ABE/Doutor
GLITCH.
– Vamos do começo. Qual seu nome? - pergunta a jornalista, enquadrando o grandão de bigode fu manchu ruivo e cabelo crespo de mesma cor.
– Abraham Ford. Srg. Abraham Ford.
– Sargento? Me conte mais sobre.
A câmera dá um zoom em seu rosto.
Ele torce o nariz, desviando olhar.
– Não tenho muitas histórias. - confessa dando um sorriso lateral. – Eu poderia ter contar sobre minha vida inteira servindo ou simplesmente o melhor, pior fodendo dia da minha vida.
– Começamos por aí.
GLITCH.
– Foi algo estúpido. - endireita a coluna no canto da traseira do caminhão. Batuca os dedos na M4. – Eu e minha equipe arrastamos sacos por 30 miseráveis quilômetros no deserto. Eu nasci em Houston, então, o calor já era algo suportável, mas puta merda. Assim não dava. Principalmente quando tem a porra de camelo desgraçado no teu cangote.
– Um camelo?
– O filha da mãe comeu as chaves do carro. Grande filha da puta. Cagou tudo depois.
– Cristo. - sua risada soa próximo ao microfone. – E pegou a chave?
– Eu não ia manchar minha honra procurando uma agulha numa pilha de bosta esquentada pelo sol. Deixei o Jimmy fazer isso.
GLITCH.
– E pra onde está indo, Srg. Ford?
– Que bom que perguntou. Washington, D.C.. É minha próxima parada.
– O que tem em Washington?
– Algo que vai acabar com todo esse balde de merda mexida em que estamos. Não é, espertinho?! - exalta por cima do ombro.
Ampliou-se a imagem para o sujeito ajoelhado diante a mochila, devorando a barra de cereal.
– Não seja tímido. Venha dar um oi. - insistiu o sargento.
Feito criança, o sujeito se levantou e seguiu devagar até a beira da caçamba. Ele é enquadrado de pé ao lado do ruivo.
– Jornalista, Dr. Eugene Porter. Eugene, Jornalista. - apresentou.
– Oi. Sou a Al. - diz por trás da câmera.
– Oi. Eu diria que é um prazer, mas as circunstâncias agravantes em que nos encontramos hoje, em consequência da falta de combustível no nosso caminhão, faria esse verbo certamente soar muito vago para que pudéssemos transparecer nossa gratidão em sua vinda oportuna para nos salvar. Por favor, aceite de antemão meus agradecimentos.
Silêncio.
– Ok. - disse Al. – Gostei do cabelo.
– Igualmente. Você quem projetou o carro forte?
– Digamos que sim, digamos que não. Eu dei sorte.
– Devo confessar que é um belo de um veículo. O melhor em quesito segurança. Sua artilharia amedronta os inimigos melhor do que um baiacu inchando. E acredite, neste aqui você conseguiu pôr medo. - aponta para si mesmo.
– Obrigada, eu acho. Essa é a ideia. Mas quem é você, Eugene Porter?
– Um especialista no estudo de genoma humano, muito eficaz pra combater doenças com outras doenças. Na verdade, eu diria que sou um expert.
A câmera volta a Abraham quando começa uma crise de riso.
– Esse é o tipo de homem que vai salvar o mundo. - disse entre risos.
– Como assim?
Abraham se acalma. Enfia o mindinho na orelha e o usa como cotonete.
– O doutor aqui sabe muito bem como tudo isso começou. Minha missão é mantê-lo vivo até chegarmos na capital. - tira a cera do ouvido. Passa o dedo na calça.
– Isso é sério?
– Com toda absoluta certeza, senhorita. - Eugene afirma. Ganha foco da câmera. – O plano agora é exterminar todo caminhante que tente arrancar um pedaço de você.
– E pode me contar como vai fazer isso?
Eugene molha a garganta, pensativo.
– É confidencial. Preciso manter o protocolo de segurança.
– Não estamos em rede nacional, doutor. Pode me contar.
– O menino é reservado. - Abraham fala. – Mas eu garanto que você pode ter todos o mínimos detalhes se pegar a estrada com a gente. É um caminho longo até Washington e esse seu blindado - olha com admiração para uma direção não enquadrada na câmera. –, querida, é de foder. - sorriu.
– Gostaria muito de contribuir. Mas vocês estão saindo do Texas, e eu indo. Não quero fazer duas viagens.
– O que é mais importante do que salvar a humanidade? - bate a base da M4 na lataria. – Aposto que com o mundo de volta ao normal, pode coletar o máximo de histórias que puder.
– Faz sentido.
– Eu sei que faz. - sorri de novo. – O que me diz, jornalista?
GLITCH.
– É como você disse - close. –, é um caminho longo até Washington, o mesmo até Houston. Acho que já tomei minha decisão muito antes de nos trombarmos nessa estrada.
Abraham concordou com a cabeça.
– É compreensível. Não é todo dia que dois malucos aparecem com a promessa de voltar com o que o mundo uma vez foi. Mas é sempre bom manter a esperança.
– Eu mantenho. Por isso ainda faço isso. Vou lhes dar um pouco de combustível, o bastante pra percorrem mais alguns quilômetros sem interrupções. Saberei se conseguirem.
– É. Agradeço.
GLITCH.
– Tem muita coragem em rondar por aí sozinha. - admirou Eugene. – Espero que tenha na sorte na sua busca por mais histórias.
– Digo o mesmo. Salve o mundo, Eugene! Contamos com você.
– Obrigado. - dá uma última mordida no pequeno pedaço de cereal.
— ABE/Doutor —
Eu não achei que escreveria mais um capítulo neste livro, mas deu vontade de compartilhar esse tal encontro que eu adoraria ver na web série original.
Enfim, talvez eu volte com mais outra história.
Abraço por trás.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro