Chào các bạn! Vì nhiều lý do từ nay Truyen2U chính thức đổi tên là Truyen247.Pro. Mong các bạn tiếp tục ủng hộ truy cập tên miền mới này nhé! Mãi yêu... ♥

Alvorada Radiante

É inebriante segurar a vida e a morte na palma de sua mão.
- Jack Sparrow

Targon

O nascer do sol estava lindo naquele dia e o cantar das gaivotas foi o primeiro som que ela ouviu assim que abriu os olhos.

Embora Diana fosse o tipo de pessoa que preferia a noite, que optasse ter como companhia a lua e as estrelas na escuridão do alto mar, não tinha como negar a beleza daquela aurora, aquele brilho era um verdadeiro deleite para seus olhos cansados. A brisa da manhã bagunçava seus cabelos brancos e balançava a camisa que ela usava, uma das únicas peças de roupa que lhe foram deixadas.

Sentiu aqueles primeiros raios solares acariciarem o seu rosto suavemente, experimentado o beijo cálido da alvorada em sua pele branca e ouvindo o chão de madeira ranger sob suas botas pretas. Seus pulsos estavam algemados firmemente e o som metálico do balançar das correntes soava estridente aos ouvidos da pirata. As únicas partes livres de seu corpo eram suas pernas, já que seu pescoço estava envolto numa corda suspensa sobre ela. Não estava pronta para morrer, não naquela hora, nem naquele dia, mas não havia mais nada que pudesse ser feito. Preferia aceitar o seu destino do que lamentar por ele.

Estava sozinha, sem tripulação e sem navio. Embarcou sozinha naquela aventura, apesar de seus fiéis bucaneiros insistirem para acompanhá-la, aquele tesouro que Diana fora buscar era algo só dela, não tinha valor para mais ninguém. Sabia que era perigoso voltar para Targon, sabia das chances de ser pega, mas aquela terra havia tirado tudo dela, e não deixaria em suas mãos algo que era dela por direito, uma jóia sem nenhum valor monetário, mas com um grande significado. Mesmo assim, não iria arriscar a vida da sua tripulação por algo trivial, só para satisfazer o seu capricho.

De qualquer jeito, sabia que aqueles cães sarnentos estavam a salvo, e seu navio também. Os Lunare eram sua família, e a confortava saber que em algum lugar daquele mundo haviam pessoas que lamentariam pela sua morte. E assim ela morreria: indigna, sem embarcação, sem tripulação e sem um par de botas decentes.

Olhou o sol mais uma vez, esperando pelo momento que não sentiria mais o chão sob seus pés. Cantarolava baixo uma antiga cantiga pirata, esperando que, talvez, algum espírito naufragado perdido pelo mar a tirasse daquela forca. Respirou fundo, sentindo o cheiro da magia que Targon exalava tomar conta de suas narinas uma última vez.

Deveria sua vida a alguém que a salvasse, mas ninguém ali se importava com ela, todos queriam vê-la morrer, cabia a ela somente aceitar seu cruel destino.

- Últimas palavras? - um soldado do exército de Targon se aproximou de Diana por trás, falando baixo em seu ouvido. A mulher manteve-se firme, não vacilando o olhar por um momento sequer. - Ainda pode implorar por perdão. - O homem riu e Diana pôde sentir o ar que saía daquela boca fétida bater em sua orelha.

- Nunca. - respondeu, monossilábica.

O soldado deu de ombros, sorrindo, afastou-se um pouco e proferiu: - Matem a herege.

Diana fechou os olhos, ouvindo a morte bater à porta. Tudo o que queria naquele momento era uma garrafa de rum, braços livres e o privilégio de encarar a lua na escuridão da noite uma última vez. Não pôde evitar deixar uma lágrima singela escorrer pelo seu rosto, seu pior pesadelo estava acontecendo, iria morrer pelas mãos de Targon, sem honra e sozinha. Lhe tiraram tudo, e agora iriam tirar sua vida.

Suspirou mais uma vez e por alguns segundos Diana pensou que talvez estivesse alucinando, porquê antes de sentir o chão falso se abrir sob seus pés, antes de sentir-se sufocada agonizando pendurada com uma corda no pescoço, uma voz protestou.

- Espere! - Todos os olhares se voltaram para de onde vinha a tal voz, até mesmo Diana abriu os olhos.

- Capitã Leona? - Taric se levantou de sua cadeira magistral, confuso com todo aquele alvoroço. - O que faz aqui? - o homem franziu as sobrancelhas, intrigado.

Diana, que estava literalmente com a corda no pescoço, observava tudo com as sobrancelhas juntas e os lábios entreabertos. Leona estava ali, brilhando como a alvorada mais radiante, depois de todos aqueles anos ela estava ali para interceder por Diana, como sempre.

Não importava quantos anos se passassem, Leona sempre estava ali para protegê-la. Sempre fora daquele jeito, desde a mocidade, era como se Leona segurasse a vida de Diana com as próprias mãos.

Não era um espírito naufragado, nem uma alucinação, era muito, muito melhor do que isso.

- Podemos conversar por um minuto? - perguntou Leona, parada em meio a multidão de pessoas enfurecidas. Todos ali estavam loucos para ver aquela execução, loucos por um pouco de sangue nas mãos. Diana era uma pirata famosa, com uma lista de ações consideradas crimes pela monarquia de Targon - mas não por ela mesma, é claro. Achavam que ela jamais ousaria colocar os pés ali de novo, até aquele dia.

Mas, Diana não era uma criminosa (não do tipo cruel) e Leona sabia disso.

Porém, apesar de irritados com a interferência da capitã, ninguém ousava ir contra ela. Apesar de não obedecer ao governo Targoniano - e nem a ninguém - Leona era muito respeitada. Tinha uma frota enorme, composta pelos melhores homens e mulheres, a mais habilidosa das tripulações, que só não eram mais habilidosos que a própria Leona.

Além de tudo, era uma grande comerciante, sendo em muitos lugares a maior fornecedora de óleo, armamento e especiarias, carregando uma grande influência consigo como consequência do grande monopólio que tinha em suas mãos. Leona construiu, sozinha, um império inteiro, e aquilo era suficiente para fazer com que reinos inteiros caíssem aos seus pés.

Após alguns minutos pensando, Taric concordou em conversar, fazendo um gesto com a mão para que Leona o acompanhasse até o salão dos monarcas. Por hora, a execução seria interrompida. A capitã assentiu, satisfeita, olhando Diana nos olhos e sorrindo sem mostrar os dentes antes de entrar no salão.

- E então? - o homem iniciou, servindo uma taça de vinho para si e para Leona, que aceitou a bebida de bom grado.

- Quero a revogação da execução de Diana.

- Sabe que não posso fazer isso.

- Pode. - Leona rebateu. Conhecia as leis de Targon muito bem, melhor do que Taric jamais conheceria. - Diga-me, Diana matou algum cidadão de Targon?

- Não.

- Cometeu crimes diretos contra a coroa?

- Sim.

- Pode provar isso?

- Não. - respondeu o general. Tinha muitas acusações contra Diana, porém sem provas concretas suficientes para condená-la. A pirata nunca cometeu nenhum crime direto contra Targon nem contra sua coroa, mas todos queriam vê-la morta por sua rebeldia, por fazer as coisas do seu próprio jeito e por lutar por ideais não aceitos por aquela sociedade. Sabendo disso, seria impossível debater com Leona, ela era astuta e inteligente, de um jeito que poucas pessoas no mundo eram.

- Então, seja lá quais foram os crimes cometidos por ela, são todos passíveis de execução. - Leona continuou, andando pelo salão com sua taça de vinho meio cheia em uma das mãos.

- Onde quer chegar? Você sabe que ela é uma herege rebelde, tem muitos crimes religiosos, roubos e vandalismos na ficha.

- Se bem me lembro, Taric, você também não tem a ficha muito limpa. - a mulher riu, deslizando o dedo anelar pela borda da taça. - Sei o que fez para chegar onde está.

- Já fazem anos, Leona. - o de cabelos castanhos arregalou os olhos azuis.

- Então, que diferença faria se alguém soubesse?

- Você não faria isso.

- Faria, se preciso fosse. - Leona mantinha uma expressão séria e inabalável no rosto.

- E acha que é preciso?

- Não sei, me responda você. - cruzou os braços.

Taric suspirou e bebeu um último gole de seu vinho, o sentido descer amargo pela garganta antes de responder - Não, não é preciso, porém ainda não compreendo seu ponto com tudo isso.

- O ponto é que, a execução de Diana pode ser revogada e sua pena anulada, desde que alguém assuma a responsabilidade por ela e por seus crimes. - a capitã finalizou sua taça de vinho, deixando-a sobre a grande mesa dourada do salão.

- E quem faria isso?

- Eu farei. - Leona se virou para o homem, que estava com uma feição intrigada. - Tomo responsabilidade pelas ações dela, e, em troca da liberdade de Diana, lhe ofereço dez barris de óleo de baleia e setenta moedas de ouro. - tirou o saco de moedas do bolso, o colocando nas mãos do homem.

- Vai sujar suas mãos e sua reputação por uma rebelde? O que acha que irão pensar quando souberem?

- Minha influência não é frágil, Taric, é preciso muito mais do que isso para abalar o que eu conquistei. - Leona endireitou o corpo, fazendo com que seu ar de superioridade crescesse ainda mais. - Não serei intimidada por suposições, tenho um império e monopólio de mercado, se quiser continuar a usufruir da nossa ótima relação comercial, irá aceitar minha oferta.

- Me parece uma proposta justa, mas não sei como explicarei isso ao rei.

- Diga a ele o que estou te dizendo agora, tenho certeza que ele vai entender. Então, feito? - Leona estendeu uma das mãos para Taric, que deliberou consigo mesmo por alguns segundos antes de retribuir o gesto.

- Sabe que Diana jamais poderá voltar a Targon, e que se ela voltar você não conseguirá salvá-la, não é? O rei não vai deixar que ela saia impune mais uma vez.

- Sei bem. - concluiu, se afastando do governador e indo para a porta do salão.

- Posso te perguntar uma coisa? - o general indagou e Leona assentiu positivamente, segurando a maçaneta. - Por que está fazendo isso por ela? Diana é apenas uma herege, afinal. - franziu as sobrancelhas.

- Prefiro deixar isso de fora dos termos do nosso acordo. - respondeu, ambígua. - Meus homens trarão os barris em alguns minutos. - Leona saiu do salão, fechando a porta atrás de si.

━━━━━━◇◆◇━━━━━━

Depois de algum tempo, sob protestos de algumas pessoas e murmúrios de outras, Diana foi tirada da forca. Vários papéis foram assinados e agora, sob custódia de Leona, ela foi perdoada por seus crimes desde que não voltasse a pisar em solo targoniano novamente.

Leona se aproximou mais um pouco, olhar a pirata nos olhos depois de tantos anos era estranho. Seu cabelo estava maior, seu corpo tinha mais cicatrizes e seu rosto apresentava algumas poucas linhas de expressão. Mesmo que os sentimentos de ambas nunca tenham morrido de fato, o tempo muda as pessoas, de um jeito ou de outro, para melhor ou para pior.

Porém, apesar de tudo, Diana ainda tinha aquele jeito obstinado, a atitude ousada e a ausência de qualquer medo no olhar. Mesmo com as mudanças, ainda era ela e Leona ficou feliz ao perceber aquilo. Diana podia ser uma criminosa, de fato, uma ladra e uma herege, mas não era má e não merecia morrer por ser quem era.

- Está bem? - Leona perguntou, pegando as chaves e tirando as algemas dos pulsos de Diana com delicadeza.

- Já estive melhor. - a de cabelos brancos esfregou os pulsos com as mãos, sorrindo sem mostrar os dentes para a capitã. Andaram um pouco até o porto do Targon, onde estava o navio de Leona. Agora, o dia já havia raiado, o sol brilhava forte e soberano no céu mais um dia, nenhuma nuvem ousava atrapalhar seu brilho radiante. Toda aquela luz incomodava um pouco Diana, irritando um pouco sua pele branca e seus olhos azuis. Todavia, estava feliz por poder sentir a luz do sol, pois significava que poderia admirar o brilho da lua quando a noite chegasse. - Então, esse é o Estrela da Manhã. - admirou o enorme navio. Era lindo, radiante e exuberante, assim como a capitã que o comandava.

- Conhece meu navio?

- E quem não? - Diana respondeu e Leona riu. Era verdade, não havia um só capitão nos sete mares que não conhecesse o saudoso Estrela da Manhã ou que já não tivesse tentado roubá-lo alguma vez.

A capitã subiu pela larga tábua apoiada entre o deck e o navio, com Diana logo atrás. A pirata observava tudo ao redor com admiração, Leona conseguiu tudo aquilo praticamente sozinha, ergueu seu reinado nos mares sem a ajuda de Targon e agora até mesmo o general do exército do rei deitava aos seus pés. Era admirável, e mais admirável ainda eram os frutos daquele poder que a capitã tinha em mãos. Aquele não era só um navio, era o símbolo de um vasto império.

- Atreus! - Leona chamou por seu imediato e melhor amigo que estava na gávea observando Targon de cima. O homem olhou para baixo, vendo sua capitã com a mão erguida e acompanhada de alguém que lhe era muito familiar. Prontamente desceu do cesto por uma das cordas do mastro central, rapidamente encontrando o convés.

Agora, de perto, Atreus pôde ver melhor quem era a companhia de Leona.

- Diana? - estava surpreso. Atreus, Diana e Leona eram um trio inseparável durante toda a infância e adolescência, porém, seguiram caminhos distintos na vida adulta.

A pirata sonhava em sair de Targon e ser livre, livre para não precisar mais fingir ser alguém que não era, livre para conhecer o mundo e desbravar os horizontes mais longínquos, conquistá-los, lutar pelo que achava justo e, principalmente, lutar por si mesma. Precisava encontrar seu lugar no mundo e atender ao chamado que o oceano tinha para ela, necessitava de mais, e sabia onde encontraria.

Buscava algo além dos mares, em lugares jamais vistos, tendo apenas a lua e as estrelas como teto.

E assim ela fugiu de sua terra natal, numa noite fria de lua crescente, apenas com alguns poucos pertences que conseguiu pegar e um navio roubado com a ajuda de seus amigos. Nunca mais voltou, até aquele dia.

Leona, por sua vez, também queria a liberdade, mas não para si. Amava seu país de origem, sua nação, seus costumes e religião, porém, tinha seus conflitos morais a respeito de como ele era governado. Sabia de toda a injustiça que havia e encarava isso de perto quando acontecia com Diana, que era condenada por questionar e não aceitar o que lhe era imposto, era julgada por pensar como pensava e agir como agia e era por esta razão que Leona sempre a defendia. Assim, a capitã queria poder proteger aqueles que eram injustiçados e dar-lhes oportunidades de serem livres.

Leona não precisava de liberdade, já era livre, sempre foi.

Desta maneira conseguiu sua fiel e antiga tripulação, ajudando pessoas por toda Targon conquistou seguidores obstinados e aos poucos conquistou seu império independente, se tornando tão influente ao ponto de conseguir interferir nas leis do país, deixando a vida dos Targonianos menos favorecidos melhor e mais justa. A monarquia era negligente, mas se quisessem continuar vivendo a vida confortável que tinham, deveriam manter boas relações com Leona.

Agora ela viajava o mundo, indo aonde os ventos marítimos a levassem, conquistando mais respeito, mudanças, admiração e novos integrantes para sua tripulação por onde passava, mas, claro, sem nunca deixar de lado seu país e as pessoas que lá viviam. Fazia a diferença por onde passava e aquilo era a única coisa que ela almejava.

Leona, a princípio, pensou em chamar Diana para acompanhá-la naquela jornada, mas não o fez. Sabia que a pirata queria trilhar seu caminho sozinha, escrever sua própria história e seu próprio destino, desbravar os mares e conquistar o mundo com suas próprias mãos. Seria uma jornada solitária, mas era assim que Diana descobriria seu lugar e seu propósito de viver. Só assim ela poderia deixar o passado para trás, viver o presente e vislumbrar o futuro.

Foi doloroso para Leona ver Diana partir, mas seria ainda mais doloroso vê-la ficar e sem infeliz. Aceitou aquela situação, mesmo sabendo que poderia nunca mais vê-la, e seu coração escureceu um pouco quando ela foi embora.

Desde então, trilharam caminhos diferentes, porém, mesmo que estivessem longe, o fio de amor que as unia jamais poderia ser cortado.

Atreus permaneceu com Leona, sendo seu homem de maior confiança e Diana foi sozinha atender ao chamado do destino. Agora, ali estavam eles, juntos novamente depois de anos.

- Atreus, você... não mudou nada.

- Igualmente, pirata. - Atreus sorriu, fazendo uma reverência curta. Estava contente em ver sua antiga amiga. Estavam crescidos e mais maduros, mas suas essências ainda permaneciam as mesmas de anos atrás. - O que deseja, capitã? - se virou para Leona.

- Vá para a cidade e veja se os carregamentos foram entregues corretamente. Alguns barris de óleo foram descarregados e dados ao general, peço que os verifique também. - o imediato assentiu, já se virando para sair da embarcação. - Ah, mais uma coisa, traga roupas para Diana.

- Sabe que eu não tenho muito senso de moda.

- Certo, então leve o costureiro com você, ele saberá o que trazer. - concluiu, e assim Atreus o faria.

Então, só restaram no navio Leona, Diana e alguns poucos integrantes da tripulação. Ainda estava cedo, o sol não atingira seu apogeu até aquele momento, ainda restava-lhes tempo para velejar antes que a noite chegasse.

- Sabe que não é necessário comprar roupas para mim, não é? Estou bem assim. - a pirata disse enquanto caminhavam pelo convés até a cabine de Leona.

- Sei que está, mas uma capitã precisa de roupas melhores. - Leona sorriu. Respeitava muito Diana, não só como pessoa, mas como a capitã que ela era. Sabia o quanto ela havia trabalhado para alcançar o lugar no qual estava, mesmo que seus meios não fossem dos mais lícitos e que ela não tivesse uma frota tão grande quanto a de Leona, Diana ainda era uma líder, e merecia ser tratada como tal.

A pirata ruborizou um pouco com a resposta, agradecendo.

- Atreus continua respeitoso, como sempre.

- Já disse a ele que não é necessário me tratar tão formalmente, mas ele insiste. - meneou com a cabeça. Mesmo sendo melhor amigo de Leona, Atreus raramente a chamava pelo nome, sempre preferindo tratá-la por capitã ou senhora na maior parte do tempo. Leona, por sua vez, nunca se acostumou com aquilo realmente, porém, sabia que aquela era a forma dele demonstrar afeto e respeito, então não protestava contra.

Leona abriu a porta de sua cabine, deixando que Diana entrasse primeiro. A de cabelos brancos andou pelo local por um minuto ou dois, observando tudo. Aquela cabine era maior do que a que possuía em seu navio, tinha mais coisas, livros, bebidas e coisas que Diana nunca tinha visto.

E, bem, também tinha mais janelas.

Era tão espaçosa quanto um cômodo de uma casa, até maior, dependendo da casa que se tivesse como referência.

Leona admirava as reações da pirata com as coisas que via, até que a observou ir em direção a um dos sofás sem encosto que ficavam embaixo das janelas, sentando-se e apoiando os braços no parapeito, observando o mar. Resolveu se aproximar, acomodando-se no espaço vago ao lado de Diana.

- Depois de todo esse tempo, você ainda volta para me salvar quando estou em perigo. - a pirata proferiu após alguns segundos de silêncio. Leona estava com a cabeça apoiada no batente de madeira da janela, observando o horizonte longínquo. Seus cabelos ruivos desciam como uma cascata por seus ombros, nem chegando a atingir a metade das costas. Seus olhos castanhos refletiam os raios solares como um espelho, realçando a ainda mais a beleza de suas orbes. Ela era tão brilhante, ardente e calorosa, como o sol. - Aonde quer que eu vá, sei que você está por perto.

- E quando a noite cai, sei que você está comigo. - Leona suspirou. - O destino me trouxe até você novamente.

- Nossos destinos andam juntos. - Diana sorriu. Leona sentiu falta daquele sorriso, daqueles olhos azuis tão intensos como o céu noturno e daquela pele branca como a lua. Seus detalhes ficavam lindos destacados pela implacável luminescência do astro rei, mas a pirata ficava ainda mais exuberante a noite, sob o brilho singelo do crepúsculo. Diana era misteriosa, imprevisível e implacável, como a noite.

- Como você está?

- Sabe como estou, está me vendo.

- Entendeu o que quero dizer. - Leona rebateu e a pirata suspirou.

- Eu achei o meu lugar, Leona. - ao ouvir aquela resposta, a de olhos castanhos não pôde conter a felicidade em seu rosto.

- Sabia dos riscos de voltar para Targon, então, por que voltou?

- Vim buscar um tesouro esquecido. - Diana levou a mão para uns dos bolsos de sua calça.

- É assim tão valioso para que valha arriscar sua vida? - Leona juntou as sobrancelhas, se preocupava demais com a mais baixa e preferia nunca mais saber dela do que vê-la morrer por qualquer tesouro que fosse.

- É mais do que valioso para mim. - a pirata disse, tirando o objeto do bolso e o deixando exposto na palma de sua mão aberta.

Leona observou aquilo com ternura, e seu coração se aqueceu, iluminando-se. Era o colar com pingente de lua que deu para Diana em seu aniversário de quinze anos, o mesmo colar que fazia par com o seu.

Ambas sorriram.

Aquele era o símbolo do laço que havia entre as duas, a representação de um dos poucos gestos de afeto que Diana recebeu ao longo da vida, das poucas vezes que sentiu que havia alguém nesse mundo para ela, da primeira vez que sentiu-se digna de amor e que sentiu que era verdadeiro.

Aquele colar era muito mais que um presente, era uma promessa, e Diana jamais deixaria alguém tirar isso dela.

Como em uma conversa silenciosa, as duas perderam a noção do tempo. Os olhos se encontravam aos poucos enquanto sentiam queimar dentro de si uma admiração, dúvidas e um sentimento inexplicável que lhes ardia no peito. Diana sabia que o mar mandou Leona para salvá-la naquele dia, e talvez aquela fosse a maior prova da existência de um destino. As marés haviam mandado Diana aos braços de Leona porque havia algo entre as duas, sempre houvera, algo que só poderia ser explicado em outras vidas, uma ligação que parecia ser mais antiga que o mundo. As almas se conheciam e elas não precisavam dizer mais nada. As palavras eram desnecessárias naqueles minutos.

━━━━━━◇◆◇━━━━━━

Antahir, Shurima

Leona acordou cedo como de costume naquela manhã, antes do sol nascer. Ainda estava um pouco frio e a brisa noturna ia se esvaindo aos poucos enquanto a capitã andava pelo convés, ouvindo as tábuas de madeira do navio rangerem sob suas botas marrons.

Alguns de seus tripulantes já estavam acordados, mas grande parte ainda dormia. Diana era um deles. Atreus cedeu a ela sua cama em seu pequeno alojamento na parte mais baixa do navio, que não era tão chique quanto a cabine de Leona, claro, mas era mais do que confortável para um homem simples como ele. A princípio, Diana rejeitou a oferta do homem, mas acabou cedendo ao perceber que não tinha muitas opções. Por hora, Atreus dormia nas redes com os outros tripulantes, o que não era um problema para ele.

Leona observou o horizonte estrelado por alguns segundos, sentindo um pouco de calor quando os primeiros raios de sol começaram a despontar por trás das montanhas mais ao longe. Deu meia volta e subiu as escadas em direção ao tombadilho, onde estava Atreus. O homem tinha suas mãos firmes no leme, mantendo os olhos atentos no imenso oceano a sua frente.

- Bom dia, capitã. - Atreus, ostentando seu uniforme azul marinho perfeitamente asseado e barba por fazer, saudou a mulher. O imediato costumava ser um homem sério, reservado e de poucos amigos, mas sempre fazia questão de sorrir para Leona. Ela era uma das únicas pessoas que mereciam ver o seu sorriso e uma das poucas que sabiam o que tinha de verdade por baixo daquele corpo cheio de cicatrizes.

- Bom dia, como passou a noite?

- Muito bem.

- E Diana?

- Ainda dorme mas parece bem, exausta, mas bem. - respondeu o homem, sabendo da preocupação de Leona. - Já temos um curso? - questionou, ainda com as mãos firmes sobre o leme.

- Águas de Sentina, por hora. - colocou uma das mãos sobre o ombro de Atreus antes de se virar e descer as escadas, voltando para o convés.

Leona pôde ver a luz da aurora atingir a proa do navio e nesse momento agarrou as cordas presas ao um dos mastros principais. Os fios eram entrelaçados como em uma rede e geralmente eram usados pelo navegador para chegar ao cesto da gávea, que ficava na parte mais alta do navio sobre a vela do traquete.

A capitã aos poucos foi subindo, sentindo a brisa ficar mais forte à medida que ia chegando mais alto, até alcançar o topo. Ouviu suas botas fazerem barulho ao caminhar sobre o pedaço de madeira estreito que segurava a vela até chegar ao cesto, porém sem subir nele. Ficou ali mesmo, olhando a vela chacoalhar de baixo dos seus pés conforme o vento cortava o ar incessantemente. Por mais que estivesse a metros do chão, não conseguia sentir o frio nem o medo de cair.

Já era possível ouvir o som dos pássaros cantando, alguns chegaram a bater asas ao lado dela e não se passou muito tempo até que Leona pudesse sentir um peso em seu ombro direito.

Era Lumen, o falcão que adotou Leona, por assim dizer. No começo de sua jornada como capitã, a mulher o libertou junto com outros pássaros raros de um cativeiro em Ixtal em troca de uma aliança comercial e Lumen pareceu nunca esquecer desse
dia. Ele acompanhava Leona por qualquer lugar que ela fosse, seguindo seu navio por onde quer que navegasse. O pássaro não ficava preso em alguma gaiola, muito menos acorrentado ao navio, estava sempre livre. Todos os dias Lumen ia embora ao anoitecer, mas sempre voltava ao nascer do sol. Mesmo sendo um dos menores de sua espécie, o falcão era inteligente e leal, como um melhor amigo deveria ser.

Os cabelos avermelhados de Leona balançavam com o vento e quando sentiu o romper da aurora lhe atingir em cheio, encheu os pulmões de ar. Era uma sensação indescritível, era seu fôlego de vida, aquilo que a fazia levantar todas as manhãs. Fazia aquilo todos os dias, e mesmo assim nenhum dia era igual, a sensação nunca era a mesma. Era sempre melhor, sempre. Ela amava o sol, a luz e o calor que ele trazia, não era segredo para ninguém, mas os primeiros raios eram ainda mais especiais para Leona. Era sempre mais que um nascer do sol, era um recomeço, uma nova oportunidade de fazer tudo diferente.

No convés, Diana, já desperta, observava a capitã lá em cima em toda sua majestade. Olhando assim, de longe, Leona parecia tão pequena comparada à imensidão azul sobre sua cabeça, estava tão alto que quase conseguia tocar o céu, e mesmo assim não tinha medo. Ela reluzia como o mais puro e sólido ouro, banhada pelo brilho da alvorada radiante.

Diana sorriu.

Após alguns minutos sentada sobre a vela do traquete, a de cabelos ruivos desceu ao passo que notou o despertar da tripulação, prontos para mais um dia de navegação a bordo do Estrela da Manhã. Leona se aproximou de Diana ao vê-la, observando que ela vestia um dos uniformes de capitã que lhe foram comprados no dia anterior, fazendo com que a mais alta ficasse ruborizada, tanto de admiração pela perfeição com que tais roupas caíam sobre Diana, tanto pelo fato de que ela mesma vestia apenas uma calça marrom, botas da mesma cor e uma camisa de botões branca, sentindo-se desarrumada.

Cumprimentaram-se com um sorriso e um aceno de cabeça ao passo que Leona foi para sua cabine vestir-se com uma roupa mais adequada.

A de cabelos brancos sorriu pelo nariz e balançou a cabeça em negação enquanto andava vagarosamente pelo convés, recebendo acenos e saudações de todos os tripulantes que passavam por ela. Todos os bucaneiros tratavam Diana com imenso respeito desde que ela pisou no navio, sendo sempre gentis apesar das dúvidas que tinham em relação a pirata. Não sabiam quem ela era, de onde vinha nem para onde ia, mas se ela tinha o respeito e admiração de Leona devia ser por uma boa razão. Se sua capitã confiava em Diana, a tripulação também o faria de olhos fechados.

A pirata suspirou, sentindo a brisa quente da manhã acariciar a pele branca do seu rosto. Apoiou os antebraços na parte superior do casco a estibordo do navio, curvando um pouco o corpo para frente e encarando o mar abaixo de si. Era possível ouvir o som da água batendo contra o corpo do barco suavemente, e isso a fazia pensar em sua tripulação. Sabia que eles estavam preocupados e mal podia imaginar a reação de seus homens quando ela voltasse bem e viva. Faziam três dias que eles não tinham notícias de sua capitã, mas Diana sabia que eles não partiriam sem notícias dela, não importava quanto tempo se passasse.

Voltou a ter as rédeas da própria liberdade quando foi salva por Leona, e nunca seria grata o suficiente pelo privilégio de ter a vida segura em suas próprias mãos mais uma vez.

Era uma benção ter direito ao curso do próprio destino.

Envolta em seus pensamentos, a pirata se assustou de leve ao que um lindo pássaro dourado pousou sobre o casco ao seu lado. O pequeno ser emplumado a encarou com seus olhos escuros, se aproximando da mulher aos poucos e pousando em seu antebraço. Diana olhou o animal por alguns segundos e sorriu sem mostrar os dentes, usando o indicador da sua mão que estava livre para acariciar a parte de baixo do pescoço do falcão, que tombou a cabeça para o lado ao seu toque.

- Olá. - Diana saudou a pequena ave, que apenas grasnou em resposta.

- Vejo que Lumen fez uma nova amiga. - Leona se aproximou e ao ouvir sua voz o falcão voou em sua direção, pousando em seu ombro. Parou em pé ao lado de Diana, que a encarava com o canto dos olhos.

- Ele é uma graça.

- Nem sempre. - a de cabelos castanhos deu uma risada. - Lumen não gosta de estranhos.

- Mas eu não sou uma estranha. - Diana descolou os braços do casco e endireitou o corpo, virando a cabeça e olhando Leona diretamente nos olhos. Sempre que seus olhares se chocavam, uma eletricidade percorria ambos os corpos e as almas se encontravam por inteiro. Era uma sensação gostosa e familiar, um sentimento cheio de ternura e nostalgia de um amor surgido na mais tenra idade, de anos longínquos que não voltariam mais.

- Tem razão. - o rosto de Leona se lumeneceu. Depois de alguns segundos encarando a face alheia num silêncio confortável, tirou um papel enrolado que estava preso na lateral de sua calça marrom e o abriu, segurando as bordas do grande pergaminho bege com ambas as mãos. Aquele era um mapa do mundo inteiro - ou, pelo menos, o que Leona conhecia dele - repleto de descrições e imagens dos lugares que já passou.

Diana segurou uma das pontas do papel gasto enquanto Leona permanecia segurando a outra, fazendo com que seus ombros se tocassem. A pirata olhou todas aquelas gravuras, encantada. Não havia visitado nem metade de todos aqueles lugares ainda, percebendo que havia um mundo inteiro para ser desbravado e saqueado por ela.

- Sabe onde seu navio está? - indagou a mais alta.

- Os mandei para o porto de tortuga em Águas de Sentina, ficarão lá até que saibam de notícias minhas. - respondeu e Leona apenas franziu as sobrancelhas sem proferir uma palavra. Diana era uma pirata extremamente conhecida em toda aquela parte do continente, seus feitos eram contados em todas as rodas de histórias. Grande parte do que se era dito sobre ela era exagerado, com excessos de vilania ou heroísmo dependendo de quem contava, mas independente da versão, todas elas continham sua boa dose de verdades. Caso ela estivesse morta a notícia se espalharia como água por todos os cantos, de Ixtal à Freljord.

- É o lugar mais remoto desta parte do oceano.

- Não podia deixá-los à vista da monarquia de Targon, com certeza o rei mandaria navios de combate atrás deles. - Diana cerrou os dentes, pensar em seu país natal nunca lhe trazia boas lembranças.

- Porque não os mandou ao porto de Demacia? Fica bem mais próximo e a corrente marítima é mais favorável até lá. - questionou Leona, com as sobrancelhas franzidas. - Ou mesmo para Shurima, o vento sempre sopra a favor do lado deles do continente. - a fala da capitã fez Diana rir baixo.

- Não tenho boas relações com Demacia, e com Shurima menos ainda. - respondeu, lembrando dos infortúnios que já causara nas duas nações.

Primeiro, há alguns anos, em uma de suas empreitadas pelo mundo, Diana fora conhecer a espetacular Shurima, cujo a beleza grandiosa escondia segredos ainda mais grandiosos por entre suas areias. No começo, iria só abastecer o seu navio e gastar algumas moedas roubadas com futilidades, botas de couro, especiarias de nomes impronunciáveis e, é claro, um bom rum, do tipo que só os Shurimanes sabiam fazer. Porém, Diana, sagaz como era, não pôde evitar bater algumas carteiras por aí, não demorando para ouvir lendas e histórias populares sobre uma misteriosa pedra preciosa que estava guardada dentro do palácio do imperador Azir, cujo brilho era maior que o de mil sóis.

Não conseguindo se conter, a pirata e seus fiéis cães sarnentos planejaram o crime perfeito por dias, estudando e observando o palácio, encontrando todas as brechas que poderia usar ao seu favor. Numa jogada de mestre, esgueirou-se sorrateira pelas beiradas daquela estrutura monumental e roubou a jóia: o olho da serpente. Porém, é claro que não saiu ilesa, fora vista por um dos guardas ao sair e caçada por dias pelas areias de Shurima, sendo idolatrada por alguns e desprezada por outros.

Desde então, nem Diana nem o olho da serpente retornaram a Shurima.

Em Demacia a história se repetiu, porém, dessa vez com uma das obras de valor inestimável que decoravam as paredes do castelo do rei Jarvan III, que com certeza valia centenas de moedas de ouro no mercado negro de Águas de Sentina.

Na verdade, eram poucos os governos que não desejavam a cabeça de Diana servida numa bandeja. Ela não tinha uma boa reputação pela maioria dos lugares onde passou, fosse pelos roubos que cometeu, pelas inimizades que conquistou pelo caminho, às vezes os dois ao mesmo tempo, um em consequência do outro.

- Águas de Sentina é um dos únicos lugares que sou bem vinda.

- Percebo que é uma mulher de negócios.

- Os melhores produtos roubados vem de mim. - Diana fez Leona rir. Havia certo resplendor em sua imoralidade e a mais alta achava peculiar o jeito sórdido que a pirata vivia sua vida, sempre a beira do precipício, mas nunca caindo de fato. Vivia face a face com o perigo e de costas para qualquer lei e autoridade, era divertida a maneira que Diana achava que estava acima de tudo isso. E, de certa forma, ela estava. - Espero que não me dedure.

- Seus podres estão trancados a sete chaves comigo. - riram em uníssono.

Observando o mapa mais uma vez, Diana traçou uma linha imaginária com seu dedo indicador, mostrando de qual lado da pequena ilha sua tripulação e seu navio lhe esperavam.

- Nesse ritmo, talvez cheguemos lá antes da Lua Sangrenta. - Leona franziu as sobrancelhas por um breve momento com a fala de Diana.

- Lua Sangrenta? - a mais baixa se surpreendeu com a dúvida na voz da capitã e a curiosidade em sua face. Até mesmo ela, que já rodou quase o mundo inteiro em seu majestoso navio, não conhecia tudo.

- É um fenômeno que acontece uma vez a cada oito anos na região de Ionia. - Diana começou a explicar. - Quando os espíritos da natureza pessoalmente transformam a primavera em verão, o véu entre os mundos fica mais fino, as luzes celestiais tocam o chão e a lua fica vermelha por duas noites inteiras. - Leona ouvia tudo com atenção, notando o brilho no olhar e a pequena mudança no timbre de Diana ao passo que ela falava mais sobre aquele curioso fenômeno. - Dizem que há um festival, com muitas pessoas, dança, comida e roupas típicas, mas nunca pude ver de perto.

- Porque não? Roubou as armas de prata dos Kinkou? Ou invadiu os templos dos sacerdotes ionianos? - a de cabelos ruivos questionou com acidez e sarcasmo na voz, fazendo a de vestes escuras revirar os olhos e rir pelo nariz.

- Pelos deuses, Leona, eu tenho princípios.

- É claro que tem. - a capitã enrolou o mapa novamente. - Mas você não respondeu minha pergunta. - Diana pensou bem na questão e em como a responderia. Não sabia ao certo o motivo, afinal, não tinha problemas com Ionia, mas nunca sentiu em seu coração o desejo de comparecer àquele evento. A Lua Sangrenta acontecia apenas a cada oito anos, por dois curtos dias, e era uma das épocas favoritas de Diana, com um significado lindo e singular. Era celebrada a vida, a vitória contra as adversidades, a mudança e a esperança, um novo começo. Se fosse para comparecer ao festival, queria que fosse do jeito certo, pois aquela era uma época que merecia ser lembrada com carinho.

- Só... quero que minha primeira vez no festival seja especial, um momento do qual irei me lembrar para sempre, entende? - as bochechas da pirata ficaram evidentemente ruborizadas pelo contraste do vermelho de suas maçãs com a palidez de sua pele, fazendo com que Leona a olhasse com ternura. A capitã nada disse, apenas assentiu com a cabeça.

Ficaram alguns minutos em silêncio, apenas aproveitando a companhia uma da outra enquanto observavam o oceano refletir a luz solar em toda sua grandeza. Se olhavam de soslaio um momento ou outro, e antes que qualquer coisa pudesse ser dita por qualquer uma das duas, Leona foi chamada para o piso inferior do navio. Diana apenas sorriu sem mostrar os dentes, ainda havia um dia inteiro pela frente e a mais alta tinha um navio ao seu comando.

- Sei que esse não é seu navio, mas saiba que está segura aqui e não hesite em pedir qualquer coisa ou me chamar se precisar de algo, está bem? - Leona encarou Diana, dando-se por satisfeita quando a pirata assentiu com a cabeça. A capitã se virou, pronta para começar seus afazeres, mas antes que pudesse sair sentiu Diana segurar sua mão com delicadeza, a prendendo ali por poucos segundos.

- Obrigada, por tudo.

- Você faria o mesmo por mim. - ambas sorriram, e nenhuma palavra de afirmação precisou ser dita. Iriam aos lugares mais obscuros dos sete mares uma pela outra, dobrariam céus e terra se preciso fosse, e não havia nada maior do que aquilo.

Leona desceu ao deque inferior, conferiu alguns suprimentos essenciais, comida, barris de pólvora e tudo que um navio precisava para funcionar. Encontrou Atreus pelo caminho, dando algumas pequenas ordens a alguns tripulantes de cargos menores. Por mais que ela fosse a capitã, era Atreus que cuidava dos detalhes minuciosos de tudo que acontecia ali. Leona era uma mulher ocupada, tendo mais uma frota para tomar conta além do Estrela da Manhã, e a presença de seu imediato era fundamental para que ela não surtasse. Atreus conseguia ver coisas que passavam despercebidas aos olhos de Leona, e cuidava para que ela não se sobrecarregasse de tantas obrigações.

- Capitã. - o homem barbado a saudou com uma pequena reverência.

- O leme está no eixo? A rotação está equilibrada?

- Tudo na mais perfeita ordem, os encordoamentos foram conferidos e as velas estão bem posicionadas, a maré está alta e a corrente está favorável. Nesse ritmo chegaremos a Águas de Sentina antes do esperado. - Atreus transitava pelos deques ao lado de Leona, ajudando-a em algumas conferências menores restantes. A capitã escutava tudo atentamente, sentindo a firmeza habitual na voz de seu melhor amigo. - Os carregamentos estão encaminhados, recebi cartas dos outros navios da frota e as encomendas de vinho e pólvora chegarão a Noxus em breve. Também recebi relatórios da frota leste, o acordo comercial com a Cidade do Progresso foi bem sucedido, mas o conselho lhe pede uma reunião para que os detalhes sejam pessoalmente acertados. O que ordena que respondam? - Leona subiu com Atreus ao convés, entrando em sua cabine ao lado do imediato. O homem sentou-se na mesa central do cômodo, onde haviam muitos papéis, documentos, penas, tintas e mapas de diversos países do continente.

Antes de responder, a de cabelos castanhos serviu um pouco de vinho em dois dos seus cálices de prata, entregando um para Atreus, que aceitou prontamente.

- Quando é o dia do progresso?

- Em dez alvoradas.

- Penso que esse seria o momento ideal para tratar desses assuntos, além disso, vamos poder olhar as novas invenções mirabolantes que serão apresentadas, algumas podem nos ser úteis. - o imediato assentiu, escrevendo em um pergaminho as palavras de Leona enquanto bebericava o líquido escarlate em seu cálice. - E os negócios com Ionia?

- Estão muito bem, as especiarias chegarão nas Primeiras Terras em três alvoradas.

- Na verdade... eu gostaria de fazer essa entrega para Ionia pessoalmente. - Leona parou em frente a janela aberta, sentindo o olhar confuso de Atreus a atingir pelas costas. O homem arqueou uma das sobrancelhas, fazendo ficar em evidência a cicatriz que tinha ali.

- Tem algum negócio pendente com Ionia?

- Não, mas tem algo importante que quero fazer lá na próxima lua cheia, acha que chegamos a tempo? - sentou-se no batente da janela, com o corpo virado para o lado de dentro da cabine, observando seu melhor amigo ainda mais confuso.

- Se desviarmos o curso agora, com certeza chegaremos. - os dedos de Atreus largaram a pena que segurava sobre a mesa, levantando de sua cadeira ainda com o cálice em mãos. - Por que sinto que isso tem a ver com Diana?

- Está assim tão óbvio?

- Você não costuma tomar decisões de última hora. O que foi que ela te disse?

- Bom, ela me contou sobre uma tal de Lua Sangrenta e sobre um festival Ioniano para comemorar essa data. Perguntei o motivo de ela nunca ter ido e... ela disse que queria que fosse especial. - a mulher sentiu seu rosto ficar quente. - Acho que posso fazer ser, quero fazer isso antes que... - Leona não precisou terminar a frase para que Atreus entendesse.

- Comunicarei a mudança de planos para a frota sudeste. - Atreus levou uma de suas mãos para a lateral do ombro de Leona, podendo ver o brilho em seus olhos. Olharam-se num silêncio confortável por alguns segundos, a mais baixa podia sentir o carinho e compreensão que o homem sentia por ela com apenas um simples toque. Ele a conhecia mais do que qualquer um nesse mundo, e sabia o quanto aquilo seria importante para ela. Para elas.

Leona pousou sua mão sobre a de Atreus, o abraçando repentinamente. Nenhuma palavra poderia expressar melhor a gratidão que sentia do que aquele gesto tão espontâneo. O imediato sorriu, pousando as mãos calejadas sobre as costas da capitã, despindo-se de sua postura habitual. Se amavam como irmãos, eram a família um do outro, e Atreus faria o que fosse preciso para deixar Leona feliz. Diana fazia bem para ela, e aquilo bastava por si só.

Soltaram-se depois de algum tempo, e sem dizer uma palavra o mais alto saiu da cabine, indo comunicar a mudança de curso ao navegador.

Leona também saiu pouco tempo depois, encarando Diana, que estava no alto da enxárcia, segurando o encordoamento com ambas as mãos enquanto projetava o corpo para frente. Seu cabelo balançava e bagunçava-se conforme a brisa passava e seus olhos refletiam o mar quando ela o observava, estava radiante.

Leona sorriu, sendo pega de surpresa quando Diana a encarou de volta, também sorrindo.

De algum modo, ficavam mais íntimas quando se olhavam.

Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro