enquanto pensava em você, me peguei avaliando a falta de solidez existente na definição do que constitui os sentidos.

sei da existência dos meus receptores sensoriais, que captam os estímulos e enviam informações, em diferentes frequências, garantindo o entendimento do meu sistema nervoso central sobre tudo o que acontece no meio físico.
mesmo assim, não me sinto capaz de concordar com aristóteles sobre a existência de apenas cinco sentidos, após toda essa sinestesia que você causou em mim.

quando eu te vi pela primeira vez, de imediato eu senti meu corpo quente enquanto você se aproximava.
antes mesmo do abraço que estava por vir, eu já pude sentir o calor que seu corpo emana.
enquanto conversávamos, eu sempre admirava os seus poucos sorrisos.
sempre busquei em cada parte do seu rosto, o local onde minha mão faria ninho quando fosse te acariciar.
te ver não é apenas a captação de luz e a formação de uma imagem.
mesmo de longe eu não apenas te vejo, eu te sinto.

quando ouvi a sua voz pela primeira vez, tive vontade de fechar os olhos e me deixar apenas sorrir com a sensação da colisão entre a realidade e a expectativa.
você disse que tinha língua presa.
talvez isso seja o motivo do sabor doce do seu beijo que ficou em mim.
você tem um vicio em declamar frases prontas.
fecho os meus olhos e posso te ouvir dizendo coisas, como:
"te salvaria da falta de amor do mundo, mesmo sem uma gota disso."
queria te dizer que todo o amor que eu tenho, parece não mais me pertencer.
é seu.
"estar perto não é físico."
exemplifico com o simples fato de que mesmo não estando aqui comigo agora, você está.
"não quero desaparecer da sua vida, só porque o lugar que ocupo é diferente do lugar que te deixei ocupar."
então só te peço uma coisa: fica.
me conta uma coisa: como foi seu dia?
te ouvir não é apenas a captação das ondas sonoras.
mesmo calado, eu te escuto.
mesmo calado, eu te sinto.

eu senti o seu cheiro pela primeira vez, quando não consegui olhar por muito tempo no fundo dos seus olhos.
eles me invadiam e me deixavam trêmulo, enquanto eu segurava sua mão.
tudo começou como uma brincadeira de "quanto tempo você consegue me encarar?", mas o medo de me entregar ao seu olhar devorador, me fez repousar minha cabeça sobre seu peito em busca de um abraço que pudesse me acalmar.
deixei minha respiração ofegante seguir o ritmo da sua.
enquanto meu nariz estava colado a sua camisa, me vi entregue ao seu suave cheiro.
não há como sequenciar o que aconteceu, mas lembro da sua mão colada na minha.
do tremor do meu corpo.
do seu sorriso avassalador.
do meu olhar sem jeito.
dos seus lábios indo de encontro ao meu.
do abraço demorado, onde pude sentir mais uma vez o seu perfume inebriante.
sentir seu cheiro não é apenas captar o odor das partícula químicas presente no ar.
mesmo longe, teu cheiro ainda está gravado em mim.
mesmo que me falte o ar, eu te sinto.

quando senti o gosto do seu beijo pela primeira vez, foi confuso.
calma.
sei que vai soar estranho, mas eu estava com medo de tudo aquilo.
foi tão confuso, que eu precisei provar mais para conseguir chegar a alguma conclusão.
talvez a melhor maneira de descrever o gosto do seu beijo é afirmar que você tem sabor de quero mais.
nosso beijo pede tato.
pede minha mão alisando suas costas, percorrendo seu corpo e buscando caminhos desconhecidos.
pede minha língua passando pelo seu pescoço, provando do teu gosto lentamente e levando minha boca até o seu queixo para uma leve mordida.
nosso beijo pede pausa.
pede um carinho de olhos fechados, pede narizes colados, pede um abraço suado após todo esse momento de êxtase que ele proporciona.
sentir seu gosto não é apenas reconhecer os seus sabores.
tudo que vai de encontro as minhas papilas gustativas e que me dão prazer, me fazem lembrar de você.
mesmo que talvez eu não sinta mais o seu gosto, eu te sinto.

quando senti o seu corpo pela primeira vez, eu quis que aquele abraço fosse infinito.
queria que todas as terminações nervosas existentes pela minha pele, captassem o estímulo que o meu corpo gera ao se aproximar do seu.
quis negar a física e provar que havia toque entre nós. não havia repulsão entre nossos corpos.
seus dedos encaixaram nos meus e senti como se um buraco na minha mão estivesse sendo preenchido.
não tive medo dos olhares na rua.
enquanto esperávamos o seu ônibus, você leu meu futuro.
o toque dos seus dedos percorrendo as linhas da minha mão, me fez ler mentalmente, um futuro para nós.
utópico.
incerto.
improvável.
desculpa por não permanecer com os pés no chão ao ser inflado pelo seu toque.
como foi sentir minhas mãos trêmulas e meu coração acelerado, após o nosso primeiro beijo?
como foi sentir meu toque sobre o seu rosto enquanto te pedia mais um beijo, talvez, o último beijo?
sentir seu corpo não é apenas receber impulsos nervosos que são interpretados pelo meu cérebro.
sua pele ficou em mim como tatuagem.
mesmo nunca tendo te tocado de fato, eu te sinto.

te sentir causa essa bagunça em mim.
te sentir muda a minha forma de perceber o mundo.
te sentir me faz perder o equilíbrio.
te sentir é me entregar. me permitir.
te sentir é algo que apesar das várias definições, ainda vejo como algo indescritível.

não sei quantos sentidos habitam o nosso corpo. talvez, a quantidade não importe.
não sei se há como quantificar.
sentir é algo tão incerto.

a única certeza que tenho sobre o sentir, é que te sinto.