O tempo correu até sábado e eu tenho uma péssima mania de deixar tudo para última hora.

Yerim me ligou de manhã para dar dicas do "encontro", mesmo eu falando diversas vezes que era algo entre amigos. Ela também disse para eu não me atrasar, o que é claro que aconteceu. Não sou uma pessoa organizada.

Acabo me distraindo vendo série e perco a noção do horário. Tomo um banho e me troco o mais rápido possível. Indo contra Yerim e suas recomendações para eu "não usar roupas escuras", coloco uma saia preta acima dos joelhos e um top também preto. No pé, um tênis branco para diferenciar um pouco.

A culpa não é minha que preto serve para qualquer situação.

Jungkook manda mensagem enquanto estou dando alguns últimos retoques na maquiagem.

bambi
Tô aqui fora, amor
Sua mãe tá aí?
Eu poderia entrar....
| 18:17 |

eu
Ela não tá, mas trate de esperar aí quietinho
| 18:17 • ✓✓ |

bambi
Sem graça
| 18:17 |

Jogo o celular na bolsa e desço as escadas pulando. Escrevo um bilhete para minha mãe avisando que vou sair com Yerim. Só uma mentirinha, ela não conhece o Jungkook, ficaria preocupada.

Abro a porta e dou de cara com o garoto de cabelos negros. Ele sorri de lado, me analisando dos pés à cabeça.

— Uau... Você está linda, Dahyun! É para mim? — bato em seu ombro de leve e ele ri. — Estamos combinando, que fofo.

Jungkook veio inteiramente de preto também: a camisa lisa, a calça jeans rasgada nos joelhos, até a jaqueta de couro. Para completar, o típico boné na cabeça. Ele está estranhamente mais alegre hoje do que no parquinho.

— Onde fica essa tal pizzaria? — tranco a porta e guardo a chave.

Começamos a caminhar pela calçada. Confesso que, do lado de Jungkook, eu realmente fico muito mais baixa. A culpa é
dele por ser um poste.

— Há uns 15 minutos daqui... Queria ter carro, mas meu pai acha que sou doido e vou atropelar alguém ou morrer. Ele é careta, né?

Namjoon contou um pouco a respeito da família de Jungkook. A mãe dele morreu num acidente de trânsito há sete anos. Porém, sobre o pai, não comentou. Jungkook disse que contaria pessoalmente, então vou esperar um momento melhor para perguntar.

— Por que você está todo felizinho? Vai ficar triste quando receber a conta da pizzaria — ele abre um sorriso fofo.

— Raramente nos encontramos, é quase como se fôssemos amigos virtuais... Fazia tempo que eu queria sair sozinho com você, gatinha.

O restinho de sol do fim da tarde ilumina levemente seu rosto. Apenas desvio o olhar, tímida. Jungkook consegue fazer meu coração acelerar com poucas palavras e eu não gosto disso.

ᴛ ᴇ x ᴛ ᴍ ᴇ

Demoramos para chegar na pizzaria, pois a besta do Jungkook não tem senso de direção e errou o caminho. É bem bonita por fora, mas parece ser cara. Esse trouxa é burguês e eu não sabia?

Entramos no lugar e fico encantada com o tamanho. Tem lustres enormes no teto que clareiam o salão, e quadros em tons pastéis para combinar com as paredes brancas. As mesas estão espalhadas por cada canto, porém uma chamou minha atenção. Bem ao lado de uma janela grande, dando vista para a rua. Eu amo janelas.

— Dahyun — Jungkook me cutuca. — Quer sentar ali? — aponta para mesa.

Balanço a cabeça e ele pega minha mão, me puxando até lá. Assim que sentamos, um garçom se aproxima.

— Menino Jeon? É você mesmo! — o homem e Jungkook se cumprimentam animados. — Por onde andou? Faz uns dois anos desde que te vi aqui com a Amber!

Amber?

Jungkook me olha. O homem nota minha presença e sorri envergonhado.

— Perdão, senhorita. Namorada? — nego com a cabeça.

— Apenas minha amiga — ele responde simples.

O garçom troca mais umas palavras com Jungkook, deixa os cardápios e sai. Ele já deve ter vindo aqui várias vezes para ser amigo de um dos funcionários.

— Conhece bem esse lugar?

— Sim, eu vinha com meus pais quando era menor.

Os pais... Será que é um bom momento para entrar no assunto? Seria melhor enganchar agora para não ficar estranho depois.

— Você se importa de contar sobre o seu pai...? — ele me encara por alguns segundos.

— Se for para você, sem problemas — tira o boné da cabeça e bagunça o cabelo. — Bom, depois que minha mãe morreu, meu pai passou a ser distante... Quem praticamente criou a Haneul foram as babás que ele contratava. Hoje, sou eu quem cuida dela e das coisas em casa. Ele passa o dia trabalhando fora, é uma merda.

Jungkook desvia o olhar para a mesa. Ele não demonstra, mas é um assunto delicado. Minha mãe também não passa muito tempo em casa por conta do trabalho. A diferença é que ela sempre dá um jeito de compensar comprando donuts.

— Sinto muito, Jungoo. Deve ser um ótimo irmão para ela — ele nega com a cabeça.

— Eu tento ser... Ok, toma! — abre o cardápio e me entrega. — Peça o que quiser, vou pagar tudinho.

Arregalei os olhos pela variedade de sabores. Eu nem sabia que existia tantas combinações. E o preço... A família Jeon tem mesmo uma poupança cheinha.

— Cuidado com o que promete...

— Fica tranquila, amor — ele pisca.

Demorei para escolher um sabor que me deixasse curiosa para experimentar, mas achei: pizza de batata frita com queijo, isso é realmente diferente. Jungkook foi rápido e escolheu uma de calabresa.

O garçom voltou e fizemos os pedidos. Falamos de coisas aleatórias até a pizza e as bebidas chegarem. Tem tanta coisa que ainda não conhecia sobre sua vida, foi legal ele ter se aberto mais.

Jungkook coloca uma fatia no meu prato. Ele aproveita para cobrir sua pizza de calabresa com algumas fritas que caem para fora.

— Prova e diz o que acha.

Corto um pedaço grande e levo até a boca. Consigo ver o brilho no olhar do garoto, esperando eu terminar de mastigar. Sem dúvidas, é uma das melhores coisas que eu já provei. Batata frita na pizza, como eu nunca pensei nisso?

— Meu Deus, é maravilhosa! — falo de boca cheia e ele começa a rir. — Nós precisamos vir aqui mais vezes!

— "Nós"? — paro de mastigar e percebo que falei merda, de novo.

— A-Ah, quer dizer... É, s-se você quiser claro... — ele sorri e toma um gole do refri.

— Pode ser, meu amor.

Está piorando. Ele deve fazer de propósito para irritar. Vai ter troco, Jeon.

Voltamos a jogar conversa fora enquanto terminávamos de comer. Cada um devorou quatro fatias. Eu realmente não sei como nunca tinha vindo nesse lugar antes. A minha mãe e o dinheiro dela que lutem, pois vou pedir pizza aqui toda sexta à noite.

— Sabe uma coisa que eu pensei agora? — ele rouba outra batata do meu prato. Abusado. — Por isso que o Park ficou irritado comigo no jogo... Eu chamei ele de viadinho. Foi pura provocação.

Entendo agora porque Jimin perdeu a paciência. Penso como nossas vidas seriam caso os dois se tornassem amigos e acabassem essa briga desnecessária.

— Eu gosto muito da amizade que tenho com vocês, não queria que fossem "inimigos".

— As coisas aconteceram assim, baixinha. E, bom... Mesmo se fôssemos amigos, ia ter um motivo que provavelmente acabaria com a nossa amizade — o olho confusa.

— Que motivo seria tão grave?

Jungkook não responde. Apenas continua me encarando, enquanto sua boca suga o refrigerante pelo canudinho.

Estranho...

Sobra um restinho de coca cola na latinha. Despejo no copo e viro de uma vez. Sinto seus olhos em cada movimento que faço.

— Gostou do meu beijo?

O refri desce direto pela a minha garganta, tão rápido que começo a tossir. Jungkook ri da minha reação. Ele não entende o impacto que essas perguntas fazem.

— O quê?! P-Por que você está falando nisso agora?

— Porque eu quero de novo, é óbvio — um sorrisinho nasce nos seus lábios. Como ele fala isso tão normalmente? Estou com vontade de fugir de vergonha e ele fica tão pleno. — Não contei aquele, já que o Taehyung atrapalhou. Se você quiser, podemos fazer só mais uma vez.

A proposta é muito tentadora, porém a última frase chamou a minha atenção.

— O que quer dizer com "só mais uma vez"?

Ele apoia os cotovelos na mesa e se inclina para perto.

— Tem uma pequena regra que criei: não repito as garotas que eu fico.

Então, esse é o motivo de Namjoon não querer que eu fique próxima dele? E é por isso que o Taehyung falou para eu "não me apegar ao Jungkook"? Está bem, as coisas fazem um pouco mais de sentido...

— Tipo, você fica com uma menina numa festa e se um dia ela quiser de novo, você vai dispensá-la? — ele assente. Essa é a coisa mais besta que eu já ouvi. — E qual a razão disso?

— Sabe, beijar a mesma pessoa muitas vezes leva a coisas maiores...

— Tem medo de se apaixonar, Jeon? — pergunto brincando, mas ele fica sério.

— Não tenho medo, baixinha. Apenas não quero mais.

É isso. Jungkook teve uma experiência amorosa e não deve ter acabado bem. "Amber", a garota que o garçom comentou. Será que é ela?

— Por causa da Amber? — ele ignora a pergunta e chama o garçom. — Já estamos no assunto, você poderi...

— Dahyun! Não vamos falar disso agora! — faço um biquinho. — Vou pagar a conta.

Fico o assistindo ir até o caixa. Talvez eu tenha extrapolado um pouquinho.

ᴛ ᴇ x ᴛ ᴍ ᴇ

Na volta, quase não conversamos. Jungkook anda com as mãos no bolso, olhando para os próprios pés. Se eu soubesse que aquele assunto iria deixá-lo tão incomodado, nem teria iniciado. O problema é que minha curiosidade cresceu.

Paramos em frente à porta de casa. Espio a janela da sala e as luzes estão apagadas. Se minha mãe não chegou, é porque vai ficar de plantão no hospital hoje.

— O que achou?

Ele realmente pagou toda a conta da pizzaria e nem contou quanto deu no final. Provavelmente, saiu caro. Pizza boa como aquela não se encontra em qualquer lugar.

— Eu amei. Muito obrigada, Jungkook — sorrio de volta.

A rua já está bem escura e os postes de luz fracos quase não dão conta de iluminar. O vento fraco bagunça os cabelos de Jungkook, o fazendo arrumar a franja a cada segundo.

Droga de garoto bonito.

— Dahyun, desculpa ter escondido aquilo... Você não é boba, deve ter sacado.

Eu acertei mesmo. Jungkook disse quando nos conhecemos que nunca tinha namorado. Foi tão ruim ao ponto de ele tentar apagar essa parte da sua vida?

— Tudo bem, eu que fui intrometida.

— Só evito tocar no assunto, me deixa meio irritado. Prometo que conto um dia, ok?

Entendo. Falar sobre o Jackson também me deixa irritada. Acho que temos mais problemas em comum do que eu pensava.

Jungkook dá um passo para frente, ficando mais próximo de mim. Recuo, mas ele me segura. Sinto seu toque diretamente em minha cintura.

— Ainda estou esperando sua resposta, amor. Deixa eu te beijar? Pode ser a última vez se você aceitar...

Essa situação se parece com a do Jimin, não quero estragar nossa amizade. Apesar das coisas que alertam sobre Jungkook, gosto de conversar com ele. Gosto de ser sua amiga e outro beijo pode acabar com esse laço.

— Baixinha — ele toca meu rosto e faz um pequeno carinho.

Merda. Eu sei que não devia, mas eu quero beijá-lo novamente. Porém, tem essa regra. A regra idiota que ele criou.

— M-Melhor nós não u-ultrapassarmos a linha...

— Que linha? — sua mão desce para a minha nuca. Me arrepio por estar gelada. — Não vejo nenhuma.

— Voc... — me interrompe com um selinho rápido. — Jungkook! Você me beijou!

— Desculpa, amor, eu não resisti. E me desculpe por isso também.

Antes que eu possa pensar em impedi-lo, ele já abre espaço entre meus lábios com sua língua quente e macia, que logo adentra em minha boca. Ele vira um pouco o rosto e nossos lábios se encaixam com perfeição. Envolvo meus braços ao redor de seu pescoço, puxando carinhosamente alguns fios de cabelo do mesmo enquanto suas mãos passeiam pela minha cintura, a apertando e juntando ainda mais nossos corpos.

Ficamos ali pelo o que pareceram anos, até nos afastarmos por falta de ar. Jungkook suspira com um sorriso malicioso.

— Boa noite, amor — sua voz rouca sussurra perto do meu ouvido.

— B-Boa noite... — ele me solta e se afasta.

— Vou esperar seu convite para eu entrar da próxima vez.

Destranco a porta e me viro uma última vez antes de entrar, vendo Jungkook rindo com os lábios marcados pelo meu batom. Aceno para ele e fecho a porta.

Acho que nunca senti meu coração bater tão rápido como agora.

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gostaro? kdjdkfj

quando eu leio os comentários, vejo que tem algumas pessoas que já acertaram o que aconteceu no passado do jungkook.
qual a teoria de vocês?