60. Dahyun
— Namjoon, onde está me levando? Diz que não é para a casa do papai e nem para um psicólogo! — falo, desesperada.
Meu dia estava sendo parado ao extremo. E não, eu não estou exagerando. A única pessoa que me deu parabéns, foi minha mãe. Passei a tarde toda esperando uma vista, ligação, mensagem... Nada. Admito que fiquei decepcionada.
Será que realmente esqueceram?
Pensei que poderiam estar planejando algo, mas foi ficando tarde. Até que meu irmão brotou em casa, me deu um simples abracinho, vendou meus olhos e me enfiou num carro — sem deixar eu trocar de pijama. Agora, estamos em frente do que eu creio ser uma casa, pelo som de suas chaves abrindo a porta.
— Por que eu te traria num psicólogo no dia do seu aniversário? — ri.
— Ah, não sei... Vocês já tentaram uma vez.
Aquele ano não foi dos melhores e a solução que minha querida família encontrou: me abrir com um completo estranho.
Não nasci para essas coisas.
— Esquece isso, erramos feio — suspiro aliviada. Eu odeio ir ao médico, não importa o tipo. — Vem, entra — ele me guia para dentro do lugar e solta meu braço.
Dou uns tapas no vento e não sinto sua presença perto de mim.
— Joon, cadê você? — chamo e não recebo nenhuma resposta. — Kim Namjoon, quando eu tirar essa merda da minha cara, vou te arrastar no asfalto!
Retiro a venda, esperando ver as duas covinhas conhecidas por mim, mas parece que ainda estou com ela. O cômodo está um breu; impossível de indentificar qualquer pessoa ou objeto no escuro. O desgraçado me trouxe aqui e se mandou.
Que inferno de dia é esse?
Quando penso em me mexer, a luz acende sozinha. Grito assustada, enquanto o grupinho grita "Surpresa" em harmonia. Todos juntos, com sorrisos estampados no rosto.
Levo alguns segundos para processar o que está rolando. Eles organizaram tudo aqui. Há bexigas azuis e roxas — minhas cores preferidas — coladas pelos cantos da sala e teto. Uma faixa com a frase "Feliz aniversário, Dahyun" presa na parede sobre uma mesa repleta de doces e outras comidas salgadas, e até dois balões na cor prata em forma do número 17.
Bando de idiotas, eu pensei de verdade que tinham esquecido.
— Parabéns, doidinha! — Yerim é a primeira a me felicitar. Namjoon, Taehyung, Jin, Jimin, Yoongi e Hoseok vieram em seguida.
— Tão grandinha, que orgulho do meu bolinho! — Hobi aperta minhas bochechas. Massageio-as depois que o garoto solta.
Jungkook é o último a me cumprimentar.
Estranho. É como se hoje, especialmente hoje, ele estivesse três vezes mais bonito. Os cabelos estão úmidos, batendo na altura do nariz. Veste uma camisa branca que transparece levemente seu peitoral e uma calça jeans preta, deixando as malditas coxas malhadas marcadas. As roupas que usa são simples, porém causam um impacto enorme.
Por que, Deus? Eu tento, você que não colabora.
— Feliz aniversário, amor — me abraça apertado. O cheirinho de seu perfume adocicado invade minhas narinas. — Gostei do pijama.
Rio baixinho.
Não pensei que meu irmão apareceria do nada, então coloquei meu pijama do Pernaloga e preparei um pote de sorvete de chocomenta, uma pipoca e lámen para passar a noite maratonando Tudo Bem Não Ser Normal. Seria uma noite de muito choro.
Se uma tosse falsa por parte de Namjoon não tivesse nos separado, eu poderia morar naquele abraço.
— Obrigada, gente! Ficou tudo perfeito!
— De nada, mas não arrasta o Nam no asfalto — Taehyung aponta rindo para o mesmo. — Ele que deu a ideia.
Os meninos riem e dizem que Jin teve que tapar a boca de Hoseok na hora, ou sua risada escandalosa teria estragado a surpresa. Engatam este assunto com outro e o cômodo não fica tão silencioso como antes.
Só assim para deixarem as implicâncias de lado...
— Dah, vem comigo.
Yerim me puxa até o andar de cima. Ela abre a porta de um quarto — que julgo ser de Taehyung pela decoração e alguns retratatos dele com os amigos — e indica na cama uma muda de roupa. É uma saia de cintura alta branca e uma blusa vermelha larga, bem simples.
— Te conheço bem e sabia que ficaria de pijama o dia todo em casa. Sorte que da última vez que dormi aqui, esqueci essas roupas.
— Está mais que ótimo, obrigada! — beijo sua bochecha.
— Não são de festa, mas pelo menos você tira essa coisa de coelho.
— Ei, é uma lebre. Respeita o Pernalonga! — ela ri e sai do quarto.
Troco o pijama rápido. Yerim e eu temos praticamente o mesmo tamanho, então serviu direitinho. Desço e cruzo a sala rumo à cozinha para pegar uma bebida.
Taehyung, Yoongi e Hoseok estão bem amiguinhos Já havia passado a hora de pararem de frescura.
Abro o congelador a procura de algo para beber. Posso estar sendo meio mal educada por ir abrindo a geladeira na casa dos outros — ainda mais que é a primeira vez que venho —, porém os festeiros já esgotaram uma garrafa de soju todinha e nem se preocuparam em colocar uma cheia na mesa novamente.
Nota mental: pegar leve hoje. Odeio acordar morrendo de manhã.
— Baixinha — Jungkook encosta no balcão enquanto encho um copo de plástico com cerveja — tenho que te mostrar um negócio depois. É surpresa.
O encaro desconfiada.
— A surpresa vai ser você como naquele dia? Se for, não quero — ele sorri ladino e se aproxima, tocando minha cintura por trás.
— Não é eu, mas duvido que não gostaria se fosse. Abusaria muito, na verdade — reviros olhos pelo comentário indecente.
Ok, confesso que não recusaria. Ele não precisa saber.
— Dahyu... — nós dois viramos para a entrada da cozinha onde Jimin está parado. — Opa, atrapalho?
Jungkook estava prestes a responder um "Sim", mas eu o interrompo e digo que não. O garoto bufa bravinho.
— O que foi, Jiminie?
— Quer jogar Just Dance?
— Sinto muito, pintor de rodapé. Ela está ocupada comigo agora — segura minha mão.
Jimin dá a volta no balcão e pega a outra. Fico entre os dois me sentindo um pedaço de carne.
Se acalme, Dahyun...
— A conversa não chegou no chiqueiro, Jeon — mostra a língua.
— Você quer morrer? — Jungkook tenta ir para cima e eu bloqueio o caminho.
Pelo amor, eles já estão extrapolando! Nem no meu aniversário tentam uma trégua. Achei que conseguiria fazê-los se aguentarem, porém é preciso paciência e eu não tenho muita. Aliás, admiro quem tem.
— Chega! — finalmente, ganho atenção. — Cansei. Eu não vou fazer nada com vocês, fiquem aí sozinhos.
Saio andando de volta para a sala escutando as reclamações. Ninguém merece.
ᴛ ᴇ x ᴛ ᴍ ᴇ
Yerim e os meninos preparam brincadeiras para não ficarmos no tédio. Jogamos um jogo de tabuleiro, chamado O Jogo da Vida — que deu muita briga — e os velhos jogos com a garrafa: Verdade ou Desafio e 7 Minutos no Paraíso. Também dançamos Just Dance e cantamos karaokê.
Porém, o auge da madrugada, foi quando me levaram até a sala de jantar. Uma pinhata enorme com a cara da Hello, Kit estava pendurada no teto por uma cordinha.
Olhei para Jungkook que sorriu com os olhinhos fechados. Eu lembro que contei um dia que gostaria de uma pinhata no meu aniversário. Safado...
Jimin comprou e pediu desculpas por ter sido de um personagem infantil, pois "era a única que tinha". Para mim pouco importa, o bom é quebrar a bagaça para descobrir o que tem dentro. E eu rezei que fosse comestível e não gracinha deles.
Fui vendada de novo. Yoongi disse que eu devia girar 17 vezes por conta do meu aniversário. Quase vomitei no final. Álcool e giros não combinam.
Utilizei sete tentativas para acertar o bicho feito de papel machê. Na última batida, ele se partiu e caiu no chão. Dei um tapa em cada um dos meninos quando vi o que colocaram dentro: Halls preto junto com várias embalagens de camisinha.
Com certeza, a ideia veio de Taehyung e Jungkook. Só faltavam chorar de tanto rir da minha reação.
Em compensação, peguei Hoseok e Yoongi no flagra aos beijos no quintal de Taehyung. O branquelo tentou inventar uma desculpa, dizendo que Hope havia o atacado, mas não colou. O mundo capota.
Bebo outro gole da bebida no copo, ouvindo Taehyung e Yerim conversando.
Vela. Virei uma vela.
Estava falando com Yerim até Tae chegar e atrapalhar. Eles esqueceram totalmente da minha existência. Se apaixonar é, literalmente, ficar cego.
Meu celular apita no bolso. Uma notificação de mensagem de Jungkook aparece na tela. Abro nossas conversas.
cueio
quarto do Taehyung
agora
| 01:07 |
eu
medo
| 01:07 • ✓✓ |
cueio
eu não mordo, amor
ainda ;)
vem logo, to te esperando
| 01:08 |
Jeon Jungkook, o que você está aprontando?
Levanto do sofá e deixo os namoradinhos trocando saliva para trás. Os meninos estão jogando videogame na sala de jogos. Tomara que não percebam que eu e Jungkook sumimos.
A porta do quarto está fechada. Viro a maçaneta devagar e coloco a cabeça para dentro, espiando. Não sei o que esperar dele, melhor me previnir.
Jungkook, parado no meio do cômodo, me vê e sorri.
— Entra, sua tonta.
Não está pelado, é um ótimo começo.
Fecho a porta e ando em passos pequenos até a sua frente. Ele esboça um sorrisinho sacana, parecendo esconder algo.
— Eu pensei no que iria te dar de presente há umas 3 semanas, mas não sabia o que gostaria de ganhar... — franzo o cenho. A história do pai que cortou a mesada era mentira... Acreditei e ainda fiquei chateada. — Então, resolvi fazer eu mesmo.
As mãos de Jungkook, antes atrás das costas, agora seguram uma caixa branca retangular, envolvida por um laço lilás. Há um cartão na parte de cima escrito "De: Jungoo, Para: Baixinha do Jungoo".
Fico sem reação, encarando o presente.
— Amor, estou ficando nervoso — coça a nuca. — Abre, por favor.
Puxo a ponta do laço e ele se desfaz, caindo no chão. Tiro a tampa e encaixo na parte de baixo. São diversas fotos estilo polaroid, diferentes das que eu vi em seu quarto; a moldura combina com os tons de fundo. Há fotos minhas com Jungkook fazendo caretas do dia que nos encontramos na sorveteria e da festa na casa do Yoongi. Não apenas com ele, mas também com Yerim, Hoseok, Jin e Namjoon. Algumas onde estou sozinha, sorrindo para câmera, e outras bem zoadas.
— Acho incrível como se esforça para cuidar das pessoas que gosta — ele aponta para a caixa. — Momentos da sua história com cada um de nós que não devem ser esquecidos. Até coloquei uma com o Park, afinal ele é seu melhor amigo também...
Sorrio, vendo a com Jimin. Sou eu, apertando as bochechas gordinhas dele.
Minha visão fica embaçada. Sinto que se eu começar a chorar, não vou conseguir parar. Passo a mão no rosto numa tentativa de espantar a vontade.
— Jungkook... E-Eu não s...
— Calma, tem mais um — ele tira uma caixinha preta de veludo do bolso. — Quando fui na sua casa, notei que tem uma paixão por astronomia. Achei que combinaria com você.
Meus olhos brilham ao ver o conteúdo. É um colar. O pingente é uma estrela pequena dourada, com a letra "D" grafada no meio. Deixo a caixa com as fotos em cima da cama e pego a joia, fascinada. É maravilhosa.
Está sendo impossível acreditar que ele preparou tudo isso para mim.
— Escolhi uma estrela porque é o que você significa, Dahyun — sorri com os dentinhos de coelho. — Uma estrelinha que ilumina minha vida.
De todas as coisas que poderia imaginar, essas definitivamente não estavam nos meus planos. Cada vez que me encontro com Jungkook, ele dá um jeito de me surpreender mais com suas ações. Diz que "eu o torno uma pessoa melhor", mas, a verdade, é que ele não gosta que percebam que já tem um coração bom.
Talvez, por medo. Medo de ser machucado novamente.
— O que achou?
— É o presente mais especial que eu já ganhei, Jungkook — sorrio de volta, segurando as lágrimas que insistem em escorrer pelo cantinho dos meus olhos.
— Vou colocar em você.
Coloco o cabelo para o lado e devolvo a joia para ele. Ele se aproxima e inclina a cabeça para baixo pela diferença de altura. Suas mãos tocam meu pescoço gentilmente, prendendo o colar com uma expressão concentrada.
— Prontinho, amor. Ficou perfeita — não evito rir boba pelo elogio. — Gostou da surpresa?
— Eu amei, Jungoo! — pulo em seus braços, arrancando uma risada do maior. — Obrigada.
O abraço forte, aproveitando que não há ninguém vigiando. Jungkook alisa meus cabelos. É engraçado como me sinto tão bem com o calor de nossos corpos juntos. Colo nossos lábios de leve, me equilibrando nas pontas do pé. Ele sorri entre o beijo e acabo fazendo o mesmo. Terminamos dando selinhos.
Pela primeira vez, desde que nos conhecemos, o vejo envergonhado. As bochechas estão rosadinhas e a boca entreaberta, sem saber o que falar.
— Por que está vergonha? — pergunto, provocativa.
— O-O quê? — ele pisca os olhinhos confuso. Coloca a mão no rosto, sentindo-o quente e se abana. — Na-Nada, e-eu vou descer...
Reprimo uma risadinha, presenciando Jeon Jungkook se atrapalhando para fechar uma porta.
— Quem diria... — comento para eu mesma, olhando a caixa com as fotos.
Nunca vou esquecer disso, Jeon.
ᴛ ᴇ x ᴛ ᴍ ᴇ
O parabéns.
A pior parte da festa é a hora do parabéns. Cortar o bolo é legal, mas por que inventaram aquela música do demônio de "Com quem será?".
Não sabia onde enfiar minha cabeça quando no final, uns disseram Jimin e outros Jungkook.
Oh, Deus, que sofrimento.
A encarada que Namjoon lançou para o Jeon foi de morrer. A de Jimin, então... Certeza que os três teriam se atacado ali mesmo se eu não tivesse anunciado para quem iria o primeiro pedaço de bolo de chocolate — que Jin fez e ficou delicioso.
Troquei olhares com Jungkook e ele sorriu automaticamente, achando que entregaria para ele. Pensei umas 10 vezes antes de fazer isso, já prevendo as consequências. O mais prático foi pegar para mim.
Não ligo se é considerado marmelada, garanti que não houvesse uma Terceira Guerra Mundial.
Ou não...
Percebi que Jimin se sentiu chateado de não ter ganhado o bolo primeiro. Ele se isolou num canto e bebeu umas cinco garrafas de soju, reclamando da vida para parede. Sua "nova melhor amiga", segundo suas palavras.
Sumiu por um tempo e eu só o encontrei agora no quintal, sentado num banco olhando para a lua. Me aproximo e sento ao seu lado.
— Hyunie — fala com uma voz de criança.
Jimin bêbado vira um bebê. Ele conversa se referindo a si mesmo na terceira pessoa e fica todo manhoso. É fofo.
— Oi — cruzo as pernas, ficando de frente para o garoto.
— Jiminie pode te pedir uma coisa?
— Claro.
— Você pode... beijar ele?
Arregalo os olhos pela pergunta. Jimin nunca teve coragem de tentar nada entre nós. Mesmo gostando de mim, não dá passos maiores, continua no degrau da amizade desde o oitavo ano.
— Jimin, não sei se isso seria bom. Você vai se confundir e...
— Jiminie sabe que não gosta dele desse jeito, Hyunie. Ele só quer experimentar, por favorzinho — junta as mãos e faz um bico.
O encaro por alguns segundos. As bochechas estão parecendo dois tomates pelo tanto de bebida que tomou hoje.
Teria problema? Provavelmente, nem vamos nos lembrar disso quando acordar. Eu já imaginei e tive vontade de beijá-lo diversas vezes. Com a aproximação de Jungkook que tenho diminuído a curiosidade.
É só um beijo.
— Vou deixar você me beijar, mas isso não mudará nada entre a gente. Ainda é apenas meu melhor amigo, ok? — ele concorda.
— Jiminie sempre quis fazer isso, Hyunie.
Abre um sorriso fofo que transforma os olhos em dois risquinhos. Aproxima seu rosto e coloca uma mão na minha bochecha, deixando um carinho no local. Então, calmamente, junta nossos lábios. Inclino a cabeça para o lado, sentindo sua língua adentrar minha boca.
Jungkook tem mais pegada, e gosta de aprofundar o beijo, mas não acontece com Jimin. Seu beijo é calmo, macio, como estar nas nuvens.
Me pego sorrindo de tão boa que é a sensação de experimentar beijar meu melhor amigo. Porém, logo me bato mentalmente por achar bom. Separo o beijo e empurro Jimin para trás, com o rosto quente.
Ele olha para um ponto atrás de mim, seu sorriso some aos poucos. Sigo seu olhar até encontrar Jungkook em pé na entrada do quintal, nos observando.
Merda, merda, merda!
O Jeon sai andando apressado e eu me levanto num pulo para segui-lo, esquecendo de Jimin.
— Jungkook, espera! — ele continua. — Jungkook! — grito novamente, dessa vez com mais força.
Seu corpo trava no lugar. O garoto joga os cabelo para trás e se vira lentamente. Sua expressão não é das melhores; aquela típica cara de reprovação quando faço algo que o "incomoda".
Hipócrita.
— Por que saiu batendo pé?
— Disse que não gostava dele — reviro os olhos. O mesmo assunto. — Todas as vezes que eu perguntei, vocês respondeu que era só amizade.
A implicância de Jungkook com os meus sentimentos por Jimin, é um saco. O pior é que ele recebe a resposta e não acredita em mim.
— Já falei que somos só amigos — ri debochado. — Está bravo?
— Eu não estou bravo, Dahyun. Preciso ir embora — rio da mentira descarada.
Sobrancelhas franzidas, o olhar frio e distante... É claro que está com raiva. Quando Jungkook me chama de "Dahyun" e não de "Amor", sei que a coisa está feia. Ele não percebe que deixa os sinais tão à mostra.
— Por que vai fugir de novo, hein? Ficou com ciúmes?
Ele desvia o olhar para o chão, comprimindo os lábios. Continuo esperando uma resposta, mas ela não chega. Em vez disso, Jungkook tenta andar e eu seguro seu braço, o puxando de volta.
Ele suspira fundo.
— Não estamos namorando, você tem liberdade pra ficar com quem quiser. Eu não me importo, Dahyun.
As palavras me atingem feito facas afiadas. Pode parecer idiota, mas fico triste de brigar com Jungkook. Fico triste de ficarmos discutindo por coisas bobas como essa, tudo porque ele é orgulhoso e não demonstra o que sente.
É como se tivesse duas personalidades: em uma delas ele é fofo e protetor, mas, do dia para noite, fica grosso e respondão. Ele cria um muro assim que percebe que baixou a guarda.
Por que não me deixa entrar, Jungkook?
— Ah, desculpa — solto seu braço. — Esqueci que você nunca se importa.
Olho fundo em seus olhos, pedindo silenciosamente para que fale que estou errada. O que, obviamente, não acontece. Jungkook se inclina perto do meu rosto e deixa um beijo demorado na minha bochecha.
— Feliz aniversário, pequena.
É a última coisa que diz antes de ir embora.
ᴛ ᴇ x ᴛ ᴍ ᴇ
O show de Jungkook me deixou completamente desmotivada para comemorar o resto da festa. Yerim sugeriu irmos para casa e Hoseok se ofereceu para nos levar com o Jimin — desmaiado. Aceitei sem pestanejar.
Chegando perto, enxergo alguém sentado na minha porta. Me despeço dos meus amigos e ando em direção ao indivíduo, que levanta a cabeça. Seu estado não é dos melhores.
Foi rápido hoje.
Sento perto dele, o cheiro de álcool é forte. Jungkook murmura um "oi". O rosto todo corado e o a bochecha com uma marca de soco.
— O que faz aqui? Está tudo bem? — ele abraça as pernas.
— Preciso conversar com você, amor — fala embolado. — E também não tenho para onde ir. Se eu chegar assim em casa, vou levar uma surra.
Tinha esquecido como o pai de Jungkook é rígido.
Tiro o celular de bolso e mando uma mensagem para Taehyung, pedindo que venha levá-lo embora. Em questão de segundos, recebo a resposta.
— O Tae chega em 10 minutos, ok? — concorda com um aceno de cabeça. — Voc...
— Eu me importo, Dahyun — diz num sussurro. — Bastante. Mais do que deveria.
Esta situação se repete como um loop infinito. Algo causa uma briga entre nós, Jungkook explode, se arrepende e pede desculpas. Perdi a conta de quantas vezes já aconteceu desde que nos conhecemos. Eu também tenho um limite e ele está perto de ultrapassá-lo.
— Tem que parar de brigar comigo e voltar com o rabinho entre as pernas. É irritante.
— Desculpa, eu sou um idiota. Essa é a única coisa que sei fazer, mesmo não querendo... Te afastar de mim.
O moreno joga a pescoço atrás, encarando triste o céu escuro repleto de estrelas. Um vento fraco bagunça sua franja.
— Sinto falta da minha mãe... Ela é a única pessoa que tenho a certeza de que me amava de verdade.
— Mas e os seus amigos? A sua irmã, seu pai? Você é amado, sim — ele ri irônico.
— Meu pai me odeia, eu sou um péssimo irmão e meus amigos não confiam em mim porque só faço besteira... São companhias que me aguentam.
— E eu? Sou companhia?
Ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e sorri.
— Você... — entrelaça nossas mãos. — Você me faz feliz, me dá carinho e atenção. Tenho medo de te perder e ficar sozinho de novo.
Dá para perceber o quão frágil e dependente Jungkook é. De baixo dessa pose de "bad boy", é um garotinho que quer ser amado. Ele apenas se mostra forte, mas desaba por qualquer coisa.
— Não vai me perder. Você é insuportável, mas precisa de alguém do seu lado para colocar juízo na sua cabeça oca.
Ele leva minha mão até seu peito. Sinto os batimentos cardíacos do garoto acelerados, talvez ainda mais que os meus.
— A Amber quebrou meu coração, Dahyun. Faltam tantos pedaços... Eu não posso te dar ele enquanto não estiver inteiro. Pode prometer esperar? Esperar eu conseguir?
Abro a boca para responder, mas as palavras não saem. Ele acabou de confessar que gosta de mim?
Fico dividida, aceito ou não aceito?
Não, ele está bêbado, Dahyun.
Mas quantas milhares de situações me encontrei pensando em como seria namorar Jungkook? Por que parece tão real eu gostar que cuide mim?
Jungkook não sabe o que está falando. Vocês se beijam às vezes, não vai passar disso: amigos.
Mas, quero muito prometer que esperarei até estiver pronto. Que também tenho vontade de lhe dar meu coração.
— Baixinha? — chama minha atenção com um estalo de dedos.
— O-Ok, eu prometo... — enlaço meu dedinho ao seu.
Onde eu estou me metendo, Senhor?
— Obrigado, amor — o garoto me envolve num abraço quentinho e apertado.
Encaixo meu rosto na curvatura do seu pescoço, sentindo seu perfume misturado com álcool. Jungkook afaga meus cabelos e deixa um beijo na minha testa.
— Desculpa por ter surtado com o negócio do Jimin... Às vezes eu esqueço que você não é só a minha baixinha.
Droga de apelido que eu odeio e amo ao mesmo tempo.
Um carro vindo em alta velocidade freia bruscamente do outro lado da rua. Kim Taehyung, soltando fogo pelas ventas, sai do veículo.
— Porra, Jungkook! Rntra logo ou vou te encher de tapa! De novo essa merda de sair por aí bêbado?
— Chegou o motorista esquentadinho — ele se levanta meio tonto e eu rio da expressão de raiva que Taehyung faz. — Feliz aniversário, amorzinho. — Jungkook deixa um selinho rápido nos meus lábios e anda em direção ao carro.
Taehyung pede desculpas por ele ter vindo causar aqui. Aproveito para perguntar se Jungkook recordaria as coisas que disse, e ele responde que "muito pouco ou dias depois".
Era de se esperar.
O de sorriso quadrado me deseja feliz aniversário e volta para o carro. Antes de dar partida, Jungkook coloca a cabeça para fora da janela e acena feito uma criança para mim. Retribuo forçando um sorriso.
Isso não é bom. Duvido que vá se lembrar da conversa.
• ♡︎ •
taquei a bomba e vazei 🤡
o coração tá divido entre jungkook e jimin? ou permanece com o jeikei? ahh, e não, isso não foi uma declaração, tem mais alguns eventos antes dele confessar...
ficou enorme o capítulo, perdão viu. eu não podia dividir.
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