76. Jungkook
Eu tenho quase 18 anos, mas, agora, me sinto uma garotinho de 13 prestes a confessar que gosta da sua coleguinha de classe.
É bobo, não é? O modo que uma simples pessoa te deixa tão caidinho de amores? Dahyun conseguiu fazer isso comigo desde a primeira vez que a vi. Apenas não tinha me tocado antes.
Quer dizer, resolvi ignorar.
— Dá para você relaxar? Logo elas chegam.
Taehyung já deve ter feito esse mesmo pedido umas vinte vezes.
Nós chegamos na festa há uma hora e as meninas ainda não. Decidimos sentar no sofá da sala para ter uma visão melhor da porta.
— Você está agindo igual àquela festa na casa do Yoongi — ele toma outro gole da bebida, enquanto mexe no celular —, quando se pegaram na varanda e quase foram flagrados pelo Joon.
Lembro de estar muito nervoso aquele dia. Devo ter tomado umas duas garrafas inteiras de soju sozinho, numa tentativa de me acalmar. O que ajudou bastante, já que não deixei transparecer em nenhum momento o quão eufórico estava. Queria ter ficado ao lado dela a festa toda, mas algo dentro de mim, falou mais alto que era besteira.
Confesso que meu único objetivo era pegar ela. E, parando para pensar, se o Namjoon não tivesse atrapalhado, não sei se teria rolado de novo. Naquela época, eu ainda tratava nossa relação como algo sem importância. Depois da pizzaria que baixei a guarda. Porém, é óbvio que sempre me importei para caralho, só era mais fácil fingir que não.
Que babaquice, Jeon. Tem merda no lugar do cérebro?
— Nem sei o que vou dizer para ela — encaro uma garota conhecida no canto da sala dando em cima do aniversariante.
Soomin...
— Conta tudo, Jungkook! Abre o seu coração e decidam juntos o que querem para o futuro — rio debochado. Gostaria que fosse fácil assim. — E espera um pouco antes de jogar na roda. Hoje ela está brava.
Diz a última frase tão baixo que quase não escuto. Quando penso em questioná-lo, Taehyung levanta do sofá num pulo.
— Achei a Yerim!
Ando atrás do garoto, que abre espaço entre as rodinhas de dança para alcançar a namorada. E então, eu a vejo. Os pequenos olhinhos cor de mel que me encantaram na sorveteria.
Está linda como de costume, vestindo uma calça jeans clara rasgada desde as coxas, até abaixo dos joelhos, uma camisa larga preta de banda e uma jaqueta de couro preta. Sorrio, me aproximando da garota.
— Oi... — começo, sem jeito.
Respira, Jungkook. É a Dahyun, vocês se conhecem há meses.
— Oi — repete, olhando os próprios pés.
Ficamos de vela, vendo Tae distribuir beijos pelo rosto de Yerim — o que deixa o ar ainda mais pesado.
Fugir, é uma opção?
— Casalzinho, se aproveitem com moderação, até mais! — Yerim declara e some com Taehyung.
Ótimo amigão.
Dahyun me olha, claramente desconfortável por termos sido largados sozinhos.
— Quer beb...
— Quero! — me interrompe e pega minha mão. Assusto com o toque repentino. — Meu dia foi péssimo.
Ela sai me puxando para o meio da multidão de jovens, rumo à cozinha. Esbarro diversas vezes numa pessoa ou outra pela rapidez que a menina anda. Seguro sua bolsa e ela vai direto abrir a geladeira. Um grupo de meninos terminam de encher os copos e passam por nós.
— Sabe fazer drink com vodka? — assinto, desconfiado. — Maravilha, faça.
Dahyun retira quatro garrafas e as coloca em cima da bancada. Tequila, gim, rum... Ela endoidou?
— Baix...
— Só faz, Jungkook — dá a volta no balcão e senta em um dos banquinhos.
Caralho, a coisa foi feia...
Abro o congelador e encho um copo vermelho de plástico com gelo. Despejo, uma por uma, cada bebida, começando pela vodka. Os olhos da garota me observam com atenção.
— O que aconteceu, amo... — travo. Esqueci desse detalhe. — baixinha? Por que está brava?
Ela bufa.
— Meu pai foi pessoalmente em casa entregar o convite do casamento dele com a amante — revira os olhos. — Teve coragem.
Não consigo imaginar meu pai se casando novamente. Nada tira da minha cabeça que essa mudança de personalidade, foi minha culpa. Ele era um homem completamente diferente antes de perder a esposa. Alegre, brincalhão. Voltaria a ser ou a trataria mal como eu e Haneul?
— Sinto muito — abro a geladeira novamente, dessa vez à procura da coca-cola. Aproveito e cato um copo para mim.
— Não é para "sentir muito" — ri —, é para xingá-lo comigo.
Rio, colocando a coca, e depois, chacoalhando o copo de leve para misturar as bebidas. Entrego em sua mão assim que termino e me sento ao seu lado no banquinho.
— Vou te dar um conselho que aprendi recentemente — ela cheira o copo. — Não guarde rancor dele, não guarde de ninguém. Eu não odeio a Amber, ela foi um obstáculo que eu pude superar e amadurecer. Não preencha seu coração de ódio, aproveite a sua vida e as pessoas que gostam de você. Esse é o importante, entendeu?
Ela sorri, concordando.
— Obrigada, Jungkook.
— Está feliz de estar aqui? Eu meio que te obriguei a vir — tomo um golinho do refrigerante.
— Sim, estou. Ficaria mais, se você desse uma resposta.
Ajeito a postura e a encaro, arrumando uma forma de soltar para fora. Porra, eu não havia planejado para agora...
— Jungkook!
Viro de costas. O garoto se aproxima com os braços esticados e me puxa para um abraço. O cheiro de álcool invade meu nariz.
— Quanto tempo, cara! Que bom que veio.
— Feliz aniversário, Min — aponto para a garota. — Essa é a Dahyun, uma amiga minha e do Tae.
Ele a cumprimenta, sorrindo ladino. Já está caindo de bêbado e flerta com qualquer uma.
— Curtam a festa, a gente se vê por aí, JK.
Sai cambaleando para fora da cozinha. Ela ri.
— Esse é o amigo do amigo? Pensei que não o conhecia.
— Minhyuck. Não somos próximos, conheci através do Taehyung — ela cheira o copo de novo. — Você vai beber isso ou não? É forte.
Entorna o conteúdo sem pensar. Assisto a cena boquiaberto. Dahyun engasga e começa tossir. Arranco a bebida de sua mão.
Doida.
— Eu avisei.
— Bebe comigo esse troço — empurra para mim. Balanço meu copo com refrigerante, indicando que não posso. — Justo hoje que eu quero encher a cara, você não quer?
Eu estou tentando diminuir o ritmo. Me dei conta de que, toda semana, passo dos limites. Não é minha culpa que desmaiar e esquecer os problemas que me rondam, é melhor que achar uma solução para eles.
— Por mim de boas, faço o que você quiser.
E também, não é como se eu ficasse bêbado tão fácil. Tem que ser uma ocasião que me deixei bem mal.
— Bom, então, eu quero jogar Beer Pong.
Sorrio.
— Você vai perder, baixinha.
— Veremos, Jeon! — ela lança um olhar intimidador, fazendo uma arminha com os dedos e fingindo atirar.
Uma birita de vez em quando, não mata ninguém.
ᴛ ᴇ x ᴛ ᴍ ᴇ
Vamos combinar que estava mais óbvio que eu ganharia.
Dahyun e eu nos juntamos a um grupinho na sala de jogos e formamos times. Fiquei apreensivo de jogar com pessoas que nem conhecíamos — poderiam colocar algo na bebida dela sem que eu percebesse —, porém foi noia da minha cabeça.
Joguei com um tal Taeyong, e ela com um Jaehyun, que, por sinal, tentava atirar o charme dele para cima da minha baixinha descaradamente. E essa tonta nunca nota as investidas. Poderia ter dado uma voadora nele, mas decidi manter a calma.
Depois de exatas vinte rodadas, nós vencemos de 13 a 7. Tive que impedi-la de continuar a se embebedar ou, provavelmente, ela apagaria e se arrependeria na manhã seguinte.
Eu a deixei no sofá da sala descansando enquanto pegava um copo d'água. O problema, é eu ter voltado agora e não ter a encontrado sentadinha, onde havia pedido para ficar.
Puta merda, o Namjoon me mataria se soubesse.
Ando desesperado pelos corredores da casa em busca da garota, até encontrá-la, encostada na parede, perto da sala de jogos. O maldito Jaehyun está ao seu lado.
Falei que não iria dar uma voadora nele, não é? Pois eu retiro o que disse, ele merece um chutão na fuça.
Cutuco com certa força seu ombro. Ele se vira rindo de algo que falavam.
— Atrapalho? — olho para a menina. — Peguei água para você, amor.
Ela segura o copo, sorrindo boba.
— Ah, desculpa. Não sabia que a gatinha tinha dono — aperto o punho.
Céus, que babaca...
— Ela não é um animal de estimação para ter dono, vaza daqui! — levanta as mãos em rendição e sai resmungando.
Eu virei um ser muito paciente, teria resolvido de outra forma há alguns meses.
— Prometeu ficar comigo, lembra — reclamo, bravo.
— Está com ciúmes, Kook? — concordo, nem ligando para o apelido. Ela solta uma risada e diminui o espaço entre nós. — Você é o único que eu amo, Jungoo! Me dá um beijo.
Tenho evitado, desde que Dahyun confessou, me aproximar demais ou chamá-la de "amor". Fiz isso agora para espantar o urubu. Não quero que ela se sinta desconfortável, é uma forma de respeitar seus sentimentos. Mas, não minto, é difícil para caralho não poder beijar e tocá-la quando quero.
— Você está bêbada.
— É um beijinho, por favor.
Encaro o rosto tão perto do meu. Ela está na ponta dos pés, as bochechas infladas e coradas parecem dois tomates pelo tanto de bebida que tomou. Os olhos fechados e um bico manhoso, implorando por um beijo.
Igualzinho um bebê.
Selo seus lábios vermelhinhos rápido. Dahyun abre os olhos e cruza os braços, emburrada.
— Só isso?
— Por enquanto, linda.
— Seu chato — mostra a língua. Fofa. — Vou no banheiro.
Declara, me entregando o copo e tropeçando nos próprios pés.
— Toma cuidado! E volte logo, precisamos conversar! — ela faz um joinha de longe e some no final do corredor.
Hoje é um dia horrível para confessar. Queria acabar com essa tortura de uma vez, e Taehyung comentou sobre essa festa. Era uma boa oportunidade para conversarmos, apenas não contava que ela iria querer virar o caneco.
Não sei se aguento esperar mais. Vou arriscar, abrir o jogo e rezar para ela recordar minhas palavras ao acordar.
Entro na cozinha de novo, dando de cara com Somin.
— Eu shippo vocês dois — comenta. Reviro os olhos.
— Quebrou o nosso acordo, não se faz de sonsa! — ela franze o cenho. — Se eu passasse uma noite com você ano passado, não daria mais informações da minha vida para Amber. Engraçado que ela está sabendo da Dahyun e me procurou duas vezes.
A garota ri debochada e toma um gole da bebida na garrafa.
— Não fui eu, queridinho. Nós brigamos e nem somos mais amigas. Você se esquece que ela tem olhos em todo lugar? Aliás, tenho certeza que a vi aqui há um tempinho.
Essa menina é o capeta em gente.
Como eu vou seguir em frente se a pirada não sai da minha cola? O pior é eu não saber se ela seria capaz de prejudicar a Dahyun. É o que me dá medo: colocar a baixinha em perigo, porque minha ex-namorada não aceita que eu superei a nossa relação tóxica de dois anos atrás.
— Jungkook, eu te aconselho a dar o fora com a sua namoradinha antes que ela veja vocês juntos — dá um tapinha no meu ombro e volta para a sala.
O universo não está colaborando comigo hoje.
Me distraio pensando nas possibilidades de Soomin estar mentindo e esqueço da Dahyun. Está demorando muito. Não deveria ter permitido que ela fosse sozinha...
E, pela segunda vez na noite, eu estou procurando a menina perdida por aí. Ela bêbada se torna uma verdadeira criancinha.
Trombo com algum apressadinho e todo o líquido de seu copo cai em mim. Levanto a cabeça irado.
— Porra, olhe por onde and...
Só pode ser brincadeira.
— Mil desculpas, Kook! Eu juro que foi sem querer!
Sem querer. A minha vontade é de te enterrar viva e dizer que foi "sem querer", Amber.
Eu não a odeio mais. Repensei minhas ações e cheguei à conclusão de que não valia a pena continuar me machucando. Afinal, não há motivos para relembrar dela. Não há motivos para chorar por ela. Já passou, eu cresci e conheci alguém que me ama do jeito que eu sou.
É pela Dahyun que devo me esforçar para melhorar.
— Fique longe de mim, eu não vou repetir.
Passo por ela e subo as escadas, indo para o andar de cima. Abro uma porta e espio dentro para checar se está vazio e entro na suíte.
Que merda de dia.
Pego o celular no bolso e mando mensagem para Dahyun.
eu
Ei, onde vc tá??????
| 01:23 • ✓✓ |
maconhada
achp que me predi jungoo
| 01:23 |
Ah, meu Deus.
eu
Sobe e entra no segundo quarto à direita
Eu to aqui, bebezinho
| 01:24 • ✓✓ |
Ela manda um áudio. Aproximo do ouvido para escutar: "Quarto? Jungkook, a gente está pulando uns degraus, mas tudo bem, eu aceito". Fala tudo embolado.
Que tonta.
Apoio o celular numa cômoda em frente da cama de casal chique. A casa é praticamente uma mansão.
O amigo do amigo do Tae, Minhyuck, fez a festa exclusiva para os filhinhos de papai, herdeiros riquinhos. Taehyung foi convidado e me trouxe de penetra. Descobri ser o Min depois. O conheci num clube, ele estava chapadão, nem sei como lembrou de mim.
Desabotoo a camisa social preta e vou para o banheiro. Esfrego um pouco de água com sabão, tentando tirar o excesso e o cheiro de bebida.
Droga, eu amava essa.
Ouço a porta do quarto se fechar. Veio voando.
— Baixinha, espera aí! — estranho não receber nenhuma resposta. — Dahyun, é você?
Saio do pequeno espaço e volto para o quarto, encontrando a última pessoa que gostaria de ver no mundo. Ela passa os olhos, sem vergonha, pelo meu corpo descoberto.
— Tem noção de como isso é doentio, Amber?! — grito. — Você quer que eu implore? Quer que eu ajoelhe e te implore para me libertar?
— Não, Jungkook — sorri. Falsa. — Quero que sejamos como antes.
Ou seja, quer que eu seja um cachorro que corre atrás dela e faz apenas o que pede.
— E eu já deixei claro que isso não irá acontecer! Vai embora, estou perdendo a paciência.
Ela anda para perto, recuo até ficar encurralado contra a parede. Amber ousa tocar meu rosto e a impeço, apertando seu braço.
— Não se atreva.
— O que vai fazer? Me bater? — mordo o lábio.
Eu posso estar queimando de raiva, mas nunca seria capaz de cometer tal ato. Está precisando de uma surra, sim. Infelizmente, não vou ser eu que darei.
— Você tem que se tratar.
Amber dá um impulso e agarra minha nuca, colando nossos lábios. Não consegue aprofundar o beijo, eu a empurro assim que me dou conta.
— Amber! — repreendo.
— Ju-Jungkook?
A vozinha doce conhecida por mim se faz presente no cômodo. Olho por cima do ombro da garota, vendo Dahyun parada na porta. Os olhos já estão cheios de lágrimas, que começam a descer, uma a uma.
Não, não. Isso não está acontecendo.
— Dahyun... N-Não é o que está pensando! Eu jur...
Ela não escuta e se afasta correndo.
— Está feliz agora? — me dirijo à Amber.
Visto a camisa de qualquer jeito, sem abotoar, e enfio o celular no bolso da calça. Desço as escadas correndo, indo atrás de Dahyun. Grito seu nome, me enfiando nas rodinhas de dança.
Ela abre a porta da entrada. Taehyung vê meu desespero e me segue, sem entender nada, junto de Yerim. Alcanço a garota no meio da rua e seguro seu braço.
— Dahyun, me escuta, por favor! Eu te a...
Sinto a ardência do tapa que me dá.
— Me esquece, Jungkook! — se desvencilha das minhas mãos. — Eu confiei em você.
A noite está fria, a lua brilha sobre nossas cabeças. Meu rosto é preenchido por lágrimas geladas. Caio no chão, e fico ali, imóvel, observando-a ir embora.
A frase ecoa na minha cabeça. "Eu confiei em você".
Eu acabei de estragar a única coisa que ainda valia lutar na minha vida.
• ♡︎ •
oi, não me odeiem, eu amo vocês, ok? ok. se tiver bitoquinha no jimin, vocês vão pistolar? 👁👄👁
(qualquer erro, perdão aí. eu reviso rápido e deixo umas coisinhas escaparem)
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro