Heavy feelings like metal
Outubro de 1992
Jimin's POV
— Cansei de morar com casal, ontem mesmo cheguei em casa e esses dois estavam correndo pelados pela sala. — Yoongi disse, apontando para Jungkook e eu, que estávamos do outro lado da mesa do restaurante, com nossos outros colegas ao lado, que riam da revolta do Min.
— Já te falei mais de mil vezes que eu entrei pra tomar banho e esqueci que tinha deixado uma panela no fogo. — Jeon retrucou, porém Yoongi se manteve com um olhar desconfiado.
— Então por que o Jimin estava correndo atrás de você? — O loiro perguntou, fazendo nós dois nos entreolharmos.
— Porque... — Jungkook começou, pensando um pouco antes de continuar: — Ele estava no banho comigo.
— Há! — Yoongi exclamou, apontando o dedo na cara de Jungkook, fazendo todos na mesa rirem, enquanto eu escondia meu rosto atrás de um cardápio e Jeon apenas sorria ladino, dando de ombros.
Além de nós três, a banda toda, Taehyung e Namjoon também estavam presentes naquela mesa, pois era nossa noite de comemoração pela recente notícia que o grupo tinha trazido. A banda havia decidido transformar o seu trabalho em algo maior, planejavam buscar por uma gravadora e profissionalizar tudo o que tinham, afinal já trabalhavam com composições autorais há um tempo, só faltava todos os membros concordarem que aquilo não era mais apenas um hobby.
— Bem, então um brinde ao futuro e ao nosso casal exibicionista aqui presente. — Taehyung falou, elevando a sua garrafa de cerveja, fazendo os outros lhe acompanharem.
— Vocês nunca vão deixar essa história morrer, não é? — Jungkook questionou quase que retoricamente.
— Só quando uma história ainda melhor aparecer. — Namjoon respondeu, e rimos disso, porque sabíamos que mais histórias iriam surgir de qualquer maneira.
— Estou de acordo. — Falei, elevando meu drinque também. — Um brinde!
Lembro de estar sorrindo quando aquele brinde foi feito, e realmente tive muitos motivos para sorrir nas coisas que vieram pela frente, porque a banda conseguiu um contrato com uma gravadora da região dois meses depois daquele jantar, e as coisas começaram a mudar, primeiro porque somente Jungkook, Nayeon e o baterista, que era o irmão de Taehyung, que permaneceram na banda no momento de assinar o contrato.
A verdade era que os demais não queriam realmente seguir os extras que viriam com aquele contrato, pois além da gravação de um disco, o agenciamento, a divulgação do trabalho e uma possível agenda de shows e compromissos viriam junto, e não eram todos ali que estavam preparados para dar aquele passo, ou nem tinham vontade de tal coisa.
O trio não possuía nenhuma grande pretensão quando começaram com aquilo, mas eu sabia que Jungkook era o mais ambicioso ali, ele gostava do palco, das luzes brilhando sobre ele e de cantar para um grande público. Jeon esbanjava talento e com certeza eu não era a única pessoa que via isso, ele dominava o público com sua guitarra e sua voz aveludada, Jungkook tinha uma estrelinha brilhando em cima de si antes mesmo de perceber isso.
Mas qualquer dúvida que ele poderia ter sobre isso foi respondida dois anos depois, quando eles saíram de uma banda desconhecida para os novatos notáveis, acabaram fazendo barulho, o sucesso foi vindo, o dinheiro foi entrando, as coisas explodiram tão rápido que ficou difícil de acompanhar, e de repente Jungkook não era mais somente o meu namorado, era o boyfriend material de centenas de garotos e garotas.
— E quanto a você, Jiminie? — Namjoon perguntou, virando-se para mim quando o restante da mesa estava prestando atenção em outras coisas.
— O que tem eu? — Indaguei de volta, franzindo o cenho.
— Você me disse que não tinha mais certeza de que queria continuar na faculdade. — Meu amigo continuou, me olhando curioso.
— Ainda não sei, não é como se eu odiasse engenharia, mas acho que isso não é pra mim. — Afirmei, dando um último gole na minha bebida, agora pensativo sobre o que o Kim tinha falado.
Mas assim como Jungkook, eu também já possuía um plano em mente, só precisava me decidir.
Somente no segundo ano do curso de engenharia que enfim larguei aquilo, porém fiquei um tempo parado, sem saber para onde ir e nem mesmo se eu queria ir para algum lugar, mas então, numa nova conversa com Namjoon, eu me lembrei do quanto fui elogiado quando trabalhei na feira de arrecadações para o clube, e também como foi divertido ajudar Hoseok nas vendas do seu artesanato.
Percebi que poderia haver ali mais do que diversão, mas se eu quisesse que se tornasse minha profissão, teria que ir atrás, por isso entrei no curso de administração, que foi onde eu realmente me encontrei, naqueles quatro anos pude me aprofundar em tantas coisas que antes eu tinha somente uma vaga ideia de como funcionava, e minha paixão pelo mundo dos negócios cresceu tanto que após receber meu diploma eu continuei indo em frente, enfrentando uma pós-graduação em comunicação empresarial e marketing.
Meu primeiro escritório foi dentro do apê que morei com Jungkook, no lugar que antes era o quarto do Yoongi. Foi ótimo ter um lugar só para mim, porém logo aquilo se tornou pequeno demais para caber todos os meus livros, pastas e arquivos, ainda tendo que dividir espaço com as bagunças do Jeon, então a solução foi mudar de apartamento, agora tendo uma grana a mais para podermos escolher um lugar realmente espaçoso.
Ter bastante espaço para termos privacidade e silêncio foi ótimo, ainda mais alguns anos depois, quando eu decidi retornar aos estudos, agora na área de Ciências Contábeis, mas vamos retornar a administração e como ela orquestrou minha vida profissional até chegar nos dias de hoje.
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Anos seguintes
Meus primeiros empregos e estágios na área se resumiram a escritórios e papelada, não cheguei a ter um cargo de grande destaque em meus primeiros anos, e nem nos seguintes para ser sincero, mas as coisas mudaram de figura quando o ano de 2001 chegou e eu soube por amigos próximos que o senhor Choi pretendia vender a boate e se aposentar.
Foi um passo bem arriscado comprar o lugar, ainda mais porque eu não tinha experiência alguma gerenciando um negócio sozinho, mas todos em volta de mim apoiaram, e eu sabia que continuariam apoiando até o fim, por isso eu comprei a boate cheio de planos e ideias para fazer aquele lugar voltar aos seus dias de glória. Acabei conseguindo até bem mais do que isso.
Em alguns anos, o local que era somente uma boate, começou a se tornar algo maior, eu investi muito em cada cantinho daquele salão, trazendo modernidade, aumentando as áreas, expandindo as atrações com convidados especiais, apresentações memoráveis e muito brilho, mas mantendo a essência que me fazia retornar sempre ao lugar quando eu era mais novo, a sensação de segurança e liberdade contida em cada parede.
Hoje, vinte anos depois, essa é a casa de shows voltada para o público LGBT+ mais rentável do estado e região, também uma das mais conhecidas, tendo filiais em outras oito cidades também, recebendo público de várias partes do país e do mundo, sendo premiadas algumas vezes em concursos nacionais e reconhecida em mundiais, deixando o seu proprietário e gerente aqui muito orgulhoso.
Alguns dizem que quando sua vida profissional está indo perfeitamente bem, a sua vida pessoal tende a ir mal, porque muitas pessoas não conseguem equilibrar as duas coisas, normalmente se atolam no trabalho, e eu acabei sendo prova disso quando Jungkook e eu nos separamos em 2003. Eram onze anos juntos, e foi com certeza um dos períodos mais sombrios em minha vida, porque tudo pareceu desabar junto desse relacionamento.
O que levou ao nosso término foi o fato de que eu vivia dentro do escritório e Jungkook vivia dentro do estúdio, mesmo que ainda estivéssemos debaixo do mesmo teto, a gente não se falava, e quando nos víamos, parecíamos desconhecidos aos olhos do outro, a chama se apagou, e nem ele e nem eu parecíamos ter vontade de reacender.
Apenas um mês depois do fim do nosso namoro, comigo ainda vivendo toda aquela melancolia pós-término, recebi a notícia de que meu pai havia falecido devido um ataque cardíaco, e mesmo que a gente nunca tivesse tido uma boa relação e eu sequer falasse com ele, foi doloroso saber que ele tinha ido, ainda mais por nunca termos tido uma última conversa ou a chance de acertar tudo.
Eu sofri muito, minha vida pessoal estava um caos, e a profissional começou a desandar também, porque eu não conseguia mais dar a devida atenção ao meu trabalho, depositar minhas forças no serviço não estava sendo uma escapatória, e eu vi que precisava dar um tempo. Tirei férias, e depois iniciei uma terapia, após Namjoon conversar comigo e me mostrar porque aquilo era importante, eu não precisava ficar tentando lutar contra os meus monstros interiores sozinho.
E enquanto eu estava tentando colocar tudo em eixos novamente, Jungkook, do outro lado da cidade, se mantinha esperançoso. Acho que a verdade é que Jungkook nunca encarou o nosso término como um fim, para ele foi somente uma pausa, então se segurar nesse achismo o ajudou a não ficar tão pra baixo, sem contar que tinha mudanças acontecendo em sua vida também, de forma diferente, mas também significativas. A primeira sem dúvidas foi no relacionamento com seus pais:
Naquele início dos anos 2000, os pais de Jungkook já haviam tentando se reaproximar dele várias vezes, até nos convidando para festas de final de anos e outras reuniões de família, mas mesmo que viessem com aquele papo de perdão e de deixar as coisas no passado, sempre ficava claro que ainda não nos viam como um casal, para eles eu era apenas o amigo que morava com Jungkook, não o seu marido, e isso fez as brigas voltarem a acontecer entre os pais e o filho.
Porém as coisas mudaram de figura no finalzinho do ano de 2003, quando o senhor Jeon ficou doente e sua esposa também, tendo até mesmo que ser internada para continuar seu tratamento. Jungkook se ofereceu para cuidar do pai em casa, enquanto seu irmão ajudava a mãe no hospital. E isso acabou reaproximando bastante o pai do filho, porque além das conversas sinceras que tiveram, Jungkook pode enfim dizer o quanto estava magoado com seus pais e explicar a ele muitas outras coisas que nunca foram ditas.
O ano de 2004 chegou trazendo a harmonia a família Jeon, enfim o sentimento de perdão e recomeço não era mais somente atuação, talvez não tanto para Junghyun, que ao meu ver ainda se comportava de uma maneira meio grosseirona as vezes, mas aí eu já acho que era somente sua personalidade mesmo, não um ataque pessoal, afinal ele agia assim o tempo todo.
2004 também foi o ano em que Jungkook decidiu se aposentar dos palcos, após mais de dez anos de grupo e seis discos gravados, ele viu que estava na hora de mudar os ares, ainda queria trabalhar com composição e música, mas agora longe dos holofotes, foi o ano em que abriu sua própria gravadora e seguiu agenciando seus próprios artistas.
Um ano após ele fundar a gravadora foi quando nos reencontramos, na festa de inauguração do restaurante de Hoseok, e qualquer chama que eu um dia eu tenha mencionado que se apagou, reacendeu no mesmo instante em que ficamos frente a frente mais uma vez, tantas lembranças vieram, tantas emoções e sentimentos que eu só queria pular nos braços daquele homem e sentir seus lábios novamente.
Algo que realmente fiz no final da noite...
Dois anos depois do nosso término, nós decidimos voltar após uma longa conversa, onde tudo que nos preocupava e incomodava na época foi esclarecido. E com certeza foi uma boa decisão, aqueles vinte e quatro meses distantes nos ajudou a perceber onde tínhamos errado, e aprender com esses erros para não repeti-los mais, afinal, eu não queria perder o grande amor da minha vida novamente.
Nossos próximos anos juntos foram incríveis, Jungkook me ajudava na casa de shows, sempre atento nos novos artistas e me apresentando vários talentos para fazer performances nas noites de casa cheia, assim como eu também fui ponte entre muitos cantores da minha boate até a gravadora do meu marido, e sinceramente, eu amava poder trabalhar com ele.
Quanto a nossa vida pessoal, compramos uma casa maior juntos, decoramos tudo como gostaríamos e nos divertimos muito com todo aquele espaço para vagarmos livremente, porém não demorou muito para que percebêssemos o quanto aquela residência parecia gigantesca para apenas duas pessoas morarem, e a conversa sobre filhos apareceu.
A adoção homoparental só foi permitida em nosso país a partir de 2007, quando enfim a nossa pequena Jina pode vir para nossa casa, juntamente com Jihoon, o seu irmão mais novo. Nossos filhos tinham respectivamente nove e sete anos quando os adotamos, depois de quase dois anos somente visitando eles no orfanato, esperando pelo dia em que finalmente pudéssemos completar nossa família com a presença dos dois.
E novamente, aquele era apenas o começo de mais uma nova fase em minha vida, a qual eu me aventurei, enfrentando todos os medos e obstáculos, com coragem e cabeça erguida como sempre. Hoje nossos dois bebês já são adultos formados, e cá entre nós, acho que Jungkook e eu fizemos um bom trabalho na criação de nossos filhos, mas acho que não sou imparcial para falar disso.
{...}
Junho de 2012
Em 2012 o casamento entre pessoas do mesmo gênero foi permitido em meu país, e mesmo que Jungkook e eu já nos considerássemos casados há décadas, era um direito civil nosso sermos marido e marido no papel também, por isso preparamos nossos cheques e fomos atrás de tudo que pudesse fazer daquela cerimônia a mais bela e memorável possível.
Sempre fui um cara romântico, que um dia sonhou com um casamento na igreja, e não era somente por causa da minha fé, também havia um Jimin adolescente sonhador dentro de mim que ainda imaginava ter seu casamento acontecendo igualzinho àqueles filmes água com açúcar, da forma mais clichê possível, e Jungkook estaria de acordo também, mesmo não seguindo nenhuma religião.
Infelizmente isso era algo que ainda não poderíamos realizar, porém ainda sim tive a uma festa gigantesca como desejava, digna das cenas daqueles filmes que um dia idealizei, mesmo achando que seria uma conquista impossível para mim, tudo no castelo que alugamos para a cerimônia. Eu queria um casamento de príncipe sim!
— Filho? — Ouvi a voz de minha mãe na porta do quarto em que eu estava me arrumando antes da cerimônia.
— Oi, mãe. — Respondi, me virando em direção a porta, que estava aberta. — Pode entrar.
— Não aguentava mais ouvir aqueles padrinhos do Jungkook discutindo, então decidi vir dar uma olhadinha em como você estava. — Ela comentou, rindo baixinho.
Havia toda uma etiqueta tradicional que dizia que o ideal era que fossem cinco casais de padrinhos para cada lado, mas nós não seguíamos o tradicional nem no nosso dia a dia, então nosso casamento não seria um caso à parte. Decidimos escolher somente dois casais de padrinhos para cada noivo.
Jungkook obviamente escolheu seus dois melhores amigos, mas Yoongi e Taehyung, como dois competitivos que eram, entraram num embate para provar quem era o melhor padrinho, sendo disputando para ver quem dava o melhor presente ou tentando fazer a melhor festa de despedida de solteiro, tudo isso enquanto suas companheiras somente reviraram os olhos para as baboseiras que eles falavam.
— Felizmente Namjoon e Seokjin não são assim. — Falei rindo, se referindo aos meus padrinhos.
— Eu vim aqui te trazer uma coisa, Jiminie. — Ela falou, se aproximando de mim com uma pequena caixinha em mãos.
— O que é? — Indaguei curioso.
— Esses foram os brincos com os quais me casei. — Disse, tirando um par de brincos perolados de dentro da caixinha. — Minha mãe e minha irmã usaram também, acho que é um costume ou sei lá o quê. Dizem que dão sorte, mas eu não acredito nessas coisa, só acho que se é uma tradição de família, então você também deve os receber.
— Oh, mãe... — Murmurei emocionado, segurando o par de brincos em minhas mãos. É uma pena que minha mãe não tenha vivido para ver o quão linda sua neta ficou com aqueles brincos, no dia de seu casamento também.
— Sabe, eu não casei por amor, seu pai e eu nunca fomos amantes, mas foi graças a essa união que eu pude conhecer o grande amor da minha vida. — Expressou emocionada, olhando diretamente em meus olhos. — Você, meu filho. — Disse, tocando minha bochecha. — Nenhum outro sentimento pode se comparar ao quanto eu amo você e o quanto me orgulho, por isso eu só desejo que continue sendo muito e muito feliz.
— Também te amo, mãe. — Declarei em meio a lágrimas, a abraçando com força. — Obrigado.
Quando contei à minha mãe sobre minha sexualidade, ela foi doce e compreensiva como sempre, acho que ela sempre soube, apenas esperou que eu me sentisse seguro para desabafar. Ela também pediu desculpas por não ter conseguido me ajudar mais em minha adolescência, mas eu não tinha mágoa alguma, sabia o que ela tinha vivido e sabia que tinha feito seu melhor.
Naquela mesma noite, após trocar as alianças com Jungkook, fomos todos ao salão para comemorar. Minha mãe já estava cansada demais para dançar, mas mesmo assim ela foi comigo até a pista de dança, tirou seus sapatos e dançou uma valsa comigo, pisando sobre os meus pés, da mesma forma que eu fazia com ela quando era pequenininho e amava ouvir os discos em sua vitrola, na nossa antiga sala de estar.
Escrevendo tudo isso, vejo que há muitos momentos que eu gostaria de reviver, a minha trajetória foi longa, cheia de emoções e ensinamentos inesquecíveis, cometi erros, tive muitos acertos, vivi intensamente, chorei, sorri, me libertei, criei um legado e repetiria tudo de novo, quantas vezes fosse preciso.
~♥~
Nos vemos no epílogo, gente (ಥ﹏ಥ)
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