O meu nome é Tessália Floros e pretendo anotar todas as minhas missões a partir do dia de hoje, o dia em que recebi a minha pedra mágica, que antes fôra de meu pai e antes dele da mãe dele e por aí adiante.

O Clã do tempo é formado por quatro descendências distintas, de três homens e uma mulher, quatro arqueológos gregos que haviam feito uma expedição às minas de África do Sul e nunca haviam pensado que essa expedição mudaria as suas vidas e as de seus descendentes para sempre.

Xantos Velis, Elena Banis, Cleon Stratos e Alcander Milonas eram os seus nomes, os nomes que fundariam o Clã mais secreto do mundo.

Eu sou uma descendente de Xantos, mas isso não é importante, não acho que isso me destaque de alguma forma, ele não era melhor que os outros, era apenas o mais velho, o mais experiente e o mais sensato talvez, mas isso já é algo que a descendência gosta de acreditar, não quer dizer que seja verdade.

Para além deles havia mais dois homens naquela expedição de arqueologia, Agathon Lampros e Meliton Kazan. A razão pela qual elem não fundaram o Clã do Tempo se resume aos valores morais que ambos não possuíam.

Meliton era noivo de Elena. Conta-se que faltavam três semanas para o casamento quando sucedeu o evento que mudou as suas vidas para sempre, ainda assim os dois casaram, mas também se conta que não durou, porém faz tanto tempo e tantas gerações atrás que ninguém que tenha vivido na época ainda é vivo para contar o que verdadeiramente aconteceu entre os dois e a razão pela qual o casamento não durou. A gente só saberia com precisão sobre isso se um deles viajasse no tempo para o ano atual e nos contasse tudo em primeira mão, mas como isso nunca aconteceu, só posso contar o que me foi passado de geração em geração, como a todos os Filhos do Tempo.

Xantos, Elena, Cleon e Alcander fizeram fortuna, sendo a fonte dela bem óbvia se soubermos a história toda. E com essa fortuna construíram um edifício bastante grande na Grécia. Edifício esse que de vez em quando sofre reformas e reparações e ao longos dos anos ampliações.

Eles sabiam o que viria depois deles: a descendência que ali aprenderia como eu aprendi. Era uma segunda escola secreta onde por norma nós adorávamos andar. Qual é a criança que não gosta de ser especial? Qual é a criança que não gosta de ser acariciada com magia?

O derradeiro desafio era esconder o que podíamos fazer dos nossos vizinhos, amigos de praça, mas nós tínhamos uns aos outros para confraternizarmos, por isso muitos de nós descendentes juntaram-se mais tarde com outros descendentes. Aqui, no Clã do Tempo, isso é muito comum, inclusive entre primos de sangue.

Devo talvez dizer, que apesar de todos no Clã sermos descendentes de sangue dos quatro fundadores, nem todos os descendentes de linhagem fazem parte do Clã.

O que fazemos de tão especial?

Viajamos no tempo.

E por isso todos nós somos os Filhos do Tempo.

A nossa história remonta longe no tempo e tem várias camadas.

Quando os quatro fundadores descobriram como podiam viajar no tempo, ainda não sabiam como isso iria mudar o mundo, mas todos eles foram movidos por uma força de espírito e de moralidade maiores e isso levou-nos a caçar criaturas mágicas que com os anos começamos a documentar e eu faço parte de uma dessas documentaristas. É uma honra, mas eu acho que a maior razão para me terem confiado este cargo foi a de eu me propor a isso, porque mais que este trabalho, aquilo que amo mesmo é a história por trás de cada caso, porém antes dos casos, vou contar como foi desde a Fundação do Clã do Tempo, na época onde só eramos quatro e agora já somos mais de uma centena. Claro que com o tempo os nossos antecessores foram morrendo, alguns pela idade, outros na caça e outros até de formas banais, mas continuamos a lutar a luta deles e a preservar as histórias que atravessam de geração em geração.

Mais uma vez, eu sou a Tessália Floros, descendente de Xantos Velis e eu sou uma Filha do tempo, uma caçadora de criaturas que assombram os nossos piores pesadelos, documentarista a proveito do Clã do Tempo e filha de dois Filhos do Tempo.

A minha pedra mágica, sem ninguém saber, eu dissolvi e bebi. Sou a primeira pessoa que faz isto, pelo menos que eu tenha conhecimento. E acho até ousado eu própria documentar para a posterioridade talvez este fato sobre mim. Talvez alguns me julguem gananciosa por escolher consumir literalmente o poder, outros vão talvez achar-me louca, mas tenho a certeza de que uma percentagem vai fazer o mesmo pelas mesmas razões que eu, o medo de perder a pedra nalgum lugar e com isso perder o poder que ela me investe, se ela fizer parte de mim, ela não tem como se perder ou me abandonar.

Do que é que estou falando?

Sim, isso nos leva ao primeiro capítulo...