77. Dahyun
— Alô, Jiminie? Pode vir me buscar?
O garoto do outro lado da linha boceja. A minha única opção foi ligar para ele.
— Como assim? — pergunta, com a voz rouca de sono. — Onde você está, Hyunie? Andou bebendo?
Olho em volta. Eu só queria ir embora e evitá-lo. Yerim veio atrás de mim, mas recusei sua ajuda. Saí andando por aí sem nem saber para onde estaria indo, até parar num ponto de ônibus vazio. O movimento de carros e pessoas aqui é muito pouco.
Está de madrugada, frio e estou sozinha num bairro que não conheço. Que ótimo dia, Dahyun!
— Eu não sei — fungo. — Essa rua é deserta, estou com medo, Jimin...
— Me mande sua localização, eu chego em dez minutos. Fique aí e tome cuidado!
Utilizo o um por cento restante de bateria para mandar a mensagem para o garoto. Vejo as dezenas de ligações perdidas, tanto de Jungkook como de Yerim, na tela de bloqueio. Logo, o celular apaga.
Mais um problema.
Enxugo o rosto e encolho de frio na jaqueta de couro. Apesar do clima, a lua está tão bonita. Grande e brilhante, mas parece triste.
A cena do beijo invade minha mente pela centésima vez. O que ele ganhou com aquilo? Pior, o quão trouxa fui ao ponto de acreditar em suas palavras?
Quando todos deram as costas para Jungkook, eu apoie ele, aceitei seus erros e o fiz continuar se esforçando para melhorar. O mínimo que gostaria em troca, era uma resposta. Uma explicação ou justificativa.
Eu te amo, diga de volta.
Jungkook fez com que eu acreditasse que era tudo real entre nós. A cada passo, apertando mais e mais meu coração em sua mão. E agora, ele desistiu de bater. Desistiu de lutar e sofrer por alguém que sequer se importa.
Eu sou uma tola por não sacar o que estava rolando antes. Essa desculpa de "não odiar a Amber" do nada, e teve a conversinha amigável — que Yerim descobriu através de Taehyung e nunca foi mencionada em nossos assuntos — que tiveram semanas atrás...
Talvez, Jungkook tenha dado outra chance? Afinal, ela foi o primeiro amor da vida dele. Mesmo com toda a maluquice, e se ele ainda não superou e a ama? Significaria que fui uma distração enquanto decidia que caminho seguir.
Apenas queria tivesse me dado o fora antes de reatar com ela. Agora já é tarde. Caí no seu feitiço, Jeon. E vai demorar um bom tempo para eu esquecer toda a história que escrevemos.
Fico encarando o céu completamente limpo e sem estrelas. Eu faria um quadrinho tendo essa visão magnífica como referência, mas me recordaria o porquê de estar aqui.
Meus pensamentos são interrompidos pelo o som irritante da buzina. Desço o olhar até um carro; Sedan preto de tamanho médio. A porta do motorista é aberta, Jimin sai apressado. Faço um esforço para levantar do banco gelado. Ele me abraça apertado e eu retribuo, desanimada.
— Que susto, Hyunie! Quase morri de preocupação! Você está bem? — segura meu rosto com as duas mãos analisando cada parte.
Nem eu sei...
— Sim, só quero ir para casa.
Dou a volta no carro e sento no banco do passageiro. Jimin entra em seguida. Ele dá partida e não comenta nada e não faz perguntas.
Nós vamos o caminho todo quietos, uma vez o outra sentia seus olhos sobre mim. Assim que paramos em frente de casa, desprendo o cinto e saio. Jimin me acompanha até a porta. Destranco-a e acendo as luzes da sala.
Ele continua parado na entrada, me observando.
— Entra — mando. O garoto balança a cabeça, negando.
— Não é apropriado eu estar com você a essa hora — coça a nuca, desajeitado. — Principalmente bêbada, você fica... abusada. Irá se arrepender se acontecer algo.
Não é totalmente mentira.
— Então, as duas garrafas de soju na minha geladeira, vão me fazer companhia — cantarolo, indo para cozinha.
Pego as bebidas e retorno para sala, sorrindo. Jimin já está sem os sapatos, com os braços cruzados, claramente bravo. Sabia que ia dar certo. Subo as escadas correndo e vou para o meu quarto — que está muito desorganizado, por sinal.
— Fala sério, Hyunie! — reclama do andar de baixo. — Porra, que brincadeira sem graça!
Escancaro as portas da varanda e sento em um dos puffs do lado de fora. Aqui não está frio. Provavelmente, ainda hoje irá chover. Que bela combinação; chuva, lágrimas e uma desilusão amorosa.
— Odeio suas gracinhas — chega, resmungando, e senta ao meu lado, no outro puff. — Não vou dormir aqui, Dahyun. E não se atreva a beber essas merdas.
Reviro os olhos. Contra o seu pedido, abro uma das garrafas e bebo um gole. O líquido amargo e gelado desce pela minha garganta.
— Desisto de você — bufa.
— Vi o Jungkook beijando a ex-namorada — declaro. Jimin não esboça nenhuma reação. — Eu... confessei que gostava dele e recebi um "Preciso de um tempo" como resposta — rio irônica. — E, agora, me dei conta de que criei expectativas à toa.
Dou mais um gole e viro para olhá-lo.
— Pode dizer "eu te avisei".
— Eu sinto muito, Hyunie. Sei o quanto gostava do Jungkook... Para falar a verdade, ficavam bem juntos.
Me permito sorrir por breves segundos, relembrando dos nossos encontros, conversas aleatórias no meio da madrugada, a sua promessa no meu aniversário, o dia em que cozinhou para mim... Eu fui me apaixonando por cada uma de suas ações.
Porém, elas foram somente isso: ações. Não envolvia sentimento, eu que projetei ideias inalcançáveis.
— Você... acha que o problema sou eu? — ele franze o cenho. — Digo, por que tudo parece bem, e da noite para o dia, desmorona em cima de mim? Como se eu tivesse errado um passo, um movimento.
Duas vezes, pessoas distintas com personalidades parecidas. De novo, eu deixei minha insegurança de lado e confiei que, dessa vez, seria diferente. No fim, o drama se repetiu e terminou exatamente do mesmo jeito.
A única conclusão que me vem à cabeça, é que eu errei.
— O quê?! — Jimin questiona alto. — Dahyun, você é tão forte e independente. Passou por tanta coisa com apenas dez anos — pisco os olhos, espantando a vontade de chorar. — Conseguiu se tornar uma garota incrível, gentil e talentosa! É perfeita do seu jeitinho.
Sorrio fechado, sentindo minhas bochechas molhadas. Puxo-o para um abraço. Jimin afaga meus cabelos levemente, e emenda num sussurro:
— Não precisa do Jungkook, do Jackson, de ninguém para ser feliz, Hyunie. Você constrói a sua história.
Esse é o meu erro. Não valorizar quem realmente esteve próximo quando necessitei. E o Jimin ficou. Não importa se estamos brigados, ele sempre me apoiou, sempre fez de tudo para me alegrar. Acho que nunca terei como retribuir.
— Não me ache uma boba — rio, limpando o rosto. — No oitavo ano, eu escrevi nossas iniciais naquela árvore do parque que a gente gostava de ir, sabe? E um coração em volta para completar!
— Espera, vo-você gostou de mim no oitavo ano? — assinto.
— Mas, tenho certeza que não me dava bola. Às vezes, achava que tinha medo de falar comigo.
Jimin abre a boca, formando um "O".
— Gostou de mim na mesma época que comecei a gostar de você. Não acredito — solto uma risada. O destino não colaborou.
O garoto arranca a garrafa da minha mão e vira um gole. Encara as casas no fundo da paisagem, fazendo um bico. Park Jimin é o sonho de qualquer garota. Pena que não consigo passar da linha "amizade".
Penso se, por acaso, eu tivesse tido coragem para confessar, teria dado certo.
— Já imaginou nós dois namorando atualmente? — suas bochechas coram. — Você seria um ótimo namorado, Jiminie.
Os pequenos olhinhos concentram-se na minha boca. Por impulso, me inclino para perto. Fecho os olhos com intenção de beijá-lo, mas Jimin impede.
— Dah, você está bêbada, não confunda seus sentimentos. Somos amigos e eu já aceitei isso.
Me afasto, morrendo de vergonha. Ele tem razão, foi idiota da minha parte.
— Melhor eu ir para casa — diz, se levantando. O acompanho para dentro do quarto. — Coloque uma roupa quente e vá dormir, você precisa descansar. E não pense mais nele.
Concordo, escondendo as garrafas de soju atrás das costas. Jimin nota e estica a mão, mandando eu entregá-las. Devolvo de má vontade.
Nem afogar as mágoas eu posso...
Ganho um beijo na testa de despedida. O garoto sai do quarto, me deixando sozinha na minha própria fossa.
Caço meu pijama dentro do armário, encontrando o moletom de Jungkook, sem querer.
Eu vou me arrepender disso.
Troco de roupa e, por cima da blusa de dormir, visto-o. Deito na cama e permito meus músculos relaxarem após esse inferno de dia. O cheirinho de sabonete de bebê ainda é marcante.
Não chore, não chore, Dahyun. Vai ficar tudo bem. Eu espero que fique.
Olho para o meu mural de desenhos e miro num específico. Uma caricatura inacabada de Jungkook sorrindo. Planejava lhe dar de presente no seu aniversário.
Eu sinto sua falta, bebê.
• ♡︎ •
não fiquem braves com a dahyun, ela vai dar uma chance pro jungkook explicar, acalma o coraçãozinho
próxima att dupla, a depressão vem 🙌🏻
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