até pensei em perguntar o por quê que estava usando uma roupa assim, mas preferi deixar isso pra lá mesmo.
E assim que já estávamos no quarto de hóspedes, a criada me mostrou cada canto daquele cômodo. Depois disso, me pediu para esperar um pouco enquanto buscava os vestidos para que pudesse escolher um para usar.
Assim que ela voltou, os colocou sob a cama enorme que também era azul com detalhes dourados. Estou começando a achar que tudo aqui neste lugar são destas cores mesmo, porque até agora só vi isso. Apesar que na parte dos calabouços pareciam que nunca foram pintados e sim, davam a impressão de que estavam abandonadas.
Enfim, depois de ficar um tempo escolhendo, no final acabei gostando de um. Era um vestido com a primeira parte branca sem muitos detalhes e a segunda parte era azul escuro com alguns detalhes dourados. Ok, acabei escolhendo uma que fazia de acordo com o resto deste lugar, mas juro que foi sem querer e que demorei um pouco para perceber.
Depois disso, a criada pegou os vestidos que não foram escolhidos e saiu do quarto rapidamente, aposto que era para levá-los e guardá-los no mesmo lugar que ela os tirou. E não demorou muito para que ela voltasse para o quarto onde me encontrava, me pediu para que a seguisse até chegar em um quarto que continha a banheira que era igualzinha do castelo de Elizabeth.
Meia hora depois...
Já tinha tomado o banho que foi uns dos melhores, pois, faziam semanas que não tomava e nunca fiquei tão feliz por estar limpa. Apesar do tempo que fiquei naquele calabouço, já tinha me acostumado a estar sempre suja e também tive que me acostumar com o odor que o meu corpo exalava por falta de banho.
Mas agora estou me sentindo leve e com mais vontade de viver, ainda me pergunto como pode existir pessoas que não gostam de tomar um banho. E após conseguir voltar com esta reflexão aleatória, a criada me ajudou a secar o meu corpo e a me vestir.
Após ter terminado de me arrumar, ela me levou de volta ao quarto e assim que chegamos lá, perguntei o seu nome e ela disse que se chamava Helena. Por fim, eu a agradeci com um sorriso em meu rosto e ela se retirou do quarto no mesmo instante.
O tempo que fiquei naquele quarto, pensei em como poderia começar a minha busca pelo diagnóstico da doença que o Rei Carl poderia ter. E depois que forma poderia ajudá-lo, pois, tinha certeza que nesta época não costuma ter muito recurso para conseguir curar alguma doença.
Porquê tenho certeza de que, se eles não tivessem esta crença de que todos os curandeiros são bruxos. Eles teriam vários remédios e poucas pessoas morreriam por doenças que para minha época, era fácil de ser curado.
Bom, era isso que acreditava... Pois, as coisas que os curandeiros faziam era um tipo de remédio feito de ervas e entre outras coisas. Mas agora teria que provar para todos que, remédios feitos de ervas podem ajudar e muito.
Enfim, mas o primeiro passo que posso fazer agora é de tentar convencer o Rei a me deixar fazer um exame físico. Para que eu possa juntar as primeiras peças e depois torcer para que consiga formar algum diagnóstico, para que no fim arrumasse um jeito de fazer um remédio que o curasse.
Então, decidi sair do quarto e assim que fiz isso, passei pelo corredor que dava acesso às escadas e por fim, as desci rapidamente. Andei até parar em frente aos portões do trono, como sempre tinham dois guardas reais os protegendo.
Pedi para que abrissem para mim, pois, tinha que fazer uma pergunta ao Rei e que era urgente. E então, os dois fizeram o que tinha pedido, mas não foi assim tão fácil, porque tive que convencê-los que realmente a pergunta era muito importante mesmo.
Assim que eles abriram, andei até parar em frente ao trono onde o Rei Carl se encontrava:
— Vossa Majestade, sei que isso possa soar importuno de minha parte mas, queria fazer uma pergunta ao senhor e juro que será só esta mesmo. — Falei e logo em seguida fui interrompida por ele.
— E que pedido seria este? — Perguntou meio desconfiado.
— Gostaria de saber se poderia ir até ao seu quarto, para que pudesse verificar de como está o seu corpo e assim poderei juntar as peças para descobrir qual a doença que o senhor tem. Será que teria como? — Fiz a pergunta toda sem graça, já que nunca tinha pedido isso para algum paciente antes.
— Isso me parece um pouco estranho, mas se isso irás te ajudar, então posso sim, mas irei pedir que o meu Conselheiro Real nos acompanhe por via das dúvidas. Já que ainda não confio na senhorita e com ele, sei que estarei protegido e não permitirás que faça-me mal algum. — Disse enquanto olhava para o seu Conselheiro que se aproximava.
Alguns minutos se passaram...
Já nos encontrávamos no quarto do Rei Carl que era enorme, dava para ser uma residência facilmente. Mas o foco não era este e sim, fazer um exame físico nele e espero que ele não se acanhe ou algo do tipo.
Respirei fundo e olhei para os lados na tentativa de procurar por palavras certas para pedir que ele tire as vestes até que fique apenas com peças íntimas. E isso não será nada fácil, porque ele pode me achar uma louca ou sendo invasiva demais.
Mas não tinha outra escolha, pois, o mesmo estava usando várias roupas e isso, porque aqui nem faz tanto frio deste jeito. Enfim, no final só consegui pensar em ser a mais delicada possível e torcer para que ele não se sinta ofendido:
— Me desculpe se caso estiver sendo invasiva com o senhor, mas poderia retirar as tuas vestes até ficar apenas com peças íntimas, por favor? É que isso irá facilitar um negócio que quero fazer e que irá me ajudar muito em juntar as peças e depois, descobrir o que realmente o senhor tem. — Falei um pouco sem graça.
— Mas antes de fazer isso, irei te contar uma coisa e me prometa que não irás dizer isso a ninguém, pode ser? — Disse enquanto soltava alguns suspiros.
— Pode deixar, isso será o nosso segredinho. — Falei com o olhar bem atento.
— Então, já sei o que tenho há um bom tempo e o único que sabes disso além de mim, és o Conselheiro Peter. Pois, eu o confio de olhos fechados e daria a minha vida por ele, porque sei que faria a mesma coisa por mim. — Disse e olhou ligeiramente para aquele homem.
— Entendi e qual é a doença que o senhor tem? — Perguntei toda curiosa.
— Então, acho que não irei governar este país por muito tempo, porque às vezes sinto fortes dores em minha barriga e uma queimação, tem alguns momentos que não consigo comer. E quando consigo acabo botando pra fora, se és que me entendes. E em algumas ocasiões, sai mais sangue do que as coisas que comi. O que achas que pode ser isso? — Perguntou com um semblante de quem estava muito preocupado consigo mesmo.
— Bom, isso parece que tem alguma coisa a ver com o seu estômago e, por já estar vomitando sangue deve está em um estágio avançado de alguma doença. O senhor bebe muita bebida que contém álcool? — Perguntei enquanto passava a mão sob o meu queixo.
— E isso és grave, certo? Bebo muito para esquecer da minha solidão e faço isso desde que a minha Rainha morreu durante o parto de nosso filho que também não sobreviveu. — Disse com um semblante triste.
— Oh, sinto muito por isso. — Falei sem saber exatamente em como continuar a conversa.
— Não, tudo bem! Os problemas que tenho que resolver deste Reino, me fazes esquecer um pouco disso. — Disse finalizando com um suspiro.
— Entendo! Me desculpe mais uma vez pela minha indelicadeza. Queria te perguntar mais uma coisinha... O senhor toma alguma coisa para aliviar as dores? Me surpreendo por ainda conseguir fazer as coisas tão bem e principalmente, disfarçar ao ponto que nem eu mesma tinha percebido quando o conheci. — Perguntei enquanto passava a mão sob o meu queixo.
— Sim, o meu Conselheiro Real sempre pega uma poção de um Mago que ele confia muito, apesar que nunca tinha ouvido falar do mesmo. E esta poção me faz sentir bem por algumas horas, pois, quando acaba o efeito, eu sinto uma queimação ou começo a vomitar sangue no chão desse quarto. — Disse enquanto apontava a sua mão no chão.
— Uma poção?! Não consigo confiar muito neste tipo de coisa, mas se está te dando algumas horas de alívio, não vejo nada de errado em continuar tomando. Bom, acho que era só isso e gostaria muito que deixasse verificar o estado de seu corpo, juro que serei bem rápida. Então, o senhor me dá a autorização para fazer isso? — Perguntei ainda insistindo na ideia de fazer o exame físico no mesmo.
— Já vi que não desistiu dessa ideia mesmo e então, não me sobra outra escolha a não ser conceder-lhe este pedido. Então, pode fazer o que tanto desejas, senhorita. — Disse enquanto tirava algumas peças de seu corpo.
Não demorou muito para que o mesmo se encontrasse apenas com peças íntimas, então pedi para ele deitar-se na cama e fiz o tão esperado exame físico. E assim que terminei de examiná-lo, pedi para que se levantasse e colocasse as suas roupas de volta. Depois disso, eu o agradeci e me retirei do seu aposento, andei pelo corredor até parar em frente ao meu quarto.
Duas semanas se passaram...
Neste tempo que o Rei Carl tinha me disponibilizado para descobrir a doença que tinha, ficava horas dentro do quarto e pensando em várias opções de doenças que ele poderia ter contraído. Mas não ficava apenas no quarto, pois, tinha alguns momentos que isso estava me enlouquecendo e saía do quarto, para respirar e me distrair um pouco.
Até que hoje finalmente cheguei a conclusão de que, por ele beber muito e nesta época, o povo não ligava muito para higiene tanto pessoal e principalmente de seus alimentos. O que quero dizer é quê, só existe uma doença que se encaixe neste tipo de situação que seria a úlcera gástrica. Sei que nesta época, as doenças mais comuns eram lepra, peste bubônica e leptospirose.
Mas isso não era um tipo de padrão, pois, existiam outras doenças, só que estes nunca foram levados a sério no mesmo tanto que estes que acabei de citar. Enfim, mas tinha um problema...
Como poderei tratar desta doença, sendo que aqui não tem equipamentos médicos e muito menos, remédios que possam curá-lo em questão de tempo?
Mas neste caso, só poderia recomendá-lo uma dieta rígida, que ele seria proibido de comer qualquer alimento que contenha ácido. Já que se continuasse consumindo isso, provavelmente iria piorar mais ainda a sua doença. E também, ele teria que parar de beber qualquer bebida que contém álcool e não sei se ele fuma, mas isso também teria que parar.
Aposto que ele não irá concordar com isso de início, mas depois sinto que ele irá acabar aceitando e um dia, estará melhor mesmo que esta doença possa matá-lo mais tarde. Sei que isso é muito triste, mas neste lugar não tem muitos recursos para curá-lo e a probabilidade de que ele não sobreviva com esta doença eram enormes.
E a única coisa que posso oferecê-lo é isso e torcer de que isso amenize até chegar um momento, que a úlcera gástrica acabe estourando e ele não resistir no final. Sinceramente, não sei o que será deste Reino sem ele o governando. Pois, o mesmo não tem filho e a sua Rainha já é falecida, gostaria muito de saber quem irá subir ao trono. Provavelmente, será algum parente dele ou algo do tipo, não entendo destas coisas e então, melhor deixar isso com eles.
Enfim, ainda era de manhã e não sabia se já poderia sair do quarto e ir até à mesa que continha vários alimentos, onde o Rei e seu Conselheiro Real se encontravam. E falando neste homem que se não me engano, o nome dele era Peter Williams.
Sinceramente, não consigo confiar naquele cara e juro que não é por falta de esforço, ele é muito estranho. Ele tem uma estatura mediana, aparentava está na casa dos quarenta ou cinquenta anos, cabelos um pouco grisalhos e tinha um olhar misterioso.
Neste tempo que estou aqui, não conversei muito com ele e nas poucas vezes, me senti muito desconfortável. Era como se algo dentro de mim estivesse me avisando que aquele homem era perigoso e que seria capaz de fazer de tudo para conseguir o que tanto almeja.
Bom, espero muito que seja apenas uma paranóia da minha cabeça e que devia dar uma chance para conhecê-lo melhor. Mas vou deixar isso para outra hora, pois, agora irei sair deste quarto e tomar um café da manhã com o Rei.
Depois irei pedir para conversarmos a sós e irei passar as minhas recomendações para a sua melhora. Só espero conseguir explicá-lo direitinho sobre a situação atual de sua saúde, que não é uma das melhores.
Assim que saí do quarto, fechei a porta e andei no corredor que dava acesso às escadas. As desci rapidamente e me dirigi até ao cômodo onde todos faziam presença e aposto que devem estar comendo muito.
Após ter chegado na sala de jantar, acertei e quem estava comendo mais, era o que não podia exagerar muito na comida e sim, estou me referindo a Vossa Majestade. E ele sabe que talvez mais tarde, irá sentir uma queimação e isso terminaria nele vomitando sangue.
Mas acho que neste exato momento, ele preferiu ignorar esta consequência para poder ficar perto de quem ele confiava. E isso porque só tinha aquele Conselheiro estranho e eu, que éramos os únicos que podiam sentar na mesa com o mesmo.
Uma coisa que não conseguia entender muito bem, era o porque que as criadas, os serviçais e os quatro guardas reais não podiam sentar conosco. Mas acho que nunca irei conseguir compreender isso na minha vida, provavelmente.
Então, assim que terminei este momento de reflexão comigo mesma, me dirigi até a cadeira que era a quarta depois do Rei, ele se sentava no centro para ser mais específica. Antes de começar a tomar o meu café da manhã, conversei um pouco com o Rei e depois disso, comi algumas frutas e algumas coisas que agora não consigo me recordar os nomes.
Só sabia que tinha me empanturrado de comida e tinha quase certeza de que, não iria conseguir me levantar da cadeira por alguns ou vários minutos. Agradecia à cozinheira por suas mãos de fada, pois, sinceramente, ela cozinhava melhor do que a minha mãe e achava isso impossível.
Quarenta minutos depois...
Após algumas conversas aleatórias, que me fazia crer que realmente tinha conquistado um pouco da confiança do Rei Carl e isso me fazia vibrar internamente. Esperei o momento certo para perguntar se poderíamos ter uma conversa a sós e que não podia dizer o real motivo, já que tinham muitas pessoas por aqui.
Então respirei fundo, olhei para os lados na tentativa de buscar as palavras certas:
— Sei que isso pode parecer oportuno de minha parte, mas posso te perguntar uma coisa? — Perguntei fazendo ao máximo para parecer educada.
— Mas és claro que podes. E qual seria a tua pergunta? — Disse com um semblante de quem estava começando a ficar curioso.
— Será que podemos ter uma conversa entre nós dois, por favor? — Perguntei torcendo de que ele dissesse "sim".
— Ah, podemos sim. Por favor, me acompanhes até a biblioteca. — Disse se levantando da mesa.
Apenas assenti com a cabeça, levantei e o acompanhei até chegar a biblioteca que não ficava tão longe de onde estávamos. E sim, ficava uns dois minutos ou até menos. Assim que entramos, fiquei sem reação após ver tantos livros e os meus olhos brilharam como estrelas, este lugar era enorme, poderia facilmente morar por aqui já que me considero uma "ratinha de biblioteca".
Isabelle foco aqui, segura a sua paixão pelos livros e se concentra, pois, você veio até aqui para explicar para o seu "paciente" sobre a doença que ele contraiu e quais são as tuas recomendações. Agora você tem que mostrar o seu lado profissional e não o seu "eu" do dia a dia.
Assim que voltei os meus olhos para o Rei, me pediu para me sentar e que já fosse direto ao assunto sem enrolações. Mas antes de começar a dizer alguma coisa a ele, respirei fundo e sim, tenho esta mania de fazer isso antes de falar com alguém:
— Majestade, vou direto ao ponto como o senhor tinha me pedido. Não tenho 100% de certeza, mas suponho que a enfermidade que o senhor tem foi provocado por bebidas, fumo e alimento mal lavado. — Falei mas acabei sendo interrompida por ele.
— Não estou entendendo, o que isso tem a ver comigo? — Perguntou enquanto franzia a sua testa.
— Por favor, me deixe continuar. Esta doença provavelmente ainda não tem nome, mas já conheci pessoas que sofriam disso e poucos sobreviveram. A única coisa que posso te dizer é que, se o senhor não seguir as recomendações que irei te dizer, certamente não irá viver por muito tempo, já que o que tem lá dentro de seu estômago pode te matar a qualquer momento. E não estou dizendo que isso realmente irá acontecer de fato, mas isso dependerá muito do senhor. — Falei tentando ser a mais sincera possível.
— Então, quer dizer que não sabes o nome da minha doença e que muito menos tem certeza do que sejas? Entendo, deve ser alguma doença que acabei pegando em alguma viagem que tenha feito meses atrás. E quais seriam as recomendações? — Disse finalizando com um suspiro.
— O senhor viajou? Não sabia disso, devia ter me dito naquele dia que fomos até ao teu quarto para fazer aquela verificação. Mas enfim, quero que o senhor pare de beber definitivamente e que mude a tua alimentação. Tipo, parar de comer tudo que for azedo e se o senhor fuma alguma coisa, peço que pare também, juro que é para o seu próprio bem e espero que isso ajude a amenizar os sintomas da tua enfermidade. Mas o senhor não é obrigado a seguir as minhas recomendações, a escolha é tua. — Falei o encarando.
— Bom, confesso que isso será a coisa mais difícil que farei na minha vida. Mas se isso for para me ajudar, irei seguir e torcer para que consiga ter mais algum tempo de vida. Obrigado por ter aceitado o desafio e mais uma vez, estava errado por ter feito tudo aquilo contigo naquele dia que nos conhecemos. — Disse enquanto mexia em sua barba.
— Fico feliz que o senhor irá tentar seguir e foi um prazer em tentar te ajudar. Esqueça disso, melhor deixar no passado que é o lugar dele. — Falei soltando um sorriso de lado.
— Tens razão e acho que terminamos a nossa conversa, certo? — Disse já se levantando da cadeira.
— Certo! — Afirmei enquanto fazia o mesmo.
Então, andamos em direção a porta e assim que abrimos, alguém caiu de frente para o chão e para a nossa surpresa, era o Conselheiro Peter que se levantou todo sem graça:
— Não estava ouvindo a vossa conversa e sim, estava criando coragem em bater na porta para comunicar ao Rei que ele tem uma reunião com o Duque da Itália. — Disse ajeitando a sua roupa que tinha se amarrotado por conta da queda.
— Vamos fingir de que acreditamos no que acabou de nos dizer, Peter. Devia se envergonhar em ficar ouvindo as conversas alheias, estou muito decepcionado. — Disse fingindo de que realmente estava mesmo.
— Mas senhor, me deixes explicar... — Disse e logo em seguida, foi interrompido pelo Rei.
— Mais nada, Peter. — Retrucou o deixando falar sozinho.
Apenas o segui e me controlava para não rir desta cena impagável do Peter sendo "zoado" pela sua Majestade. Enfim, o Rei Carl disse que o meu dia estava livre e poderia fazer o que bem entendesse, mas que me pediu para não me meter em confusão. Com isso, ele se retirou e aposto de que agora vai se encontrar com este Duque da Itália.
Ok, por alguns segundos ele pareceu com o meu pai e quando menos esperava, senti as lágrimas rolarem em meu rosto. Sinto muita falta de minha família, até do meu irmão Luís Felipe que é o que me deixava mais louca.
Já que o mesmo adorava me provocar e não perdia uma oportunidade de me fazer passar vergonha na frente de todos. Mas em alguns momentos, ele me protegia das pessoas que queriam me machucar tanto no emocional e tanto fisicamente.
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