Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Contra o Mundo

O destino não é tão importante quanto a jornada.
Jack Sparrow

Mar do Guardião

Acordar com Diana em seus braços fez o corpo de Leona se iluminar por dentro. O calor de seus corpos nus juntos a fez suspirar, tendo preguiça de abrir completamente os olhos.

Os raios do sol que entravam pela janela iluminavam todo o ambiente ao redor, indicando que o dia já havia raiado há muitas horas. Encarou Diana com um sorriso bobo no rosto, ela ainda ficava linda mesmo com a cara completamente amassada no travesseiro, totalmente enrolada nos lençóis e com seus longos cabelos brancos espalhados pela cama. Sua expressão era tão calma, tão doce, que só de olhá-la Leona conseguia esquecer todas as mazelas do mundo, esquecer o quão difíceis as coisas eram. Memorizou cada detalhe que pôde, até aqueles que Diana não gostava, aqueles que ninguém reparava. O nariz fino e levemente arrebitado na ponta, os olhos expressivos e amendoados, as cicatrizes pelo corpo, os gostos, as manias, os trejeitos, os erros e as covinhas ao rir.

Ver uma alma nua era lindo, e ao mesmo tempo era assustador.

Leona guardou cada traço, cada curva e abismo que Diana carregava consigo, torcendo para que o tempo não roubasse dela a lembrança do seu rosto.

Amá-la era como celebrar uma festa pagã para um deus sol distante, podendo sentir a luz preenchendo todas as lacunas do seu ser e curando todas as suas feridas mais antigas. Diana, de certa forma, a salvava, mesmo que Leona não precisasse de salvação alguma. Sempre a levaria consigo, de dentro para fora, nas pontas dos dedos e nas bordas dos pensamentos, em tudo, em cada pedaço do que já foi, do que era, e do que restou.

O quarto já estava claro demais para que a pirata pudesse manter os olhos fechados sem que o brilho do astro rei a incomodasse. Coçou as orbes com as costas dos dedos e separou as pálpebras vagarosamente, não conseguindo conter um sorriso singelo ao ver Leona deitada ao seu lado, a admirando como quem descobriu o mais valioso dos tesouros. A pele da capitã era banhada pela luz do sol em toda sua majestade, acentuando o brilho naturalmente dourado que ela exalava pelos poros. Seus cabelos avermelhados estavam espalhados pelo travesseiro e suas íris refletiam a resplandecência imponente que tocava as paredes da cabine. Era como se ela fosse o próprio sol.

As pontas das digitais de Leona deslizaram suavemente pela borda do rosto de Diana, afastando alguns fios de cabelo que ali estavam. Seu toque era quente e delicado, como o beijo do crepúsculo da manhã, carregando em seu carinho uma boa dose de emoção. A mais alta pousou sua palma aberta na bochecha alheia, assistindo a outra afundar o rosto em sua mão, buscando por mais contato. Os minutos passaram e elas perderam a noção do tempo enquanto se olhavam e trocavam carícias, ouvindo os pássaros cantando nos céus e os passos da tripulação já desperta, indo de lá para cá pelo convés.

— Tenho que levantar. — foi a primeira palavra proferida depois de um longo silêncio. Leona esticou o corpo, preparando-se para mais um dia. Ficaria o dia inteiro ali se pudesse, mas tinha deveres a cumprir e um navio para comandar. Diana, a princípio, nada respondeu, apenas murmurou alguma reclamação inaudível e enrolou-se mais um pouco nos lençóis, afundando o rosto no travesseiro.

Observou a capitã erguer o corpo e largar o conforto daquela cama quente. Todos os contornos do corpo dela eram majestosos, e não demorou muito para que Diana pudesse reconhecer algumas marcas que havia deixado ali no decorrer da madrugada. Haviam rastros seus por toda a superfície daquele corpo beijado pela alvorada, sutis, mas visíveis o suficiente para quem interessava ver, e aquilo já era mais que o bastante. Aquelas eram suas pequenas obras de arte e Diana orgulhava-se delas.

A ruiva se espreguiçou mais uma vez, numa tentativa vã de expulsar a moleza que lhe acometia. Deu alguns passos até a cômoda de madeira de abeto que ficava no canto do quarto, tirando de lá uma muda de roupas e uma toalha. Olhou para a pirata por um segundo antes de cruzar a divisória entre os cômodos e sumir, se dirigindo em direção a sua banheira que ficava num pequeno espaço no fundo da cabine, esperando que talvez um bom banho a fizesse finalmente despertar. Diana permaneceu ali encolhida, deixando que a preguiça e as lembranças da noite anterior a embalassem.

Leona não soube ao certo quantos minutos se passaram, só sabia que tinha ficado muito mais tempo no banho do que o necessário. Os pensamentos tomaram conta da sua mente, e quando se deu conta seus dedos já estavam enrugados pelo tempo que ficou submersa na banheira, sentindo a água levar a confusão que percorria suas veias. Quando finalmente saiu para vestir-se, olhou seu corpo no espelho, fixando suas orbes por tempo demais nas impressões e assinaturas que Diana deixou em seu corpo. Não pôde evitar de sorrir, deslizando os dedos pelos relevos e marcas ali existentes, lembrando-se como cada uma foi feita. Eram como uma arte abstrata, a mais bonita delas. A pirata havia lhe deixado muitas marcas, a maioria muito além do corpo, onde não se podia ver, invisíveis aos olhos, mas rubricadas na memória e no fundo da alma.

Dos crimes que Diana já cometeu, aquele era o mais perfeito, e os vestígios daquele pecado estariam sempre gravados nas paredes do âmago de Leona, como uma ferida que jamais se curaria.

A mais baixa, que ainda jazia deitada, despertou de seus devaneios ao ver a ruiva parada na porta, vestida com um de seus exuberantes trajes. Podia dizer que ela estava linda, mas naquela altura não haviam palavras o bastante para descrevê-la. Leona aproximou-se com um sorriso discreto estampado em seus lábios naturalmente avermelhados, dando um beijo na testa de Diana, que fechou os olhos para que pudesse sentir toda a ternura e apego que a capitã sentia por ela, dita através de um gesto tão despretensioso.

— Tenho que ver como as coisas estão, mas pode ficar aqui o tempo que desejar. — Leona se afastou. — Vou estar no convés se precisar de mim. — Diana nada respondeu, apenas acenou positivamente com a cabeça, vendo a ruiva sair e fechar a porta da cabine.

A capitã suspirou, deslizando o solado de suas botas azuis pelo piso do deque superior, cumprimentando os tripulantes que passavam por ela. Dava pequenas ordens a alguns deles, como garantir a conferência dos suprimentos do navio, troca das adriças e checagem das velas. Tudo parecia em perfeita ordem e Leona via-se orgulhosa da dedicação de seus homens, que faziam questão de cuidar de tudo mesmo que ela não estivesse presente. Dado que tudo estava devidamente organizado, dispensou alguns homens do trabalho para que descansassem, afinal, uma parte ainda estava visivelmente de ressaca e com fortes dores de cabeça, mereciam um bom descanso depois de uma noite de bebedeira. Leona era rigorosa, com certeza, tinha que ser, mas não era desumana nem casca grossa.

Ao rodar os olhos pelo convés avistou Atreus em seu posto habitual, com as mãos sobre o timão, exibindo seu uniforme vermelho vinho bem asseado, postura ereta e sobrancelhas levemente franzidas. Ele observava o horizonte com os olhos cheios de encanto e seu peito se enchia com fôlego de vida toda vez que a brisa quente batia nas velas e voltava, bagunçando um pouco suas vestes e seus cabelos castanhos, como se levasse embora todos os seus anseios, cortando seu interior em desordem e anarquia. Atreus era um homem simples, e as coisas triviais eram as que mais o fascinavam. Era alguém que reparava nos detalhes, naqueles mais instangíveis.

— Bom dia, capitã. — o imediato saudou ao ver a mulher subir as escadas do tombadilho. — Como passou a noite? — perguntou, mesmo que a expressão radiante no rosto de Leona já entregasse uma resposta suficientemente clara, mas Atreus queria ouvi-la mesmo assim.

— Muito bem. — a mulher sentiu seu rosto ficar quente por um segundo. — E como está a ressaca?

— Minha cabeça dói um pouco, mas vou sobreviver. — o homem sorriu. — A propósito, chegaremos em Ionia em algumas horas, quais são as ordens?

— Entregar os condimentos nos vilarejos próximos, especiarias e matérias primas devem ser dadas para os Kinkou e para Irelia, eles saberão como distribuir nos cantos mais remotos e no restante das vilas.

— Certo, e depois? — Atreus olhava para Leona de rabo de olho, meneando com a cabeça ao perceber que ela buscava em vão por uma resposta convincente. — Você não faz ideia.

— Não irei tentar esconder, realmente não faço.

— Quem é você e o que fez com a capitã? — o imediato caçoou, sentindo a ruiva lhe dar um empurrão fraco. Ela costumava ser metódica, sempre sabendo para onde ir e o que fazer, mas Diana conseguia deixá-la sem rumo e aquilo era algo para se admirar. Era curioso e até bonito de se ver, a maneira com que uma despertava na outra aspectos ocultos e inesperados, seus padrões eram graciosamente quebrados pela paixão e naquelas pequenas lacunas de fragilidade era possível enxergar o quão profundo aquilo era, mesmo em suas sutilezas.

— Para. — Leona revirou os olhos, mas não conseguiu esconder seu riso. — Acho que quando se trata de Diana, eu nunca sei coisa alguma.

— E não tem mais medo disso?

— Sempre tive, mas mudei de lugar algumas incertezas. — fraziu os lábios. — Não quero deixar que isso atrapalhe, nem sei quando vou vê-la outra vez. — apertou os olhos por alguns segundos, dizer aquilo em voz alta fazia com que tudo ficasse ainda mais palpável. — Acha que estou sendo emocional demais?

— Pensamentos não são honestos, emoções são. — Atreus virou-se para Leona, a olhando com ternura enquanto pousava uma de suas mãos no ombro alheio, fazendo um carinho singelo em sua melhor amiga. — Veja, todos iremos partir desta vida um dia, e isso deveria ser o suficiente para que fossemos capazes de amar uns aos outros, mas não é. O que vocês têm é raro, e eterno, é amor e nunca deixará de ser. O importante não é porque lutar, e sim, por quem lutar.

— Lutar por um amor impossível.

— Esse sentimento é muito maior do que vocês duas, é sabido que arde aí dentro. — o homem deu um sorriso sem mostrar os dentes, vendo que Leona o encarava com as sobrancelhas levemente franzidas. — É melhor que deixe cintilar do que fingir que não queima, é assim que é, é assim que vocês são.

— Você sempre sabe o que dizer, não é? — a mais baixa soltou um pouco de ar pelo nariz, colocando sua mão sobre a do imediato. — Obrigada por estar aqui para mim, eu não sei o que faria sem você.

— E aqui eu ficarei. — Atreus pousou uma das mãos na lateral do rosto de Leona, que pôde sentir a textura da palma calejada do homem sobre sua pele. Seu toque era tão firme quanto delicado e saber que aquele gesto de tamanho afeto era reservado apenas para alguns poucos sortudos deixava-o ainda mais especial. Leona e Atreus romperam a barreira da amizade a muito tempo, tornando-se a família um do outros, presenteados pelos deuses com uma irmandade que ia além da vida e a falta de laços sanguíneos entre eles não fazia diferença alguma. Eram irmãos em essência e aquilo jamais poderia ser mudado, não era mundano, era celestial, muito mais do que algo que se podia ter, era ser. — Eu te amo, está bem?

— Eu sei, eu também te amo. — sorriu a ruiva. Não costumavam falar aquelas três palavras com frequência - até porque não precisavam - e aquilo só tornava os dizeres mais verdadeiros. Preferiam atitudes a palavras bonitas, mas era reconfortante dizê-las e ouvi-las vez ou outra. — Acha que ela vai ficar brava quando perceber?

— Perceber o que? — de repente, Diana se mostrou no pé da escada, vestindo o uniforme cinza e preto que havia ganho de Leona. A dupla de amigos se olhou com as orbes arregaladas, fazendo a pirata rir. — Eu sei o que vocês estão fazendo. — cruzou os braços e arqueou uma das sobrancelhas, contendo um riso com a expressão de confusão no rosto dos dois.

— Sabe?— Leona e Atreus disseram em uníssono, juntando as sobrancelhas.

— Não estamos indo para Águas de Sentina, com essa maré e esse vento deveríamos ter chegado lá a horas. — a platinada andou pelo tombadilho, apoiando as costas no casco da popa e dando de ombros. — Desviaram o curso para Ionia, não foi?

— E como você chegou nessa conclusão estarrecedora?— Atreus voltou a conduzir o leme e Leona se colocou ao lado de Diana.

— Eu conheço o Mar do Guardião com a palma da mão, navego por essas águas de olhos fechados. — respondeu a pirata, com um certo ar de soberba na voz. — E também ouvi alguns dos seus homens dizerem algo sobre uma entrega em Navori na próxima lua cheia. As pessoas conversam alto aqui, é fácil de ouvir.

— Você sabe que é falta de educação ouvir a conversa dos adultos?— Atreus caçoou, levando um tapa fraco na cabeça como resposta.

— Não está… brava? — Leona indagou, cruzando os braços um pouco abaixo do peito. Sabia o quanto Diana estava ansiosa para voltar ao seu barco, reencontrar seus homens e viver sua vida habitualmente imoral, temendo que ela pudesse ficar brava ou chateada pela capitã ter tomado aquela decisão pelas suas costas - mesmo que fosse improvável que aquilo acontecesse. Mas, mais do que isso, temia que estivesse passando por cima dos desejos da platinada sem perceber quando pensou em levá-la para a Lua Sangrenta. Sabia o quanto aquele evento era especial para ela, uma data única, repleta de singularidades e segredos que Leona nunca pensou em sequer almejar conhecer um dia, não conseguia parar de pensar nas palavras de Diana quando ela lhe disse que queria que fosse especial, algo que ela queria guardar para sempre. Temia não poder fazer aquele momento ser dileto o suficiente.

— Eu te contei sobre a Lua Sangrenta por uma razão. — a platinada baixou levemente o queixo. — Eu não teria nada para celebrar em Ionia sem você. — respondeu, sem olhar a ruiva diretamente nos olhos. Leona era o seu recomeço, sua mudança, sua esperança, e se tinha alguém que poderia fazê-la carregar as memórias daquela noite por toda a eternidade, através dos mares e dos ventos, esse alguém era ela. As horas passariam, os dias seriam esquecidos, mas os momentos não. Esses seriam guardados, na mente e no coração, para toda a vida.

Leona foi o motivo de todas as suas boas lembranças e em todos os momentos, em todas as suas quedas e em todas as suas escolhas ela estava lá. Em todos os seus dias mais importantes a ruiva estava presente, e não seria diferente agora.

Por um momento o assunto se encerrou e os três permaneceram repousados na calada do sol do meio dia. Ionia estava somente a algumas horas de distância, e quanto mais perto estavam de seu destino, mais seus corações se apertavam. Tudo ficava mais palpável com o passar dos minutos e o fim era uma rota da qual não se podia desviar, era melhor aceitar o seu destino do que lamentar por ele. Aquele não era seu primeiro fim, e talvez não fosse o último, mas não importava quantos finais aquela história tivesse, tentavam sempre fazer com que todos eles fossem felizes, ou, pelo menos, não tão tristes.

A brisa quente dançava pelo ar, contando-lhes segredos de um passado antigo, os mesmos ventos que carregavam a mudança e as consequências dela. Atreus permanecia com os olhos na imensidão azul, nunca deixando de sentir a forte presença das duas mulheres atrás de si. Pensava em sua juventude, nos dias que passaram contando histórias e nas promessas que fizeram sentados em algum telhado tarde da noite. Se perguntava o que seu jovem eu pensaria de tudo aquilo agora, e se os culparia por todas aquelas promessas não cumpridas e por aqueles sonhos jamais realizados.

No fim, a vida era muito mais do que frases bonitas escritas num pergaminho, mas uma coisa nunca poderia ser mudada: seriam sempre os três contra o mundo, e aquela promessa nunca poderia ser desfeita. O que os unia era mais forte do que qualquer ligação puramente profana.

O homem respirou fundo e antes que demais pensamentos pudessem preencher a sua cabeça, um dos tripulantes surgiu no pé da escada, lembrando Leona e Atreus de que as manobras e polias da enxárcia da mezena não haviam sido conferidas. O homem olhou para sua capitã, que apenas deu um aceno de cabeça para o imediato antes de proferir um: — Você sabe melhor de detalhes técnicos do que eu.

Deixando Diana e Leona sozinhas no tombadilho, Atreus desceu para o convés, fazendo com que o rumo da embarcação ficasse ao comando da ruiva.

— Quer dirigir? — a mais alta perguntou, causando surpresa com sua fala repentina.

— O que? Não, eu não…— Diana se atrapalhou com as palavras, gesticulando com as mãos, levemente afoita. — É seu navio. — encolheu os ombros.

— Bom, eu desviei o curso sem você saber, o mínimo é que eu deixe que você nos conduza até lá. — Leona deu de ombros, segurando a roda do leme com uma das mãos, esperando que a platinada se aproximasse.

Diana segurou os apoios de madeira do timão, percebendo o quanto ele era firme e pesado, provavelmente por ser de alguma madeira fina que ela passaria distante de saber qual era. Uma felicidade simplória a atingiu, faziam dias que não via seu navio, e por mais que aquela embarcação estivesse anos luz de parecer com a sua, sentiu-se em casa por um momento. Pilotar o Plenilúnio Prateado era uma de suas tarefas favoritas como capitã, conduzir seu navio tão amado simbolizava que ela estava tomando as rédeas de sua própria vida, trilhando sua própria estrada naqueles mares tão violentos, e isso a fazia sentir um imenso orgulho.

— Mal posso esperar para contar a eles que dirigi o Estrela da Manhã, vão me encher de perguntas. — disse, mais para si mesma do que para Leona. Teria tanto para contar quando voltasse.

— Deve estar ansiosa para vê-los outra vez.

— E estou! — exclamou a Lunare. — Espero que Sarah esteja cuidando bem do meu navio.

— A Fortune? Não me admira que vocês se conheçam. — a ruiva apoiou os antebraços no parapeito atrás da roda do leme, observando Atreus caminhando e conversando com os tripulantes, com Lumen pousado em seu ombro esquerdo.

— Me admira que você a conheça.

— Fortune e eu temos nossas… diferenças. — deu de ombros. — Não temos muitos interesses em comum.

— Eu imagino que não. — Diana riu. — Ela te respeita muito, apesar de te detestar.

— Oh, ela disse isso? — Leona franziu as sobrancelhas em surpresa, vendo a pirata assentir com a cabeça. — Bom, então diga a ela que o sentimento é mútuo.

— Vou dizer. — olhou para a capitã de soslaio. — Como a conheceu?

— Ela tentou roubar meu navio uma vez. — Leona respondeu, rindo pelo nariz ao lembrar de tal… infortúnio. Diana arqueou uma das sobrancelhas, surpresa com a tamanha casualidade com que a ruiva falava sobre o assunto. Tentativas de saque ao Estrela da Manhã deviam ser eventos frequentes. — Apreendi alguns de seus homens na invasão, e depois de trocar algumas palavras hostis, fechamos um acordo de paz em troca da liberdade deles. Mando bebidas e estoques de pólvora para ela e ela me dá acesso livre aos arredores de Água de Sentina.

— Vindo da Sarah, isso não me surpreende. — Diana meneou com a cabeça, revirando os olhos de leve. — Ela acha que está acima de qualquer pessoa.

— Mas eu não sou qualquer pessoa, e ela sabe disso. Apesar deste inconveniente, mantemos uma relação… estável, caso ela não tente bancar a rainha dos piratas para cima de mim outra vez. —  Leona tirou os antebraços do parapeito, observando Diana, que tinha as mãos firmes sobre o timão. — Vocês são amigas ou algo assim?

— Bom, não se costuma ter amigos quando se é um pirata, estamos sempre tentando passar a perna uns nos outros. — Diana respondeu casualmente, sentindo toda a atenção da capitã sobre ela. Gostava da maneira que Leona prestava atenção nas coisas e em como ela parecia sempre interessada no que a mais baixa tinha a dizer, parecendo sempre guardar todas as suas aventuras e histórias de pirataria bem no fundo da memória. — Mas, eu sei que eu sou uma das poucas pessoas que ela verdadeiramente respeita, temos certo apreço uma pela outra, então, talvez dê para chamar isso de amizade ou coisa parecida.

— Fico feliz por isso. — a mais alta disse, verdadeiramente contente ao ouvir tais palavras. A confortava saber que Diana não estava mais sozinha no mundo, por mais que ela nutrisse relações estranhas com pessoas mais estranhas ainda, ao menos ela tinha relações para manter. Sabia que a platinada não era muito fã de pessoas, de maneira geral, mas só de saber que ela estava se abrindo aos poucos a construir laços com outros seres humanos era o suficiente para que o coração de Leona se acalentasse. Naqueles anos todos que passaram longe, temia que Diana ficasse sozinha. Por mais que às vezes ela preferisse que fosse assim, sabia que a pirata gostava de ficar sozinha, não de ser sozinha, e isso era uma das coisas que mais a apavorava. Diana havia feito uma progressão extraordinária em sua maneira de viver desde que foi embora, conquistado coisas, lugares e pessoas. Tinha amigos de verdade, por mais que fossem poucos em número, e uma tripulação fiel, e aquilo por si só já se bastava.

— O que vai fazer quando isso acabar? — indagou Diana. Não sabia como Leona interpretaria aquela pergunta tão ambígua. Haviam muitas respostas para um questionamento tão simples, e a Lunare não sabia ao certo qual delas gostaria de ouvir. Suas vidas eram cheias de propósitos, e queriam saber uma da outra os seus desígnios, mesmo que não fizessem, diretamente, parte deles.

Porém, mesmo que não estivessem juntas em corpo, haveria sempre pegadas de Leona nos caminhos que Diana percorresse, e sempre restariam marcas de Diana em todas as paredes levantadas por Leona. Estavam sempre presentes na vida uma da outra, mesmo em suas ausências,  indiretamente fazendo parte de suas respectivas quedas e triunfos.

— Estou longe de acabar o que comecei, e ainda me resta um mundo inteiro para ver.

— Só não o conquiste antes de mim.

— Eu já conquistei o melhor dos mundos. — riram baixo em uníssono com a frase. Declarações e imensos textos de amor nunca foram o forte delas, era nas entrelinhas que tudo era dito em sua forma mais crua. — Mesmo que seu tesouro nunca seja meu. — Leona olhou para Diana, tendo um sorriso delicado estampado nos lábios e uma expressão calorosa no rosto.

— Você nunca sai dessa de mãos vazias. — a mais baixa agarrou o pingente de lua em seu pescoço com uma das mãos, encarando o adorno complementar ao seu que enfeitava o arredor do colo da Solari. —  Eu posso ser a pirata, mas é você que rouba de mim quase tudo antes de partir.

— E eu te entrego tudo o que tenho antes mesmo de te ver chegar. — discretamente, despiram-se de suas armaduras, derrubaram suas muralhas internas. Compreendiam-se em suas fragilidades, pois carregavam as mesmas misérias dentro de si. O mundo continuaria girando e, no fim das contas, tais palavras não mudariam o curso de uma sina inabalável, e talvez tudo fosse mais fácil se guardassem dentro de si o que sentiam. Mas aquilo era bonito demais para que deixassem apagar em melancolia. Não queriam ser sufocadas por um amor tão extraordinário, nem senti-lo com angústia ou dissabor.

— Tem sido uma linda luta, não é? — Diana suspirou, olhando Leona no fundo dos olhos enquanto tentava conter em seu peito algumas lágrimas que teimavam em querer sair. Ela era assim: estúpida para falar de amor. Mas, se fosse com Leona, ela o faria.

— A mais nobre delas. — uma carga de emoção tomou conta da alma da capitã. Diana era o amor mais lindo que teve a sorte de conhecer, e lutaria até o fim por ela. — E ainda é.

Não souberam quantas horas levaram no caminho até Ionia, o tempo era só uma leviandade em meio a lonjura que as levavam até o fim.

Afinal de contas, aquela era a mais grandiosa das jornadas, e o destino iminente já não parecia grande demais.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro